O FUTURO DA MAÇONARIA: DESAFIOS E RESPOSTAS(2)



Nos círculos maçônicos através do mundo, particularmente nos países de língua inglesa, a questão do futuro da Ordem tornou-se um assunto urgente.

Os últimos quinze anos foram marcados por uma gradual erosão do número de maçons no mundo. Nos Estados Unidos, para dar um exemplo, dos anos 50 até o fim do século passado, os membros das 50 Grandes Lojas diminuíram mais do que quinze por cento.

Estes números são motivos para uma séria reflexão. Algumas Lojas tiveram que fechar, outras desapareceram e, em todos os lugares, a manutenção dos bonitos templos maçônicos, que eram a nossa janela de orgulho para o mundo, tornou-se um peso, uma carga quase insuportável.

Têm sido feito tentativas para se encontrar a causa desta situação. Obviamente, há uma combinação de fatores.

Alguns observadores, nos Estados Unidos, alegam que isso é o voltar à dimensão normal da Fraternidade depois da incomum expansão que teve lugar após a Segunda Guerra Mundial; outros pontos são as mudanças experimentadas pela sociedade no último século, e particularmente nas últimas décadas.

Percebemos a crescente auto preocupação das gerações mais jovens, a síndrome de “tampa de metal de motor de avião”, a influência da televisão e agora da internet, fazendo com que as pessoas fiquem mais sedentárias e menos gregárias.

Esta situação, que também é sentida no nosso país, não parece ter o mesmo efeito noutras regiões do mundo, tais como a América Latina, França e Turquia, para dar alguns exemplos onde a Maçonaria segue as regras tradicionais de rigorosa seleção dos candidatos, lenta progressão nos graus – um ou dois anos entre um grau e o próximo – pequenas Lojas, exigência da presença de cada irmão em Loja.

Se quisermos mudar o curso da presente tendência, acredito que o nosso problema tem que ser analisado porque ele é composto de dois fatores igualmente importantes: aquisição e retenção.

A primeira questão é como fazer as nossas Lojas atrativas para as gerações jovens. 

Aquisição, este é o primeiro passo fundamental. Vamos pensar um pouco. 

O que podemos oferecer para um jovem com os seus trinta ou quarenta anos? 

O que faria querer participar de uma Loja? 

Naturalmente, um amigo ou um parente. Talvez esta seja a mais comum fonte de recrutamento. Entretanto, está longe de ser a coisa certa. Quanto dos familiares na sua própria Loja tem sido bem sucedido com a prole? Eu pergunto-me se você precisa dos dedos das duas mãos para contar o resultado.

Somos uma associação voluntária. Não fazemos publicidade e geralmente não pedimos as pessoas para se tornarem maçons, o que seria contra uma das nossas regras. “De você possuir livre arbítrio e vontade própria”, e assim por diante.

Então, ao contrário do vendedor de rosquinhas ou roupas, que pode fazer propaganda e ofertas especiais, liquidações e queima de estoque, devemos oferecer alguma coisa para que o nosso “cliente” – aquele inocente provável candidato – se sinta enfeitiçado para comprar por sua própria vontade. Pela sua própria vontade e escolha.

Permitam-me divagar. Alguns de vós podeis estar tentando segurar os seus cavalos com todas as forças para não pular para cima e gritar: “Mas isso está a ser feito nos Estados Unidos!”. Sim, é verdade, mestre Maçom num dia – chamam isso de Grande Classe de Mestres: Iniciação, Passagem e Elevação de umas poucas centenas de candidatos num dia. Certamente, esta linha de montagem maçônica tem divergido das barganhas de vendas de porão. Mas, no comércio, liquidações geralmente terminam com o encerramento do negócio. Vamos torcer para que isto não ocorra conosco.

Alguns críticos, ironicamente, chamam estes “maçons formados por atacado” de McMasons, duvidando que eles possam perceber o real significado das cerimônias das quais participam como mero espectador. Ainda não mensuraram a eficiência desse procedimento. Alguns observadores alegam que não há diferenças entre os mestres tradicionais e aqueles promovidos em dois meses. Estas diferenças não emergem com muita ênfase nas Lojas hemorrágicas, as quais continuam perdendo dois ou três por centro dos seus membros a cada ano.

Então, pergunto novamente, o que podemos oferecer? Alguma coisa que é única na nossa organização, a qual não se pode encontrar no Rotary ou no Lyons ou num London Club.

Fraternidade? Sim, certamente. Mas similar conexão de irmandade existe entre graduados de uma mesma universidade, membros de uma mesma sinagoga, entre veteranos de uma organização militar.

O que nós temos de diferente dos outros é uma tradição esotérica. Uma filosofia, não uma religião, mais tolerante que todas as religiões. Uma tradição de ensinamentos por símbolos. Somos uma academia como nenhuma outra, com um currículo que traz junto à essência das melhores ideias filosóficas que orientaram a educação da civilização ocidental.

E temos um segredo. Sim, o segredo da Maçonaria. Acordem confrades, porque agora eu vou revelar o nosso segredo para que todos possam ouvir! O nosso segredo é … (rufar de tambores) … podemos melhorar o mundo.

Grande segredo! Grandes palavras! E agora, como propomos alcançar esta monumental tarefa? Dominando o mundo a ferro e fogo? Encontrando um meio de converter água em gasolina? Fazendo o mundo inteiro falar hebreu? Nenhuma dessas alternativas é o caminho. Precisamos simplesmente melhorar a nós próprios.

Todo ser humano é capaz de polir as suas imperfeições, vencer as suas paixões, submeter as suas vontades, elevar as suas virtudes, o que nós chamamos polir a pedra bruta. Se nós realmente quisermos, poderemos ser melhores. Podemos fazer isso e ninguém pode fazê-lo por nós. Nem mesmo a Maçonaria.

Recebemos ferramentas simbólicas: o malho e o cinzel, e talvez uma régua de 24 polegadas. Ferramentas que devemos manusear sozinhos. E a nossa esperança é que se nós próprios nos tornarmos homens melhores, a nossa família se torna melhor, o ambiente à nossa volta melhora e, eventualmente, a sociedade em geral se torna mais tolerante, um lugar mais iluminado para viver.

Outra coisa, única na nossa organização, é que somos uma grande família, razão pela qual nos chamamos uns aos outros de irmãos, não é mesmo? Como em toda a família, algumas vezes temos as nossas discordâncias. Vamos encarar isto, não é incomum os irmãos não se amarem uns aos outros, mas o sentimento básico é que os laços de irmandade permanecem fortes.

São incontáveis as histórias de como um Maçom socorreu outro. Homens que se encontraram pela primeira vez nas mais adversas circunstâncias, e que nunca mais se vão encontrar, tais quais velhos amigos, ligaram-se através dos laços fraternos da Maçonaria.

Então, vamos supor que tivemos sucesso na aquisição de um novo irmão para a Ordem. Ele é jovem, inteligente e bem educado. Como posso mantê-lo na Loja? Este é nosso segundo problema. Retenção.

Irmãos, tenho visitado algumas Lojas americanas e também algumas na Inglaterra, não muitas, admito. Em todos esses lugares, sempre fui muito bem recebido, mas, para ser honesto, repito-lhes o que senti – frequentemente fiquei aborrecido.

Abertura ritualística, minutas, boas-vindas ao visitante, relatório do tesoureiro, informações sobre doença de irmãos, aprovação de despesas (que é uma contra-senha americana) e, então, do lado de fora, vamos comer. Alguns lugares que visitei, pararam a cerimônia no meio para jantar e depois continuavam.

Em algumas Lojas, a “comida” foi uma xícara de café e um pedaço de bolo. E então, queixam-se dos membros que não vêm para a reunião. Penso que aqueles que vêm deveriam receber uma medalha pela persistência no cumprimento do dever. Mas não vamos discutir o que eles fazem no exterior. Vamos pensar no que podemos fazer aqui, na nossa casa.

Antes de qualquer coisa, vir para a Loja deveria ser divertido. Deveria ser uma experiência prazerosa que você gostasse de repetir para que se divertir novamente. Além da simples sociabilidade entre os irmãos, deveria ser uma estimulação mental.

Façam disto uma ocasião para pensar, para trocar ideias, para ensinar e aprender. Há um velho ditado que diz que “se duas pessoas têm um dólar cada uma, se elas os trocarem, cada um deles ainda terá um dólar. Mas, se cada uma delas tem uma ideia e se as trocarem, agora cada uma delas terá duas ideias”.

Alguns dirão, não somos escritores ou estudantes, não temos tempo para fazer pesquisa ou para escrever artigos. Verdade, em parte. Tenho visto jovens muito ocupados nas suas vidas profissionais que encontram tempo para fazem alguma coisa que gostam, como visitar livrarias e pesquisar material na internet.

Eles produziram maravilhosos artigos, alguns dos quais fiquei feliz por ter publicado enquanto era editor do Haboneh Hahofshi. E se a Loja não for capaz de produzir o seu próprio material para discussão, há um mundo de literatura maçônica disponível para formulação de perguntas.

Pegue um jornal ou um livro e peça a alguém para ler algumas páginas. Depois discuta. Converse com cada um. A conversa é a argamassa da amizade. Outra ideia é envolver a Loja com uma sociedade de pesquisa, como o Quatuor Coronati Correspondence Circle, o Philalethes ou a Southern Califórnia Research Lodge.

São centenas de fontes de onde você pode receber interessantes materiais, próprios para leitura e discussão. Por favor, não me interprete mal; não estou alegando que a Loja deveria ser uma sociedade de debates. Mas ela deveria ser um lugar para nos afastarmos das preocupações diárias, onde pudéssemos afastar-nos dos negócios, preocupações, ansiedades e devotar duas horas ao prazer, ao entretenimento e ao diálogo estimulante.

Alguns de vós podeis estar perguntando por que eu não falei uma palavra sequer sobre ritual? Você pode pensar: o ritual é o coração da Maçonaria. Bem, não exatamente. Eu diria que o ritual é o esqueleto, a espinha dorsal da Loja, sem a qual esta poderia desmoronar. Mas não é suficiente.

Precisa de corpo e de sangue de participação ativa. Deixe-me perguntar, porque temos rituais em Loja? Por que o mestre não pode apenas bater o martelo e anunciar que a Loja está aberta para os trabalhos?

Porque o tempo perdido na ritualística da Loja tem dois propósitos: o primeiro é lembrar-nos de que a nossa Loja não é simplesmente outro clube ou uma reunião de conselho. Reunimo-nos num local consagrado, o templo maçônico, que simboliza o centro do universo. Abrindo a Loja, também abrimos uma extensão de intervalo de tempo. Noutras cerimônias destacamos que a Loja abre ao meio dia e fecha à meia noite. Símbolos, símbolos.

O segundo propósito para o ritual é termos um tempo para nos acalmar, para pararmos de pensar na desordem e nas batalhas sem fim do mundo lá fora. A Loja é uma ilha de paz, de reflexão e de relaxamento. A repetição exaustiva das palavras do ritual permite libertar a nossa mente dos problemas diários, deixando-a pronta para o trabalho maçônico.

Agora, o ritual é importante, sendo recomendável que a iniciação maçônica seja levada a efeito de cor e sem erros. Também nos lembramos que a iniciação não é para nós, é para o candidato. E se um dos oficiantes esqueceu uma palavra ou, ao invés, proferiu outra, não irá causar nenhum prejuízo.

O candidato não a conhece. Então, só haverá prejuízo se um intrometido se apresentar “corrigindo” o erro. A iniciação bem apresentada é como um jogo. Depois que tiver terminado, se todos forem bem sentiremos a satisfação pela perfeição dos trabalhos. Mas, então, depois da cerimônia, começa a segunda tarefa, não menos importante, que é explicar aos candidatos o que foi feito, porque foi feito e o seu significado simbólico.

As instruções maçônicas não são, ou não são apenas, uma “decoreba” de uma série de perguntas e respostas, ou repetição do ritual até a perfeita expressão das palavras. Elas têm como finalidade conscientizar o Aprendiz ou o Companheiro da profundidade dos nossos símbolos, da nossa história, das nossas tradições, dos nossos inimigos e vitórias. Assim, eles sentirão orgulho de serem maçons.

É como ir à ópera pela primeira vez cantando em húngaro. Gostamos da música mas não entendemos nada do que está escrito no libreto. Somente se viermos por uma segunda vez e tivermos lido a tradução conseguiremos entender completamente o drama musical. E os nossos dramas são mais velhos do que todas as óperas do mundo.

Agora venho com um assunto que até não muito tempo atrás foi um tabu nas nossas Lojas: a participação das mulheres na Maçonaria. Neste momento, o assunto está fora de questão. Não podemos ignorar que as nossas mulheres não são aquelas senhoras da literatura do século XIX, prontas para desmaiar na primeira onda do ventilador.

Elas são bem educadas, bem informadas, muitas seguem carreiras de sucesso e grande parte delas ganham mais dinheiro do que nós! Se elas estão interessadas em Maçonaria, encoraje-as por todos os meios, conte a elas o que nós fazemos, consintamos que leiam a nossa literatura. O que quer que tenha sido impresso não é mais segredo. 

O mais importante, as Lojas, como um conjunto, devem incorporar as mulheres, as nossas esposas, na vida da Loja. As esposas dos maçons não se devem sentir do lado de fora.

Deixem-me contar-lhes um exemplo de sucesso: com frequência, na minha própria Loja realizamos jantares (os chamamos de “mesas brancas”) juntamente com as nossas esposas. Especialmente, depois de cada iniciação, asseguramo-nos de que a esposa do candidato seja calorosamente recebida e isso faz sentir-se bem-vinda. Há, naturalmente, o banquete anual de instalação.

E, comumente, a Loja tem muitos encontros festivos antes da Páscoa, e no Dia da Independência. Uma vez por ano, apresentamos a cerimônia do Dia das Rosas, seguindo o ritual oficial da Grande Loja. Uma vez por ano promovemos um fraternal fim de semana num hotel para a família inteira, incluindo um Seminário Maçônico na manhã de sábado, o qual tem melhorado ano após ano. Irmãos temos conseguido fazer da Loja um assunto de família e o resultado é que temos perdido poucos obreiros.

É esta a fórmula válida para todas as Lojas? Provavelmente não. Talvez numa Loja os membros estejam mais interessados em arte, em música ou teatro. O princípio é o mesmo, manterem-se juntos, não somente dentro do templo, mas fora dele, onde toda a família possa participar.

A nossa experiência não é a única. Há duas semanas, recebi uma carta da Grand Lodge of South Austrália. Eles fizeram um detalhado artigo intitulado “O Novo Milênio, Maçonaria e Mulher”. E quais foram às conclusões: exatamente o que descrevi, acrescentando outras recomendações interessantes, como a dispensa dos infindáveis discursos maçônicos e brindes de sempre nas entregas de Diplomas ou outras condecorações maçônicas, e minimizar as horas em Loja a fim de que os homens não cheguem muito tarde em casa.

Entretanto, o mais interessante aspecto do artigo é a atitude positiva, refletindo na direção da Maçonaria Feminina, incluindo a recomendação de desenvolver políticas de relações com as mulheres, e formar o “Programa de Relações da Mulher com a Maçonaria”.

Uma sugestão posterior é permitir à Fraternidade Feminina utilizar o nosso templo e desenvolver conjuntamente atividades sociais, cerimoniais e intelectuais. A nossa organização é singular. Forma uma assembleia de homens que se encontram regularmente, não para ganhar dinheiro, não para promover os seus negócios, mas para aprender a se tornar melhores e melhores irmãos, um para o outro.

Comecei com um comentário que pode ter soado pessimista. Esta não é a minha crença. Acredito que a Maçonaria, uma sociedade que existe há centenas de anos, sobreviverá por muito mais séculos porque preenche uma necessidade.

Talvez as nossas Lojas sejam poucas, talvez sejam pequenas, mas haverá Maçonaria em todos os países onde os homens são livres para pensar sobre eles mesmos, livres para se reunirem pacificamente para as suas próprias alegrias e a melhoria da sociedade na qual vivem. Isto me traz para o último assunto que eu quero abordar nessa oportunidade, a ação do Maçom e da Maçonaria como um corpo, nos assuntos mundanos.

Nos últimos séculos, os maçons foram os lideres dos movimentos de libertação contra o colonialismo no século XIX. Foram os líderes contra a intolerância religiosa e o controle clerical em muitos países ao longo do século XX. Lutaram contra os males da escravidão e do colonialismo. Com a separação da igreja do estado, levantamos bandeiras a favor de muitas coisas que hoje acreditamos sejam parte integrante de uma nação iluminada.

O trabalho então está finalizado? Vamos nós, os maçons do mundo de hoje, descansar sobre os nossos lauréis, regozijarmo-nos repetidas vezes com as glórias do passado? Quantos homens como Washington, Bolívar, Martin e Garibaldi lutaram pela liberdade dos seus países? Somos uma geração de folgazões, de homens com os olhos no passado, ou estamos olhando para frente na direção do nosso futuro, rivalizando-nos com os nossos predecessores, mas de outra forma, apropriada para o mundo no qual vivemos agora?

Há muito que nós podemos fazer. O mundo está assediado pela moral perigosa do fanatismo, intolerância religiosa, superstição, assolado pela superpopulação, esgotamento de recursos naturais, poluição, doenças e fome. Se nós procurarmos encontrar um denominador comum para todos esses males, acredito que o que chama a atenção, entre todas as possibilidades, é esta: ignorância!

E é contra ela que a nossa futura contribuição deve ser focalizada: educação. E isto já está a ser feito. Foi feito no passado, deve ser feito agora e no futuro. Os maçons foram e são envolvidos com educação em todos os níveis. Criaram universidades: Girard Colege nos Estados Unidos, a Free University of Brussels, Universid de La República de Chile, são alguns exemplos. Filantropia é louvável, mas a mais alta forma de filantropia é a educação.

Se nós como maçons pudermos inculcar nas nossas instituições educacionais o nosso espírito de tolerância, democracia e respeito à pessoa, estaremos fazendo agora o equivalente ao que os nossos libertadores fizeram dois séculos atrás.

Acredito que os maçons têm coragem e encontrarão vontade para se levantar e mostrar o caminho da luta contra a ignorância, a base de todos os males que ameaçam o futuro da raça humana.

Podemos começar agora, podemos começar aqui!

León Zeldis Mandel
Tradução feita por Ranvier Feitosa Aragão


A MAÇONARIA E A SUA ORIGEM COM OS PEDREIROS ANALFABETOS



CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O Dia de São João Baptista, apesar de ser mais conhecida pela comemoração dos cristãos, esta data (24 de Junho) é também importante para a história da Maçonaria, pois nela comemora-se o aniversário da reunião entre representantes de quatro lojas maçônicas de Londres, na taberna Goose and Gridiron, para a fundação da Grande Loja de Londres em 24 de Junho de 1717 (Mazet, 1992: 257; Cerinotti, 2004: 14 e Jacob, 2007: 11), depois reformulada como Grande Loja Unificada da Inglaterra em 1813, com a adesão da Loja de York, inicialmente descontente.

A escolha desta data para a reunião não foi por acaso, mas em razão da afinidade com este santo cristão, admirado por outras sociedades esotéricas, sobretudo pelos Templários, as quais os maçons da época supunham serem fontes da Maçonaria (Cerinotti, 2004: 109).

Mesmo não tendo jurisdição universal, pois a Maçonaria está fragmentada em incontáveis divisões, a multiplicidade aumenta ainda mais quando se leva em contas as lojas irregulares, este foi um marco importante na história da Maçonaria Moderna.

Agora, quem conhece os fascinantes símbolos e os pomposos rituais, bem como a suntuosidade dos templos (lojas) e a celebridade dos adeptos da atual Maçonaria, terá dificuldade em acreditar que esta faustosa sociedade secreta teve a sua origem numa corporação (Craft) de pedreiros analfabetos, a qual pode ser a razão da conservação dos seus ensinamentos, durante a fase da Maçonaria Operativa, exclusivamente através de símbolos e de ritos, ao invés também de textos escritos.

As pesquisas sobre a origem da Maçonaria estão envolvidas numa teia intricada de teorias controversas, desde as mais delirantes até as mais sóbrias (Cerinotti, 2004: 8-11). O assunto ainda carece de mais pesquisa acadêmica, quando comparado com a grande quantidade de estudos sobre outras tradições, pois o número de estudos acadêmicos é escasso, de modo que a quantidade de publicações pelas mais importantes universidades do mundo é muito pequena.

Tentando contornar estes obstáculos, o estudo abaixo pretende apontar, no meio de um oceano de relatos fabulosos (para conhecer um exemplo, ver: Anderson, 1734: 07-45), a origem iletrada da corporação dos Pedreiros Livres (Free-masons), durante o período denominado pelos pesquisadores de Maçonaria Operativa, a partir dos poucos estudos críticos-históricos, independentes das interpretações da tradição e da propaganda maçônicas.

ETIMOLOGIA DA DENOMINAÇÃO FRANCO MAÇONARIA
Do inglês Freemasonry e do francês Franc Maçonnerie, não existe consenso entres os pesquisadores quanto à origem do termo. Alguns apontam que significa que estes pedreiros (do francês: maçon) e construtores medievais, em virtude do ofício, tinham salvo-conduto das autoridades para transitarem livremente de uma região para outras, conforme as obras exigiam o seu trabalho, portanto a denominação de pedreiros livres (free-masons).

Outros acreditam que receberam esta denominação em razão do caráter mais especializado das suas habilidades de ofício, portanto eram profissionais livres, para diferenciá-los dos escravos que, no passado, eram a mão de obra majoritária nas edificações. Ainda, outra etimologia é apontada na palavra inglesa free stone (pedra de cantaria), aquela pedra particularmente adequada ao trabalho do entalhador (Cerinotti, 2004: 14-6).

Qualquer que seja a etimologia, Franco Maçonaria é a denominação para a corporação de pedreiros e construtores que, a partir de certo momento, ainda desconhecido pelos historiadores, quando os seus membros passaram a reunir-se nos alojamentos (lojas, do inglês: lodge e do francês: loge) nos canteiros das obras, além da prática habitual das refeições e do descanso, para trocarem informações sobre os simbolismos e os segredos por trás das artes e da arquitetura nas catedrais e nos mosteiros que edificavam que os levaram, em seguida, com o acúmulo de informações secretas, a praticarem rituais iniciáticos nestes alojamentos (lojas), para a admissão de novatos e a transmissão secreta dos ensinamentos.

Por outras palavras, uma corporação que combinava o ofício da construção com a construção do caráter dos seus membros sob o véu do segredo. Parece que, segundo os manuscritos mais antigos, o segredo foi utilizado inicialmente apenas para a salvaguarda das técnicas do ofício da construção, depois se estendeu para o objetivo de velar os símbolos, as senhas e os rituais maçônicos (Mazet, 1992: 251), daí se desenvolveu o espírito corporativista, que até hoje marca tanto o caráter da Maçonaria.

MAÇONARIA E RELIGIÃO
Os maçons são unânimes em afirmar que a Maçonaria não é uma religião, a definição clássica é: “um peculiar sistema de moralidade, velada em alegoria e ilustrada por símbolos” (Mazet, 1992: 248). Apesar da recusa, os maçons insistem que todo candidato deve ser um religioso, pois não é possível ingressar na sociedade sem acreditar em deus (Anderson 1734: 48 e Cerinotti, 2004: 102). Os juramentos dos adeptos são feitos diante de um livro religioso (Bíblia, etc.), conforme o regulamento da jurisdição. Enfim, a Maçonaria é uma sociedade que não se considera religiosa, mas aos seus adeptos solicita-se que sejam religiosos.

Agora, o que leva os maçons a pensarem que a Maçonaria não é uma religião deve-se ao conceito circunscritamente cristão de religião, entretanto, quando se expande o conceito de religião para além dos limites do teísmo, a Maçonaria demonstra traços muito comuns com outras tradições não teístas. Por exemplo, o Hinduísmo também tem um sistema de moral (dharma shastra), grande parte das suas concepções estão veladas por símbolos, concede iniciações e, ademais, pratica uma quantidade de ritos muito maior que a Maçonaria.

Os maçons não são teístas, mas sim deístas, a realidade suprema é o Grande Arquiteto do Universo (GADU), de maneira que, na Maçonaria, não existe cultos de louvor, adoração ao senhor, orações, súplicas pela graça divina, romaria, bem como sacramentos de batismo, de casamento, etc.

Em resumo, o conceito de religião é controverso, porém, conforme a abrangência, a Maçonaria apresenta elementos tão comuns com as religiões em geral, que se torna difícil excluí-la do rol das religiões, sobretudo quando se tem em mente que religião não é só teísmo, fé e devoção. Para resumir, a Maçonaria não se considera uma religião, mas, paradoxalmente, tudo nela tem origem e natureza religiosas.

MAÇONARIA OPERATIVA E MAÇONARIA ESPECULATIVA (MODERNA)
A história da Maçonaria possui um crucial turning point, a transição de Maçonaria Operativa (composta exclusivamente de pedreiros e construtores) para a de Maçonaria Especulativa (composta de adeptos que não são mais pedreiros e construtores, portanto denominados de “maçons aceitos”).

Esta transição aconteceu nos séculos XV, XVI e XVII e. c., quando houve uma redução drástica no número de construções de catedrais, de fortalezas e de mosteiros, bem como a expansão da Reforma Protestante, as quais resultaram em prejudicais consequências na corporação dos maçons.

 Consequentemente perderam o elo com os padres da Igreja, que patrocinavam as construções, para então, buscarem trabalho noutras fontes, a fim de que a corporação sobrevivesse (Mazet, 1992: 253 e Jacob 2007: 12). Foi nestas circunstâncias que a Maçonaria, de uma corporação exclusivamente constituída por pedreiros e mestres de obra, abriu as portas para a entrada de membros de fora da profissão.

Estes novos adeptos, os quais eram intelectuais, pessoas da nobreza, profissionais de outras áreas, portanto candidatos bem mais instruídos ficaram fascinados com a descoberta de que os maçons guardavam muitos segredos antigos. Entretanto, ao mesmo tempo, por serem cultos, perceberam que os antigos maçons não guardaram, ou já tinham perdido o significado por trás daqueles símbolos e ritos, daí que estes novos interessados sentiram a necessidade de especular e pesquisar sobre a origem dos mesmos.

Foi então, a partir daí, que se iniciou o que é conhecido como Maçonaria Especulativa, quando elementos de outras tradições tais como a Cabala, a Rosa Cruz, a Alquimia, as Lendas de Cavaleiros Medievais e o Hermetismo foram infiltrados na Maçonaria, por obra destes novos membros aceitos.

Especulação que resultou numa prolífera criação de novos graus, além dos antigos dois graus do período operativo (o grau de Aprendiz e o de Companheiro, já do grau de Mestre Maçom só se tem registro a partir do ano de 1770 – conhecidos como os três graus simbólicos), numa sucessão na qual os graus superiores tentam explicar, também através de símbolos e ritos, os graus anteriores, de modo que o candidato permanece na contínua expectativa de conseguir a explicação do simbolismo do seu grau no grau seguinte.

Assim, com o tempo, a Maçonaria transformou-se numa sociedade na qual o significado encoberto pelos seus símbolos e ritos é sempre explicado por outro símbolo e rito, de maneira que nunca se alcança uma explicação discursiva e exegética. Como interpretam alguns críticos, “um poço sem fundo onde nunca se encontra a água para saciar a sede”.

Este processo de busca do significado da simbologia e de criação de novos graus continua até hoje, cujo resultado foi o surgir de incontáveis lojas e ordens irregulares (aquelas não reconhecidas por uma Grande Loja ou por um Grande Oriente).

Mas este critério de reconhecimento é vago, pois se os próprios fundadores da Maçonaria Moderna (Especulativa) tiveram de especular sobre o significado e a origem da Maçonaria que herdaram dos maçons operativos, nos séculos XVI e XVII, os quais eles julgaram como perdidos, não significa que a busca está concluída, pois eles mesmo herdaram uma tradição desprovida de exegese.

O FASCÍNIO PELO SEGREDO
As religiões têm início e crescem em razão da admiração e da fascinação de um grupo de seguidores pela mensagem, pelo carisma, pela santidade ou pelos milagres de um líder religioso, bem como por mitos e mistérios de relatos antigos, depois estes primeiros discípulos sobrevalorizam a mensagem, ao ponto de então criar um significado que é organizado em doutrinas e práticas, as quais só fazem sentido dentro da sua própria lógica, transformando este conjunto de doutrinas e práticas num sistema, para enfim se organizar em instituição social.

 Com o surgir da Maçonaria Moderna (Especulativa) não foi tão diferente, os novos candidatos ficaram fascinados, no período da transição, com a tradição dos maçons operativos, que eles atribuíam guardarem segredos antigos, e deste fascínio pelo segredo, a Maçonaria prosperou e diversificou-se, atualmente com milhares de adeptos pelo mundo (Cerinotti, 2004: 96-101).

A MODALIDADE DE ANALFABETISMO DA MAÇONARIA OPERATIVA
Os historiadores são unânimes em afirmarem que, durante a Antiguidade e a Idade Média, de 80% a 90% da população destas épocas era analfabeta. O alfabetismo era um privilégio de poucos, pois não existia o imenso sistema de educação em grande escala, aberto para todos, como atualmente.

Porém, dentro desta grande população analfabeta, existiam os que eram apenas analfabetos funcionais (aqueles que só conseguiam ler ou escrever os assuntos dentro da sua ocupação funcional), bem como os que só eram treinados na sua profissão, através de um processo de treino, geralmente passado de pai para filho, o qual os historiadores da educação denominam, para diferenciar da educação propriamente, de “aprendizagem do trabalho” ou de “tecnização do conhecimento” (Manacorda, 2006: 70-2, 106-10; 138-9 e 161-7).

Este processo consistia inicialmente da aprendizagem das técnicas da profissão (artesãos, lavradores, carpinteiros, etc.) transmitida pelos pais aos filhos, sem a necessidade da alfabetização, até a formação das primeiras corporações de aprendizagem na Europa (Manacorda, 2006: 161-7).

A corporação (Craft) dos maçons operativos pode ter sido uma das primeiras corporações de aprendizagem a surgir, cuja transmissão não era aquela de pai para filho, mas de um Maçom para outro. Com isto os maçons operativos superavam nas suas habilidades profissionais os outros trabalhadores do mesmo ofício, os escravos, daí a suposta origem da denominação “pedreiros livres” (free masons).

Que os maçons operativos eram hábeis nas técnicas da construção, pois conheciam até Aritmética e Geometria que eram aplicadas nas construções, está bem confirmado, no entanto, fortes indícios levam a supor que eram despreparados, quanto à capacidade de ler ou de escrever textos.

 As principais pistas para tal suspeita estão na inexistência de escritos, de autoria de maçons, durante o período medieval, bem como a conclusão de Edmond Mazet de que: “… não é difícil adivinhar qual deve ter sido o conteúdo da Maçonaria Operativa na Idade Média. Ele só pode ter sido inteiramente cristão e certamente refletiu os ensinamentos dos padres; que é foi fundado na Bíblia e na exegese bíblica, que os maçons não conheciam de ler o livro ou os comentários sobre ele, mas de ouvir os sermões dos padres sobre eles e de esculpir cenas históricas e simbólicas extraídas deles” (Mazet, 1992: 252).

Os escassos conhecimentos que temos da Maçonaria operativa da Idade Média são extraídos dos Ou Charges (Antigos Deveres), sobretudo os dois textos mais antigos: o manuscrito Regius (1390 e. c.) e o manuscrito Crook (1450 e. c.), sendo que, curiosamente, ambos foram escritos por padres (Haywood, 1923b e Mazet, 1992: 251). Segundo E. Mazet, “eles contem (especialmente o Regius) um conjunto de instruções religiosas e morais que expressam o interesse dos padres em moralizar e catequizar os maçons” (Mazet, 1992: 251).

Os Old Charges seguintes, que só aparecem a partir de 1583 e. c. (Mazet, 1992: 253), podem ter sido escritos por maçons. Portanto, mais uma evidência de que, quanto mais antiga a referência aos maçons operativos, maior a confirmação do seu analfabetismo. Enfim, sendo analfabetos, eles só podiam registra através de símbolos e de ritos, o que aprendiam com os padres cristãos e com as esculturas que esculpiam nas catedrais, nas fortalezas e nos mosteiros.

Octavio da Cunha Botelho

Obras consultadas
ANDERSON, James. The Constitutions of the Free-Masons. Printed London: 1723, reprinted Philadelphia: 1734; Online Electronic Edition, Lincoln: University of Nebraska.
CERINOTTI, Angela. Maçonaria, São Paulo: Editora Globo, 2004.
GOULD, Robert Freke. The Concise History of Freemasonry. London: Gale & Polden Limited, 1951.
HAYWOOD, H. L. Symbolical Masonry: An Interpretation of the Three Degrees. New York: George H. Doran Company, 1923a.
________________ The Old Charges of Freemasonry em The Builder. September, 1923b.
JACOB, Margaret C. Living the Enlightenment: Freemasonry and Politics in Eighteenth–Century Europe. New York/Oxford: Oxford University Press, 1991.
__________________The Origins of Freemasonry: Facts and Fictions. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 2007.
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WILMSHURS, W. L. The Meaning of Masonry. London: P. Lund, Humphries & Co, 1922.

A APRENDIZAGEM E A VIA MAÇÔNICA



Meu Querido Irmão Aprendiz

O momento que te terá apanhado de surpresa e sobre que captaste apenas um pouco dos seus inúmeros pormenores e significado, representa o instante mais importante na vida de um Guerreiro da Luz.

Possibilitou o primeiro mergulho no interior de ti próprio, exercício que será repetido vezes sem conta na via que começaste agora a trilhar.

O primeiro passo nesse trilho foi um exercício de vontade e perseverança, uma vez que as provas a que foste sujeito não te demoveu na vontade de ver a Luz e seres recebido entre os Irmãos, como novo Obreiro.

Os passos que te vão ser exigidos, a partir de agora, serão novos apelos à tua vontade, esclarecimento e vontade de aprender. Estás agora na idade infantil da Maçonaria, a idade de Aprendiz e é-te exigido um silêncio absoluto durante as sessões da Loja.

Esse silêncio não significa amesquinhamento ou desconsideração pela tua condição de Homem Livre e de Bons Costumes, requisitos sobre que foste inquirido quando do inquérito maçônico.

Significa enorme disponibilidade para ver, ouvir,  cheirar e sentir, sem juízos pré-formados e ideias pré-concebidas. Este é o tempo de aprendizagem sobre as regras da Arte Real, as normas da nossa Augusta Ordem, as exigências do ritual, a interação dos Irmãos Mestres nos trabalhos da Loja.

Olhar vivo e sentidos bem despertos é o que te recomendo. Se e quando tiveres necessidade de expor alguma necessidade ou ideia faça pelo Irmão Mestre mais próximo de ti ou quando eu, na qualidade de Mestre da Loja, te autorizar.

A boa aprendizagem é aquela que se faz gradualmente, sem pressas, sem saltar etapas na via que agora iniciaste, na via do conhecimento das leis que nos regem, na relação com os outros homens, no preito Àquele de que fomos feitos à imagem, Deus.

Não tenhas, por isso, pressa. Na caminhada, que iniciaste, serás conduzido pelo oficial da Loja que tem a incumbência de instruir e supervisionar os Aprendizes, o Irmão Segundo Vigilante. Irmão que está sentado à tua frente, na mesa triangular que lhe serve de enquadramento.

Deixa-te seguir pela mão dele, pela sua experiência e sensibilidade; cumpre as suas orientações. Será ele que me relatará os teus progressos e que me informará, ultimada a instrução, que estás em condições de veres o teu salário aumentado, isto é, progredires para Companheiro Maçom.

Na coluna onde te sentas, a coluna do Norte, não terás grande visibilidade, porque as três janelas do Templo estão fora da tua área de visão.

Como saíste não a muito tempo do sepulcro onde morreste para a vida profana e terrena, os teus olhos têm dificuldade em se adaptarem à luminosidade que advém da iluminação do Grande Arquiteto, aqui representado pelo Delta luminoso que está por detrás do teu Venerável Mestre.

Ela ser-te-á concedida paulatinamente, passo após passo, esforço após esforço. Porque o excesso de luz deslumbra e cega.

Os homens que vês em teu redor já fizeram essa caminhada, cada um de per si, e chegaram a outros estádios da evolução maçônica quando foram julgados merecedores desse progresso. Eles são os teus Irmãos e companheiros nessa jornada. Confia neles e observa-os.

Nós, Maçons, somos a mais antiga fraternidade humana. Fraternidade que, segundo uns, data do tempo das guildas e corporações de pedreiros e maçons operativos que construíram as grandes catedrais, os castelos, as igrejas paroquiais; segundo outros, de mais atrás das grandes civilizações da Antiguidade: dos egípcios, dos fenícios, dos babilônios, dos judeus.

Nunca saberemos ao certo onde começamos e quando, mas sabemos que desde então temos uma Regra, vários Rituais e Ritos, alguns segredos e princípios que nos orientam: tratar o outro como um fim e não como um meio; fazer o bem sem olhar a quem; ser solidário com os que têm dificuldades; ajudar a tornar o mundo em que vivemos um mundo melhor.

Somos uma Fraternidade com segredos que despertam enorme curiosidade do mundo profano, que entrevê em nós e nas nossas tradições ausência de transparência, ideias conspirativas e a subversão da Ordem Pública, inspiração satânica.

Tudo isso nos merece uma enorme gargalhada que é a melhor forma de reagir perante as tolices de gente mal-informada ou apenas ignorante.

Temos segredos, mas apenas segredos ligados à nossa tradição e à transmissão do conhecimento que, como em épocas arcanas, é feito boca a orelha, pessoa a pessoa, para aqueles que merecem recebê-lo e aprendem a interpretá-lo.

Há o conhecimento imediatista, que poderíamos designar por exotérico com x, intuitivo; há depois o conhecimento esotérico, intimista, reflexivo.

O primeiro está nos livros, na Internet, nas revistas sensacionalistas, nos documentários da conspiração; o segundo encontrarás por ti próprio, com esforço, observando os símbolos que te rodeiam, mas olhando para dentro, para a tua alma, procurando a razão de estares aqui nesta particular comunidade de homens.

Procuraremos aqui despertar-te para este segundo domínio.

A Aprendizagem exige estudo, e muita reflexão, aplicação e vontade de melhorarmos como seres humanos e como maçons. A informação pode-nos ser mostrada e indicada mas esse caminho é individual e muito solitário. Buda disse “Somos o que pensamos.

Tudo o que somos surge com os nossos pensamentos. Com os nossos pensamentos, fazemos o nosso mundo.” Jesus disse “O olho é a lâmpada do corpo. Se o teu olho é bom, todo o teu corpo se encherá de luz.

Mas se ele é mau, todo o teu corpo se encherá de escuridão. Se a luz que há em ti está apagada, imensa é a escuridão”. Maomé acrescentou “A verdadeira riqueza de um homem é o bem que ele faz neste mundo”.

Toma estes ensinamentos como guia do teu comportamento, aqui e lá fora.

Todos os meses reunir-nos-emos aqui, duas vezes, longe dos olhares profanos para erguer novos templos à virtude e cavar sepulcros ao vício, exercitando o que designamos por Arte Real.

Os nossos trabalhos são guardados por Irmãos que têm a missão de manter a sacralidade deste espaço e impedir a entrada de intrusos. A espada é o símbolo desse ofício, hoje puramente simbólico e essa a razão que o guarda interno está armado com uma espada.

Mas por vezes os intrusos não são físicos, mas mentais, são os nossos julgamentos precipitados, os nossos impulsos mesquinhos, os nossos ódios de estimação.

Habitua-te a deixar os teus pensamentos profanos à porta do Templo. Aquieta o teu pensamento quando entrares no Templo. Participa com alegria e empenho nos nossos trabalhos.

Por vezes vê-se em lojas, irmãos a consultar repetidamente o relógio e o celular. Isso é muito mau sinal: ou os trabalhos não estão a decorrer com a elevação, o rigor e a profundidade que deviam ter; ou esses irmãos não deveriam estar na sessão. A reunião em Loja é o momento quinzenal de convívio com os Irmãos e isso deve merecer a nossa concentração e respeito.

Finalmente o Templo em que estás não teria sido construído sem a ajuda fraterna e o contributo de todos os Irmãos desta Loja. Como te foi explicado na entrevista é-nos pedida uma contribuição mensal para que possamos fazer face à renda e à conta de eletricidade e limpeza.

O nosso Irmão Tesoureiro que se senta na coluna do Sul, à minha esquerda, tem a função de garantir que essas despesas sejam pagas a tempo e que os Irmãos façam em tempo as suas contribuições.

Bem vindo Meu Irmão.

Meus Irmãos juntem-se a mim para saudar pelo sinal, pela bateria e pela aclamação escocesa a entrada deste Irmão. Em pé e à ordem Meus Irmãos. Pelo sinal….; pela bateria….; pela aclamação escocesa…….

Sentemo-nos.

Arnaldo Gonçalves, M I – Venerável Mestre


ETERNO APRENDIZ




Aqui estou na porta do Templo; sinto saudades, nostalgia, sou um pássaro desterrado entre as bandas do seu fim, perdido em terras estranhas, preciso voltar a minha terra que deixei a tanto tempo, rumo a grande procura, em uma viagem aos meus espaços interiores, mas sei que no final dessa viagem encontrarei minha Paz, a nossa Essência.

Minha alma esta sedenta de aprender, e estou no Umbral do Templo, agora estou na sala dos Passos Perdidos, ouço musicas longínquas, falando de amor profundo, é nosso ser interior que canta.

Eis o M.C., que suave figura, com o ar de mistério e suas palavras ecoam para que deixemos os sentimentos profanos, para adentrar ao Templo, e no nosso interior.

Ele é o nosso mensageiro, suave figura com ar de mistério, para nossa viagem ao Templo, com todo seu esplendor e mistério.

Alias o Templo é tudo que existe, representa o Universo, a morada Eterna de Deus.

É como disse "Trismegisto” o Grande Mestre,três vezes sábio:" Assim como é encima, é embaixo". "Sou como o templo, e o Templo como o universo."

Vestindo o Avental, que estranha vestimenta, que traz o símbolo maçônico dos IIr.', que sempre vieram, sempre foram e sempre vão.

Traz o eterno símbolo da maçonaria, com sedentos peregrinos, procurando a Divina destinação da nossa Essência.

Fala de onde viemos e para onde vamos, e neste símbolo cravou-se nosso caminho.

A porta do Templo se abre, assim como disse nosso Mestre;"Batei e abrir-se-á”.

O Guardião do Templo em sua imponência e austera figura fiscaliza nossa qualificação para nossa viagem, como neófitos nesta vida, mas acima de tudo;

“O Senhor é meu pastor, nada me faltar, deita-me em verdes pastos e guia-me mansamente em águas tranquilas. Ainda que eu ande pelos vales da sombra da Morte, não temerei mal algum, porque tu estas comigo, a tua vara e teu cajado me consolam".

Resolutos nós transpomos o Umbral das trevas exteriores para a nossa luz Interna.

O guardião em sua austera figura, diz que protegera o Templo dos invasores mundanos, dos mercadores do Santuário, garantindo nossa Egrégora.

Assim começamos nossa viagem ao nosso Templo interior.


ASSIM SEJA.

Inspirado na meditação Ritual Eterno Aprendiz R+C.
Ir.'. Ricardo Martinez


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