ESTAR ENTRE COLUNAS - O QUE ISTO SIGNIFICA?


I - INTRODUÇÃO 

O propósito do presente trabalho é delinear os direitos e obrigações do “Entre Colunas”, prática muito usada especialmente nas reuniões capitulares de uma das Ordens Básicas da Maçonaria, que foi a Ordem dos Cavaleiros Templários. Infelizmente, não mais tem sido ensinada e nem posta em práticas nas Lojas.

O interior de uma Loj.'. Maç.'. (Templo) é dividido em quatro partes, onde a mesma simboliza o Universo. Assim temos o Or.'., o Oc.'., o N.'. e o S.'.

Em algum tempo na história, logo após a construção do primeiro templo Maçônico do mundo, o Freemasons Hall, em Londres, no ano de 1776, baseado inteiramente no parlamento Inglês, construído em 1296, estabeleceu-se que as áreas pertencentes ao Norte e ao Sul chamar-se-iam Col.'. do N.'. e Col.'. do Sul.'.

Assim, quando um Irmão, em Loj.'. está entre a Col.'. do N.'. e a Col.'.do S.'., e não entre as CCol.'. B e J. Mesmo próximo à grade que separa o Oriente do resto da Loja, o Irmão estará Entre Colunas. Desta forma é extremamente incorreto dizer que o passo ritualístico dos maçons tem que começar entre as Colunas B e J.

Tanto isso é verdade, que os Templos modernos, especialmente de LLoj.'. de Jurisdição da Grande Loja Unida Sul Americana, que tem as CCol.'. B e J junto a porta de entrada do templo pelo lado de dentro, já o Grande Oriente do Brasil de MG, têm suas CCol.'. B e J no Átrio, e não no interior do Templo.


Em síntese, podemos apresentar algumas situações do que é “Estar Entre Colunas”:

• É conjunto de Obreiros que formam as CCol.'. do N.'. e do S.'.

• Em sentido figurado, são os recursos físicos, financeiros morais e humanos, que mantêm uma instituição maçônica em pleno funcionamento;

• É quando a palavra está nas CCol.'. e em discussão;

• É quando o Ir.'., colocar-se ou postar-se entre as CCol.'. do N.'. e do S.'., no centro do piso mosaico onde isto evidencia que o Obr.'. que assim o faz, é o Alvo de atenção de toda Ofic.'.;

• Na circulação do Tr.'. de Benef.'., o Ir.'.Hosp.'. aguarda entre Colunas;

• Quando o Ir.'. P.'.Band.'., com a Band.'. apoiada no ombro, entra no Templo, por sua vez se põe Entre CCol.'.;

• Na apresentação de TTrab.'., o Ir.'. se apresentar “Entre Colunas” durante o Tempo de Estudos, ou no Período de Instrução;

• No atraso de um Ir.'., o mesmo ao adentrar ao T.'. ficará à Ord.'. e entre CCol.'., aguardando a ordem do V.'. M.'. para que tome posse do assento. 

II - DESENVOLVIMENTO 

Em toda a Assembleia Maçônica, os irmãos poderão fazer uso da palavra em momento oportuno; caso queira obter a palavra estando “Entre Colunas”, poderá solicitá-la com antecedência ao V.'. M.'., e obrigatoriamente levar ao seu reconhecimento o assunto a ser tratado.

Sendo o Obr.'. impedido de falar, ou quando o mesmo venha a sofrer algum desrespeito a seus direitos, poderá solicitar ao V.'. M.'. que o conduza ”Entre Colunas”, e se autorizado pelo V.'.M.'. o mesmo poderá falar sem ser interrompido, desde que haja decoro, por parte  do Ir.'.

Se, para estar "entre Colunas" é necessária a autorização do V.'. M.'., em contra partida, nenhum Ir.'. pode se negar de ocupar aquela posição, quando legalmente solicitado pela Loj.'., sob pena de punição.

No entanto, as possibilidades do uso da Pal.'. Entre Colunas são muitas e constituem um dos melhores instrumentos dos OObr.'. do Quad.'., sendo uma das maiores fontes de direito, de liberdade e de garantia, tanto para os IIr.'. quanto para a Loj.'. Não há regulamentação; tal vez por isso, cada dia esse direito vem sendo eliminado dos trabalhos maçônicos.

Atualmente um Ir.'. somente é solicitado a estar "Entre Colunas", em situação de humilhação e situações tanto quanto degradantes e constrangedoras.

Associou-se a idéia de responder "Entre Colunas" à idéia de punição, quando em realidade isso deveria ser diferente e muito melhor explorado, em benefício do Quad.'. de OObr.'. de todas as LLoj.'.

Estando "Entre Colunas", um Ir.'. pode acusar, defender a sua palavra ou a de outrem, pedir e julgar, assim como comunicar algo que necessite sigilo absoluto, devendo estar consciente da posição que está revestido, isto é, grande responsabilidade por tudo que disser ou vier a fazer.

A tradição maçônica é tão rigorosa no tange à liberdade de expressão, que quando um Ir.'. estiver em P.'. e a Ord.'. e "Entre Colunas", para externar sua opinião ou defender-se, não pode ser interrompido, exceto se tiver sua palavra cassada pelo V.'. M.'. ato este conferido ao mesmo.

Estando "Entre Colunas", o Ir.'. NÃO poderá se negar a responder a qualquer pergunta, por mais íntima que seja e também não poderá mentir ou omitir sobre a verdade dos fatos, pois desta forma o Ir.'. perde sumariamente os seus direitos maçônicos, pelo que deve ser julgado não importando os motivos que o levaram a tal atitudes.

Por motivos pessoais, um maçom pode se negar a responder a quem quer seja, aquilo que não lhe convier, mas se a indagação for feita "Entre Colunas", nenhuma razão justificará qualquer resposta infiel.

Igual crime comete aquele que obrigar alguém a confessar coisas "Entre Colunas" injustificadamente, aproveitando-se da posição em que se encontra o Ir.'. sem que haja razão lícita e necessária, por perseguição ou com intuito de ofender, agravar ou humilhar desnecessariamente.

Quando um Ir.'. está "Entre Colunas" e indaga os demais IIr.'. ou um determinado Ir.'., sobre qualquer questão, de forma alguma lhe pode ser negada uma resposta e nenhuma razão justificará que seja mantido silêncio por aquele ou aqueles que tenha(m) algo a responder.

Uma aplicação prática do "Entre Colunas" pode ser referentes a assuntos de fora do mundo maçônico. É lícito e muito útil pedir informações "Entre Colunas", sejam sociais, morais, comerciais, etc., sobre qualquer pessoa, Ir.'. ou Prof.'., desde que haja razões válidas para tal fim. Qualquer dos presentes que tiver conhecimento de algo está obrigado a declarar, sob pena de infração ás Leis Maçônicas.

O Ir.'. que solicitou as informações poderá fazer uso das mesmas, porém deve guardar o mais profundo silêncio sobre tudo que lhe for revelado e jamais poderá, com as informações recebidas, praticar qualquer ato que possa comprometer a vida dos informantes ou a própria Loj.'.
Se não agir dessa forma será infrator das Leis Maçônicas Universais.

Suponhamos que um Ir.'. tenha algum negócio a realizar em outra cidade e necessita informações, mesmo comerciais, sobre alguma pessoa ou firma. A ele é lícito indagar essas informações "Entre Colunas" e todos os demais IIr.'., se souberem de algo a respeito, são obrigados a darem respostas ao solicitante.

Outro meio lícito e útil de se obter informações é através de uma prancha, endereçada a uma determinada Loj.'., para se lida "Entre Colunas".

Neste caso, a Loj.'. é obrigada a responder, guardar o mais profundo silêncio sobre o assunto, cabendo a ela todos os direitos, obrigações e cabendo todos os direitos, obrigações e responsabilidades ao solicitador, que deverá guardar segredo sobre tudo o que lhe foi respondido e a fonte de informações. 


III - CONCLUSÃO


Muitas são as acepções que norteiam sobre os ensinamentos do significado de "Estar entre Colunas", porém, deve o Maçom sempre edificar suas CCol.'. IInt.'. embasado pelos Princípios da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, primando pelo bem-estar da família e pelo aperfeiçoamento da sociedade através do trabalho e do estudo, para com isso perfazer-se um homem livre e de Bons Costumes.

Como dissemos no início, não há mais Regulamentação ou Leis Normativas para o uso do "Entre Colunas"; e, se não há normas que sejam encontradas nos livros maçônicos, é porque pura e simplesmente os princípios da condição de “Estar Entre Colunas”, é de que somente a verdade pode ser dita. Obedecidos estes princípios, tudo mais é decorrência.

Este, alegoricamente, talvez seja o real significado no bojo dos ministérios que regem as CCol.'. da Maçonaria, pois "Estar entre Colunas", é estar entre IIr.'.


BIBLIOGRAFIA

ASLAN, Nicola - Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia. Londrina: “A TROLHA”.
CARVALHO, Assis -  Companheiro Maçom. Londrina ”A TROLHA”.
"A TROLHA" - Londrina - PR - Símbolos Maçônicos e suas origens.
CASTELLANI, José - Liturgia e Ritualística do Grau de Aprendiz Maçom.
EGITO, José Laércio do - In Coletânea 2. Londrina: “A TROLHA”.
PUSCH, Jaime - A B C do Aprendiz.
Colaboração e Pesquisa: Weber Varrasquim.  


CIMENTO MÍSTICO



“Não sabeis vós que sois templo de Deus, e que o espírito de Deus mora em vós?”
Cor 3:16

As Lojas Maçônicas são a insígnia viva de comunhão em que o Homem vive uma experiência interior ímpar alimentada por símbolos.  Por meio do simbolismo, a Sublime Ordem apresenta-se como uma das vias de pesquisa do conhecimento, vias essas que não se opõem à nenhuma religião ou fé religiosa. 

A arte de construir o Templo é o escopo maior dos Maçons, utilizando-se dos símbolos, considerando que a Maçonaria, no seus primórdios, era uma categoria de corporação operária consagrada à construção de edifícios e catedrais.

A partir do momento que alguém se torna Maçom, há de se conscientizar que haverá um caminho longo a percorrer.  Pode-se dizer que é um caminho sem fim. 

Ao longo dessa caminhada há bons e maus momentos.  Os bons deverão ser aproveitados como incentivo, e, os maus não poderão ser motivo de esmorecimento e desistência da viagem iniciada. 

 A linguagem, sempre empregada nas Lojas Maçônicas, diz que o Aprendiz Maçom é uma pedra bruta que deve talhar-se a si mesmo para se tornar uma pedra cúbica.  É o início da sua jornada Maçônica.

O nutrimento elementar para a viagem é conhecido do Maçom desde a primeira instrução recebida:  A régua de 24 polegadas, o maço e o cinzel. 

Com o progresso, o Maçom vai recebendo outros objetos, tais como o nível, o prumo, o esquadro, o compasso, a corda, o malhete e outros. 

 Os utensílios de trabalho, obviamente, são simbólicos.  Todos os símbolos abrem as portas sob condição de não nos atermos apenas às definições morais.  E é com o manuseio dessas ferramentas que se começa a tomar consciência do valor iniciático da Maçonaria. 

O espírito Maçônico ensina, aos seus adeptos, um comportamento original que não se encontra em nenhum outro grupo de homens.  Se isso não for absorvido, não será um bom Maçom.

O Maçom recebe, juntamente com os apetrechos, os ensinamentos necessários para começar a burilar a pedra bruta, cujo trabalho, entretanto, não termina ao torná-la cúbica:  falta, ainda, a construção do Templo, que só será possível graças ao manejo dos instrumentos de trabalho e o cumprimento dos ensinamentos recebidos, adicionados à virtude, sabedoria, força, prudência, glória e beleza.

Os elementos morais que devem ser o ornamento dos Maçons em sua viagem, cujo rumo não é ao desconhecido.  Entenda-se, pois, que a caminhada não se restringe, apenas em portar as ferramentas, mas, principalmente, em aprender a preparar o cimento místico para trabalhar no plano superior.

O cimento místico é a argamassa, que bem misturada, fará com que os Mestres não percam o amor pela escola, deixando de ensinar; evitará a avidez pelo poder de mando, tão comum entre os homens; propiciará que o Aprendiz se torne um perfeito Mestre, para cumprir com o seu dever de Maçom, se a argamassa não deteriorar...

A Iniciação Maçônica se completa quando o Maçom galgou, sucessivamente, os degraus de Aprendiz, Companheiro e Mestre. 

Durante as passagens desses graus a formação do Maçom irá tornando-o hábil, com a trolha, para amassar com coragem e perseverança o cimento místico que servirá para a edificação do Templo do Grande Arquiteto do Universo. 

É quando estará apto para voltar ao mundo profano, esclarecido pelos deveres de Maçom, e pregar para o bem da Humanidade.  Estará consciente de que a Maçonaria é a única instituição competente para levar o Homem ao domínio da paz, da ordem e da felicidade.
 
Ele aprendeu que no seio da Sublime Ordem não existem desejos nem interesse pessoais a satisfazer, e que a ambição se delimita às necessidades da Fraternidade.  

Que a vaidade não pode regurgitar e que a lei fundamental, como regra absoluta, é a extinção dos maus desejos que afligem a Humanidade.  Enfim, que a Maçonaria é a associação mais propícia à obtenção do aperfeiçoamento social e moral do Homem.

Só o verdadeiro Maçom poderá sentir e compreender que o Templo do Grande Arquiteto do Universo é o interior de cada um de nós, o Templo humano.  O Templo espiritual, que é edificado no coração e mente do Maçom para recolhimento do Bem, do Amor Fraternal, da Beneficência e da Concórdia.


Autor: E. Figueiredo


Bibliografia:

Boucher, Jules – A Simbólica Maçônica
Jacq, Christian – A Franco-Maçonaria – História e Iniciação
Santos, Sebastião Dodel – Dicionário Ilustrado de Maçonaria
Tourret, Fernand – Chaves da Franco-Maçonaria
Manual de Aprendiz Maçom - GLESP


AS LOROTAS QUE OS MESTRES CONTAM


Os Mestres de uma Loja Maçônica são os detentores do conhecimento, que deve ser passado aos aprendizes e companheiros.

Desde que foi implantado em 1.738, o grau de Mestre, é assim. Tendo adquirido maturidade e sabedoria, são os Mestres que levarão os mais novos ao topo da escada, grau por grau, até que estes se tornem Mestres também. Porém, alguns às vezes lançam idéias que se perpetuam e nem sempre se mostram úteis ao aprendizado.

Vejamos algumas coisas ditas que para nada servem.  Vamos a PRIMEIRA que me veio à mente: TENHA PACIÊNCIA, VOCÊ CHEGARÁ LÁ.

Algumas vezes, não sabendo responder a pergunta do aprendiz, o Mestre sai com essa. Ás vezes até admoesta o aprendiz chamando-o de apressado e curioso.

Todos nós passamos por isso pelo menos uma vez, e não tínhamos como saber a verdade. Perguntar era arriscado naquele tempo. Agora com a facilidade da rede mundial, todos podem dirimir suas dúvidas sem “tomar um pito”.

Porém sempre recomendo aos aprendizes que me procuram, para que tudo que ler pesquisar ou copiar deve submeter a um Mestre, que poderá avaliar melhor o valor e a veracidade daquilo. 

Outra: APRENDIZ NÃO FALA.

Essa recomendação, embora pareça verdadeira, não espelha a realidade. Sabemos que o silêncio pode ajudar na concentração para a faina do desbaste da pedra, mas não é preciso ficar em completa mudez.

Aprendiz tem direito à palavra, só não pode entrar em discussão de temas que ainda não domina, mas pode usá-la para fazer um anúncio, ou um agradecimento. Porém os Mestres, para ficarem “numa boa” desaconselham a manifestação, tolhendo o direito de expressão do maçom iniciante.

Mais uma: APRENDIZ NÃO PODE VISITAR UMA LOJA SEM A COMPANHIA DE UM MESTRE.

Quem inventou isso? Imagine um aprendiz em viagem a outro oriente ficar impedido de visitar uma Loja, porque não tem ao seu lado, um Mestre de sua Oficina. 

A visita é importante para aprender novas coisas e conhecer outros irmãos e ritos. Nos tempos remotos, as “novas” eram transmitidas através da visita.

Mesmo aprendiz, o visitante leva consigo a força vibratória dos irmãos a quem ele representa, e sua presença deve ser vista como uma dádiva e uma benção pelos anfitriões. Especialmente em visita a outra Loja, ele deve fazer uso da palavra para se identificar e agradecer a acolhida. Segundo Da Camino, o visitante deve ser visto como “outra luz”, “outra força” e “outro alimento”, e merece o mínimo direito de falar.  Só falta botar isso na cabeça de certos Mestres.

Outra sem pé nem cabeça, que se ouve é: NÃO BASTA ENTRAR PARA A MAÇONARIA, É PRECISO QUE A MAÇONARIA ENTRE EM VOCÊ. 

Que mensagem transmite essa frase? Nenhuma. Nada podemos fazer para a maçonaria “entrar” no iniciado. Isso dependerá de como sua Loja o instruirá, e dos Mestres que servirão de exemplo para ele, e principalmente do próprio aprendiz.

Tudo mais é uma incógnita, e a história mostra que cada um entende a filosofia maçônica à sua maneira.  Essa citação é uma forma de retórica que parece bonita para ser enunciada em sessão de iniciação com a Loja cheia de visitantes, porém se torna maçante aos presentes. É um discurso dispensável, de pouco alcance e inteligência.

Esta muito falada, e que me dá arrepios, é a infeliz, SOMOS ETERNOS APRENDIZES. 

Essa soa falsa, uma léria. Imagine um Mestre após seu tempo de estudo, em direção ao caminho da Luz, voltando ao primeiro grau.  

Aquele que assim fala se acha um mestre perfeito, e o vistoso avental, é sua maior conquista que ele precisa anunciar ao mundo.

Essa declaração de falsa modéstia é uma verborreia inútil que nada ensina, nem nada de bom transmite. É uma demonstração de duvidosa humildade, dita apenas para VANGLORIAR-SE (segundo Castellani e Rizzardo)

Autor - Laurindo Roberto Gutierrez
* Loja de Pesquisa Maçônica Brasil – Londrina-Pr
* Loja de Pesquisa Maçônica Francisco Xavier Ferreira- Porto Alegre- RS


QUE PEDRA É VOCÊ?


Decifrar a existência humana é uma tarefa que beira o impossível.

Dentro da nossa complexidade, enquanto ser racional e ao mesmo tempo animal somos seres capazes de tudo, que percorrem constantemente o limiar dos extremos, quer dizer, somos seres capazes de vivenciar todas as ambiguidades, todos os paradoxos, de quebrar e criar paradigmas.

Nesse texto vou tentar fazer uma analogia entre a existência humana e a pedra, e tentar propor uma reflexão, que leve cada um dos leitores a responder ao seguinte questionamento: que pedra sou eu? Uma brita: são pedras comuns encontradas aos montes, servem para dar suporte, mas estão, sempre, envoltas por outras camadas, por isso dificilmente são percebidas. Mas mesmo não sendo vistas, todos sabem que elas estão lá desempenhando o seu papel.

Uma pedra grande: por ser pesada, nem sempre é carregada, consequentemente, costuma ficar, sempre, no mesmo lugar servindo como enfeite ou até mesmo um lugar para sentar.

Algumas pessoas, também, são assim, um peso na vida das outras, dificilmente são bem-vindas e quando estão presentes não passam de um enfeite.

Um diamante: são pedras raras formadas no meio de tantas outras pedras brutas, nem sempre são percebidas ou encontradas, mas estão lá.

Quando achadas, são valiosas e quem as tem possui um tesouro. Uma pedra no rio: praticamente, em todos os rios encontramos no fundo do seu leito uma quantidade considerável de pedras, que em tempos de fortes chuvas são levadas pela correnteza.

Na turbulência das águas, nas quedas e batidas entre si, aos poucos ela vai ganhando polidez, ganhando forma, perdendo as arestas, deixando de ser pontiagudas. Assim somos nós, para quem quer aprender a vida é capaz de ensinar muitas coisas.

Uma pedra na vidraça: existem pedras que só parecem servir para quebrar a fragilidade do outro, são como aquelas jogadas nas vidraças.

Na maioria das vezes não contribuem com nada, mas causam estrago.

Um granito: para dar o toque de beleza de uma construção são fundamentais. Sempre à vista, são belos, resistentes e duradouros. Estão presentes nos lugares certos e bem usados dão harmonia ao ambiente.

Muitas pessoas, também, são assim, sabem o seu papel, desempenham sua função de eficiência dentro de suas características, possibilidades e potencialidades.

Mas não podemos esquecer que há, também, pessoas granito ocupando o lugar errado, tornando-se quando molhadas escorregadias, portanto, sempre, torcendo pela queda de alguém.

Pedra angular: a primeira pedra de todas, é a partir dela que tudo vai ser feito. Uma pedra líder guia disposta a direcionar os rumos da construção.

Encontramos, também, pessoas assim. Pedra sabão: considerada uma rocha macia e frágil, por isso, usada pelos escultores como matéria prima para suas obras de arte.

Fácil de ser esculpida, aceita os desbastes, os contornos e formas. Entretanto, é frágil às intempéries causadas pelos ventos, chuvas.

Existem pessoas assim também, aceitam serem “moldadas”, mas mudam suas formas devido à ação do meio, geralmente, não têm personalidade ou vivem das conveniências.

Agora imaginemos que todos nós iremos fazer parte de uma grande construção. Uma obra que será chamada vida. O Grande Arquiteto do Universo responsável pela obra precisará de pedras e lhe perguntará: posso contar com você?

Que tipo de pedra você é?


Walber Gonçalves

AS ARMADILHAS DA PERFEIÇÃO


A perfeição impõe ao homem o controle total sobre a vida, não abrindo espaço à experiência, à pesquisa e à livre criação. Ao negar-lhe qualquer possibilidade de erro, este homem está se impedindo de aceitar a si mesmo e de buscar o seu conhecimento interior.

O conceito de perfeição, que a cultura ocidental considera como sinônimo de valor máximo em todas as ordens foi exaltado por certa expressão histórica do cristianismo como o mais sagrado dos imperativos para o gênero humano: ser perfeito como Deus é perfeito.

Os que vivem tomados por esta dinâmica acusam uma sensação constante de inadequação, sentindo-se malfeitas e incapazes de aceitar os próprios erros. 

Vivem na presença de um juiz implacável. Descobrem-se desprovidos de espontaneidade, necessitando funcionar com a precisão de um relógio suíço, vivendo em função de normas, programas e certezas, como se tudo fosse um laboratório.

A perfeição exige seres frios emocionalmente, que se nutrem de desestima, de sentimentos de culpa e de remorso todas as vezes que cometem um erro ou insucesso. Seus atos têm a necessidade de ser aprovados pelo juiz interior e pelos outros.

O ideal de perfeição exerce um controle sobre a nossa realidade, não havendo espaço para a espontaneidade, impedindo a pesquisa, sondagens ou experiências e aventuras.

Aceitar as próprias limitações é aceitar a si mesmo, daquilo que se é realmente, sem alienar-se de nada nem do passado nem do presente. Quem é dominado pela ideia de ser perfeito funciona com uma espécie de “repelente”, mas ao repelir-se quando erra, está errando porque se rejeita. A perfeição predispõe a pessoa a tratar com antipatia tudo o que é imperfeito, sendo muita baixa a sua tolerância com o que se afasta do perfeito.

Para ser feliz, o homem deve aceitar-se tal como é. Nenhum outro animal, exceto o homem, dá-se ao desprezo devido às próprias imperfeições. O conceito que temos de perfeição nos faz elaborar conceitos, emoções e comportamento de tal modo que poderemos ser vítima de uma psicologia da perfeição, exigindo que o nosso sistema mental trabalhe de forma indefectível e infalível, admitindo que o erro e o insucesso sejam inimigos da vida.

Mas é sabido que o erro é a matéria-prima da vida, podendo surgir numerosos recursos, e oferece a oportunidade de limar as asperezas de nossa conduta em relação a nós mesmos e aos outros.

O verdadeiro sucesso está em tirar proveito de nossas fraquezas, fazer um uso construtivo de nossos erros. A perfeição caracteriza-se pelo excesso, na ansiedade de ir cada vez mais para cima, sobressair-se, de estar por cima.

Se mudarmos o modo de pensar poderemos alterar a nossa relação com este fardo de imperfeições que carregamos.

Conhecer nosso limite poderá consequentemente orientar o sistema mental de tal modo que as reações emocionais e comportamentais em relação a nós mesmos, aos outros e à vida em geral, se torne um exercício constante de adaptação à realidade, proporcionando mudanças com qualidade.

Não temos como não cometer erros, não ter defeitos, podemos, porém aprender a servir-nos deles. O sistema mental coloca-se na condição de aceitar os próprios defeitos. A perspectiva produz representações internas aptas à aceitação de si.

A perspectiva do limite reorienta a pessoa para aquilo que ela realmente é. Nessa reorientação não sofremos uma limitação, ao contrário, aceitamos nossa própria realidade limite. Nesse caso, aceitamos algo essencial: o próprio eu.

Autor: Jurandy Cordeiro de Souza Júnior
*Baseado no primeiro capítulo do livro Respeita os teus Limites – Fundamentos Filosóficos da Terapia da Imperfeição, de Ricardo Peter (São Paulo, Paulus, 1999).


MAÇONARIA: TRABALHO VOLUNTÁRIO


Voluntário, conforme o dicionário [1], é aquele “que faz parte de uma corporação por mera vontade e sem interesse” e “que faz de boa vontade e sem constrangimento”. Essa definição, ao qualificar a ação voluntária como “sem interesse”, esbarra no debate filosófico da impossibilidade de ausência de interesse.

O altruísmo, termo criado por Augusto Conte, seria esse ato de ajudar alguém sem ter qualquer interesse individual envolvido, apenas por pura bondade. Nesse sentido, muitos filósofos têm defendido que não existe ato genuinamente altruísta, totalmente desinteressado.

Para ilustrar esse entendimento, se você acredita que atos de bondade, de caridade, que boas ações colaboram para sua evolução moral e/ou espiritual, então qualquer ato seu não será 100% altruísta, pois você tem um interesse pessoal, mesmo que mínimo, de evoluir com isso.

Até mesmo se não esperar tal evolução, mas se você se sente bem em ajudar o próximo, sua ação não será totalmente desinteressada, pois você, em algum nível, sente prazer em ajudar, se beneficiando de alguma forma com isso.  Nesse sentido, não existe ato voluntário sem interesse.

Já a ONU [2] fornece uma definição condizente com tal entendimento, ao declarar que voluntário é “o jovem, adulto ou idoso que, devido a seu interesse pessoal e seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração, a diversas formas de atividades de bem estar social ou outros campos”. Nesse caso, vê-se claramente que a ação voluntária parte de um interesse pessoal, mesmo que motivado pelo civismo.

A Maçonaria é uma oportunidade de trabalho voluntário, tendo nos maçons seus voluntários. A definição mais comum de Maçonaria em uso em todo o mundo é a de que Maçonaria é “um belo sistema de moralidade velado em alegoria e ilustrado por símbolos” [3] [4].

Essa definição é derivada de outra, de autoria de William Preston [5], que considera a Maçonaria “um sistema regular de moralidade, concebido em uma tensão de interessantes alegorias, que desdobra suas belezas ao requerente sincero e trabalhador”. Dessa forma, deve o maçom, logicamente, estar interessado em evoluir moralmente para ser voluntário em um “sistema regular de moralidade”.

Tais definições também indicam que o trabalho voluntário do maçom corresponde a atividades e práticas relacionadas a “alegorias e símbolos”, ou seja, a aprendizagem e execução do ritual, que é a ferramenta de ensino que contém as diversas alegorias e símbolos maçônicos.

Mas, como todo trabalho voluntário, Maçonaria é um trabalho “sem remuneração”, cujas atividades são realizadas por livre e espontânea vontade. Não se ganha na Maçonaria, se gasta. Você investe, além de seu tempo como voluntário, recursos financeiros para manter a estrutura de sua Loja e Obediência.

Por esse motivo, mais do que qualquer outro trabalho voluntário, o maçom deve estar realmente ciente do cunho moral da organização, interessado em tal aspecto, e realizar suas atividades a contento. Em outras palavras, precisa estar 100% comprometido. Assim como não existe um “mais ou menos” médico sem fronteiras, não dá pra ser “meio” maçom.

E o que é ser um maçom, esse voluntário da Maçonaria? É estudar o ritual, não apenas executando-o da melhor forma possível, mas principalmente o compreendendo. É participar ativamente das reuniões, contribuindo com suas ideias e opiniões. É se oferecer para ajudar nas diversas atividades em grupo, ou mesmo para realizar algumas atividades individuais dentro de suas competências, como ministrar uma palestra, criar um web site, pintar uma parede ou trocar uma simples lâmpada.

É ter ciência de que, sendo um trabalho voluntário, você não depende dele para sua sobrevivência e sustento de sua família, devendo, portanto, ir para a Maçonaria e permanecer nela somente se estiver realmente interessado. E cada vez que comparecer faça valer à pena, porque apenas assistir e criticar não pode ser considerado trabalho voluntário… é necessário colaborar.


NOTAS:
[1] PRIBERAM. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Acesso em: 22 de janeiro de 2013. Disponível em: http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=voluntário
[2] UNIC. United Nations Information Centre Rio de Janeiro. Acesso em: 22 de janeiro de 2013. Disponível em: http://unic.un.org/imucms/rio-de-janeiro/64/158/voluntariado.aspx
[3] GUNN, J.: Death by Publicity: U. S. Freemasonry and the Public Drama of Secrecy. Rhetoric & Public Affairs, Vol. 11, No. 2, pp. 243-277, 2008.
[4] ZELDIS, Leon. Illustrated by Symbols (New York, NY: Philalethes, The Journal of Masonic Research & Letters, Vol. 64, No. 02, 2011), p. 72-73.
[5] PRESTON, William. Illustrations of Masonry. New York: Masonic Publishing and Manufacturing Co., 1867.

- See more at: http://www.noesquadro.com.br/2013/01/maconaria-trabalho-voluntario.html#sthash.jHuI9BCf.dpuf

INSTRUÇÃO MAÇÔNICA PRIMÁRIA


Sabemos que a instrução primária é fundamental e decisiva para a formação do homem vulgo ou maçom. Se bem aplicada aos iniciantes, não há duvida que será a base para a vida pessoal, social e profissional de cada um deles. 

Na maçonaria, também aquele que é bem instruído no grau de aprendiz, tem boa chance de ser um Companheiro ativo, e mais adiante um Mestre perfeito. Isso não é novidade, porém nas Lojas, as instruções tem sido aplicadas por mestres aptos e dedicados? 

Conheço pouco como é a Instrução maçônica em cada Loja,  e se ela é ou não aplicada.  Existe o caso que relata o ir. Saulo Aziz, pampeano da mais fina cepa, que um dia tentou ministrar instrução aos aprendizes de sua Loja. Prontamente, o Venerável se manifestou contra, alegando que “uma sabatina poderia constranger os aprendizes”. Então, a sugestão do foi derrotada fragorosamente pelos membros da Loja.

Em minha vida maçônica recebi instruções no primeiro Grau que me valem ainda hoje, décadas depois.  Bem preparado no começo, o aprendiz maçom, assim como o aluno de uma escola, não sentirá dificuldade para enfrentar cada passo na sua caminhada maçônica, visto ter uma sólida base.

Quem sabe a evasão maçônica tão elevada hoje, e a falta de interesse, não possa estar na raiz de uma malfeita preparação.  Parece que nos dois primeiros graus, incentivados pelos mestres instrutores que os ensina e orienta, os maçons se mostram mais interessados e motivados, enquanto que na Mestria há certa desídia.

Vivi com entusiasmo essa fase de instrução, depois a apresentação de trabalho escrito, e por fim a sabatina. Recordo ainda da emoção e medo que senti de enfrentar aquela “banca examinadora” estando de pé e à ordem o tempo todo, com a respiração ofegante e transpirando frio. Soube depois que me fizeram trinta e sete perguntas.  

Mas porque estou falando isso agora, pode alguém perguntar. É porque um irmão, agora Mestre, conta que em sua sabatina de aprendiz, alguns mestres, talvez querendo mostrar conhecimento, fizeram perguntas que pouco ou nada tinha a ver com as instruções do grau.

Por exemplo: qual é o endereço de nossa Loja?  Quais são os dez ritos mais praticados no mundo? Coisas que não acrescentam nada, nem são pertinentes ao aprendiz. Todos os irmãos presentes devem se compenetrar que a sabatina é importante não só para os que vão a ela ser  submetidos, mas para toda a Loja. 

Para que tudo saia à perfeição, o Venerável não deve permitir que o sabatinador leia o ritual, nem tenha perguntas escritas prontas no papel, e quando o sabatinado não souber responder, quem fez a pergunta deve respondê-la.

Por -  Jamir Vieira*   e  Laurindo R. Gutierrez**

*Loja Regeneração  Terceira- Londrina- PR
**Loja de Pesquisas Brasil – Londrina-PR-
**Loja de Pesquisas Chico da Botica- Porto Alegre- RS- ( membro correspondente)

SIC TRANSIT GLORIA MUNDI?


Há algumas frases e mesmo simples palavras que aparecem nos rituais maçônicos e passam despercebidos por todos nós. Acreditamos que estão ali apenas para compor um contexto maior ou mais significativo.

Na verdade estas frases são as verdadeiras instruções e as simples palavras, “sementes de mostarda”.

É preciso à leitura crítica e o espírito especulativo para realmente entender o que é o Grau.

Alguém em sã consciência pode acreditar que podemos transmitir toda filosofia, toda ética, toda moral e todas as instruções do Grau de Aprendiz em um livro de menos de 100 páginas? O que recebemos de nossas Potências (rituais) é apenas um “Fio de Ariadne”.

Retornando ao tema, precisamos primeiro traduzir literalmente e corretamente a frase: “Sic transit gloria mundi” = “Assim passa a glória DO mundo”.

Destaquei o “DO” para que os Irmãos verifiquem no seu ritual se consta “DO” ou “NO”, se estiver impresso “NO”, por favor, sem constrangimento corrijam. Certamente foi um erro de digitação. É preciso a correção para não se perder toda a essência da instrução. Observem bem: 

Assim passa a glória no Mundo! Fica-se para trás (passa) a glória NO mundo profano, levamos ela (a glória) para o outro mundo? 

Assim passa a glória do Mundo! Podemos compreender que as glórias (títulos, medalhas, diplomas, honrarias), passam, ficam aqui! É preciso algo mais, do que ser simplesmente INICIADO (ter um início). 

Lembre-se em que momento é usado esta frase e trancem paralelos com outra muito interessante: “Se és apegado às distinções humanas, retira-te, pois nós aqui não as conhecemos.”

Eu particularmente creio que a frase mais correta seria: “O quam cito transito gloria mundi” (o quão rapidamente passa a glória do mundo). Esta frase consta no livro Imitação de Cristo, escrito por volta do ano de 1418 pelo Monge Tomás de Kempes. 

Então foi desse livro que a Maçonaria pegou a frase? Não! Por mais incrível que possa parecer, copiamos a frase e o momento, de uma das mais importantes liturgias da Igreja Católicas. Somente os Irmãos que nascem antes da década de 60 é que podem se lembrar de como eram as coroações papais até Paulo VI. 

O Papa recém escolhido, após uma missa, sentava em trono finamente trabalhado que tinham do lado rente aos pés dois travessões. Depois de acomodado, era erguido por 12 homens (seis de cada lado) e partia em promissão pela Praça de São Pedro.

Durante suas “viagens”, por três vezes, o Mestre de Cerimônias se punha a sua frente e segurando pedacinhos de panos em brasa (que soltavam fumaça) dizia em voz alta e enérgica: “- Sancte Pater, sic transit gloria mundi!” (Santo Padre, assim passa a glória do mundo!). 

E a cada parada o Mestre de Cerimônias dizia três vezes, ou seja, três vezes três. Este trono móvel tem o nome de Sedia Gestatória, hoje usam o tal do “Papamóvel” (blindado). Realmente não há como mantermos as tradições, afinal o mundo está em constante transformação.

Podemos e devemos adequar os nossos labores a realidade profana, mas jamais permitir o sacrilégio dos nossos princípios, da moral, da ética e das instruções maçônicas.

Mesmos nos mais escabrosos caminhos, a retidão de nossos passos devem deixar pegadas de homens justos e de bons costumes, afinal sabemos da transitoriedade da matéria e de tudo que a cerca. “Só levamos da vida, a vida que a gente leva.”


INICIAÇÃO COMO OBJETIVO DE VIDA


Muito se tem escutado e transmitido sobre este tema ao longo de várias eras, algumas confusões têm gerado é certo, mas, também, muitas verdades têm sido reveladas.

Umas transcritas a partir de personalidades que acabamos por assimilar e sobrescrever e outras, que, apesar de influenciadas pelas primeiras, são, deliberadamente, o resultado do nosso próprio trabalho interior.

Tal como Dante Alighieri, teremos que iniciar a descida ao interior de nós mesmos, ao Inferno das Paixões e dos Vícios, com a consequente luta contra os nossos próprios demônios, culminando na subida em direção a uma luz paradisíaca, que, apesar de inatingível, será, sempre, um objetivo para além mesmo deste ciclo temporal! VITRIOL - Visita Interiora Terrae Retificando Invenies Occultum Lapidem (Visita o interior da Terra e, retificando, encontrarás a Pedra Oculta).

No entanto, não estamos sós… Teremos, sempre, um Virgílio que, sabiamente, guia-nos, afastando-nos dos obstáculos difíceis e nos entrega nos braços da “Donna Angelicata” (da bela Beatriz).

A Iniciação é, de fato, um ponto de viragem em nossa existência, neste plano. Nos antigos, a Iniciação era tratada como um conjunto de provas, que determinavam a capacidade de um jovem atingir a maioridade e as responsabilidades inerentes.

As provas passavam pelo campo físico, intelectual, moral e, por vezes, espiritual, no caso de alguns eleitos. O armar de um cavaleiro era precedido de um conjunto de provas de bravura no campo de batalha, que não se resumiam, somente, ao número de vidas ceifadas ao inimigo, mas a sua postura entre os demais, que lhe garantiam o respeito e a admiração – a honra.

 Assim como no passado, todos nós temos que vencer os 12 Trabalhos de Hércules, se pretendermos aspirar à Imortalidade, que é, objetivamente, o resultado da Iniciação.

Para vos dar um exemplo prático deixo-vos as seguintes perguntas, que devemos permitir-nos sentir no silencio do nosso Ser: Quantas vezes, durante o dia, ousamos agir de forma correta, mesmo com aqueles que não o são conosco? Quantas vezes conseguimos resistir aos estímulos destrutivos da mente como a inveja, a cobiça, o ciúme, a raiva, a culpa ou o ressentimento? Quantas vezes sentimos felicidade na presença de coisas simples como um pôr-do-sol, uma obra de arte, um relacionamento estável?

Temos consciência que a Verdadeira Iniciação não é um processo fácil, nem igual para todos qualitativamente. Pode durar uma vida inteira para se ascender ao mesmo que outros, apenas, necessitam de um pequeno instante! Pode mesmo nunca chegar a manifestar-se.

Meus Irmãos, de fato, não somos todos iguais! Somo-lo, apenas, na condição de seres humanos que ao baterem à porta do Templo, trouxeram dentro do seu coração a pretensão de ascender a algo superior, à realidade da qual vivemos, apenas, na sombra.

O desenvolvimento espiritual que se traduz na capacidade de sentirmos a voz interior, com uma intensidade e frequência cada vez maiores… é e, sempre, foi o que diferenciou os homens! Já alguém disse: “não há boas nem más pessoas, o que existe são pessoas mais ou menos conscientes, mais ou menos elevadas, espiritualmente”.

Lembrem-se da alegoria da Caverna de Platão, e ousem olhar lá para fora! Recuando um pouco na trajetória individual, importa dizer que para iniciarmos o processo de Iniciação é preciso estar preparado, estar vigilante “não colocarás vinho novo em vasilhas velhas” diz na Bíblia, o que isso quer dizer é que não se consegue implementar novas ideias em mentes cristalizadas e fechadas.

Assim, a Iniciação tem que ser preparada com alguma antecedência “abrindo novos caminhos e veredas para o Messias que está para vir”. O batismo Iniciático ritual é, objetivamente, um formalismo, tal como o são muitas das cerimônias que atravessamos ao longo da nossa vida.

No entanto, de que valem as cerimônias formais se carecem, na sua essência, do poder de transformarem os seus participantes? O que importa a beleza da cerimônia do matrimônio se os nubentes, antecipadamente, não partilharem, verdadeiramente, do seu amor? Meus Irmãos, nós não estamos na confraria dos aventais!

Lembrem-se que de cada vez que entrarem num lugar sagrado estão a sofrer, por si só, uma Iniciação: “descalçai as sandálias, pois o chão que pisas é sagrado”.

Para isso, é vos exigido que venham preparados. Em suma, desde que o homem seja, realmente, livre e de bons costumes, já conseguiu fazer o seu caminho de preparação para ser Iniciado. Quando conseguir viver no dia a dia esses princípios, ouvindo e seguindo a voz interior, então sim, deixou de ser neófito!

Quer na forma quer no conteúdo, o batismo Iniciático tem, ainda, uma particularidade em relação, por exemplo, com o religioso. O primeiro carrega o pretendente de uma responsabilidade, acrescida dado que prevê a participação de todas as faculdades do indivíduo no sentido do seu trabalho interior e da sua consequente elevação a Deus. 

O segundo, pressupondo que o indivíduo ascenda à divindade, apenas, pela fé, pela sua humildade e obediência constante ao dogma corporativo, desresponsabilizar-se, parcialmente, da sua escolha (muitas vezes essa cerimônia é praticada por vontade única da família, pois acontece na idade em que o batizando não tem consciência do processo).

Em suma, nada há de completamente errado ou certo em nenhum deles, o que importa é que cada um sinta, verdadeiramente, qual é o seu verdadeiro caminho e o percorra em consonância, responsabilizando-se pelas escolhas feitas.

O verdadeiro Mestre é aquele que, depois de passadas as suas provas iniciáticas, e fazendo uso da sua sabedoria (conhecimento aplicado), constrói o seu próprio dogma e o utiliza na edificação do seu templo interior. Não esquecer que o dogma ou mesmo ideal é, apenas, uma visão da verdade, logo, dependente do seu criador – duas pessoas com o mesmo nível de elevação espiritual e cultural não terão, necessariamente, a mesma visão, quando muito serão convergentes!

Meus Irmãos, em todas as épocas existiram Homens mais conscientes espiritualmente do que outros, e quando lhes foi concedido o poder temporal, eles lideraram a humanidade com sabedoria, consequentemente, esta evoluiu saindo das trevas em que se encontrava.

No entanto, quando a liderança caiu nas mãos de inconscientes, obcecados pelos brilhos materiais, tudo regrediu e as instituições mergulharam na letargia ou foram completamente demolidas.

Vejamos como exemplo, o que aconteceu, historicamente, ao Templo de Salomão, à Ordem do Templo, bem como tantas outras mais: a responsabilidade pela queda da humanidade e suas instituições é de todos aqueles que, elevados espiritualmente, não souberam manter-se desse modo.

É muito fácil, em qualquer ponto da nossa evolução interior, voltar a cair em patamares inferiores. Se a subida da Escada de Jacob é difícil, mais difícil é, ainda, nos mantermos lá em cima, porque maiores são os estímulos e maiores são as responsabilidades nas escolhas! E mais violentas serão as consequências!

Essas são as fundações interiores que o Homem terá que consolidar, para que possam manifestar-se no exterior, no mundo material, com todo o sucesso que se pretende atingir neste plano de vida.

As Ordens sendo instituições, são edificadas no mundo material – pórticos de matéria para o espírito, por isso, necessitam de homens renovados, pois só desses se espera a sua manutenção e evoluções futuras!


 Eurico Reis

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