Não é costume discutir
a doutrina Maçônica fora dos seus templos, porém, sintonizado com a necessidade
de maior aproximação com o mundo que nos rodeia, aos quais todos nós
pertencemos, levou-me a tomar a decisão de expor um pouco da nossa filosofia,
do nosso pensamento.
Permita-me, que
num esforço de síntese, provavelmente superior à minha capacidade intelectual,
possa trazer-lhes algumas considerações sobre nossa filosofia de pensamento,
nosso simbolismo.
No inicio do
século XVIII apareceu em Londres uma sociedade, provavelmente já existente
antes (há passagens bíblicas superponíveis ao seu simbolismo), ao qual ninguém
sabe dizer de onde vinha, o que era e o que procurava. Expandiu com incrível
rapidez pela Europa Cristã, principalmente na França e Alemanha, chegando até a
América. Homens de todas as classes sociais, étnicas e religiosas entraram para
o seu circulo – chamavam-se, mutuamente, de Irmãos.
Esta sociedade,
intitulada Associação dos Pedreiros Livres, atraiu a atenção dos governos; foi
perseguida; foi excomungada por dois Pontífices; suas ações levantavam
suspeitas odiosas. No entanto ela resistiu a todas estas tempestades,
difundindo-se, cada vez mais, até chegar aos nossos dias.
Podemos dizer que
basicamente existem três correntes de pensamento maçônico:
- Maçonaria
inglesa, de cunho tradicionalista, observadora e seguidora dos rituais;
mantém-se imutável nos seus três séculos de existência documentada. É estática
e conservadora.
- Maçonaria
francesa, embora originária da Britânica, sofreu alterações através dos tempos,
ditadas pelas condições do meio em que se desenvolveu, adquirindo feição mais
latina, tornando-se conhecida pela ação exercida por seus membros, como
cidadãos, nas áreas política, social e religiosa.
- A maçonaria
brasileira e dos demais países hispano-americanos são, filosoficamente, a ela
filiados. Formada no meio hostil e intolerante à liberdade de pensamento,
partiu para a luta que visava transformar estas condições adversas. São muito
vivas e documentadas as lembranças de sua participação na Revolução Francesa,
quando sobressaíram grandes maçons como Danton, Robespierre e Diderot; na
independência de quase todos os países da América Latrina, com a participação
efetiva de notáveis maçons, como Simon Bolívar, San Martim, Sucre e Francisco
Miranda; na independência do Brasil e na proclamação da republica, para citar
alguns irmãos da Ordem, como Dom Pedro I, José Bonifácio, Gonçalves Ledo,
Deodoro da Fonseca, Rui Barbosa, Floriano Peixoto, Quintino Bocaiúva, dentre
outros.
- Maçonaria Alemã,
voltada para os estudos filosóficos de alta indagação: Goethe, Kant e Fichte
são exemplos de filósofos e literatos que honraram nossa Instituição com suas
adesões.
A maçonaria
resistiu à prova do tempo, enquanto muitas outras organizações, aparentemente
similares, desapareceram. Isto aconteceu porque ela é, por principio, uma
Instituição com propósitos universalistas. A “sociedade separada dos maçons” se
distingue da “grande sociedade humana” porque ela se isola para impedir a visão
unilateral da divisão de trabalho, atingindo, com isto, a síntese da cultura
humana.
A Igreja se opõe a
outras Igrejas, o Estado a outros Estados, a Maçonaria não; ela toca no
santuário do espírito, o problema ético individual; ela atua sobre a república
dos espíritos, administra o pluralismo de opiniões.
Esta Instituição
exalta tudo o que une e aproxima as pessoas e repudia tudo aquilo que divide e
as isola. Isto acontece porque ela aspira, por principio, fazer da humanidade
uma grande família de Irmãos e para atingir este desiderato, se põe sempre a
serviço dos movimentos moralizadores e dos bons costumes.
Ela prepara o
terreno onde florescerão a justiça e a paz. Sua única arma é a espada da
inteligência; sabe que o único modo de produzir, mesmo socialmente, uma mudança
profunda e durável de uma sociedade, é trabalhar para modificar a sua
mentalidade.
Os pilares que
sustentam esta vontade indomável de transformar, primeiro o homem e, por
corolário, todo o universo dos homens, são três palavras mágicas: liberdade,
igualdade e fraternidade.
“O amor à liberdade
foi-nos dado juntamente com a vida e dos presentes do céu, o de menos valor é a
vida” afirmou Goethe, o famoso literato alemão e nosso Irmão de Ordem; afirmo
eu, corroborado pelos registros da história, que em nenhuma parte do mundo,
jamais houve um grito de liberdade para um povo que não houvesse sido apoiado
pela Maçonaria.
A liberdade é a
essência intima e supremo desejo do homem e os indivíduos, pela sua colaboração
mútua, visam criar uma alma coletiva; embalados pelo sopro do vento que libera
os grilhões do obscurantismo, “A filosofia verdadeira, no dizer do grande
filósofo e irmão de Ordem, o alemão Fichte, considera o pensamento livre como a
fonte de toda a verdade independente”.
No que diz
respeito à igualdade, a maçonaria reconhece que todos os homens nascem iguais e
as únicas distinções que admite são o mérito, o talento, a sabedoria, a virtude
e o trabalho.
Para dizer o
pensamento da Ordem sobre a fraternidade, peço licença para repetir o que disse
outro maçom, o imortal Victor Hugo: “A civilização tem suas frases, estas
frases são séculos. A lógica das frases, expressão da idéia Divina, se
condensam na palavra Fraternidade”.
HÉLIO MOREIRA
Membro da Loja Maçônica Asilo da Acácia
1248
Academia Goiana de Letras, Academia Goiana Maçônica de Letras
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