“Levantam-se templos à virtude e cavam-se masmorras
ao vício”
A Maçonaria tem certos
procedimentos que, muitas vezes, passam despercebidos em seu conteúdo à maioria
dos Irmãos, no que concerne à alta significância do que representam. Um exemplo
disso é o enunciado acima.
Respondido durante o episódio do telhamento, as
palavras deveriam tocar profundamente quem as pronuncia e quem as ouve, mas
elas se perdem no vácuo das sensibilidades, sem que se aperceba da profunda
exortação expressada.
Aliás, esse fato é
comum na Maçonaria atual.
As palavras são ditas
apenas pelo aparelho fonador de quem fala e registradas no aparelho auditivo de
quem ouve. São apenas registros físicos que não motiva quem fala ou quem ouve.
Para que as palavras surtam o efeito esperado e desejado elas necessitam ser
sentidas, tocar o sentimento, o íntimo da pessoa, causando motivação, que
transforma comportamentos.
Tudo que penetra em
nossos sistemas, pelos órgãos dos sentidos comuns, só conseguirá causar
transformação se produzir sentimento motivador. Os fatos indiferentes são
inócuos. A repetibilidade de um fenômeno indiferente causará habituação e/ou
extinção da resposta provocada inicialmente. Esse preceito é bem
conhecido nas ciências biológicas.
A repetição continuada
e desmotivada de nossas sessões cria o efeito da habituação ou extinção do
sentimento de transformação nos ouvintes das palavras do ritual. Por isso, em
nossas sessões maçônicas, o que se diz deveria ser recebido com motivação
interior.
Para isso acontecer, o
maçom necessita estar interessado no desenrolar dos diálogos dos trabalhos e
não apenas marcar presença para não se tornar irregular em Loja. Cada palavra
que se diz nessas sessões não são palavras vãs. Elas possuem forças
concentradas, em sua expressão, que transformam o ouvinte interessado num
verdadeiro maçom, transmutando vícios em virtudes.
A história nos mostra que líderes da
humanidade, para o bem ou para o mal, transformavam as multidões em aríetes de
seus desejos, pela força de sua eloquência.
As palavras faladas
com sentimento atingem a quem ouve com a energia de quem fala. Daí a
grande importância do Venerável dirigir os trabalhos com o sentimento na voz e
não apenas com a voz da palavra. Se assim proceder, os seus comandados recebem
uma parcela de sua energia interior, tanto maior, quanto maior for sua força
moral.
Os trabalhos se tornarão
mais agradáveis, por mais que se tornem rotineiros, pois, cada sessão nunca
será igual a anterior, porque estará acrescida de maior vigor, pela somatória
das energias passadas e presentes. Os maçons, por seu turno, se começarem a
ouvir sentindo as palavras, irão meditar no seu significado moral com maior
interesse em vivenciá-las, pois que acordará do sono letárgico em que se
encontram.
É claro que tudo isso
depende da vontade interior de cada um em ser ou em se tornar um bom e legítimo
maçom.
“Levantam-se
templos à virtude” – são belas palavras de
exortação. O seu significado não é literal, bem o sabemos. É dever do maçom o
cultivo das forças morais, o exercício dos abstratos substantivos tais como
paciência, amor, caridade, humildade, perdão, amizade, sinceridade, tolerância,
etc., tornando-os concretos adjetivos do maçom. Não podem ser apenas exortações
doutrinárias ou religiosas, como alguns imaginam.
Para o maçom são
comandos interiores que operam a transformação de seu comportamento profano. A
Ciência tem provado que o exercício dessas virtudes gera energias positivas nas
pessoas, que podem modificar seu estado patológico em estado fisiológico ou
sadio, enfim curar doenças.
Esse estado energético
interior tem a dimensão do tamanho da vontade do indivíduo.
A expressão também
indica ao maçom que deverá realçar as virtudes encontradas nos Irmãos e não
evidenciar os seus defeitos ou vícios na maledicência comum. Se o Irmão
apresenta um defeito moral o exercício da virtude nos manda ajudá-lo na sua
transformação, usando os meios de que dispomos e os que sejam necessários para
essa tarefa.
Levantar templos à
virtude também está presente quando nos esforçamos para manter a harmonia do
lar, onde exercitamos a tolerância, o perdão, a compreensão e, sobretudo o
amor.
Quando trabalhamos
para minorar a ignorância e o sofrimento da sociedade também estamos levantando
templos à virtude, pois, ela é a extensão do nosso lar.
O objetivo basilar da
Maçonaria é promover a evolução moral do maçom, para que ele, moralizado, seja
o agente multiplicador dessa moral, na sociedade em que se encontra inserido.
Não só agente
verbalizador da moral, mas também, e mais importante, um silencioso vivenciador
dela, porque o exemplo vale por mil palavras. O levantar templos à virtude toca
profundo o ser-maçom, mas se torna apenas belas palavras no estar-maçom.
“Cavam-se
masmorras ao vício”- é o corolário do “levantam-se
templos à virtude”. Acabar com os vícios significa
extinguir o ódio, o rancor, a vingança, a mágoa, a maledicência, a
intransigência, a vaidade, o orgulho, o egoísmo, a prepotência, o comodismo,
etc., e tantos outros defeitos morais.
Os concretos vícios
orgânicos como a glutonaria, a sexolatria, a dependência de drogas, jogos de
azar, alcoolismo são também alvos da artilharia maçônica, porque são
escravizadores do homem. O princípio basilar da liberdade não é apenas o
físico, mas também moral e psíquica.
Vício é tudo que
degrada o ser humano, portanto, as masmorras são símbolos que nos diz para enterrarmos
nossos defeitos, antes que eles nos enterrem (no amplo sentido do termo). Não é
fácil realizar isso, porque o prazer que nossos vícios produzem em nós é uma
enorme força a nos prender. Esse prazer é tão real que nos entorpece a
consciência e passamos a não senti-lo como vício. Se alguém assim o diz,
duvidamos ou buscamos as devidas desculpas ou explicações para manter-los.
Entretanto, tocados
pelo sentimento maçônico da transformação moral, desenvolvemos uma energia
interior para desalojar esses vícios, grandes ou pequenos, de nosso ser. Essa
energia a aurimos principalmente durante as sessões ou trabalhos maçônicos,
quando comparecemos a eles com a motivação da autotransformação.
Quando os maçons se
conscientizarem e entenderem o significado moral de cada palavra que se diz em
Loja, durante seus trabalhos, e passarem a vivenciá-las no dia a dia, veremos
que nos tornamos uma poderosa força de transformação do mundo em todos os
sentidos.
A expressão “Educa-te
a ti mesmo que o mundo se educará” não é expressão
apenas das escolas propriamente assim configuradas, mas de todos que trabalham
para a evolução da humanidade.
Autor: Joaquim Tomé de
Souza
Membro da
ARLS Luz e Saber, 2380 – Oriente de Goiânia – GO
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