UMA ABORDAGEM AO PERCURSO INICIAL DA MAÇONARIA ESPECULATIVA


 

PREÂMBULO

As notas que vos apresento tiveram a sua gênese nas dúvidas que nos foram surgindo no que respeita quer à eventual “passagem de testemunho” da maçonaria operativa para a especulativa, quer aos reais motivos que terão estado por trás da constituição da Grande Loja de Londres (G L L) em 1717, considerada como o marco fundacional da moderna maçonaria especulativa.

À medida que ia consultando diferente documentação, uma leitura mais atenta de alguns estudos e livros referidos na Bibliografia, foi importante para obter uma nova perspectiva de um dos capítulos mais interessantes da historiografia maçônica, alvo de diversas interpretações históricas de consistência variável, consoante os círculos maçônicos e os objetivos e tendências que perseguem.

Ficou mais claro para nós que a moderna maçonaria tem inequívocas raízes escocesas, que a partir do Norte influenciaram a Inglaterra e a Irlanda, sendo que os ingleses, através da criação da Grande Loja de Londres (G L L), vieram a recolher os louros da sua gênese.

No entanto a constituição da G L L traduziu também a intensa luta entre os blocos católico / stuartista e protestante / hanoveriano, que no fundo apoiavam duas concepções distintas da Maçonaria. As Lojas maçônicas foram utilizadas durante essa época, para veículo dessa disputa, que se estendeu às terras francesas, iniciando a difusão da Maçonaria especulativa pelo continente europeu, com o exílio dos Stuarts.

INTRODUÇÃO

O fato de se questionar a eventual ausência de ligação direta entre a Maçonaria operativa e a especulativa, sendo uma “heresia” face às fontes tradicionais, não deixa de ser simultaneamente desafiador e estimulante.

No entanto e independentemente da teoria seguida, restam poucas dúvidas de que a Maçonaria Especulativa se constituiu na Grã-Bretanha, no decurso do século XVII, em condições ainda incertas e historicamente muito pouco documentadas (4). No entanto quando procuramos evidências relativamente ao seu desenvolvimento, verificamos que são abundantes na Escócia e quase totalmente ausentes em Inglaterra.

Uma das primeiras abordagens diferenciadas das correntes tradicionalistas de grande parte dos historiadores ingleses do final do século XIX (Gould, Hughan e outros), é dada pelo trabalho de dois grandes historiadores ingleses da Maçonaria, Douglas Knoop (professor de Economia na Universidade de Sheffield e Maçonaria) G. P. Jones (professor de história Econômica também em Sheffield, mas não Maçonaria) nos finais dos anos trinta do século passado.

Contudo somente a partir de meados dos anos setenta começou a ser dada a devida atenção aos seus estudos e pesquisas. No prólogo da primeira edição da sua obra principal “The Genesis of Freemasonry” (5), (1) e (4), salientam que:” embora tenha sido até agora habitual pensar a história da Maçonaria como uma questão totalmente à parte da história, justificando um tratamento especial, pensamos que se trata dum ramo da história social, do estudo duma instituição social particular e das ideias que estruturam esta instituição, que se deve abordar e escrever exatamente da mesma forma que a história das outras instituições sociais”.

Esta abordagem tem vindo a ser seguida por alguns dos atuais historiadores e estudiosos maçônicos, como por exemplo, R. Dachez (4) e David Steveson (entre outros) que salienta que esta escolha incontornável está longe de ser unanimemente partilhada por numerosos autores que se “adaptam” às ocasiões da história maçônica, da mesma forma que a história de certas religiões e igrejas, tratada com objetividade, implica a contestação de alguns fiéis, que se recusam a olhar a sua história. Do mesmo modo, o que designa por “história laica da maçonaria” não alcança o espírito de todos os maçons, sendo um escolho que todo o historiador maçônico deverá estar consciente.

Esta corrente preconiza o caminho da roximação “científica” (ou “autêntica”) segundo a qual uma teoria deve ser fundada a partir de fatos verídicos ou de documentos que a sustentem, por contraponto à aproximação “não autêntica” que se esforça por colocar a Maçonaria na tradição do Mistério, procurando por um lado ligações entre os ensinamentos, as alegorias e o simbolismo e por outro as diversas tradições esotéricas (vide John Hamill – bibliotecário da Grande Loja Unida de Inglaterra, durante vários anos, na sua obra “The Craft. A history of English Freemasonry”).

Relativamente à gênese da maçonaria especulativa, a tese mais vulgarizada e partilhada quer pela esmagadora maioria da documentação maçônica, quer entre os Maçons, é a chamada teoria da “transição“, que preconiza a passagem gradual das Lojas operativas a especulativas, devido às transformações econômicas que levaram ao declínio das grandes construções, a partir dos finais do Renascimento.

Deste modo, indivíduos estranhos ao ofício, provenientes da nobreza ou com importantes cargos civis ou intelectuais de prestígio, movidos por interesses especulativos de base neo-platónica, alquimista ou Rosa-Cruz, teriam efetuado uma entrada progressiva nas lojas operativas em estado pré-moribundo, aproveitando as estruturas criadas e os rituais praticados, para desenvolverem os seus objetivos e tomarem o respectivo controlo.

Quanto à constituição da Grande Loja de Londres (G L L), aprovada numa assembleia constituinte, por 4 lojas existentes na cidade, em 24 de Junho (dia de S. João) de 1717, não terá sido provavelmente um ato criativo “espontâneo”, mas justificado por perspectivas políticas e sociais específicas, já que sempre nos pareceu de difícil sustentação histórica e social, a teoria da espontaneidade, de per si.

DAS LOJAS “ANTIGAS” DA ESCÓCIA

Na sua obra principal D. Steveson (1), conclui que a contribuição medieval e renascentista para a organização e história da Ordem, propiciou alguns dos ingredientes essenciais à formação da Maçonaria, mas o processo de combinação desses com outros ingredientes só ocorreu por volta de 1600 e teve lugar na Escócia.

É geralmente aceite pelos historiadores, que terão sido os “Estatutos de Shaw”, no reino da Escócia, o primeiro documento conhecido onde são lançadas as bases organizativas do sistema de Lojas da Maçonaria operativa, que veio posteriormente a servir de modelo à estrutura das Lojas especulativas.

Este documento resultou da reunião realizada em Edimburgo, em 28. Dez. de 1598, convocada e dirigida por William Shaw, Supervisor Geral dos Maçons e intendente das edificações do rei da Escócia, durante o reinado de James VI ( I de Inglaterra). Foi completado em 1599 por uma segunda série de regulamentos para dar solução à reivindicação da presença da Loja de Kilwinning. Estes estatutos consagravam a organização territorial das lojas por cidades e por regiões, impondo a eleição anual dos Oficiais.

São essencialmente regras práticas estabelecidas pelos mestres da corporação, (sediados em Edimburgo), tornadas mandatórias para todos os membros. Os dois primeiros artigos instruem e regulam a obediência, antecipando a iniciação maçônica, relativamente à qual não são dados detalhes, mencionando unicamente o juramento (“taking of the oath”) e a transmissão da “palavra de maçom” (“mason word”). O manuscrito conhecido como “Edinburgh Register House”, datado de 1695 explicita que o juramento é efetuado sobre a Bíblia e o candidato “jura por Deus”, S. João, o esquadro e o compasso.

Segundo P. Naudon (4) os estatutos de 1599, definem também a jurisdição da Loja e estabelecem as taxas mandatórias. O Mestre (aqui entendido como grau, sobretudo honorífico) ou guardião (“Warden”) tem o poder de verificar as qualidades e aptidões dos companheiros, bem como a capacidade de expulsar os incumpridores, podendo também nomear um secretário. Estes estatutos utilizam os termos, aprendiz (“journey man” / mais tarde “entered apprentice”) e Companheiro (“Fellow-Craft”), o que prova a existência de pelo menos dois graus na Maçonaria operativa escocesa da época (século XVII).

A Maçonaria emergiu, pois na Escócia no século XVII baseada em Lojas, organizações secretas ou semi-secretas / discretas de iniciados, combinando sociabilidade e fraternidade com segredos elaborados e esforçando-se genericamente em trabalhar para regular a entrada de artífices da pedra (“stonemasons“) e regulamentar as respectivas práticas de trabalho. Excetuavam rituais de iniciação e identificação descritos nos catecismos.

No decurso desse século (XVII), alguns homens de níveis sociais distintos, começaram a ficar intrigados e simultaneamente curiosos com os segredos dos “stonemasons” e a sua assunção de que a sua Ordem tinha um estatuto intelectual único, tendo alguns desses “outsiders” sido iniciados em lojas. Existem evidências de que certas personalidades, próximas das correntes iluministas e Rosa-Cruzes da altura, entre os quais Robert Moray, passou e/ou debruçaram-se sobre estas organizações. A organização discreta / secreta, a existência de certos ritos despertaram-lhes interesse, mesmo que a sua passagem por elas, durante todo o século, tenha sido extremamente rara, esporádica ou efêmera.

Entre os fatos que evidenciam fortemente que tenha sido a Escócia preponderante no aparecimento da moderna Maçonaria, desde o final do século XVI e, sobretudo no século XVII, apontam-se a existência dos registros mais antigos de:

utilização do termo “Loja” no sentido moderno do termo e evidência de que estas instituições existiam permanentemente;

Organização de lojas a nível nacional;

Registros oficiais e atas de reuniões efetivas;

Exemplos de “não-operativos” (“no working stonemasons”) que se juntaram às lojas;

referências à “palavra de Maçom” / “mason word“;

Catecismos maçônicos expondo a “palavra de Maçom” e descrevendo iniciações maçônicas;

Evidências ligando a maçonaria da loja com ideais éticos específicos, expostos pela utilização de símbolos;

Utilização de dois graus ou níveis na maçonaria;

Utilização dos termos “entered apprentice” e “fellow-craft” nesses graus;

Evidencia da emergência dum terceiro grau (loja de Edimburgo), pela utilização de “masted’ como estatuto no mínimo diferente de “fellow-craft”

Começo da percepção, por alguns, da maçonaria como “sinistra” ou “conspirativa”.

Ainda segundo Steveson (1), as lojas reuniam em média uma a duas vezes por ano, tendo a de Edimburgo, entre 1601 e 1710, reunidos em média duas a três vezes por ano, o que representa um excelente registro, visto tratar-se duma importante loja urbana.

Percorrendo os registros do século XVII, imediatamente anteriores ao da criação da G L L, Steveson (1) e Naudon- (3), comprovaram que a maçonaria escocesa possuía já um grau de organização e expansão nacional, muito mais consistente do que acontecia em Inglaterra, na mesma época.

Existe evidência de que em 1710 estavam ativas 25 lojas na Escócia, tendo mais algumas sido referenciadas ao longo do século, mas estando inativas ou extintas nessa data. Destas 25, 20 continuaram ativas e destas últimas, atualmente 80% ainda existe, o que constitui um registro assinalável.

Há, contudo dois aspectos fundamentais, face à moderna maçonaria, que não existiam na Escócia, no século XVII:

Não existia nenhuma autoridade central de supervisão, como uma Grande Loja (apesar de Schaw e alguns dos sucessores o tentarem numa forma mais estatutária que efetiva), embora existisse uma rede de lojas

INEXISTÊNCIA DE LOJAS COMPOSTAS UNICAMENTE POR NÃO-OPERATIVOS

Em 20 de Maio de 1641, alguns membros da loja de Edimburgo, que estavam na altura em Newcastle com o exército “conjurado” escocês (guerra com Inglaterra), admitiram como “maçom aceito” o honorável Robert Moray (juntamente com Alexander Hamilton, também general revoltoso), quartel-mestre geral do exército escocês, figura notável à época, considerado um dos “pais” da maçonaria especulativa e um dos grandes impulsionadores da Royal Society. Esta prática manteve-se interessantemente ao longo do tempo, propiciando a formação de lojas nos regimentos escoceses e irlandeses. Mais tarde referiremos o seu importante papel no estabelecimento da moderna maçonaria no Continente europeu, em especial em França.

A liberdade e independência das Lojas propiciaram a formação de algumas constituídas somente por membros não operativos. Segundo Naudon (2), por volta de 1670, mais de três quartos dos membros da Loja de Aberdeen não eram maçons profissionais. Os estatutos de Shaw especificavam que estes membros estavam isentos da caixa de coleta, da marca, do banquete e do “pinto” (“pint”) de vinho.

A dificuldade de generalizar o comportamento das Lojas, já que diferem consideravelmente em tamanho e composição, aplica-se também aos seus membros.

Os “não operativos” ou “gentleman-masons” tinham como atrativo nas Lojas, um ideal de amizade, uma mistura social informal (embora dentro duma instituição formal) e o banquete anual podendo adicionalmente percepcionar traços do antigo, do secreto, do misterioso e do ritualístico.

Parece ter sido esta a causa, mas podemos questionar o real motivo do aparecimento destas lojas pré- especulativas, sendo que está comprovado que a Escócia foi dos países em que a maçonaria operativa mais persistiu de forma organizada, o que comprovadamente não aconteceu na Inglaterra.

É curiosa a análise do percurso de duas das figuras mais notáveis da época, relativamente às quais existem provas da sua iniciação, sem que, no entanto existam dados continuados da sua presença em lojas. Quando Robert Moray, como referimos atrás, foi admitido na Loja Mary’s Chapel de Edinburgh, consta nos arquivos da Loja a seguinte minuta: “Em Newcastle, a 20 de Maio 1641. Neste dia, certo número de mestres e outros estando regularmente reunidos, admitem o muito distinto Robert Moray, Mestre General de Quartel do exército da Escócia, o que foi aprovado por todos os mestres maçons da loja de Edimburgo que colocaram as suas assinaturas ou as suas marcas”.

Quanto a Elias Ashmole (antigo capitão da artilharia real e fervoroso stuartista), terá sido iniciado cinco anos depois em Warrington (também a norte de Inglaterra), numa loja com mais características de se tratar de uma loja escocesa deslocalizada, do que uma loja inglesa. Verifica-se, pois que duas das principais figuras precursoras da nova maçonaria eram ambos fervorosos partidários dos Stuarts. Poderá isto ter algum significado? Provavelmente terá.

Steveson (1) mostrou inequivocamente que esta organização, profundamente inovadora era estritamente específica da Escócia, sem que anteriormente, nenhum sistema idêntico tenha existido. Como refere Dachez (4) contrariamente às versões clássicas, o aspecto mais importante deste trabalho foi evidenciar que a característica da “aceitação”, expressão tipicamente inglesa, utilizada para justificar a penetração dos especulativos nos operativos, jamais foi utilizada na Escócia durante o século XVII.

A partir deste trabalho, por consulta dos registros disponíveis das lojas, é possível identificar e estudar os 139 membros não operativos recebidos nas Lojas escocesas entre 1637 e 1717. É no mínimo curioso observar que o pastor Anderson, escocês, filho do secretário da Loja escocesa de Aberdeen, ignora por completo estes escoceses não-operativos. Será que o motivo principal terá sido o de constituírem, na sua maioria, fervorosos stuartistas,????

Durante o reinado de Carlos I, a dúzia de membros “gentleman” admitidos na Loja de Mary’s Chapel de Edimburgo pertenciam à corte do Rei. Destes só Robert Moray voltou à loja em 1647. O panorama das lojas escocesas majoritariamente operativas irá mudar consideravelmente a partir da morte de Carlos II. O quantitativo de personalidades não operativas recebidas nessas lojas, desde a ascensão ao trono de James II em 1685, eleva-se a mais de uma centena até 1717, aproximadamente o quíntuplo dos recebidos na totalidade do reinado de Carlos II, num período de tempo sensivelmente equivalente.

Na loja de Dunblane em 1696, por exemplo, dos 13 membros nomeados em ata de reunião somente 4 são operativos, sendo a maioria constituída por nobres, quase todos ligados à causa stuartista. Steveson (1) precisa que os membros dessa loja muito seletiva, eram relativamente assíduos, mas não se preocupavam muito com o “ofício”, até finais de 1710, altura em que o predomínio passou para os operativos. Teria a ver com o final das “esperanças” dos stuartistas em reconquistarem o trono, como avança Louis Trébuchet (8)???

A prática comprovada, mas excepcional, das Lojas receberem a titulo honorário pessoas exteriores à profissão, que raramente lá voltavam, terá produzido, segundo Dachez (4), um conjunto de “maçons livres” com a possibilidade de transmitir uma Maçonaria que foram transformando em função dos seus próprios objetivos e preocupações intelectuais. Tinham descoberto algo que lhes interessou vivamente, um ritual e uma tradição.

Assim a “fronteira do Norte” terá sido permeável à expansão até ao Sul de Inglaterra destes maçons “não- operativos”, que a Maçonaria operativa nunca integrou internamente, justificando plenamente que a maçonaria inglesa do século XVII tenha sido, desde a origem, puramente especulativa.

Parece não existir outra explicação plausível para a admissão de elementos não operativos nas Lojas Escocesas, já que por volta de 1717 ainda possuíam um importante papel na área da construção e contrariamente ao que se passava em Inglaterra, não reuniam em tabernas ou em locais esporádicos, mas em edifícios ou locais que lhes pertenciam.

AS LOJAS “ANTIGAS” DE INGLATERRA

Em Inglaterra a iniciação de cavalheiros (“gentlemen”) em Lojas é registrada desde 1640, mas aqui o processo é muito mais obscuro.

Sendo fato praticamente inequívoco que a maçonaria especulativa, tal como a entendemos, surgiu na Inglaterra, não existem contudo documentos suficientemente esclarecedores de que elementos estranhos ao oficio fossem admitidos em lojas operativas inglesas. E mesmo relativamente a estas últimas e ao seu funcionamento como estrutura permanente em todo o território, não existem quaisquer dados.

Para os que defendem a primazia da Inglaterra no aparecimento da moderna Maçonaria, sobretudo no século XVII, apontam-se os seguintes fatos:

Cópias mais antigas das “Old Charges” (não são conhecidas cópias escocesas anteriores a meados do século XVII);

Utilização generalizada do termo “freemason” e utilização do termo “maçom aceite” (“accepted mason”);

Lojas compostas unicamente por “não operativos” (que se pode interpretar como indicando que a “maçonaria” inglesa era, muito mais que a escocesa, uma criação sem, ou com reduzida, sustentação profissional);

CRIAÇÃO DA PRIMEIRA GRANDE LOJA

A única certeza que existe, é da que as poucas lojas operativas que tardiamente surgem, permanecem operativas até a sua extinção, como a loja de Chester. A famosa loja de Acception, de Londres (século XVII), abusivamente citada como exemplo da transição especulativa é indevidamente classificada como Loja (1), uma vez que este termo não aparece nunca nas respectivas atas, não se sabendo quem a fundou e por que motivo, deixando historicamente apenas dois leves traços documentais, em 1610 e em 1686, relacionados com Elias Ashmole.

Nas primeiras lojas inglesas, contrariamente à Escócia, não se detectam ligações aos operativos, o que sugere que a maçonaria foi aqui uma criação “artificial”, no sentido de ter sido originada por pessoas sem contacto direto com a profissão, muitas vezes influenciados provavelmente pelo que “acontecia” ou terá sido “importado” a partir da Escócia. Não existe atualmente nenhuma loja em Inglaterra a que se possa ser feita referência continuada antes de 1716-17, quando a Grande Loja foi criada. As lojas inglesas só tinham inicialmente um grau (1) o que implicava substanciais diferenças nos rituais, comparativamente à Escócia, em que existiam dois graus.

A teoria clássica da “transição”, foi posta em causa também por outros historiadores (finais da década de setenta), nomeadamente Eric Ward (4), que defendem que em Inglaterra, contrariamente à Escócia, não terá havido transição da maçonaria operativa para a especulativa e que as lojas dos primeiros se foram progressivamente extinguindo, sem deixar rasto, face às características socioeconômicas da altura. A crítica de Ward fundamenta-se sobretudo na interpretação do significado clássico atribuído a certas palavras-chave (origens de “freemason” e de “Free-Mason” ou “Free-Masons”) utilizadas indistintamente pela teoria da “transição”).

Também para Knoop e Jones (1), (4) e (5), os únicos fatos mais ou menos incontestados, comprovam que desde a sua origem, as lojas maçônicas inglesas são puramente especulativas, contando-se como exceção, como vimos, a loja de Chester. Neste espaço de tempo existiu também a Companhia dos Maçons de Londres, restrita à área da capital, e a única guilda conhecida em Inglaterra para a profissão de maçom, não se conhecendo mais nenhuma estrutura comparável. Esta Corporação procurou o suporte de vários patronos de famílias nobres e comerciantes, com a figura de membros honorários, para ajudarem a assegurar o fundo econômico de apoio aos associados.

Recorde-se que a Escócia era, no início do século XVII um país estrangeiro e inimigo, existindo poucas relações entre ambos, pelo que a existência de Lojas operativas organizadas por toda a Escócia não poderá, por si só, impulsionar ou servir de catalisador do surgimento duma Maçonaria especulativa, na mesma época, no sul de Inglaterra.

A tese Colin Dyer (a teoria do “empréstimo” / “emprunt” em francês), seguida por outros autores ingleses contemporâneos, aponta para que o movimento que dá origem à maçonaria especulativa tenha tido origem e motivações claramente religiosas (4). O estudo comparado das “Old Charges” (“Antigos Deveres”) estabelece claramente que este movimento, aparentemente secreto, o que à luz da história da época se torna compreensível, não teve qualquer ligação com a maçonaria operativa. Teria sido estabelecido por altura de 1560 ou 1580, época em que os conflitos religiosos atingiram grande intensidade (atestam por exemplo que o Manuscrito da “Grande Loja, n°1” não teve nada a ver com o de “Cooke”, sendo um documento totalmente novo, já que a ortografia utilizada segue a das Bíblias publicadas em Inglaterra após a Reforma, ou seja a partir de 1540, ou seja quase cerca de 180 anos após este).

Os trabalhos de D. Steveson (1) trouxeram contudo uma nova interpretação da controversa questão das fontes da maçonaria especulativa. O fenômeno da “aceitação” utilizava uma expressão puramente inglesa, nunca utilizada na Escócia, o que comprovou pela análise cuidadosa das listas dos membros das diversas Lojas, e da sua história durante vários decênios.

Detectou contudo um novo ponto muito importante, a curiosidade e o interesse com que, desde a origem, algumas personalidades entre as quais o famoso Sir Robert Moray, se debruçaram sobre estas Lojas escocesas. A prática excepcional mas comprovada, de receber a título de membros honorários, pessoas estranhas ao ofício, terá permitido constituir uma população de “maçons livres”, que embora numericamente fraca é real e ativa, possibilitando-lhes transmitir uma Maçonaria que lhes foi possível transformar em ordem às suas preocupações intelectuais e filosóficas.

Poderão as lutas religiosas de 1640 a 1660 / 80 e depois entre stuartistas e hanoverianos, estar na origem da falta de documentação relativa às Lojas Inglesas ???

Em Inglaterra o papel de loja mãe foi durante muito tempo assegurado pela velha loja de York. Este motivo terá sido a origem de que a “Old Lodge of York” recusasse reconhecer a autoridade da Grande Loja de Inglaterra, quando esta foi instituída em 1717. Segundo P. Naudon (3), somente após a reunião da Assembleia Maçônica de York, em 27 de Dezembro de 1663, numa altura em que a Maçonaria já se tinha tornado especulativa, o título de grão-mestre foi aprovado, embora não conferisse autoridade administrativa a quem fosse designado. De fato, o escolhido poderia ser somente um “protetor”, garantindo o patrocínio à corporação. Os poderes do grão-mestre só foram criados a partir de 1717, com a Grande Loja de Londres.

Segundo os historiadores mais credenciados, a hipótese duma rede desconhecida de lojas (iniciáticas e secretas) cuja existência e ensinamentos tenham escapado à análise do historiador, é insustentável, pelo menos se pretendermos permanecer no campo da história, tal como o entendemos, segundo Knoop e Jones.

Há contudo uma data a que devemos prestar atenção e que não é muitas vezes referida, que é 1707. Neste ano realizou-se o “Ato de União” transformando a Escócia e a Inglaterra num único reino. As duas nações que tinham estado até aqui de costas voltadas e muitas vezes em guerra, iniciaram finalmente uma lenta mas real aproximação, sem que contudo a desconfiança dum país face ao outro se tivesse automaticamente atenuado.

DA ROYAL SOCIETY À GRANDE LOJA DE LONDRES

Considerando as diferenças e eventuais intersecções entre maçonaria operativa e especulativa, sobretudo na Escócia do século XVII e início do XVIII, nada permite fundamentar, face à sequência temporal e histórica, que a maçonaria especulativa tenha nascido em 1717. De fato esta data é quase irrelevante no longo processo de desenvolvimento do movimento. Segundo Knoop e Jones (1) e (5) “naquela altura, a formação da Grande Loja foi uma ocorrência de menor importância no desenvolvimento da Maçonaria, e não faz sentido constituir um marco na historia maçônica”. No entanto a nova forma de organização instituída pela G L L constitui uma inovação, face à organização predominante até ao momento, de raiz escocesa, centrada sobretudo nas Lojas.

P. Naudon salienta que não se conhecem as razões oficiais da criação da G L L , francamente modesta na concepção, sendo o ênfase dado possivelmente à necessidade dum poder regulador sobre as lojas, o que fará sentido, como veremos.

Somos pois levados a concordar com a afirmação de J. Marty (6) que “o fato das mais influentes lojas maçônicas na Inglaterra, na Escócia e na Irlanda terem uma fortíssima influência stuartista, a outra família real que disputava o trono, impôs aos novos ocupantes do trono inglês o desenvolvimento de esforços imediatos para contrariar essa influência no mesmo terreno, como uma das formas de manterem o poder adquirido”.

Não é pois sustentável diluir historicamente a criação da G L de Londres (que no século seguinte evoluiria para a G L U I), como não deixando de corresponder a um plano político organizado pela nova família real inglesa, a dinastia Orange ou hanoveriana, para combater a influência stuartista.

Recuando de novo à questão do nascimento da Maçonaria Especulativa, é necessário correlacioná-la e ter também presente a criação da Royal Society, em 28 de Nov. 1660, no Gresham College, em Londres e em que tiveram destacado papel alguns maçons ou Rosa-cruzes da altura, nomeadamente Robert Moray, Elias Ashmole, Christopher Wren, e outros.

Robert Moray foi elemento preponderante na liderança que constituiu a Royal Society, e foi virtualmente o seu presidente, durante 1661 e a primeira metade de 1662, apesar do titulo não ter sido formalmente utilizado por ninguém, até a carta patente receber o selo real, de que foi obreiro decisivo. O aparecimento desta instituição mostrou claramente o crescente interesse na investigação científica e na experimentação e o prestigio crescente destas aditividades.

Antes da constituição da Royal Society, a ciência estava completamente dominada pela religião e amarrada a argumentos teológicos. Qualquer investigador que desafiasse a visão dos inquisidores era considerado herege e punido enquanto tal, pagando muitas vezes o preço da própria vida.

Mais do que um conjunto de ideias estabelecidas, os princípios de estudo da natureza propostos pela Royal Society representavam uma atitude e uma maneira de pensar a realidade inovadoras, resultantes do desejo de reexaminar e pôr em questão as ideias e os valores recebidos, mas com enfoques bem diferentes.

A esta grande viragem no desenvolvimento científico, levando uma comunidade a rejeitar uma teoria pseudo-científica anteriormente seguida, em favor de outra com ela incompatível, traduz uma mudança de paradigma, no sentido “kuhniano” do termo. A esta mudança não foram alheios os ideais da verdade, da tolerância, do respeito pelo trabalho realizado, da retidão e da fraternidade dos Maçons que estiveram associados à fundação e direção inicial da Royal Society, de que Isaac Newton veio a ser um dos mais notáveis presidentes (já no início do século XVIII).

Em resposta à interpretação de Eric Ward, Frederic Seal-Coon respondeu no ano seguinte (1979) com uma teoria mais política, que estabelecia a correspondência cronológica entre o nascimento da maçonaria especulativa e as relações tumultuosas da dinastia escocesa dos Stuarts com o trono de Inglaterra, ocupando grande parte do século XVII e a primeira metade do século XVIII, em que tentou recuperar o trono, após o exílio em França.

Na Grã-Bretanha quer os stuartistas quer os hanoverianos foram atraídos para alianças maçônicas rivais. O sistema das lojas, combinado com o secretismo, ideais de lealdade e modos secretos de reconhecimento, originou uma estrutura ideal de organização, na qual os membros puderam colocar os seus próprios valores, podendo adaptá-los para utilização própria.

Da análise dos sermões do rev. Anderson de 1712 e 1715, Steveson (1) concluiu que era evidente uma tonalidade “whigh” (protestantes, partidários da casa de Hannover) radical e determinante, já que descreve o país como “benzido com um bom protestante como soberano e uma feliz Constituição, depois de libertado das garras e da escravatura papista, pela revolução…”

Aliando estas interrogações ao fato das Constituições elaboradas pretensamente pelo rev. Anderson (que era pastor presbiteriano escocês), elaboradas em 1723, seis anos depois da constituição da G L L terem efetuado uma “limpeza criativa e radical” (continuada pelo duque de Montagu) de toda a documentação conhecida, anteriormente existente, contribuiu para reforçar um conjunto de interrogações, cujo esclarecimento tentamos aprofundar.

Somos pois levados a concordar de novo com J. Marty – (6) em que “a história oficial que foi criada e difundida constituiu parte de um programa de cultura imperial global muito ativo no último quadrante do século XVIII e no século XIX, por parte da potência dominadora a nível mundial nesse período, a Grã- Bretanha”.

Também não se encontra antes de 1723 nenhum texto proibindo as lojas escocesas e mais tarde as lojas temporárias inglesas, de serem criadas sem terem a autorização superior de alguém com poderes para tal, mas a partir daquele ano, só puderam ser criadas novas lojas em Inglaterra com a obtenção prévia da carta patente, firmada pelo Grão-Mestre da G L L .

O primeiro Grão-Mestre de origem nobre da G L L , foi em 1721 o Duque de Montagu, “whigh” convicto, condecorado em 1718 por Jorge I com a distinta Ordem da Jarreteira, responsável pela criação em 1745, dum regimento de cavalaria para combater o príncipe Carlos Eduardo Stuart, quando da última tentativa deste para recuperar o trono. Os dados parecem pois apontar para que tenha existido uma tomada de poder dentro da fraternidade maçônica pela facção “whigh”, então minoritária, numa época em que a ascensão ao trono de Jorge I de Hanover, três anos atrás, estava longe de ser unânime, quer na Inglaterra, mas sobretudo na Escócia.

A reação stuartista / jacobita não se fez esperar e o duque de Wharton, de regresso da Europa depois de convertido à causa stuartista, conquistou o grão-mestrado num golpe interno. Foi destituído no ano seguinte, mas a luta de influencias, perdida no território inglês, continuará agora em França.

AS LOJAS “ESCOCESAS” NA FRANÇA

Desde que se deu a confrontação entre os Stuarts e o Parlamento e mais tarde entre os Stuarts e a casa de Hannover, cada uma duas partes procurou trazer a Ordem para o seu lado. A ligação desta aos Stuarts era manifesta desde a Escócia, em virtude das origens escocesas comuns, pelo que não lhes foi difícil utilizá-la como aliada e veículo dos seus objetivos restauracionistas.

O papel desempenhado pela Maçonaria Escocesa em França é confirmado pelo Cavaleiro Ramsay, no seu famoso discurso de 1737, sendo a presença de lojas escocesas mais evidente a partir do exilio forçado dos Stuarts.

A Maçonaria stuartista chegou a França em 1688 através das primeiras lojas militares que se formaram nos regimentos que acompanharam James II, no exílio em Saint Germain de Laye. Existem provas de que a fuga para França intensificou a criação de Lojas maçônicas nos regimentos stuartistas. Por volta de 1689, os regimentos escoceses e irlandeses sediados em França possuíam “staffs” maçônicos, constituindo muitas vezes, a autoridade administrativa, sendo os militares a executiva.

É possível que a primeira loja em França tenha sido a que mais tarde se designou por “La Parfaite Égalité” (inicialmente “Irish Guard Lodge”), loja militar real irlandesa do coronel Walsh, do regimento de guarda pessoal de James II. Quatro anos depois da sua fundação o Grande Oriente de França reconhece em 1777 que essa loja foi constituída em 25 de Março de 1688.

A primeira loja francesa, indiscutivelmente conhecida, foi fundada em 1725 por Charles Radcliffe de Derwenwater e outros fervorosos stuartistas. Sensivelmente por volta de 1728, as lojas escocesas em França, reconheceram como Grão-Mestre o duque de Wharton, anterior Grão-Mestre da G L L e apoiante dos Stuarts. Após a sua morte, em 1731, Lord Derwentwater assumiu o grão-mestrado, seguido por Hector MacLean (baronete escocês) de 1733 a 1735 e de novo Lord Derwentwater, a partir de 1736.

A concorrência “whigh” /hanoveriana, não se fez esperar muito, deslocando-se também a partir de 1734 para o solo francês, com a criação em Paris duma loja rival à de Derwentwater, em que a Grande Loja de Londres se faz representar pelo duque de Richmond e Jean T. Desaguiliers. O conflito provocado pela existência de duas categorias de lojas rivais – escocesas e inglesas, transpôs-se e desenvolveu-se também em França, até à criação da Grande Loja de França e da nomeação do duque de Antin, par de França, como Grão-Mestre (ad vitam), em 24 de Junho de 1738.

Foi o duque de Montagu, que sucedeu desde 1721 ao pastor J. T. Desaguiliers, que se comprometeu a introduzir em França a Maçonaria especulativa (tendência “inglesa”). Do desenvolvimento dos ritos da época, a par das teorias filosóficas que sustentaram o aparecimento da Real Society, acabaria por surgir o Rito Francês. Mais tarde e embora apresente maior parentesco com a matriz escocesa, acabaria por surgir o Rito Escocês Antigo e Aceito, assim designado apesar do berço francês.

NOTAS FINAIS

Julgamos poder concluir, no essencial, que a moderna maçonaria teve origem escocesa, em vez de inglesa. A evidência escocesa pode ser fielmente comprovada durante o século XVII, através dos documentos oficiais de várias lojas, que foram conservados, graças aos estatutos de Schaw. Contrariamente, na Inglaterra somente parcos registros em papel, que possam ter pertencido a Lojas, sobrevivem.

O termo “aceito” continuou a ser aplicado em Inglaterra aos Maçons iniciados, e a G L L , fundada cerca de 40 anos depois, passou a chamar-lhes “maçons livres e aceitos“. Nos anos do rápido desenvolvimento da maçonaria inglesa depois de 1700, os rituais que surgiram eram baseados na “Mason Word” e as práticas descritas no catecismos mais antigos têm, sem dúvida, origem na Escócia (1).

A primeira referência a uma loja inglesa caracterizada por um corpo permanente e não por uma reunião ocasional, é a de Chester também no norte do país. A primeira loja em Inglaterra cujas atas sobreviveram, a loja de Alnwick, fica a 20 milhas da fronteira com a Escócia. A loja mais antiga descrita na Inglaterra refere-se a Warrington, no Lancashire, também no Norte.

Tudo isto sugere claramente que as lojas maçônicas na sua moderna configuração foram uma deriva da instituição escocesa que se espalhou pela Inglaterra no decurso do século XVII. A maçonaria na qual os primeiros “gentlemen” não operativos foram iniciados foi também muito influenciada pelas práticas escocesas.

No entanto, e esta é uma diferença essencial, desde o início os ingleses preferiram encontrar-se informal e irregularmente, apelidando por vezes estes encontros ocasionais de “reuniões de loja”. No entanto a institucionalização da estrutura, originada por Schaw, foi reconhecida e as lojas ocasionais foram dando progressivamente origem a instituições permanentes.

Doze dos Grão-Mestres de Inglaterra no século XVIII eram escoceses e quando os maçons franceses inventaram inúmeros altos graus e rituais, sentiram que a melhor maneira de lhes dar legitimidade era designá-los por “Rito Escocês”. Também estes fatos parecem admitir tacitamente que a maçonaria escocesa tem um papel especial na história da Ordem….

O objetivo subjacente à elaboração das Constituições de Anderson, o papel desempenhado por Desaguiliers, a G L L e os conflitos que se arrastaram por quase 100 anos entre “Antigos” e “Modernos”, podem dar lugar a diversas interpretações, mas certo é que por trás destes conflitos estavam dois conceitos distintos da Maçonaria, que foram utilizados na disputa do trono real britânico, pelos blocos stuartista e hanoveriano.

Parece não existirem dúvidas, face aos historiadores e obras que temos referido, que as Lojas maçônicas escocesas, irlandesas e inglesas foram palco da intensa luta entre estes dois blocos, que no fundo apoiavam duas concepções religiosas distintas, a católica e protestante. Também pode não ter sido ocasional, que o Papado só tenha apresentado a sua primeira Bula (“In Eminenti Apostolatus Specula”) contra a Maçonaria, quando já era evidente que a luta entre os dois Blocos pendia para os protestantes (hanoverianos) e a derrota definitiva dos Stuarts se resumia a uma questão de tempo. Todavia este assunto é por demais vasto, exigindo elevada preparação e estudo, para que possa ser tratado nestas breves e humildes notas.

Pelas análises dos historiadores que citamos, nomeadamente Steveson e Eric Ward, a teoria da “transição”, parece não ter suporte documental fidedigno, pelo menos analisando historicamente os dois países onde mais se enraizava, a Inglaterra e a Escócia.

Parece também não existirem dúvidas de que as Constituições de Anderson da G L L, traduziam uma versão mais universalista e agregadora da Maçonaria, rompendo com as versões mais tradicionalistas, que eram a base da Maçonaria católica stuartista.

Em reação a esta visão mais progressista (à época) organizaram-se mais tarde os “Antigos”. Esta polêmica entre “Antigos” e “Modernos” durou cerca de 100 anos, mas o enfraquecimento progressivo da G L L e a pressão do establishment real acabaria, também por pressão adicional da revolução francesa e dos receios por ela provocados na monarquia britânica, de proporcionar a fusão das duas, originando a G L U I – Grande Loja Unida de Inglaterra, com predominância inequívoca dos valores dos “antigos”.

O estudo das origens, é fundamental para uma melhor compreensão da Ordem. No entanto a sua análise, contribuindo para a nossa progressão individual a caminho do conhecimento e da Luz, só alcançará o seu sentido último, se alavancar o nosso trabalho no mundo profano.

Termino citando Jean Mourges (14):

“Independente da interpretação das origens, a Augusta Ordem deverá conservar dois princípios, sem os quais não será Maçonaria:

Os Maçons são construtores. Crêem na possibilidade de estabelecer uma Ordem Social ou em todo o caso de contribuir para estabelecê-la “e:

“Escolher os construtores que, entre eles, saibam elevar-se acima das querelas das Escolas, já que a perfeição da ordem Coletiva repousa na qualidade dos homens chamados a construí-la”.

Salvador Allende – R L∴ Ocidente

Bibliografia

“The-Origins-of-Freemasonry-Scotland-s-Century-1590-1710” – David Stevenson – Cambridge University Press, 1988

“A Maçonaria e o Nascimento da Ciência Moderna -O Colégio Invisível” – Lomas, R. – Madras Editora Lda, 2007

“The-Secret-History-of-Freemasonry-Its-Origins-and-Connection-to-the-Knights-Templar” – Paul Naudon – 2005

“Les Origines de la Maçonnerie Spéculative” – Roger Dachez, revista “Renaissance”

“The Genesis of Freemasonry” – Douglas Knoop e G.P. Jones” – Manchester University Press – 1947

“Maçonaria Especulativa e Sir Robert Moray” – José Marti

Blog + Sites da Loja Ocidente – http://a2ocidente.blogspot.pt

“El Nacimiento del Escocismo” – Louis Trébuchet (www.masoniclib.com)

“Isaac Newton and the Scientific Revolution, Christianson, G. Oxford University Press.

“Sir-Robert-Moray-Freemason” – Robert Lomas

“El Rito Francês Moderno” – Guillermo Fuchslocher,

Los Oficios y Los Oficiales de La Logia” – Daniel Berésniak

“La Masoneria” – Armando Hurtado

“La Pensée Maçonnique -Une Sagesse pour Occident” – Jean Mourges – Éditions P.U.F. – 1998

 

NINGÉM PODE SERVIR A DOIS SENHORES


 

A sentença “Ninguém pode servir a dois Senhores” é parte de um preceito religioso ou regra de costumes, às vezes usado pelos críticos da Maçonaria, quando a tratam como uma religião.

Tratam-se de críticas desinformadas ou mal informadas.

A desinformação ocorre quando se sustenta dogmas que impedem o pretenso crítico de ser um livre pensador.

Por outro lado, há a má informação.

Muitos equívocos divulgados, até por Maçons, podem sustentar falsas criticas:

- Não existe “Casamento Maçônico”. O que há é uma cerimônia de Reconhecimento Conjugal.

- Não temos, na Maçonaria, nem sessão preta nem “Sessão Branca.” Existem Sessões Públicas.

- O Grande Arquiteto do Universo não é nosso Deus. É um Princípio (início, razão, regra, fundamento) Criador. Portanto, não é o Senhor dos Maçons.

A Maçonaria não é uma religião, não presta culto a nenhuma divindade, não difunde entre seus membros regras que garantirão o paraíso e muito menos obriga a todos seguirem uma mesma liturgia religiosa.

Mas a crença em um Ser Superior, tenha o nome que tiver, é obrigatória.

Pois, até mesmo o homem mais primitivo reconhece sua pequenez diante da complexidade da natureza e sente, em tudo que lhe rodeia, uma força que não consegue explicar e que lhe causa profundo respeito.

Para nós, o título de “SENHOR” não nos representa o respeito pela dignidade de alguém.

Mas sim ao nosso comportamento diante de situações e escolhas que fazemos na vida.

A simbologia está claramente expressa no Pavimento Mosaico: Podemos caminhar sobre várias alternativas, mas, ao pararmos, estaremos onde escolhemos estar.

Caminhamos por estradas tortuosas com entradas para as virtudes e vícios, verdades e mentiras, honra e lubricidade.

A cada trevo há o desvio, sempre voluntário e individual.

O resultado pode ser o ponto final, onde nos relacionamos com o ambiente.

Esta sim será a relação de senhorio.

Assim como nos feudos medievais, as leis eram criadas por um Senhor.

Se ele for um bom Senhor, haverá virtudes, verdades e honra em sua vida.

Mas, se houver vícios, mentiras e libidinagem, estará sob o jugo da escravidão.

SOMOS NÓS QUE DIRECIONAMOS NOSSA VIDA.

EM ESSÊNCIA, NOS TORNAMOS NOSSOS PRÓPRIOS SENHORES, PELA CARTA DE ALFORRIA QUE NOS FOI DADA PELO SENHOR DEUS, QUALQUER QUE SEJA A SUA DENOMINAÇÃO.

*ESTA CARTA DE ALFORRIA CHAMA-SE LIVRE ARBÍTRIO.*

NASCEMOS LIVRES E DE BONS COSTUMES.

MAS, DURANTE NOSSO CRESCIMENTO SERÃO NOSSAS ESCOLHAS QUE NOS MANTERÃO OU NÃO NESTA CONDIÇÃO.

Em uma livre adaptação maçônica da Lei, poderemos dizer:

- Ninguém pode servir a dois senhores, porque não há de honrar um e enganar o outro, ou mentir para um e dizer a verdade ao outro.

- Não se pode com a boca falar o que fazer e com as ações contradizer sua própria fala.

O Verdadeiro Maçom não se acovarda perante o desafio da sinceridade e da Transparência de seus atos para subjugar suas ações ao agrado de grupos oportunistas.

O Verdadeiro maçom é LEAL com sua consciência, o seu próprio *SENHOR*.

Não podeis servir à Virtude e ao Vício...

A História se escreve pela Virtude da Humildade e não pelo Vício das VAIDADES...

Sérgio Quirino M.'.M.'.

 

A MALDIÇÃO DA SEXTA-FEIRA 13 E O FIM DOS TEMPLÁRIOS


 

A história desse dia, que até hoje deixa qualquer supersticioso bem atento para que nada de mal lhe ocorra.

Alguns anos depois do fim da 1° cruzada (1096-1099), com iniciativa de um cavalheiro francês da região de Champanha, Hugues de Payens (1074-1136) foi fundada em 1119 uma milícia militar chamada “Os pobres Cavaleiros de Cristo”.

Composta por nobres, e voluntários católicos com a missão de proteger os peregrinos do ocidente, que iam ou que voltavam de Jerusalém, em visita aos locais sagrados por onde Jesus Cristo passou, e principalmente o Santo Sepulcro.

Os Templários.

A maldição da sexta-feira 13 e o fim dos Templários
Hugues de Payens (1070-1136)
Graças a inúmeras vitórias de Hugues de Payens e seu exército cada vez mais numeroso, a milícia se tornou uma ordem militar e religiosa, chamada “Ordem dos Templários” ou “Ordem do Templo” ou “Cavaleiros do Templo de Salomão” ou “Cavaleiros da Santa Cidade” ou simplesmente “Templários”.

Oficializada em 1129, pelo Papa Honório II (1124-1130), no Concílio de Troyes (França), determinava que os Templários tinham total independência moral e financeira em relação aos reis do Ocidente, e que tinham como principal objetivo a expulsão total dos invasores muçulmanos da terras Santa, e a proteção da cristandade no Oriente.

Regras a seguir:

A Igreja considerava que fazer uma guerra por motivos materiais era ilícito, mas fazer a guerra para gloria e salvação de Cristo era justo e legal. Portanto foram criadas regras a serem seguidas aos soldados-monges Templários, defensores dos valores espirituais, morais e éticos da igreja católica, e de Deus.

A 1° estava baseada no conjunto de regras redigidas por São Bento (480-547) fundador da ordem dos Beneditinos, em 529, como:

Castidade, pobreza e obediência a igreja católica Romana do Ocidente e Oriente.

A 2° regra determinava que todo o homem, nobre ou não, rico ou pobre, que participasse a pelo menos uma cruzada em sua vida estaria livre de todos os pecados cometidos na terra, e puro para entrar no reino do Senhor.

A 3° regra era lutar até a morte em nome de Jesus, para encontrar as riquezas de Deus, no céu.

Derrotas e riquezas dos Templários, na terra.

Os Templários, depois de serem expulsos da palestina pelos inimigos muçulmanos 200 anos mais tarde, se estabeleceram em países da Europa, liderados por uma organização bem articulada de Mestres e Grandes-Mestres. Corromperam-se das suas ações divinas e sagradas do Oriente, para os aspectos econômicos e financeiros do Ocidente.

A Ordem dos Templários após receberam doações consideráveis da igreja, tesouros, propriedades e dinheiro de toda corte da Europa, não estavam mais preocupados e interessados em defenderem os ideais cristãos e o poder temporal da igreja, e sim em acumular o máximo de riquezas, para controlar  as autoridades reais, que os procuravam para o financiamento de guerras particulares e expansões territoriais, sem nenhuma ligação com a Igreja.

Ricos e poderosos se transformaram em uma das principais instituições financeiras do ocidente, uma espécie de banqueiros de Deus.

Emprestaram muito dinheiro a vários monarcas como aos reis; da Espanha, Jaime I de Aragão (1213-1276); da Inglaterra, Henrique III (1216-1272); e principalmente ao rei da França, Filipe IV, o belo, (1285-1314). Também conhecido como o “cruel”.

Como Papa nem tomou conhecimento, Filipe IV começou uma campanha difamatória pesada contra ele, ao ponto enviar um pequeno exército para capturá-lo, em Roma.

O rei exigia sua imediata renúncia, pois considerava que seu poder temporal que recebeu diretamente de Deus, no dia da sua coroação era superior ao poder espiritual da Igreja e seu pequeno representante na terra, o Papa.

Bonifácio VIII, que pensava exatamente o contrário, sabendo disso, fugiu de Roma.

Punição Papal.

Encontrado em Anagni (Itália) foi espancado e torturado. Somente sobreviveu graças a população local que o liberou dos seus agressores.

Mas em 1303, Bonifácio VIII, um mês depois da agressão, e ter excomungado Filipe IV e seu principal ministro, chefe da guarda real, Guilherme de Nogaret, (1260-1313) acabou morrendo devido aos ferimentos sofridos.

Novo Papa e dívidas perdoadas.

Um novo papa foi eleito, o italiano Bento XI (1303-1304), mas como também não colaborou com a política de Filipe IV, foi encontrado morto (provavelmente envenenado) oito meses depois de ter sido eleito.

Em 1305, Filipe IV, consegue finalmente indicar e forçar a eleição de um Papa francês, Clemente V (1305-1314), e mudar a residência papal, do Vaticano (Roma), para Avinhão (“Avignon”). Podendo agora controlar a igreja conforme suas intenções.

O rei ainda muito endividado e interessado em recuperar para suas próprias finalidades, as riquezas dos Templários, como: moedas, pedras preciosos, jóias, propriedades, terras, (por exemplo, a região do Marais, em Paris) buscava por todos os meios uma forma de atacá-los.

Com ajuda do Papa Clemente V tentou ser introduzido na Ordem dos Templários, pleiteando ser escolhido como Grande-Mestre, a título honorário, e na esperança de manipulá-los pelo interior. Mas foi categoricamente recusado por Jacques de Molay (1243-1314), o verdadeiro Grande-Mestre do Ocidente, que sabia das más intenções e principalmente o desejo de não pagar a enorme dívida que possuía com a Ordem.

Uma perseguição implacável.

Desde então servindo do Papa Clemente V, como uma fiel amigo, Filipe IV começa sua rede de intrigas pela França. Mandou subornar e liberar de uma prisão um renegado Templário, Esquieu de Floyran, com o intuito que ele divulgasse pela população, mentiras, heresias e falsos testemunhos a respeito da Ordem dos Templários, e seus seguidores.

Filipe IV organizou minuciosamente seu plano, após inventariar todos os bens, tesouros, propriedades, e os principais nomes franceses, envolvidos na Ordem, mandou que seu ministro, e homem de confiança, Guillaume de Nogaret prendesse à todos.

Foi a maior operação de polícia nunca antes organizada no país, milhares de Templários foram presos por todas as partes da França.
Sexta-feira 13 e o fim da Ordem dos Templários.

Este dia, 13 de outubro de 1307, sexta-feira, ficou marcado na história como um dia amaldiçoado pelos seguidores da Ordem.

Em Paris, dos 140 presos pessoalmente por Guillaume de Nogaret, 134 confessaram (sobre tortura) que renegavam Cristo, que praticavam rituais de magia negra em reuniões noturnas e secretas, que recusavam o sacramento, que praticavam idolatria, sodomia, rituais obscenos…

Muitos outras prisões se seguiram por toda França.

A maioria dos presos quando na presença das autoridades do rei confessavam crimes inventados, mas na presença dos enviados do Papa se retratavam, pois acreditavam que somente Clemente V poderia pleitear inocência e defendê-los das acusações, já que ainda faziam parte de uma Ordem Eclesiástica protegida e financiada pelo Papa, chefe supremo deles, na terra.

Mas se enganaram, pois o Papa deixou-os abandonados em suas prisões.

O processo de Jacques de Molay.

A maldição da sexta-feira 13 e o fim dos Templários
Jacques de Molay e Geoffroy de Charnay
O processo do julgamento para a condenação do Grã-Mestre, Jacques de Molay e companheiros seguiu conforme as diretrizes ordenadas pelo rei Filipe IV, e não pelo Papa como deveria ter sido.

Todos sabiam dos interesses que o rei tinha em recuperar os tesouros deixados pela Ordem e liquidação das dívidas. Apesar de Filipe IV, até ter conseguido recuperar muitas terras e propriedades por toda França, o cruel rei, e nada belo pelo que ordenou fazer, nunca encontrou nenhum “SONHADO TESOURO”, nas sedes dos Templários.

Irritado e decepcionado pela pouca das riquezas encontradas pressionou o Papa que ordenasse a abolição total da Ordem na França. Que acabou acontecendo, em 22 de março de 1312.

Em 18 de março de 1314, Jacques de Molay e seu companheiro Geoffroy de Charnay foram queimados vivos na ilha dos Judeus (l’Île aux Juifs), ligada posteriormente a atual Ilha “de La Cité”, e onde se encontra atualmente a praça “Square Vert-Galant”, junto a Ponte Neuf, Paris.

A maldição de Jacques de Molay.

Conta a legenda que Jacques de Molay um pouco antes de morrer na fogueira olhou fixamente para o Papa Clemente V, e ao rei Filipe IV dizendo a seguinte frase:

Papa Clemente! Rei Filipe! Antes de um ano, e os cito a comparecerem ao tribunal de Deus para receber seus justos castigos! Malditos! Malditos! Todos malditos até a decima-terceira geração de suas raças!

Tradução do livro “Os Reis Malditos”, de Maurice Druon.
Maldição ou não, o Papa Clemente V acabou morrendo por asfixia em abril 1314, e o rei Filipe IV, em novembro do mesmo ano, de um AVC numa caçada. Seus três filhos: Luís X (1314-1316), Filipe V (1316-1322), Carlos IV (1322-1328), e o neto João I, (1316), morreram num período de 12 anos, sem deixarem descentes ao trono.

Fim da maldição de Jacques de Molay.

Fim da dinastia Capetiana, inicio da dinastia Capetiana-Valois. 

Cristina Migliavacca‎ - Arqueologia & História das Religiões

DISSEMINANDO O ÓDIO


 

O que leva um grupo de religiosos a disseminar o ódio em um canal aberto, contra a Ordem Maçônica? Muitos cristãos fundamentalistas opõem-se à Maçonaria, porque alguns líderes religiosos incentivam seus membros a “testemunhar” sua fé em todos os momentos e lugares.

Saber que a Loja Maçônica não é o lugar para converter pessoas para a sua versão particular de teologia é uma heresia para os crentes de alguns tipos de cristianismo entusiástico e evangélico.

Entretanto, o conflito que alguns cristãos fundamentalistas apresentam com a Maçonaria vai além da incapacidade de pregar em uma Loja.

Infelizmente, uma pequena indústria que consiste de livros, canais, sites, podcasts, vídeos e palestras antimaçônicos tem se desenvolvido entre fundamentalistas oportunistas. A lista de acusações absurdas contra a Maçonaria é aparentemente interminável: “os maçons adoram o diabo, praticam bruxaria, têm sua própria Bíblia Maçônica, segredos de sua dominação mundial satânica só serão revelados no Grau 33” e assim por diante...

Nas sociedades livres, sempre haverá pessoas que ou vivem nos extremos lunáticos (como este canal medíocre que criou esta série da imagem) ou lucram com essas produções na contramão da verdadeira mensagem de Jesus. Elas continuam a espalhar notórias falsidades sobre a fraternidade, sob o pretexto de salvação cristã.

Lembre-se: a verdade é que literalmente milhões de homens, ao longo dos séculos, têm sido membros de Lojas Maçônicas, e dezenas de milhares deles são pastores, diáconos, rabinos, bispos, sacerdotes e outros teólogos. A esmagadora maioria deles nunca achou que alguma dessas mentiras maliciosas fosse verdade.

A Maçonaria encoraja seus membros a serem cidadãos melhores e a procurarem respostas para as suas necessidades religiosas em suas próprias igrejas.

CURIOSIDADES DA MAÇONARIA

https://famososmacons.blogspot.com/

 

CIÊNCIA E RELIGIÃO


 

Trago-vos hoje uma sucinta prancha sobre o que muitos chamam o eterno conflito entre a ciência e religião. No meu humilde juízo, este suposto conflito, é sim o eterno complemento. Já o dizia Albert Einstein, “A ciência sem religião é coxa, a religião sem a ciência é cega”.

Num mundo atual onde a informação flui de forma quase imediata, mas a sua veracidade e o seu conhecimento são poucos ou dúbios, nada melhor que procurar a definição de quem a revista Time considera o Patriarca das Bibliotecas, a Enciclopédia Britânica, para entender o que é a ciência e a religião.

“A Ciência é qualquer sistema de conhecimento que esteja preocupado com o mundo físico e seus fenômenos, implicando obrigatoriamente observações imparciais e experimentação sistemática. Em geral, uma ciência envolve uma busca de conhecimento que cobre as verdades gerais ou as operações das leis fundamentais”;

Em suma, a Ciência, procura a verdade das leis da Aritmética e a sua harmoniosa Música, na Geometria dos Astros.

Por seu lado, “a Religião é a relação dos seres humanos com o que eles consideram sagrado, absoluto, espiritual, divino ou digno de reverência especial. Por norma é também considerado como a forma como as pessoas lidam com as preocupações do seu dia a dia e seu destino após a morte”; É assim o entendimento Lógico da Bondade de Deus através da Beleza na Retórica da palavra espalhada pela Verdade da Gramática.

Confuso? Opostos? Aparentemente de um lado temos a obrigatoriedade da experimentação, por outro o espiritual. Voltemo-nos então para um suposto e reconhecido ateu, Stephen Hawkings, mente brilhante e um dos maiores gênios do último século em dois apontamentos do seu livro mais emblemático, “Uma Breve História do Tempo”, onde afirma que “tanto quanto o Universo teve um princípio, nós poderíamos supor que tenha um Criador”, mas “no entanto, se nós descobrirmos uma teoria completa, então nós conheceríamos a mente de Deus”.

Na minha modesta opinião, Hawkings pode até ser ateu em relação a religiões organizadas, mas seguramente que acreditava em Deus e hoje está a ser conduzido pelo GADU no oriente eterno. Já depois da publicação do seu livro, Hawkings em entrevista diz que “É difícil discutir o início do universo, sem mencionar o conceito de Deus.

O seu trabalho sobre a origem do universo está na fronteira entre ciência e religião, mas ele tende a ficar no lado científico da fronteira. É bem possível que Deus aja de forma que não podem ser descritas por leis científicas, mas neste caso, teria que simplesmente passar pela fé pessoal.”

Percebe-se que Hawkings acreditava num ente superior, num arquiteto que criou as leis do universo. Mesmo em algumas alturas mais tardias da sua vida ele afirmar que “Devido à existência de uma lei como a da gravidade, o Universo pode e vai criar-se a si mesmo do nada” ele não descarta a existência de Deus, pois “contra todas as probabilidades, os números da física básica são exatamente os que precisam ser para acomodar a possibilidade da vida.

Se a gravidade tivesse sido ligeiramente mais fraca, as estrelas não teriam explodido em supernovas. Por outro lado, se a gravidade tivesse sido ligeiramente mais forte, as estrelas teriam vivido por milhares em vez de bilhões de anos, não deixando tempo suficiente para que a evolução biológica ocorresse.“

A minha percepção sobre o tema é uma certeza ligeiramente diferente, sem duvida que este ajuste fino para que as leis da física fossem Justas e Perfeitas teve a mão do GADU; Einstein insiste em que “Deus não jogou aos dados” e Galileu Galilei disse-nos que “A Matemática é o alfabeto que Deus usou para escrever o Universo“.

Mesmo que aparentemente o GADU não interfira com essas leis, não decida realizar milagres avulsos ou em troca de certo número de rezas, sem dúvida que as nossas preces são ouvidas e Ele nos ajuda a iluminar o caminho de forma a ultrapassar os obstáculos desta nossa etapa térrea e física a caminho do oriente eterno.

Olhando para o Evangelho segundo São Lucas, onde Jesus afirma que “Ninguém, depois de acender uma candeia, a cobre com um vaso ou a põe debaixo duma cama; pelo contrário coloca-a sobre um velador, a fim de que os que entram, vejam a luz. Pois não há coisa oculta, que não venha a ser manifesta; nem coisa secreta, que se não haja de saber e vir à luz.” Para mim, Deus quer o seu trabalho visto e a ciência é a luz que ajuda o mesmo a ser revelado, pois ele existe, mas têm de ser iluminado para que seja revelado e entendido.

Desde os primórdios da Humanidade que o Homem evolui, se desenvolveu e se tentou aperfeiçoar, sempre procurando entender os seus desígnios e os de Deus. Os romanos pegaram no ensinamento grego e dividiram as suas sete estradas por dois caminhos que nos levam ao aperfeiçoamento próprio, o Trivium e o Quadrivium.

O Trivium é o caminho religioso que nos faz entender os nossos deveres próprios, com os demais e principalmente com Deus. Deveremos dedicar-nos à gramática de forma a eliminar erros e ordenar os nossos pensamentos.

A retórica dá forma ao expressar do nosso pensamento para que este possa ser entendido pelos demais, por fim a lógica dá-nos a habilidade de raciocinar de forma a tirar conclusões com base em premissas e assunções e assim entender a nossa relação com o GADU.

As três artes do Trivium, a gramática, a retórica e a lógica, eram estudadas por quem espalhava a Verdade de Deus através da bondade e beleza das suas palavras. Por outro lado, as restantes artes liberais, o Quadrivium usa a ciência para compreender e ver os desígnios de Deus, com a Aritmética das suas leis e regras matemáticas, a Geometria da aplicação das suas regras num espaço, e a música que harmoniza as leis durante o ciclo natural. Por fim a Astronomia, que é a arte que nos permite observar a criação do GADU no espaço e tempo.

Tanto o conhecimento do Trivium como do Quadrivium são indispensáveis para ouvir, falar, entender e observar o GADU e a sua criação, mas principalmente também para nos “Conhecermos a nós próprios”, evoluirmos como Homens tornando-nos melhores realizando uma jornada a caminho do Oriente Eterno de forma justa e perfeita.

JocaB – M:. M:.

 

SUCESSÃO NA LOJA


 

Outrossim, (e aqui já peço desculpas novamente, por saber que o Irmão é ocupado e recebe um número muito grande de consultas, mas são poucos com os seus conhecimentos e disposição para nos esclarecer), peço-lhe mais uma vez o socorro das suas luzes em algo que está verdadeiramente a aborrecer-me, e falo inicialmente da minha Loja. Trata-se da escolha de Irmãos para a direção das Lojas, para o veneralato…
.
Tenho visto, na grande maioria das Oficinas, inclusive na minha, a mentalidade, que acaba guiando os Irmãos nesses casos, de que há necessidade de renovação, é necessário, é preciso renovar, colocar novos Irmãos no Trono de Salomão, acrescendo-se a isto o fato de entenderem que, para tanto, deve-se aplicar o sistema de rodízio, ou seja, “de quem é a vez”, seja no sentido de “eleger” o Mestre mais antigo ou aquele que ocupa no momento a 1a Vigilância da Loja.

Acabo perguntando-me, então, do por que da eleição, já que há um “sistema” rotativo para a ocupação do cargo de Venerável, bem como se não deve haver uma análise sóbria de quem possuiria as melhores condições para empunhar o 1° Malhete, lembrando-me do que diz a respeito o próprio Ritual de Instalação: “­As condições essenciais para o desempenho das funções de Venerável Mestre são as seguintes: …Ser versado na nobre ciência da Arte Real e amante da sabedoria…” e como é triste ver Veneráveis com dificuldade já para ler os rituais de uso comum, sem conhecimentos básicos de história e doutrinas da Ordem, da ritualística, legislação, etc.

Como já fui Venerável, encontro-me exclamando com os meus botões, diante de alguns exemplos do que digo: “Ele é pior que eu!”.
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Longe de mim arvorar-me em exemplo de Venerável, mas, com toda sinceridade, sempre procurei e procuro aprender, conhecer, e quando no Trono de Salomão, esforcei-me por saber mais ainda do essencial, ao menos, para me desincumbir o melhor possível de minhas obrigações, e somente aceitei ser indicado e eleito para o cargo após ter mais de 20 anos de Maçonaria, e perdoe-me se pareço orgulhoso e presunçoso, mas o veneralato não é para todos os maçons, para todos os Mestres.

Penso se não seria o caso de serem maiores as exigências legais para que alguém possa ser eleito Venerável, se não deveria o mesmo submeter-se a um exame de condições por uma Comissão de Mestres Instalados mais preparados, doutos, com a necessidade de ser por eles aprovado para poder assumir as funções.

Já temos em muitas Lojas uma deplorável situação de Irmãos que não lêem não se interessam em aprender, em se desenvolver, não estudam, de Lojas que não ensinam etc., para ainda termos à frente dos mesmos Mestres em iguais condições, mas que deveriam ser os guias dos Irmãos, ensinando-os, já que estão sob o sólio “para esclarecer a Lojas com as luzes da sabedoria…”
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Estarei assim tão errado, meu Irmão? Gostaria muito de o seu sábio parecer, até porque penso em preparar um trabalho a respeito, começando pelas considerações históricas e vindas para o momento atual, para os nossos “usos e costumes”.
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Hideraldo Teodoro

 

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