1. Introdução.
Este trabalho objetiva demonstrar aos amados IIr.'. as origens das Sete Artes
Liberais e o seu simbolismo na Maçonaria.
2. O Nascimento do Homem.
Em sua essência física, os homens nascem todos iguais, chegamos ao mundo nu,
assustado, chorando, cada novo ser humano, porém, têm suas particularidades,
uns serão no futuro mais inteligentes, outros mais humanos, alguns mais
violentos, uns voltados par o bem de todos e outros voltados ao seu próprio
bem.
Cada um com seus dons
desenvolverão uma profissão, alguns não serão nada, outros ainda serão um peso
a ser carregado pelos demais por ter enveredado pelos caminhos do vício e
desperdiçado todos os dons que recebera. Embora sejamos todos física e
organicamente semelhantes, cada homem tem suas particularidades intelectuais e
sua consciência bem definida, cada qual estabelece suas prioridades de vida,
uns desejam ser bons pais, outros desejam fortuna, uns se contentam em ter
poucas posses e empregar todo seu tempo em ser mais sábio. seria a sabedoria um
dom tão valioso que não poderia ser comprado nem vendido?
Nos primórdios da humanidade a situação era semelhante, os homens de modo
instintivo foram vencendo as dificuldades e os perigos e vivendo, com o
descobrimento do fogo, da roda, das ferramentas de pedra, dos metais, da fala e
da escrita, através das gerações transferiram o lento conhecimento acumulado.
Nos dias atuais, podemos aplicar diversos conceitos simples que nossos
antepassados descobriram ao custo de muitos anos.apesar de elementares, estas
grandes descobertas, foram basilares na evolução do homem e do conhecimento.
3. A Evolução do Conhecimento.
A Epistemologia ocupa-se da definição do saber e dos conceitos correlatos, das
fontes, dos critérios, dos tipos de conhecimento possível e do grau de exatidão
de cada um, bem como da relação real entre aquele que conhece e o objeto
conhecido. Os sofistas gregos duvidavam da existência de um conhecimento objetivo
e confiável, em contraposição Platão, e quase na mesma linha Aristóteles,
afirmavam que era possível adquirir conhecimento com base na observação dos
fatos, tomando como base o raciocínio abstrato da matemática e da filosofia
(Platão) e que o conhecimento deriva da experiência e da aplicação da lógica
(Aristóteles).
A partir do Séc. XVIII até o Séc. XIX, surgiram outros movimentos filosóficos
como o racionalismo, o empirismo, o fenomenológico, os neo-realistas e os
realistas críticos. Tantas vertentes sobre o mesmo assunto culminaram em tal
emaranhado de conceitos resultando numa enorme confusão verbal.
Atualmente duas correntes filosóficas parecem se sobrepor à antiga
epistemologia, trata-se do positivismo e da filosofia analítica, apostando numa
só forma de conhecimento, o científico. Baseia seus trabalhos no conhecimento,
na percepção e na probabilidade.
O fato de a história nos apresentar tantas correntes de pensamento filosófico,
muitas vezes conflitantes, aqui brevemente comentado, nada mais serve para
ilustrar quão importante é o exercício de usar o intelecto, cada uma destas
correntes pode se apresentar obsoleta, gasta, atrofiada, porém, deu sua
colaboração para atingir o atual estágio de conhecimento no qual hoje vivemos.
Alguns destes conceitos filosóficos foram à base dos ensinamentos ministrados
nos antigos Gymnasium , centros de ensino de corrente humanista organizados a
partir do Séc. XVI e quase sempre nas mãos da Igreja Católica ou por ela
dirigidas. Em latim eram ministrados as ciências do Companheiro, conhecidas no
mundo profano como as Artes Liberais.
O Trivium abrange os
conhecimentos da Gramática, Retórica e da Lógica, e o formado nestas ciências
recebia o título de diplomado. O Quadrivium outorgava o título de licenciado em
artes, abrangia o estudo da Aritmética, Astronomia, Geometria (englobava o
estudo da Geografia e da História Natural) e da Música.
3.1 O Trivium.
3.1.1 A Gramática.
Esta antiga arte liberal, etimologicamente oriunda da letra grega Grama, é arte
de escrever de forma ordenada e qualificada, de forma a repassar o integral
conteúdo do que se deseja transmitir a quem lê.
A Gramática pode ser considerada a base das demais ciências liberais e também
das novas ciências, já que se torna necessário que o conhecimento tenha o ideal
registro histórico através da escrita, para que as gerações acumulem os
conhecimentos adquiridos em cada época.
3.1.2 A Retórica.
Muito parecida com a Gramática, a Retórica usa a oratória para repassar a
ideia, o ensinamento, o conceito a quem se dirige à palavra. Não apenas com a
simples comunicação, mas fazendo o uso da persuasão e da eloquência, tornando a
fala elegante e comunicativa.
Falar bem é por si só
uma forma de convencimento, e independe dos dons natos tratados no início deste
trabalho como bem esclarece Rizzardo da Camino: “A Eloquência é a arte de bem
falar, inata em alguns e cultivada em outros; pode ser o resultado de estudo,
transformando-se em algo artístico, como também pode resultar de um dom
natural”.
A Retórica pode ser
conquistada por qualquer um, podendo ser comparada a pedra bruta quando mal
sabemos nos comunicar, e a pedra cúbica quando por meio do exercício da
leitura, da prática da escrita e do uso da reflexão convergimos o esforço no
sentido de expressar o que desejamos corretamente e através da palavra.
Em particular, é importante aos Maçons o exercício da Retórica, pois se devemos
servir de exemplo devemos cuidar especialmente do que proferimos a outrem,
fazendo sempre o uso da verdade, e quando o fizer, tomar sempre o cuidado de fazê-lo
com propriedade e buscando a verdade.
Deve ainda o Maçom,
interpretar bem quando ouvinte, buscando decifrar os laços e armadilhas
enrustidas em tão bem maquiavelicamente tramados discursos dos que fazem uso da
retórica para alcançar objetivos muitas vezes escusos.
3.1.3 A Lógica.
A Lógica clássica ou tradicional foi enunciada pela primeira vez por
Aristóteles, que determinou as leis para um raciocínio correto mediante
silogismos .
Pode ser definida como a
ciência que trata dos princípios válidos do raciocínio e da argumentação. Em
síntese, a Lógica é o meio pelo qual se chega à conclusão baseadas em
determinadas proposições ou premissas. É um conjunto de regras, ou normas que
regulam e padronizam o pensamento em busca do correto, do verdadeiro, do certo,
do justo.
3.2 O Quadrivium.
3.2.1 A Aritmética.
De origem árabe, os números são a representação de quantidade. Fazemos uso
destas representações para realizar cálculos aritméticos, bem como de ciências
correlatas como a Álgebra por exemplo. De um modo bem conpêndioso, é o domínio
das quantidades, das operações básicas, adição, subtração, multiplicação e
divisão.
3.2.2 A Astronomia.
Antes de qualquer coisa é preciso esclarecer a diferença entre Astronomia e
Astrologia. Pesquisando o dicionário encontramos a definição de cada um:
astronomia: S. F. Ciência que trata dos astros e de tudo que lhes é relativo.
(do gr. Astronomia.); enquanto Astrologia é: S. F. Suposta arte de predizer o
futuro pela observação dos astros. (do lat. Astron+logos.).
Desta forma, enquanto a Astronomia estuda os astros e corpos celestes tentando
desvendar seus mistérios, descrever suas órbitas e movimentos, sua idade, sua
luminosidade, a Astrologia fazia uso dos astros para fazer adivinhações.
A confusão em torno da Astronomia e da Astrologia advém dos tempos mais
remotos, algumas civilizações antigas tinham nos astros, diurnos ou noturnos
seus deuses, e a eles dirigiam suas celebrações rogando por boas colheitas, por
vitórias nas guerras, etc.
Não passa de uma
conjectura, porém, a partir desta ótica pode mesmo ser a Astrologia a grande
motivação da Astronomia, já que, com a prática sequenciada da contemplação dos
corpos celestes com fins religiosos e místicos, foi possível estabelecer
relações dos astros com determinados comportamentos das colheitas, assim como
do movimento das marés, mas repetindo, não passa de mera suposição particular
ainda que com alguma validade, já que na literatura consultada nada consta
nesse sentido. Desta forma, astronomia não pode ser declarada como uma ciência,
mas sim como arte.
A Astronomia, esta sim uma ciência, teve grande importância no passado, e não
se sabe os limites de sua expansão. Os antigos navegadores tinham como o
instrumento de orientação o Astrolábio , inventado pelos gregos ou alexandrinos
em 150 A.C. e posteriormente aperfeiçoado pelos árabes; este instrumento
determinava a localização da embarcação e o rumo que devia tomar com base nos
astros.
A Astronomia foi também motivo de disputas entre estudiosos e a igreja,
resultando em algumas condenações e mortes na fogueira, num flagrante exemplo
de intransigência e de censura à busca da verdade que se contrapõe a dogmas e
esdrúxulos.
Por fim, apenas ensaiamos a conquista espacial, as dúvidas são muitas: estamos
sós? Vamos colonizar algum planeta? Vamos conquistar outros planetas? Poderemos
ser conquistados? Muitas verdades ainda virão à tona no campo da Astronomia.
3.2.3 A Geometria.
A Geometria é a parte da matemática que estuda as possibilidades métricas aplicadas
a um espaço. A Maçonaria Operativa fez uso dos conceitos da geometria nas
edificações por ela erigidas, e num breve olhar, veremos representados pelo
Templo Maçônico veremos vários símbolos com ela relacionados, são triângulos,
ângulos, retas, círculos, instrumentos necessários para traçar e medir estes
espaços; todas essas referências tornam a geometria a ciência com maior
representação simbólica no Templo Maçônico.
Cabe ainda chamar a atenção para a Letra G, que no Rito Moderno tem seu lugar
no centro da Estrela Flamígera, com forte iluminação interna, a dois metros de
altura ao lado da Coluna B. Esta letra representa entre outras coisas a
Geometria, que é um dos fundamentos da ciência positiva, que vem nos ensinar
“...a modelar os indivíduos no sentido de manter o seu lugar aqueles que lhes
convier melhor, no edifício social”.
3.2.4 A Música.
É a combinação de sons de instrumentos ou vocalizados de forma harmoniosa e
organizada resultando numa composição. Pode ser solo ou conjunta com outros instrumentos
iguais ou diferentes, pode ser sacra ou profana.
A Música faz parte do folclore de cada região, podemos citar o Fandango de
origem espanhola e regionalizado pelos gaúchos e nordestinos, o Repente e a
Embolada, o Caipó, o Cateretê, Maxixe, Macule, para ficar somente no Brasil,
mas cada época e cada região do mundo tem na música e por extensão na dança a
representação da sua cultura.
As musicas tem como função, o entretenimento, auxílio ritualísticos profanos ou
religiosos inclusive os fúnebres. Pode ainda manifestar movimentos e apelos
sociais como na música Brasil – mostra a tua cara (que devia neste período de
moléstia em que vivemos na política brasileira se transformar em nosso hino). E
num sentido amplo, a música representa os valores centrais de uma sociedade.
3.3 As Ciências Derivadas das Artes Liberais.
Se nos remotos tempos onde os conhecimentos eram transmitidos no Gymnasium as
artes restringiam-se apenas a Sete Ciências, estas formam a síncope de todo o
conhecimento moderno, do rudimentar tambor que marcava a marcha dos guerreiros
ou ecoava avisos partimos para as orquestras que reúnem dezenas de músicos
afinados e harmonizados em uma mesma construção musical.
A Geometria pode não ter
evoluído muito, mas a sua aplicação parece não ter limites, por ela podemos
fazer a distribuição da nossa sala de estar e é o instrumento pelo qual
arquitetos e engenheiros erguem pontes, viadutos, represas, arranha-céus.
Se a Astronomia era o
grande meio de orientação nas navegações na idade média, foi ela que
proporcionou o novíssimo GPS (Global Positioning System) por meio do
entendimento dos movimentos terrestres e da órbita. Assim como a Geometria a
Aritmética quase não mudou com os tempos, embora alguns matemáticos cada vez
mais criam fórmulas complexas buscando através da Matemática comprovar suas
teorias; também a Aritmética não tem limites à sua aplicação.
As ciências do Trivium,
Retórica, Lógica e a Gramática, seguem esta mesma linha, sua aplicação é
universal, e até quem não as conhece faz uso delas sem saber que um dia foram
disciplinas das mais importantes.
As Artes Liberais, ou Ciências do Companheiro, são o ponto de partida da
evolução, do detalhamento de cada uma destas ciências, surgiram às ciências
modernas, e o modo que vivemos atualmente. O conhecimento humano analisado
graficamente segue em uma progressão geométrica infinita, onde a cada período o
nosso conhecimento é elevado ao quadrado. Poderia a Matemática provar que nosso
conhecimento é finito? Graficamente, o conhecimento humano poderia ser
representado em uma linha reta (ápice do conhecimento)? Fica a questão para ser
respondida por quem entende de Matemática, ciência na qual nunca passei de
Aprendiz.
4.0 O Nível e a Alavanca.
A Terceira Viagem na Iniciação do Aprendiz a Companheiro é dedicada às
ciências, ou artes liberais. O iniciando caminha pelo Ocidente segurando na mão
esquerda uma Alavanca apoiada sobre o ombro esquerdo, na mão direita retém o
Nível. O Ir.'. 1° Experto conduz o candidato a Companheiro até próximo do triângulo
do Secr.'. onde lê a placa com os dizeres as ciências.
O simbolismo da Terceira Viagem vem nos ensinar sobre as dificuldades e como suplantá-las,
a Alavanca, símbolo do esforço e da força, é o instrumento pelo qual devemos
nos inspirar a não nos reter em contemplar os problemas, devemos partir para
ação, para a execução, para a materialização; por outro lado o Nível,
simbolizando a ciência, transmite o conceito de que o esforço deve ser malhado
pelos golpes do conhecimento, de forma a não desperdiçar nossa força.
5.0 Conclusões.
O conhecimento humano não tem limites, comparando as Artes Liberais com o atual
estágio do nosso conhecimento, talvez não fossem estas mais do que algumas
páginas de uma volumosa enciclopédia; difícil mensurar, da mesma forma não há
como relegar a sua importância por dois motivos: formam a base do conhecimento
e tem aplicação comprovada até nossos dias.
A Terceira Viagem vem corroborar alguns dos fins da Maçonaria, o progressismo e
o evolucionismo. Oras, como maçons devemos ainda abraçar a causa da evolução e
do conhecimento verdadeiro, e, portanto defender as cores da evolução e do
progresso, sem, no entanto nos atermos simplesmente com a força da alavanca,
antes de tudo, humildemente, é preciso que vistamos o manto do saber procurando
nos instruir.
Por fim, o saber mais não deve ser nunca motivo de superioridade, devemos nos
lembrar de que, apesar de progressistas e evolucionistas os Maçons combatem a
ignorância, que é: “...saber pouco, saber mal o que sabe, e saber coisas outras
que deveria saber...", portanto, quem tem o saber deve antes de tudo,
usando a Aritmética, somar o seu conhecimento com os IIr.'., multiplicando o
saber e dividindo trabalhos, para que se diminuam os obstáculos.
6.0 – Fontes Bibliográficas.
1. O Companheirismo Maçônico, Rizzardo da Camino, Edição Digital, Livraria
Maçônica Paulo Fuchs.
2. Ritual do Grau de Aprendiz, Grande Oriente do Brasil, Edição de 1999.
3. Ritual do Grau de Companheiro, Grande Oriente do Brasil, Edição de 1999.
4. O Companheiro no Rito Moderno, Melkisedek – A Gazeta Maçônica (em revisão).
5. Enciclopédia Microsoft Encarta,