Como objeto deste trabalho, almeja-se, modestamente, e através
da pesquisa bibliográfica, sistematização e re-leitura de textos Maçons
clássicos, traçar as origens e teorias acerca das razões históricas e
esotéricas do emprego generalizado dos três pontos pelos IIrm:.Maç:., bem como
empreender investigação, ainda que tímida, sobre as definições simbólicas a
eles ofertadas por hermeneutas e exegetas reconhecidos.
“Três são os pontos que o Maç:. deve se orgulhar de apor ao seu nome, pois
esses três pontos, como o Delta Luminoso e o Sagrado, são emblemas dos mais
respeitáveis” (Ritual e Instruções – Grau de Aprendiz - Maçom do Rito Escocês
Antigo e Aceito, 2001).
Utilizados pela Maçonaria, segundo aponta RAGON, desde 1774, em documentos do
G:. O:. da França, os três pontos visavam, originariamente, à abreviatura de
palavras e termos maçons apostos em documentos da Sublime Ordem, a fim de que
se mantivesse o segredo na transmissão de ensinamentos ou nas informações
contidas nas correspondências entre IIrm:. e entre LL:.. Como leciona ADOLFO
TERRONES BENITEZ, “os três pontos são símbolo da discrição”.
Sejam eles originários da arte hieroglífica egípcia (FISCH), herança dos
Rosa-Cruzes ou da prática do Companheirismo (JEAN DE PAVILLY), o certo é que,
além do uso pragmático como forma de abreviatura e sinal de mútua
identificação, os três pontos foram elevados à categoria de símbolo Maçônico, a
eles sendo dedicada, inclusive boa parte dos ensinamentos contidos na Sexta
Instrução do grau de A.:. M:. do R:.E:.A:.A:.
A transformação da abreviatura em símbolo, segundo assevera NICOLA ASLAN, está
diretamente relacionada ao caráter sagrado e esotérico do número três, o qual é
associado às Tríades, às Trindades e ao próprio Delta Luminoso.
Tal conclusão é alcançada por influência da Numerologia –
ciência secular que estuda os números em relação aos planetas, ao universo, aos
sons, às auras dos seres em geral – na Doutrina Maçônica, que, por natureza, é
eclética e aberta à pesquisa da Verdade, valendo-se de tudo que tenha
consistência axiomática no universal mosaico cultural e espiritual da
humanidade.
Como disposto na Sexta Instrução do A:.M:. no R:.E:.A:.A:., para avançar na
trilha que encetou, o A:.M:. necessita ter conhecimento da simbologia dos
números 1,2,3 e 4. Conhecer a natureza simbólica destes números é
instrumental imprescindível em sua caminhada pela Col:. do S:. Só assim
será capaz de compreender as muitas “coincidências” envolvendo o número três:
bateria do grau, a Marcha, a idade do A:.M:., os 3 PP:., as 3 Jóias Fixas da
Loja, as 3 Jóias Móveis da Loja, as 3 Grandes Luzes, etc.
Em trabalho publicado na Revista “A Trolha”, o Irm:. Roberto Rubem da Cruz, do
G:. O:. de São Bernardo do Campo, nos traz preciosos ensinamentos acerca do
simbolismo que envolve os números 1, 2, 3 e 4.
À luz da Numerologia, Irm:. Roberto esclarece que o número UM
representa Deus manifestado, a “causa sem causa”, a “Unidade”, o começo, o
princípio de todas as coisas, e adverte que, embora sendo a gênese, a unidade,
o número UM só de ser compreendido, ou mesmo existir no mundo manifestado, a
partir do surgimento do número DOIS.
Este é o paradoxo do UM, que, mesmo sendo a origem de tudo, é estéril e
necessita, ao menos no mundo manifestado (material), de “outra manifestação
igual a si mesma, porém de natureza oposta, que já não é mais a Unidade, pois a
unidade que se repete é DOIS”.
A teor dos ensinamentos pitagóricos, o UNO, ou a MÔNADA, constituir-se-ia em
verdadeira fonte de que tudo o que é bom, a pura energia divina, é a potência
de todas as coisas. No entanto, não há como qualificá-lo enquanto “ser”, eis
que o UNO é anterior a todas as coisas. Logo, ressurge a questão nodal: o que é
o UM?
Na lição de Plotino, filósofo fundador do Neoplatonismo, citado pelo Irm:.
Raimundo Rodrigues:
O Um é a potência de todas as coisas. Se não existisse, nada existiria, nem os
seres, nem a inteligência, nem a primeira vida, em nenhuma outra. Sendo a causa
da vida, está acima da vida. A atividade da vida, que é tudo, não é a primeira,
pois que emana dela como de uma fonte
[...]
O UM é destituído de forma, até mesmo da forma inteligível, porque sua natureza
que é a geradora de todas as coisas, não é nenhuma delas. Logo não é
substância, nem quantidade, nem pensamento, nem alma; (in: A Filosofia da
Maçonaria Simbólica, p. 44/45).
O DOIS é número terrível e fatídico, simbolizando o contrário, a dúvida, o
antagonismo infrutífero e representando a eterna luta Bem e Mal, Verdade e
Falsidade, Luz e Trevas, etc. É a DÍADE, a DUALIDADE, o DIÁVOLO, ou KAKOS
DAIMON, do grego “Espírito Maligno”.
Enquanto Deus é a Unidade, materializada no UM, a matéria é a Dualidade
(Díade), representada pelo DOIS. Todavia, tal afirmação merece ser ressalvada,
pois para algumas Escolas Iniciáticas o DOIS é o símbolo do equilíbrio, sendo
que as diferenças (Bem x Mal, Luz x Trevas, Masculino x Feminino, etc.) são
fenômenos óticos visíveis àqueles que se colocam em determinada posição no
plano manifestado”, nada mais sendo do fragmentos antagônicos de um único todo
que é o G:.A:.D:.U:.
O equilíbrio só ressurge com o advento do número TRÊS, com ele há a
harmonização do DOIS, através da neutralização da dualidade. Ou seja, a
contradição e o antagonismo de duas forças (UM e UM, representados no DOIS) são
aplacados pela adição de mais uma unidade simbolizada no TRÊS (DOIS + UM). O
TRÊS é o ativo + passivo + neutro, é a tese + antítese + conclusão.
A Luz representa-se através do TRÊS; aquela dissipa as Trevas, assim como o
TRÊS dissolve o conflito e harmoniza o DOIS, apresentando-se como a Tríplice
Aparência do Equilíbrio, qualidade indispensável àquele que busca, através da
liberdade e do trabalho, desbastar a pedra bruta e rumar à evolução espiritual
e à realização plena.
Entre as muitas associações relacionadas ao TRÊS ou Ternário (Pai, Filho,
Espírito Santo – Passado, Presente, Futuro – Princípio, Verbo, Substância –
Buda, Dharma, Sanga – Osíris, Ìsis, Hórus – etc.), gostaria de destacar duas,
pela pertinência com o tema proposto, a simbolização do Ternário na SABEDORIA,
FORÇA e BELEZA (as Três Grandes Luzes) e VONTADE, AMOR, INTELIGÊNCIA, as três
qualidades exigidas ao Maç:.
Nestas últimas associações, relacionadas ao sagrado caráter
harmonizador do TRÊS, talvez resida a significação dos 3 PP:. Muito mais
do que simples forma de abreviatura, ou método de mútuo reconhecimento entre
IIrm:., o uso dos 3 PP:. aposto às assinaturas dos Maç:. deve relembrar aos
IIrm:. o juramento feito à Nobre Ordem Maçônica, bem como as qualidades pelas
quais deve pautar suas ações em Loja ou no Mundo Profano, sempre com Sabedoria,
Força e Beleza, Vontade, Inteligência e Amor, Igualdade, Fraternidade e
Liberdade.
Assim, os 3 PP:. são, na lição de ASLAN, “uma imagem que evoca a ideia de
ponderação e consequentemente de tolerância, representam, de fato, os dois
extremos e o justo meio”.
Sant’Ana do Livramento, 11 de outubro de 2004.
A:. M:. Gildo Adagir Meneghello Junior,
Loja Saldanha Marinho “A Fraterna”.