O ABRASIVO QUE AFIA O CINZEL




A gigantesca e verdadeira obra da Maçonaria é propiciar ao seu iniciado um lugar adequado para a modificação da personalidade, a moderação de paixões e desejos e o desenvolvimento de virtudes; numa escalada que inicia numa operação denominada: desbastar a pedra bruta.

Esta atividade consiste no trabalho, básico e rústico, de arrancar da pedra, arestas, deformidades e protuberâncias, de modo que ela possa vir a adaptar-se ao seu lugar reservado numa importante construção.

Traduzindo, significa: o aprendiz recebe instrução, é dotado de ferramentas, de conhecimentos elementares, é assistido por método e simbologia próprios que, manipulados por seu intelecto, culminam em desenvolver suas capacidades racionais, intelectuais, lógicas e filosóficas nos assuntos da Maçonaria.

E estas, por sua vez, o auxiliam a subir uma escada que parte de um ambiente onde domina a matéria, e o eleva até um estágio onde ocorre a predominância do espírito sobre a matéria.

O interessante é que, o potencial adquirido com o uso da sua própria intelectualidade, dependendo de suas raízes culturais, não o precipita na geração de dogmas que possam torná-lo fanático; ao contrário, o treinamento o leva ao suave equilíbrio entre racionalidade e espiritualidade.

Gradativamente, o processo “abre portas inefáveis” até então invisíveis. Sua sensibilidade lhe revela, a cada reunião, no templo especialmente preparado para o seu desenvolvimento pessoal, onde, sob efeito de sons e incenso, ocorre sua integração com a força do maçom, um campo energético gerado pelo seu grupo de companheiros.

A vida mística e profunda da essência dos símbolos vai gradativamente revelando o que até então não enxergava. Desvelando apenas uma parte onde ele mesmo é material de construção, uma pedra que depois de trabalhada, constituirá parte integrante do grande templo moral da humanidade.

Dentre as ferramentas de trabalho do aprendiz estão o maço e o inseparável cinzel que desbastam a pedra bruta, ele mesmo. O cinzel representa o intelecto e ambos concorrem para o mesmo objetivo. É exemplo de dualismo construtivo, eficaz e positivo.

O cinzel é o símbolo do trabalho inteligente. Seguro pela mão esquerda corresponde ao aspecto passivo da consciência, à penetração, à receptividade intelectual, ao discernimento especulativo, indispensável para descobrir as protuberâncias ou falhas da personalidade. Serve de intermediário entre o homem e a natureza. Sozinho seu uso é quase nulo. Sem a ajuda do maço ele não produz muita coisa, exige participação da outra ferramenta. Assemelhado com a razão humana que, isolada, nada constrói. O cinzel carece da parte operativa, ação, força e trabalho do maço.

A lógica representada pelo cinzel torna o aprendiz independente, sem torná-lo mesquinho. Sem sua intervenção, o resultado do trabalho seria inútil, senão perigoso. A sua falta representa as soluções aprisionadas no espírito. Além de ser emblema da escultura, arquitetura e belas artes, é também a imagem da causticidade dos argumentos que permite destruir os sofismas do erro.

O cinzel é usado para o trabalho mais bruto, no alicerce de uma construção. Um trabalho básico. É o aço aplicado sobre a pedra, ambos duros, mas, a dureza do cinzel é maior, ademais, está afiado, daí sua capacidade de penetração, de corte das asperezas. Com ele corta-se fora o que o homem tem de feroz, levando-o a uma condição mais elevada diante da natureza e aproximando-o do conceito de Grande Arquiteto do Universo.

A Terra seria um deserto se os seres humanos deixassem de fazer por polidez o que são incapazes de fazer por amor, e seria quase perfeito, se cada um conseguisse fazer por amor o que só faz por polidez; isto porque, ela faz a pessoa parecer por fora, como deveria ser por dentro.

Quem não for bastante delicado e cortês não pode ser muito bom.

Cerimônias são diferentes em cada país, mas a verdadeira cortesia é igual em todos os lugares.

Assim como a cera, naturalmente dura e rígida, torna-se, com um pouco de calor, tão moldável que se pode levá-la a tomar a forma que se desejar. Também se pode, com um pouco de cortesia e amabilidade, conquistar os obstinados e os hostis.

Partindo do princípio de que uma virtude não é natural, mas uma qualidade desenvolvida ao longo do crescimento individual, do ponto de vista moral, a polidez é uma virtude. Como exemplo: o que acorreria com as quatro virtudes cardeais: justiça, prudência, temperança e coragem, se o indivíduo não é polido ou destituído de qualquer educação ou cortesia? Seriam inúteis!

Sem a educação e o respeito não há como desenvolver virtudes. E como a polidez é algo de aparente pouca importância, é neste “quase nada” que reside seu mérito. Ela pode ser definida como o caráter ou a qualidade do que é polido, da fina educação, da gentileza.

É também uma forma do discurso que indica cortesia e civilidade daquele que fala. Ao que se esforça no uso de expressões que atenuem o tom autoritário, do imperativo e outras fórmulas de etiqueta linguística.

Adicionalmente, designa o indivíduo que possui grandes virtudes e elevada cultura e conhecimento em determinadas áreas do saber.

Na luta para obter maior controle do espírito sobre a matéria, a polidez lustra o coração, de modo que revele o não visto. Sua transparência é proporcional ao quanto foi polido.

Para quem mais poliu sua sensibilidade manifestam-se mais formas invisíveis e revelam-se verdades para as quais a mais sofisticada racionalidade é impotente.

E o cinzel deve ser afiado continuamente, permanentemente, exigindo constante aporte de novos conhecimentos, para não embotar. É a Polidez, o conhecimento aprofundado de temas da vida que o afia. Afiar o cinzel significa receber fina educação, ser cortês e atencioso. E estas são atividades nas quais denodadamente deve-se investir com força, com a ação do maço, e gradativamente ir galgando a escada que leva à perfeição que pertence ao Grande Arquiteto do Universo.

Autor: Charles Evaldo Boller
Bibliografia
CAMINO, Rizzardo da, Dicionário Maçônico, ISBN 85-7374-251-8, primeira edição, Madras Editora limitada., 413 páginas, São Paulo, 2001;
Paraná, Grande Loja do, Ritual do Grau de Aprendiz Maçom do Rito Escocês Antigo e Aceito, terceira edição, Grande Loja do Paraná, 98 páginas, Curitiba, 2001.


PROCURA-SE




Procura-se um homem que luta para preservar e desenvolver os valores de seu templo interior. Esse homem é acusado de ser livre e de ter bons costumes, de gostar de aparar as arestas da imperfeição, de ser um incansável pesquisador da verdade. De procurar respeitar a humanidade, tolerando suas crenças diversas, mas sempre obstinado em palmilhar a senda espiritual que conduz à luz maior que é Deus, o Grande Arquiteto do Universo.

Esse homem é apontado como elemento que incomoda aos que não dão aos outros o direito de pensar e que não permitem a ninguém tentar encontrar explicações inteligentes sobre o início da vida do homem, sobre a criação e o funcionamento desse universo fantástico, sobre como os homens devem amar-se uns aos outros, independentemente de raças, de posições sociais, etc. Tal homem combate ininterruptamente o ódio que ainda hoje provoca matanças de irmãos criados pelo mesmo Pai.

Outra acusação que pesa contra esse homem é a de procurar fazer feliz a humanidade. Já pensou um mundo totalmente feliz, sem desavenças, com todos se comportando como verdadeiros irmãos? Quem iria dominar quem e quem tirariam proveito político e financeiro disso? Muitos acham que isso é perigoso. Ainda mais: ele procura ser sempre participativo, presente na explosão da alegria e mais presente ainda no tormento da dor de seus semelhantes.

Além disso, junta-se à legião dos que combatem a ignorância, a injustiça, as trevas, a escravidão, a intolerância, e procura sempre conquistar homens de boa formação moral, cultural e espiritual que poderão vir a serem pedreiros-livres, os quais, em breve, aprenderão a construir o seu templo interior, a mais nobre edificação que o homem pode erigir em honra ao Grande Arquiteto do Universo.

Também é acusado de haver descoberto o amor e de procurar mostrar aos outros essa maravilha que Deus colocou à nossa disposição. Isso é imperdoável para os que odeiam. Amar a todos, a começar de seus pais, de seus irmãos, de sua esposa e de seus filhos, de seus amigos e de seus colegas, de seus semelhantes. Vejam só!
Fala-se que ele acredita em Deus e que usa a denominação Grande Arquiteto do Universo para não ofender aos que conhecem o Pai Celestial como Jeová, Viracocha, Btahma, Alá, Odin, etc., e que se tornam seus irmãos. Comenta-se que ele não acredita em um Deus vingativo, mal humorado e que fala sempre em um Deus de amor, de esperança e de compaixão.

Acredita naquele Criador de que nos fala o filósofo Benedictus de Spinoza, a quem devemos procurar não por medo de castigos ou para pleitear favores, mas tão somente porque Ele é a única opção válida com que contamos no caminho evolutivo. Um Deus que jamais considera uns salvos e outros pecadores, mas que ama indistintamente a todos nós que Ele criou. Esse Deus deve ser propagado?

Esse homem é tido como avesso às vaidades humanas ligadas a distinções características do lado exterior do seu ser e que não irão acompanhar o seu espírito quando ele for chamado ao Oriente Eterno. Propaga-se que ele é um grande sonhador, pretendendo combater o vício com a virtude e que é um defensor intransigente do Direito, da Justiça e da Verdade e que aconselha todos a manterem o bom humor, característica que facilita muito o desenvolvimento espiritual. É apaixonado pela liberdade, mas sabe cumprir seu dever. Por isso entusiasma-se com o grande jurisconsulto que foi Cícero: Sou livre porque sou escravo da lei.

Outra coisa: vive falando em usar a consciência e a razão. Fala que só quem vive em paz consigo é capaz de viver em paz com os outros. Sobre a tão conhecida Escada de Jacó, que simboliza o caminho percorrido pelos anjos para contato com os mortais, esse homem acredita que tal escada sugere-nos que o topo da caminhada está muito além do patamar que nos é visível, significando que não será apenas subindo alguns degraus perceptíveis no estágio em que nos encontramos que iremos alcançar a perfeição.

Quando alguém é proposto para entrar em sua instituição, exige que a vida do candidato, passada e presente, seja levantada com zelo e cuidado; procura descobrir se o candidato gostará de passar por uma verdadeira metanóia, que é uma alteração dos sentimentos, atingindo um novo estado de consciência que o tornará um autêntico obreiro da paz, do amor, da solidariedade. Julga-se membro de uma corrente espiritual do Terceiro Milênio desejosa de fazer todos felizes. Chama os conflitos armados de estupidez da guerra. Entende que ser livre não é mudar de senhor, mas deixar de ser escravo; é manter uma vontade firme de eliminar a preguiça de trabalhar ou de procurar a verdade; que se considera livre, mas não se esquece da lei da física “ação e reação”, que pode ser aplicada também aos seres humanos.

Diz ele que a vida é como uma orquestra: cada músico toca um instrumento diferente, com tons e compassos estabelecidos para cada um, com notas próprias, etc., com marcação do momento em que cada músico atua dentro de uma cultivada harmonia que torna agradável e benfazejo o resultado de tais diferenças. E que, quando a humanidade agir como uma orquestra, regida por maestros responsáveis e conhecedores da real harmonia, não haverá mais fome, nem doentes desamparados, nem gente morando nas ruas, nem violência, nem donos da verdade.

Apregoa como muito útil a repetição dos ensinamentos de homens abençoados que pertenceram a religiões diversas, que nos ensinaram a dirigirmo-nos a Deus, como recomenda Gibran Khalil Gibran: “Nada Te podemos pedir, pois Tu conheces nossas necessidades antes mesmo que elas nasçam em nós.” Acredita que Joel Goldsmith está certo: “Quando pararmos de pedir coisas a Deus, receberemos o maior dos presentes: Deus mesmo!” Está sempre aconselhando-nos a não vivermos na sombra para que, um dia, não venhamos a ter medo da luz.

Se você encontrar esse homem, procure ficar perto dele e sentir a energia positiva que ele irradia. Sinta a sua doçura no falar. Sinta-lhe a vontade de ser útil, a sua disposição de fazer. Esse homem é um maçom! Agradeça-lhe por tudo o que os maçons já fizeram pela humanidade em tempos diferentes e difíceis, em países diversos, escrevendo gloriosas páginas da conquista da liberdade, da igualdade e da fraternidade. Agradeça-lhe, sobretudo, pelo o que os maçons vêm procurando realizar em benefício do ser humano, até em favor daqueles que os agridem torpemente.

Procure tratá-lo com carinho e respeito. Ele sonha em poder garantir sua felicidade. O maçom dirige sua oração ao Grande Arquiteto do Universo sabendo que ela não lhe desagrada os ouvidos nem o coração:

“Sou livre e honro o Criador, amando a criatura. Faço isso livremente porque desejo viver um dia na luz plena, onde não haverá dúvidas e nem amarguras e onde todos serão verdadeiramente irmãos; e bendirei todas as ações que desenvolvi, contribuindo para que nosso Templo fosse sempre um reflexo da ordem e da beleza que resplandecem no trono do Grande Arquiteto do Universo.”

O pedreiro-livre encontra na Maçonaria uma floração mística da alma, apoiada na razão. Quem vem apenas buscar, perde. Ela nos faz entender que o trabalho é um hino de amor à vida. Só ele nos capacita a receber o maravilhoso salário de bênçãos com que o Altíssimo nos recompensa. E a maior das bênçãos é a própria vida. Esta permiti-nos experimentar e aprender, orientando o corpo para que fique mais fácil para o espírito acompanhar a senda visível que foi traçada pelas boas ações no campo material.

Antes de se entregar ao sono de cada noite o maçom agradece ao Grande Arquiteto do Universo por tudo que recebeu Dele durante o dia e pede-Lhe que abençoe e ilumine aqueles que o consideram um inimigo, a fim de que se tornem verdadeiramente seus amigos e seus irmãos e, de modo particular, àqueles que o fazem ou o fizeram sofrer, ajudando-lhe a lapidar o seu espírito.

“Aquele que tem a luz dentro de seu próprio peito, claro, pode sentar-se no centro e desfrutar de um dia brilhante; mas aquele que esconde uma alma obscura e pensamentos negativos, ainda incomodados pela luz do meio-dia, ele próprio é sua masmorra.” (John Milton)

Autor: Pedro Campos de Miranda


CONTRADIÇÃO FUNDAMENTAL



A Maçonaria regular só admite no seu seio crentes. Deixa, porém, ao critério de cada um a crença concreta que cada um professa nada lhe importando a forma como cada um vive a sua crença.

As obrigações que respeita (ou infringe...), a forma como se organiza (ou não) a estrutura que porventura enquadre a prática da religião professada, nem sequer a designação que cada um atribui à divindade que concebe e em que crê. Por isso, adotou uma forma de se referir à Divindade por cada um venerada, que é independente da designação utilizada em qualquer religião e que pretende seja reconhecida por cada crente como se referindo à Divindade da crença que professa: Grande Arquiteto do Universo.

Assim, para a Maçonaria, um maçom pode perfeitamente, sem problemas ou reservas, ser católico, batista, anabatista, mórmon, pentecostal, evangélico, luterano, calvinista, testemunha de Jeová, muçulmano, judeu, hindu, ou o que quer que seja. A sua crença é do seu foro íntimo e é com ela que se junta aos demais maçons para que, em auxílio mútuo, cada um se aperfeiçoe pessoal, ética, moral e espiritualmente.

No sentido inverso, no entanto, as coisas não se processam de forma tão simples e clara. 

No âmbito da religião católica, é conhecido que repetidas vezes vários Papas emitiram documentos de condenação da Maçonaria, tendo mesmo, durante largo tempo, o Código de Direito Canônico punido com a excomunhão o católico que a ela aderisse. Hoje, não é já assim, mas o último documento proveniente da Cúria Romana continua a não ser particularmente simpático para a Maçonaria: 

Permanece, portanto imutável o parecer negativo da Igreja a respeito das associações maçônicas, pois os seus princípios foram sempre considerados inconciliáveis com a doutrina da Igreja e por isso permanece proibida a inscrição nelas.  Os fiéis que pertencem às associações maçônicas estão em estado de pecado grave e não podem aproximar-se da Sagrada Comunhão.

(excerto da Declaração sobre a Maçonaria de 26 de novembro de 1983 do então Prefeito da Congregação Para a Doutrina da Fé, Cardeal Ratzinger).

No âmbito da religião islâmica, também se conhecem posições de responsáveis nada lisonjeiras para a Maçonaria:

Dado que a Maçonaria se envolve em atividades perigosas e é um grande perigo, com objetivos perversos, o Sínodo Jurisdicional determina que a Maçonaria é uma organização perigosa e destrutiva. Todo o muçulmano, que se filiar nela, conhecendo a verdade dos seus objetivos, é um infiel ao Islã.

(excerto final do parecer de 15 de julho de 1978 do Colégio Islâmico Jurisdicional).

No campo das crenças cristãs resultantes da Reforma, também não é difícil encontrar posições contrárias à maçonaria:

A COMISSÃO FAZ A SEGUINTE PROPOSTA:
1) - QUE SEJA REAFIRMADA A POSIÇÃO DA ASSOCIAÇÃO CONTRÁRIA A MAÇONARIA E OUTRAS SOCIEDADES SECRETAS;
(...)
4) - QUE A AIBRB FAÇA UM APELO COM BASE NO AMOR CRISTÃO, AOS CRENTES FILIADOS À MAÇONARIA, PARA QUE, POR AMOR A CRISTO E AO TRABALHO DE DEUS QUE NOS FOI CONFIADO, AFASTEM-SE DE TAL SOCIEDADE.

(excertos de proposta aprovada na 12.ª Assembleia da Associação das Igrejas Batistas Regulares do Brasil).

Não é de estranhar que existam posições antimaçônicas em vários setores ou hierarquias - normalmente os mais integristas, ortodoxos ou fundamentalistas - de várias confissões religiosas, se tivermos em atenção à contradição fundamental entre a Maçonaria e as religiões.

Cada religião, e particularmente nas religiões monoteístas, considera que o seu caminho, a sua doutrina, a observância dos seus preceitos é que conduz à Salvação. Portanto todos os que se posicionam no exterior do seu caminho, da sua doutrina, dos seus preceitos, estão destinados à Perdição.  

Já para a Maçonaria, a questão não se põe nestes termos. Cada um é livre de seguir o seu caminho, de professar a sua religião, de seguir os preceitos dela e todos são considerados iguais e aptos para serem bons e se tornarem melhores.

A Maçonaria (o maçom) não concebe que o mesmo Criador, chame-se-Lhe Deus, Allah, Jeovah, Krishna, Manitu, ou o que se Lhe chamar, conceba, admita, queira, que os que O veneram por um nome sejam salvos e os que O conhecem por outro se percam, que os que seguem preceitos de uma Tradição religiosa recebam eterna recompensa e os que tiveram a desdita de nascer e viver num ambiente com diversa Tradição religiosa eternamente sejam punidos. 

Para a Maçonaria, o que importa é o comportamento, a postura ética, o reconhecimento do Transcendente e do Divino, não o cumprimento específico de normas, de práticas, de posturas, quantas vezes decorrentes de diversos ambientes, de diferentes culturas, de separações feitas pelos homens daquilo que o Criador fez igual.

Para a Maçonaria não há caminhos certos nem errados. O caminho de cada um é o certo para ele, se estiver de boa-fé e for perseverante nos seus propósitos.

A contradição fundamental entre a Maçonaria e as diferentes hierarquias religiosas está na Tolerância, que é inerente à Maçonaria e que os integristas, os ortodoxos e os fundamentalistas não aceitam. Tão simples como isto!

Rui Bandeira


AS DECEPÇÕES COM A MAÇONARIA



Meu irmão!

Faz um bom tempo que não nos encontramos, lembro sempre da tua presença alegre, prestimosa e fraterna, em nossa antiga oficina de desbaste da pedra bruta, a qual, proporcionou a nossa iniciação maçônica.

Estás frequentando, participando, em outra Ordem Maçônica?

A resposta que mais tenho ouvido, - não participo mais, me decepcionei com a Maçonaria!

Na verdade, aqui no meu Oriente, conheço mais de cem irmãos maçons que estão adormecidos, isto é, não fazem mais parte dos Augustos Trabalhos.

Escolhi a imagem de uma colmeia para ilustrar o presente texto, para que façamos uma reflexão:

Respeito, e acato as comparações simbólicas, que já li e ouvi, quando são feitas analogias entre uma colmeia e uma Loja Maçônica, porém, na colmeia o produto elaborado, o mel doce e nutritivo, não é compartilhado com mais ninguém, inclusive, uma, ou centenas de abelhas preferem à morte, a permitir que alguém fora do seu meio, do seu habitat, possa usufruir do produto produzido, mesmo que haja abundante sobra.

Também, que a abelha rainha é soberana, pois somente ela pode gerar novas trabalhadoras e futuras rainhas que trabalharão formando novas colmeias.

Ainda é preciso considerar que, existem agentes inimigos, predadores naturais, como, fungos, vírus e bactérias, além de certos animais e alguns seres humanos que, sem nenhuma noção do valor de preservação, podem destruir completamente uma colmeia.

É neste sentido que pretendo me ater, desenvolvendo as minhas considerações e comparações simbólicas a respeito dos irmãos maçons decepcionados, e depois, adormecidos.

Todo o maçom é desde a sua iniciação, sua constituição, sua criação, e daí em diante, de sua participação em Loja, é incitado, estimulado a trazer com ele o germe, o néctar, o amor pela vontade de se entregar ao constante aprendizado. 

Muitos irmãos maçons, infelizmente, trazem os fungos, as bactérias, os vírus da vaidade, da prepotência em impor valores profanos destrutivos da fraterna amizade.

Estes também podem ser comparados com os zangões que fecundam a rainha, no caso a potencia, para o ganho de novos adeptos, porém, como são nulos nas demais atividades, são jogados fora, quando geralmente, os acompanham aqueles a quem convidaram e ingressaram, e que também acabam se desiludindo, decepcionando.

E os irmãos bem intencionados, geralmente iniciando a carreira maçônica, dispostos a cumprir as normas e leis maçônicas, como se sentem, como ficam? 

Quando constatam que nada daquilo que a ritualística apresenta como fundamentos essenciais ao bom viver maçônico, ao crescimento bem ordenado, disciplinado, hierarquizado, não acontece no interior do Templo da Virtude?

Ainda mais, quando a abelha rainha, - comparada a uma potência maçônica, através do seu comandante, o grão mestre, comete desatinos, desmandos extrapolando a autoridade da qual está investido.

É certo que se decepcionam, e decepcionados se afastam, adormecem.

Aconteceu a pouco por aqui, quando um grão mestre, saiu do seu Oriente e veio para fomentar discórdias, a ponto de considerar inimigo quem não mais pertencia à sua Ordem, e o pior, veio destruir o belíssimo trabalho de construção de uma Loja de Maçons Universitários.

Reconheço humildemente as minhas deficiências e imperfeições!

Porém, jamais fui falso, desonesto e profanamente interesseiro, pois, sempre desejei e desejo sim, me manter interessado, motivado em praticar e fazer Maçonaria!

Desta forma, na Cadeia de União, sempre me dou conta da universalidade da Maçonaria e emociono quando unido aos meus irmãos, repetimos, - irmãos visíveis e invisíveis, presentes com o corpo e com pensamento, velem por estes homens!

A grande verdade é que a Maçonaria Universal não decepciona ninguém!

Alguns maçons que A constituem são os que decepcionam!

 Entendo que um maçom deve perdoar sempre, as ofensas pessoais, os agravos, mesmo os que tentam atingir a sua honra e a sua dignidade!

Porque o Ideário Maçônico está acima dos irmãos que se entregam de verdade na propagação dos Trabalhos da Arte Real.

Ainda mais que, - o Grande Arquiteto do Universo, Deus, é Justo e Perfeito!

Cabe a Ele, o Supremo Árbitro de todos os mundos e de todas as coisas, julgar a todos nós maçons, que, de livre e espontânea vontade, juramos com a mão direita sobre o Livro da Lei, a Bíblia Sagrada; entre outros compromissos morais espirituais o de defender e ajudar daí em diante, os nossos novos irmãos em toda a superfície da Terra.

Também porque todos os maçons são alertados, - não façais aos outros aquilo que não quereis que vos façam.

Portanto, repito: A Maçonaria jamais decepcionará aos que desejam com persistência, com boa vontade, com boa fé, com estudo e participação em Loja, - Trabalhar para Tornar Feliz a Humanidade.

Ir.'. Orlei Figueiredo Caldas M.'.I.'. 33°


DILEMAS MAÇÔNICOS



Ao longo da vida de um maçom, ele irá ser confrontado com vários tipos de dilemas e situações em que terá de refletir sobre as decisões a tomar e a responsabilizar-se pelo que decidir e optar.

Neste texto em concreto, irei abordar apenas alguns dos potenciais "dilemas" que serão possíveis de aparecerem ao longo do percurso de uma "vida maçônica".

Naturalmente que não irei responder a nenhuma das questões ou dilemas que irei apresentar porque a ideia é levar à reflexão sobre as mesmas e as ditas respostas apenas poderão ser dadas e concretizadas por quem por estes dilemas passar. E, portanto, tal poderá diferenciar de pessoa para pessoa como de situação para situação.

E como tal ação "reflexão/execução" é do foro privado de cada um, considero apenas que tal deve ser feito da melhor forma que considerem que lhes serve e com a qual se sintam melhor, por forma a não se prejudicarem nem a prejudicar terceiros.

Deste modo passarei a citar potenciais dilemas que existem ou poderão vir a surgir durante a caminhada maçônica a que se proporá um maçom a fazer:

* Encontrando-se um maçom há tempo considerado suficiente para progredir (subir de Grau) e tal ainda não ter sucedido, por questões que lhe sejam alheias...

* Pertencer ao quadro de obreiros de uma Respeitável Loja e já não se identificar com a generalidade dos seus membros...

* Estar numa Obediência, mas sentir que deve prosseguir o seu caminho noutra que não a original...

* Auxiliar na fundação de uma nova Respeitável Loja e consequentemente não ter a certeza em qual ficar a pertencer em "exclusividade"...

* Se sentir desapoiado ou desintegrado da Respeitável Loja que o acolheu, mas pretender continuar a seguir uma vida na Maçonaria...

* Ter atingido o grau de Mestre e não saber decidir se deve optar pela continuação dos seus "estudos maçônicos" nos designados "Altos Graus" ou "Graus Filosóficos"...

* Ter entrado numa Ordem Maçônica e ter afinal chegado à conclusão que não se identifica com a sua substância, mas que se sente integrado e gosta de conviver com os seus "Irmãos"...

Estas questões que acima apresentei são, por certo, dilemas que um maçom poderá vir-se a debater, seja na sua totalidade ou em parte. E saber o que fazer é que será o xis da questão.

Não será fácil decidir sobre tal, mas também não poderá tal ser feito de uma forma intempestiva, dadas as consequências que por norma advêm de tais decisões.

Estas decisões ou escolhas deverão ser feitas após uma reflexão extensiva e ponderada, por forma a que nada nem ninguém saia beliscado com a decisão final a ser tomada.

-Não existe ação sem reação, já o afirmava Lavoisier... -

 E gerir este tipo de situações e enquadrá-las como deverão ser feitas, sem melindres ou condicionantes, será difícil o fazer, apesar de não ser impossível tal. Respeito e Amor Fraterno serão essenciais para levar a bom porto qualquer decisão que venha a ser tomada e executada!

O melhor conselho que posso dar a quem passa ou puder vir a passar por alguma das situações que abordei é que um processo refletivo aprofundado e debatido com quem nos tiver mais próximo e também que nos possa elucidar sobre o tema é sempre bem-vindo, pois trará alguma "luz" à situação. 

Mas, importa ter em atenção que a decisão a ser tomada deve impreterivelmente ser confortável para quem a toma. Uma vez que é fundamental  que quem decide deve estar de bem consigo e com o seu "espelho", e não obstante, se sentir integrado e apoiado na decisão que vier a tomar, seja ela qual for. 

Isto é deveras importante, pois é normal sempre surgirem opiniões adversas que colidam com o interesse de quem tem de decidir o que fazer e/ou o caminho a tomar. Pois a vida é feita de ações/atitudes, tanto que as palavras são usualmente levadas pelo vento.

É preciso sentir, refletir e por fim, decidir. 
Se bem, se mal, apenas o tempo o poderá demonstrar, mas queira o Grande Arquiteto do Universo iluminar com a sua sapiência quem passa por estas situações, pois de fato não são fáceis por quem por elas passa ou tem de passar. O apoio dos seus Irmãos será crucial nesse processo refletivo e consequente ação.

Mais que tudo, o importante é se estar confortável (como já afirmei) com a decisão e que nos sintamos bem no local onde estivermos ou no sítio onde viermos a estar a pertencer. Nada será mais relevante que isso.

Por isso meus queridos e estimados Irmãos, se passarem por alguma destas situações que abordei, pensem, repensem, clarifiquem e somente depois façam!

O resto virá por si…

Nuno Raimundo


P E R I G O S O - Q U I T E P L A C E T



O tema é polêmico e merece ser estudado com seriedade pelos Irmãos.
Frequentemente, confundimos benevolência com negligência.

O instrumento do Quite Placet é um direito e até mesmo uma benesse que o IRMÃO pode requerer. Seja por motivo de trabalho, mudança, ou até mesmo por não querer fazer mais parte da Loja ou da Maçonaria. Existem milhares de motivos.

Mas compreendam que a proposição do Quite Placet deve vir do Irmão. Trata-se de uma escolha pessoal. Estando ele em dia com suas obrigações para com a Loja, basta apenas uma comunicação feita à direção da Loja.

O problema se apresenta com os “Irmãos Terríveis”, aqueles que trazem desarmonia, criam discórdia, não trabalham e dão trabalho. Muitas vezes, por falta de pulso e seriedade de toda a Loja, os Irmãos o “convencem” a pedir o Quite Placet, pois será o caminho mais fácil ou considerado o melhor caminho.

Melhor caminho para quem? Para a Loja que se viu “livre” do nome do Irmão em seu Livro de Obreiros, mas que constantemente gravará seu ne varietur no Livro de Visitantes?

Desta forma, ele continuará a falar despropósitos em Loja e sua presença será motivos para a ausência dos bons obreiros.

Se este Irmão não serve para trabalhar com os Irmãos da Loja “X”, por que servirá para a Loja “Y”?

Quando o problema está na Loja, o Irmão que não se sente bem ou não pactua com alguma situação, naturalmente se afasta, procurando outra Loja.

Assistimos também a desenrolares desarmoniosos em nível de Potências e Lojas co-irmãs. Uma Loja dá o Quite para o Irmão e este procura na sua cidade outra Loja que o acolhe, (pois ele esta devidamente regular), acaba por criar ressentimentos na Loja Mãe.

Sejamos objetivos: Se o Irmão não tem valor para sua Loja, não terá também para as outras.

Se identificarmos o Irmão como um “Profano de Avental” é hora de o colocarmos para fora da Sublime Ordem.

Comportamentos dentro ou fora do Templo que não coadunam com a moral e éticas maçônicas, devem ser punidos com exclusão ou expulsão.

Todas as Potências/Obediências têm em suas leis os instrumentos legítimos e adequados para esse essencial procedimento de “assepsia”. Não cabem aqui falsa tolerância e benevolência da fraternidade.

A pessoa expulsa pode continuar a ser seu parceiro de truco, companheiro de pescaria, amigo de buteco, mas não poderá ser um Maçom, pois suas atitudes negativas podem resvalar em todos nós.

A sociedade que assiste de fora ou que sofre com o comportamento inadequado, desonesto, ignorante deste profano de avental, desconhece o que seja uma Loja ou Potência.

Para a sociedade profana, a Maçonaria é uma coisa só.

Portanto, quando admitimos que um ou outro Irmão continue com comportamentos inadequados para a Sublime Ordem, estamos colocando sobre nós mesmos o olhar desconfiado, crítico das pessoas de fora da Maçonaria e muitas vezes trazemos para nós, o irado crivo da sociedade profana.

Vamos deixar de lado a negligência e atuarmos como corpo único. O que não serve para mim não vai servir para meu Irmão. Estudemos a Constituição da Potência/Obediência, o Regulamento Geral e os Códigos de Delitos e de Processo Penal Maçônico.

Não podemos deixar brechas para permitir a entrada e a presença de pessoas de mau caráter na Maçonaria.

TFA

Ir
Sérgio Quirino Guimarães
Delegado Geral do Grão-Mestre
G
LMMG
Fonte: Jornal do Aprendiz.



Postagem em destaque

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