ORDO AB CHAO (A ORDEM VEM DO CAOS)


 

No começo era o Caos.

Não havia luz e também as trevas não existiam.

Era o Nada, o Vazio total. Nele, o Grande Geômetra!

Um movimento milenar começou a organizar o Caos em ondas de energia.

No Caos, no Nada, o Grande Geômetra manifestou-se. E sentiu o impulso de se projetar pelo espaço infinito, de abrir as Suas asas e limitar nelas o Universo então vazio.

No princípio, criou Deus os céus e a terra. A Terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas.

Disse Deus: “Faça-se a Luz”! E a “Luz foi feita”. (Gênesis, 1:1-3).

Ele lança a Sua Luz no mundo e começa o Seu trabalho: arquitetar e construir o Templo da Sua Criação.

Organizando o Não Manifesto que é o Caos por essência, Ele cria as primeiras partículas que darão origem a átomos dispersos, desconexos. Átomos que formarão moléculas, substâncias, matéria. Moléculas que formarão células, tecidos, órgãos, organismos. Vontade e verbo, que formarão almas, que encarnarão espíritos nos corpos.

O Grande Criador colocou Ordem a partir do Caos.

A teoria do caos

É uma das Leis mais importantes do Universo, presente na essência de quase tudo que nos cerca.

A ideia central da teoria do caos é que uma pequenina mudança no início de um evento qualquer pode trazer consequências enormes e absolutamente desconhecidas no futuro. Por isso, tais eventos seriam praticamente imprevisíveis – caótico, portanto.

A palavra “Caos” é de origem grega e significa confusão, desordem, perturbação.

Na teologia grega, porém, Caos era tudo o que existia antes do surgir do universo: o Vazio ou o Nada.

Na teologia do Antigo Testamento, “A terra era sem forma e vazia, e as trevas cobriam o abismo”.

É da desordem que nasce a ordem.

Edward Lorenz é considerado o pai da Teoria do Caos, que inspirado na previsão do tempo, feita de maneira pouco precisa pelos meteorologistas, simulou no seu computador, o Royal Mcbee de cerca de 800 quilos, quais seriam as previsões do tempo do Estado onde morava, o Estado de Massachusetts, dadas às condições iniciais previstas pelo seu programa, temperatura, velocidade do vento, umidade e pressão.

Lorenz conseguiu mostrar que com essas variáveis era possível fazer previsões do tempo, e comprovou que pequenas causas podem provocar grandes efeitos, independentes do espaço e do tempo.

A teoria do “efeito borboleta”, e popular análise: o bater de asas de uma borboleta na Amazônia pode produzir um tornado no Texas, foi o exemplo tomado pelo cientista.

Muitos devem lembrar-se do filme Efeito Borboleta (The Butterfly Effect), lançado em 2004, provocou discussões ao nível mundial. Na trama, dirigida por Eric Bress e J. Mackye Gruber, o jovem Evan Treborn (interpretado por Ashton Kutcher) descobre ter o potencial de fazer pequenas modificações em histórias do seu passado com o objetivo de alterar o presente e, consequentemente, promover verdadeiras revoluções no seu futuro.

O Caos é o estabelecer de um padrão organizado para a desordem aparente.

É exatamente isto que estes estudos procuram mostrar: Uma ordem em fenômenos que não possuem ordem nenhuma, que são os desastres. Querem instituir uma regra para um evento totalmente desregrado, imprevisível, que pode arrasar várias vidas sem prévio aviso (estes eventos são considerados como fenômenos caóticos).

A Teoria do Caos pode aplicar-se na vida humana. Um simples evento pode causar a mudança de vários fatores na nossa vida (é a famosa gota d’água).

A Teoria do Caos que na sua concepção analisou condições meteorológicas passou a ser aplicada em vários campos, como o desenvolvimento da bolsa de valores ou análise de apólices de seguros, dentre outros.

No noticiário diário, situações em que um pequeno fator provoca grandes transformações são sempre cogitadas, como o exemplo de um pequeno atraso que alguém teve na hora de sair de casa e que levou a perder o autocarro e chegar atrasado para pegar o avião, e o avião caiu.

Um segundo de atraso foi a diferença entre a vida e a morte. Daí a pergunta que não quer calar: existe destino? Ou ele existe e muda na medida em que fazemos escolhas?

Também nas ciências do comportamento o “efeito borboleta” induz à reflexão sobre a imprevisibilidade da vida, vez que atitudes conscientes e inconscientes podem levar a resultados catastróficos.

Na medida em que os estudos evoluem novas aplicações surgem para esta palpitante teoria.

A evolução da sociedade e o surgimento cada vez maior de novos conhecimentos fazem com que as teorias recebam contribuições das mais diversas áreas do conhecimento não apenas de ciências sociais. Temos que ter a mente aberta para novas observações e descobrir como usar estas informações em nosso benefício.

Devido à grande velocidade com que as transformações têm ocorrido, administrar torna­-se cada vez mais uma tarefa árdua, isto porque os recursos cada vez mais escassos ou racionalizados, competitividade acirrada e as várias realidades, precisam ser vistos de maneira global e interdependente, o que  faz com que a escolha de uma estratégia afete drasticamente o resultado e os envolvidos. É o principio da causa e efeito em ação continua.

Causa e efeito x teoria do caos

A Lei de Causa e Efeito acompanha e regula os seres na sua evolução em experiências vividas nos mundos da forma, desdobrando-se ao longo de milênios, ajustando e reajustando a expansão da consciência humana.

Esquecemos que um hoje bem harmônico e organizado resultará em felicidade amanhã.

O Dalai Lama diz-nos na sua sabedoria, misto de experiência de vida e dádiva divina:

“Só existem dois dias do ano sobre os quais nada pode ser feito. Um deles chama-se ontem e o outro amanhã. Portanto hoje é o dia certo para você amar, sonhar, ousar, produzir e acima de tudo, acreditar… O ontem é irrecuperável, não há o que nele se pensar e o amanhã, nada será sem o dia de hoje. É no aqui e agora que devemos cultivar bons e precisos pensamentos e ações, pois só assim, um amanhã tão esperado poderá vir a existir”.

A Lei de Causa e Efeito, algumas vezes chamada de lei do plantio e da colheita, é conhecida como a lei principal, pois dela emanam todas  as outras.

Todas as leis, como a vida, têm um princípio de causa e efeito. Não há exceções.

Se for agricultor e plantar milho, vai colher milho.

Se plantar tomates, vai colher tomates, e não feijão ou soja.

A causa é o plantio, o efeito é a colheita…

Se semear pensamentos negativos na sua mente, é isso o que vai obter ou colher na vida: resultados negativos.

No entanto se semear pensamentos positivos, colherá resultados positivos.

Por outras palavras, se fizer ou disser alguma coisa, essa é a causa, então deve esperar pelas
consequências, ou o efeito.

A ordem vem do caos (ordo ab chao)

Esta metáfora também encontra paralelo nos modernos conceitos científicos que tratam da formação do universo físico. Se de um lado a relatividade provocada pela velocidade com que as partículas se dispersam no vazio cósmico nos mostra um universo caótico e indiferente, semelhante ao que se dizia existir nos primeiros momentos da sua criação, a gravidade existente nos corpos formados pela condensação da energia luminosa, que se transforma em massa, força essas partículas a se reunirem e se constituírem em sistemas.

A física moderna ensina que o equilíbrio universal é causado pela contraposição da energia positiva que é gasta pelo universo na sua expansão e pela energia negativa gerada pelos campos gravitacionais que mantém os sistemas planetários. Quer dizer, um embate entre a relatividade e a gravidade, na organização dos sistemas essas forças são representadas pela sinergia (que gera e aglutina) e pela entropia (que consome e dispersa).

Este também é o processo que gera o conhecimento. A energia concentra-se em locais específicos do organismo (os neurônios do cérebro) e gera a atividade psíquica.

Através dessa atividade nós vamos conhecendo o mundo em que vivemos.

E desta forma o mundo organiza-se, a lógica nasce e o que era desordem e ignorância passa a ser ciência. Surge a ordem no caos. ORDO AB CHAO.

Portanto, podemos concluir que a Evolução é a Ordem a partir do Caos. Somente assim a Ordem viria através do Caos.

Na topologia do conhecimento humano reconhece-se, enfim, que há uma forma de energia forçando a matéria universal a se dispersar e preencher o vazio cósmico em princípio, e outra que promove a sua organização, por agrupamento.

Analogamente, poderíamos dizer que esse mesmo processo ocorre na formação dos dois substratos que sustentam o fenômeno da vida, ou seja, a mente e o corpo. Enquanto o organismo se forma na dispersão, pelo fenômeno da cissiparidade, que é a multiplicação celular a partir de um zigoto, a mente desenvolve-se pela cefalização, que é o processo que permite a reunião e o processamento das informações vitais em corpos infinitamente pequenos, os neurônios.

Ordo Ab Chao na Maçonaria

Desta teorização vemos a atuação de uma Inteligência Suprema, que se compara à de um arquiteto na elaboração de um grande edifício cósmico. Daí a ideia de um Grande Arquiteto a dirigir a obra de construção do edifício universal.

Na Maçonaria a tradição de que o cosmo se constrói a partir da dialética dos opostos reflete no conflito entre o vício e a virtude. Por isso o Maçom é desafiado a refletir sobre o que é a virtude.

Por isto é que no ritual de Iniciação se indaga do iniciando o que ele entende por um e outro, especificando que a virtude é uma disposição da alma que nos induz à prática do bem e o vício é o hábito desgraçado que nos arrasta para o mal. Esta interpretação mostra claramente que a prática  da Maçonaria é entendida como uma disciplina de comportamento, na qual o indivíduo é treinado para regular os seus costumes, atingindo com isso um perfeito equilíbrio entre as forças que motivam a sua conduta como pessoa humana, partícipe de uma sociedade.

Por isto é que a Maçonaria é comparada a uma jornada em busca da luz; jornada essa que começa na iniciação e nunca termina em vida, pois não é senão na passagem desta existência para a outra que essa luz se revela em todo o seu esplendor, na forma do espírito que se liberta da matéria e se condensa em pura energia luminosa.

A dialética dos opostos, na prática maçônica, porém, não é invocada somente na sua conformação moralista. Ela também revela o caráter místico da Arte Real, naquilo que ela tem de simbólico e arquetípico. Na topografia do inconsciente humano o mal e o bem sempre estiveram conectados com cores, temperaturas, sons, direções etc.

Assim, se desenvolveram as tradições que informam que o bem se encontra no claro, no silêncio, no frio ou calor extremo, no leste, e o mal na escuridão, no barulho, no clima temperado, no oeste, etc. Estas são metáforas neurolinguísticas que expressam bem o conteúdo arquetípico da mente humana.

Não é outra a razão de os Templos Maçônicos terem a sua planta orientada do Ocidente para o Oriente (onde nasce o Sol) e a marcha ascendente do Irmão dentro do Templo sempre seguir a orientação do Ocidente (yin, escuro, feminino) para o Oriente (yang, luminoso, masculino); e também da esquerda para a direita, porque este é o sentido da rotação da Terra.

Arquiteto do Universo, que tem nas hostes celestes, nas figuras dos seus anjos os Mestres Arcanos, e nos homens os seus Pedreiros Universais. Estas metáforas são constantemente invocadas na prática maçônica e se fundamentam em vários arquétipos que a mente coletiva da humanidade, nas suas diversas fases de desenvolvimento, criou.

ORDO AB CHAO (Ordem no Caos) é uma divisa maçônica por excelência. Encontrável em todos os ritos maçônicos, ela, por si só, é explicativa dos propósitos da Maçonaria, enquanto filosofia de organização e construção de um edifício social universal. Como lema, é exclusiva do Rito Escocês Antigo e Aceito.

No sentido simbólico-filosófico pretende induzir no Maçom a colocar ordem na sua vida, para se aprimorar em todos os sentidos: intelectual, moral, civil, cultural e emocionalmente – de forma a vencer o caos que o mundo oferece aos desprevenidos e que o espírito humano apresenta pela sua própria essência.

Escola Maçônica Mestre António Augusto Alves de Almeida

Fontes

ANATALINO, João – A ORDEM NO CAOS – Texto – Recanto das Letras

BUFFONI, Salete Souza de Oliveira. – A TEORIA DO CAOS E A VIDA QUOTIDIANA – Revista Vida Simples – Editora Abril;

CHARDIN, Pierre Teilhard de. – O FENÓMENO HUMANO – Cultrix, São Paulo, 1995;

DANTON, – A TEORIA DO CAOS – Edição Independente – Macapá, 2002; GUÉNON, René. – A GRANDE TRÍADE – Ed. Pensamento, São Paulo, 1987;

PAWELS, / BERGIER, Jacques. – O DESPERTAR DOS MÁGICOS – Ed. Bertrand Russel, 1964;

RAMPA, – O TERCEIRO OLHO – Ed. Boitempo, 1968;

STEWART, – SERÁ QUE DEUS JOGA DADOS? (A Nova Matemática do Caos), Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 1991;

TSÉ, – TAO TÉ CHING – (O Livro do Caminho Perfeito) – Ed. Pensamento, 1991; VERLUIS, Arthur. – MISTÉRIOS EGÍPCIOS – Círculo do Livro, São Paulo, 1988.

 

BREVES REFLEXÕES ACERCA DO TUDO

 


No princípio de tudo, o Tudo era o nada. Imperava a ausência pura e tudo era eternidade e infinito. Então como agora, o Tudo era Deus e Deus era o Tudo. Imutável e absoluto. O princípio do Tudo por oposição ao nada se deu quando um ponto, esse conceito geométrico sem dimensão, logo sem existência, explodiu.

Com o big bang, o tempo e o espaço foram projetados no nada a partir do nada. E no tempo e no espaço, por eles potenciados e simultaneamente confinados, surgiram e expandiram-se estrelas, planetas e galáxias. O Tudo tomou então a forma do Universo, potência na eternidade e no infinito, realidade no tempo e no espaço.

A segunda prodigiosa singularidade no devir do Tudo ocorreu quando da matéria surgiu à vida. Fenômeno metamórfico, a matéria é, em Aristóteles como em Einstein, a expressão de leis Universais que determinam a existência em função da possibilidade inerente à potência. A vida não podia senão nascer da matéria por ser a consequência lógica dela. À semelhança dos fenômenos universais, a vida projetou na matéria e fundiu-se com ela para nela e com ela tomar forma e existir.

Perante a diversidade do espaço e impulsionada pelo tempo, à vida não pôde senão adaptar-se e expandir-se. Nesse processo evolutivo, a vida induziu em outra singularidade tão espetacular, surpreendente e inevitável quanto às anteriores, o pensamento. O pensamento – o que filósofos e teólogos designam de consciência – não inventou as leis universais; contudo, observou-as, anotou-as e formulou-as.

Foi, pois pelo pensamento que a evolução, o Tudo, deu conta da sua própria existência. Introspecção do Tudo, o pensamento é simultaneamente esse Tudo.

O Homem, projeção suprema do pensamento, inventa e analisa, supõe e especula, sente e raciocina, ama e seduz, conspira e odeia, constrói e destrói, recorda o passado e projeta o presente. E, à força de tanto pensar o Universo, projeta-se a si próprio no seu pensamento através do seu pensamento.

Essa capacidade de abstração, tão sublimemente traduzida no número, faz com que o Homem, que é um animal, o seja cada vez menos. E cada individuo, cada vez mais, o Homem na sua totalidade.

É certo que o Homem há de desenvolver artefatos cada vez mais devastadores e, não nos iludamos, os há de usar. Sabendo frequentemente o que faz, assim Paul Valéry, o Homem nunca sabe o que faz o que ele faz. Por esse motivo, acabará por depender das suas próprias ações e criações; disso dá-nos conta o Mefistófeles de Goethe.

Contudo, apesar destas e tantas outras contrariedades, a probabilidade é que o Homem persista. Como a Luz é à sombra de Deus, o Homem é a projeção do Tudo. Por esse motivo, a probabilidade é que persista mesmo para além da extinção do nosso sol, provavelmente até que o espaço e o tempo acabem.

O percurso está pois traçado. Não em termos absolutos, é certo, mas em termos do que é possível e, consoante as circunstâncias, provável. E é justamente nesta encruzilhada que reside o drama da condição humana.

Confrontado com a impossibilidade de antever o futuro, o Homem prescinde da sua capacidade de identificar a possibilidade e influenciar a probabilidade. Estando a persistência divinamente assegurada, o Homem vive a vida por ela durar. À semelhança do Judeu Errante, mas sem maldição divina.

Todos nós, livres e cultivados, simultaneamente seus herdeiros e antepassados, temos por obrigação libertar o Homem. Compete-nos agir, em cada instante, no sentido de promover ocorrências possíveis previstas em potência que favoreçam a condição humana.

A nossa missão reside na elevação do pensamento ativo sobre o passivo, da determinação sobre a apatia, do aperfeiçoamento individual sobre a indiferença geral, do bem sobre o mal.

Serve esta brevíssima excursão pelo Tudo para explanar os desígnios que me trouxeram até Vós há cerca de um ano. Estando o passado justificado, resta-me agora almejar por estar à altura das expectativas.

tintin – A:. M:. – R:.L:.M:.A:.D:.
Julho de 6007

 


AS FERRAMENTAS


 

Um grupo de ferramentas reuniu-se em assembleia numa Oficina para acertar suas diferenças.

Um Malhete estava exercendo a presidência, mas, alguns participantes exigiram sua renúncia.

A Causa?

O Malhete fazia demasiado barulho, vivia golpeando, não deixava ninguém falar e se achava dono do lugar.

O Malhete, revoltado, disse que ele e que estava sofrendo um golpe e pediu a expulsão da Régua, do Maço e do Cinzel, um grupelho que conspirava contra ele; a Régua queria controlar o trabalho e o descanso físico e espiritual, segundo suas medidas sem dar satisfações a ninguém como se fosse a única perfeita; o Maço e o Cinzel só tratavam de asperezas, e, um sem auxílio do outro não tinha nenhum valor.

A Régua não se conteve e transferiu as acusações para o Esquadro, o Nível e o Prumo, pois, estes, não faziam o trabalho pesado e ainda queriam aferir tudo; o Nível só trabalhava na horizontal – muito descansado; o Prumo dizia que sua visão vinha de cima e não poderia ser contestado; e o Esquadro, queria sempre ver tudo sobre todos os ângulos… que prepotência…

O Esquadro aborrecido asseverou – Faço apenas o que está traçado na Prancheta, que se queixem com o Compasso o Lápis e o Cordel que são os culpados, eles e que maquinam tudo, dizem que juntos, e a partir de um único ponto, projetam uma linha, um ângulo, um plano e um sólido… como é possível?

Neste momento, todos, com respeito, se calaram, pois entrou na Oficina o Mestre da Obra. Este juntou todas as ferramentas e, apresentando a prancheta com o traçado e disse: – hoje vamos dar continuidade a construção projetada pelo do Grande Geômetra.

Com a participação de todos, os trabalhos foram iniciados e realizados em paz – com ordem e exatidão.

Ao final, o Fiscal da Obra constatou que estava tudo justo e perfeito.

Quando o Mestre foi embora as ferramentas voltaram a discussão. Mas, a Prancheta adiantou-se e disse:

– Senhores, ficou demonstrado que todos temos defeitos, mas o Mestre da Obra trabalha com nossas qualidades, ressaltando nossos pontos valiosos… Portanto, em vez de pensar em nossas fraquezas, devemos nos concentrar em nossos pontos fortes.

Então a assembleia entendeu que todos eram necessários, e, como equipe, eram fortes precisos e exatos, por isto, capazes de produzir com qualidade. Uma grande alegria tomou conta de todos pela oportunidade que tiveram de trabalharem juntos. E assim despediram-se, contentes e satisfeitos.

Quando buscamos defeitos em nossos Irmãos, a situação torna-se tensa e negativa. Ao contrário, quando se busca com sinceridade os pontos fortes, florescem as melhores conquistas.

É fácil encontrar defeitos… Qualquer um pode fazê-lo! Mas, encontrar qualidades? Isto é para os sábios!

Texto de Paulo Roberto Marinho de Almeida

Nota:

Este texto foi inspirado do Original, “O Marceneiro e as Ferramentas”, de autor desconhecido. Para adaptá-la a feição maçônica, em sua construção, alteramos a narrativa, os nomes das ferramentas e relacionamos a fantasia das contendas, com suas representações maçônicas reais, considerando o simbolismo.

 

A INICIAÇÃO É DE SUMA IMPORTÂNCIA PARA O MAÇOM!


 

A Iniciação é de suma importância para o maçom e para todos aqueles que, por força da lei de evolução, foram movidos a bater às portas de um Templo, em busca de Luz.

A Maçonaria não é composta por pessoas perfeitas, mas por aqueles que entendem que precisam se aperfeiçoar, e por isso lhe batem à porta. Estamos a todo instante identificando aspectos de nossa personalidade que poderão ser aprimorados.  Esse será o eterno lapidar de nossa pedra. 

Quando falamos que a Maçonaria, antes de tudo é uma Escola de Iniciação, é porque, como tal, visa, através de seus ensinamentos e da “séria conduta de seus membros”, iniciar uma ação de preparação da personalidade (parte material - lapidar da pedra bruta), a fim de que aflore a individualidade (parte espiritual), o despertar do Mestre Interno de cada um.  

É no operoso desbastar da Pedra Bruta que se descobre o poderoso ser que existe dentro dá cada um. O ser humano é capaz de grandes realizações, porém, é necessário que busque despertar dentro de si o poder existente.

Somente com estudo e perseverança poderá construir esse novo homem que vive escondido dentro das asperezas do seu íntimo. Com certeza será um novo obreiro a trabalhar conscientemente para a melhoria do gênero humano, pregando a paz e a concórdia dentro do seio da Maçonaria, “levantando Templos a virtude e cavando masmorras aos vícios.”

De nada adianta descobrirmos que em nosso interior há uma pedra bruta, se essa pedra não é tocada, não tem a sua rusticidade conhecida, se nada fazemos para seu polimento. Esse polimento é pesado, o desbaste das arestas, dos excessos, é doloroso, mas necessário, para fazer crescer aquele que encontrou dentro de si o que o diferencia dos demais animais:

A pedra oculta, isto é, a inteligência, a capacidade de raciocinar, de discernir entre o certo e o errado, de dominar o desejo pessoal, de vencer paixões e submeter vontades.

 “O Ensino Iniciático da Maçonaria é realmente diferente dos outros modos de ensino. Não tem por objetivo fazer conhecer, ou difundir uma verdade ou verdades contingentes ligadas a objetivos finitos, apreensíveis por laços de causalidade. A sua meta visa Verdade Infinita sem pretender a sua posse, embora oferecendo elementos e meios para que a ela possa ter acesso. É mais um convite à pesquisa que a revelação sistemática do resultado das pesquisas. E este esforço ao qual a Maçonaria convida pelo infinito de sua meta, é ele mesmo infinito. Abarca inteiramente toda a vida do indivíduo.”

Se, porém, analisar as fases desses ensinamentos, encontram-se nestes, verdadeiros sentidos esotéricos, buscando o crescimento espiritual de todos que passaram pelo processo da iniciação. Observa-se o que se descobre quando se penetra nesse mundo obscuro de mistérios quando se é iniciado.

Portanto, o cidadão iniciado deve ser sempre um exemplo de comportamento humano, praticando com esmero, a justiça, a caridade, a honestidade, a fraternidade, o respeito, a tolerância, a compreensão, o amor, etc.

Somente com essas virtudes poderá angariar a confiança e a credibilidade dos seus irmãos maçons e dos irmãos em espirito, cumprindo o propósito de sua iniciação. É nesse sentido que todo maçom deve se guiar, tendo como fundamento de sua trajetória, as fontes da espiritualidade Maçônica.

É oportuna a observação do ilustre escritor Nicola Aslan, quando afirma que: “Pelo método Iniciático, o maçom se distingue culturalmente dos outros homens. Não conhece nem pode conhecer a satisfação espiritual e intelectual, pois ele sabe que a Verdade de hoje pode não ser a Verdade de amanhã. Pesquisador eterno, o maçom faz jus à denominação de filhoda Luz.”

Quem quer que se empenhe na dura obra do seu aperfeiçoamento espiritual deve penetrar no âmago do seu ser, com o propósito sincero de encontrar e eliminar todas as imperfeições por ventura encontradas. E elas certamente não serão poucas. Este caminho a percorrer haverá de levá-lo à descoberta da Pedra Filosofal ou Pedra Polida; que é o princípio, a Centelha Divina que repousa viva dentro de cada um de nós.

Quando nascemos, trazemos algumas características genéticas que podem nos predispor a desenvolvermos certas doenças ou aptidões intelectuais. Entretanto, nosso caráter é uma folha de papel em branco, na qual irá aos poucos sendo impresso tudo aquilo que nos for transmitido.

O bem ou o mal não existem em si mesmos, intrinsecamente. Eles serão desenvolvidos de conformidade com o meio, com os hábitos desenvolvidos, práticas ou costumes, através da educação recebida no lar e da educação formal.

Só mais tarde adquirimos um nível de consciência capaz de discernir ou escolher entre o que seria o bem ou o mal, de conformidade com o que tenha sido impresso na folha de papel de que falamos. A tendência natural é preponderar o que tenha maior peso em nosso aprendizado.

 De princípio, uma visão do simbolismo da Câmara de Reflexão. Quando o Candidato é recolhido a Câmara de Reflexão, simbolizando a Terra, a qual, por sua vez, representa a materialidade.

Nessa fase inicial da Iniciação, espera-se que o isolamento em que vai se encontrar, a atmosfera que nela existe e os objetos que nela se encontram, concorram para levá-lo a novas descobertas a proporcionar-lhe ensinamentos que o faça recuar sobre si mesmo.

O choque de espírito contra a superfície refletora da Câmara há de levá-lo a examinar suas ideias, a compará-las e, deste processo, há de resultar certamente um pensamento novo.

Por seu isolamento e suas paredes negras, a Câmara de Reflexão representa um período de escuridão e de maturação silenciosa da alma, por meio da meditação e da concentração em si mesmo, período que prepara o verdadeiro progresso, efetivo e consciente, que se manifestará posteriormente, à luz do dia.

 A passagem pela Câmara de Reflexão mostra ao Profano que tinha chegado o momento de morrer para o vício, para as paixões, para os preconceitos e para os maus costumes. Para ele compreender que diante da morte desaparecem o orgulho e a ambição, e que de nada valem o poder e as riquezas do mundo.

A permanência do recipiendário nessa Câmera representa o período de gestação do Maçom, pois, ao morrer para o mundo profano, ele prepara sua mente e seu espirito para o nascimento de um novo homem e de uma nova vida.

Maçônica-mente, temos somente “uma iniciação”, mas, espiritualmente, é dentro de nós mesmos, no mundo espiritual interior, a cada dia, uma nova Iniciação nos aguarda. Como a luz do Sol, em cada hemisfério, a cada dia ressurge, assim em nós, a cada dia, a cada momento, a Nova Criatura adquire novas perspectivas, para lançar aos mundos (material e espiritual) os frutos sazonados e úteis.

Essas são as fundações interiores que o Homem terá que consolidar, para que possam manifestar-se no exterior, no mundo material, com todo o sucesso que se pretende atingir neste plano de vida. As Ordens sendo instituições, são edificadas no mundo material – pórticos de matéria para o espírito, por isso, necessitam de homens renovados, pois só desses se espera a sua manutenção e evoluções futuras!

Nunca esquecer que a Maçonaria molda o homem para ser J\ e P\, portanto, o amor, a solidariedade, a fraternidade, a justiça e a caridade devem ser as virtudes que embelezam sua natureza humana se contrapondo aos vícios que denigrem e alvitram o seu ser.

Numa reflexão a parte, deve lembrar o Maçom que o cerimonial da iniciação é um ato sagrado, início da construção do templo interior de cada iniciado, daí a responsabilidade de cada Loja em dispensar a devida atenção ao desempenho da ritualística, procurando dar o verdadeiro sentido Espiritual ao sublime processo iniciático. .

Para analisar o verdadeiro sentido místico que norteia a Maçonaria, necessário se faz entender o crescimento interior, preparando-se para o trabalho de lapidação de seu EU interior.

O maçom procura sua própria “essência”, que é de ordem ontológica (conhecimento de si e Deus), na exaltação das virtualidades divinas que nele existem como em todos os homens”. É exatamente isso que deve o maçom procurar sua “essência” para ser um Iluminado e, ser também, tocado pela graça do Grande Arquiteto do Universo.

A.·. R.·. L.·.M.·. FLAUTA MÁGICA DO RIO DE JANEIRO, Nº 170

M.·.M.·. SANDRO PINHEIRO

 

QUEM FOI SALOMÃO?


 

Segundo o relato bíblico, Salomão foi o mais rico e poderoso dos reis judeus.

Sob seu reinado, Israel atingiu o máximo esplendor.

Da linhagem de Judá, era o segundo filho de Davi e Batseba e foi ungido rei antes da morte de seu pai, por se temer que seu irmão Adonias, filho de Davi com Hagite, usurpasse o trono, prometido a Salomão.

Após a morte de Davi, para consolidar o seu reinado, Salomão mandou matar seu principal rival, seu meio-irmão Adonias, e o general Joabe, além de depor o sacerdote Abiatar, por serem, ambos, aliados de Adonias.

Joabe e Abiatar foram substituídos, respectivamente, por Benaia e Zadoque, leais a Salomão.

Em sonho, Deus concedeu-lhe a Sabedoria que pedira, a qual logo se revelou, no famoso caso, conhecido como o “Julgamento de Salomão”, das duas mulheres que reclamavam a mesma criança como filho.

A Rainha de Sabá, atraída por sua reputação, fez longa viagem para conhecer sua Sabedoria.

Em seus quarenta anos de reinado, Salomão demonstrou ser um excelente político e administrador.

Como político, fez alianças com o Egito, casando-se com a filha do Faraó; com Hiram, rei da cidade-estado fenícia de Tiro; com Balkis, a Rainha de Sabá; com os moabitas, amonitas, iduméios, sidônios e heteus, casando-se com mulheres dessas nações.

Como administrador, fortificou Jerusalém e embelezou-a com edifícios reais; reconstruiu as cidades de Gezer, Betorom, Baalate e Tadmor; para suprir a corte com alimentos, dividiu o reino em 12 distritos, cada um com a responsabilidade de fornecer provisões por um mês; promoveu um próspero comércio marítimo; e manteve um poderoso exército que submeteu os heteus, amorreus, fereseus, heveus e jebuseus, tornando-os tributários de Israel.

Tal como sua Sabedoria, seu harém era proverbial: segundo a Bíblia, tinha 700 esposas e 300 concubinas! (Pena que não haja registros de como Salomão dava conta dessas 1000 mulheres).

Atribui-se a Salomão a autoria de três livros bíblicos: Provérbios, Cântico dos Cânticos (Cantares de Salomão) e Eclesiastes, além dos Salmos 72 e 127.

Ainda sob o ponto de vista religioso, quiçá por respeitar as crenças de seus vizinhos e das várias tribos que governava, não se mostrou um monoteísta ortodoxo, pois a despeito de ter construído o afamado Templo de Salomão para cultuar o Deus dos judeus, edificou também templos a Astarte ou Astarote, deusa dos sidônios; a Milcom, deus dos amonitas; a Camós, deusa dos moabitas; e a Moloc, deus dos amonitas.(daí inclusive vem sua decadência)

Para sustentar a luxuosa corte de Salomão, o povo vivia oprimido e descontente com os pesados tributos que eram devidos e recolhidos aos cofres governamentais.

Essa política econômica, mantida por seu filho e sucessor Roboão, foi a causa da separação das tribos que constituíam o Estado judeu.

Somente as tribos de Judá e Benjamim permaneceram fiéis a Roboão, constituindo, ao sul, o reino de Judá, com Jerusalém como capital.

As outras tribos, sob a liderança de Jeroboão, formaram ao norte o reino de Israel, com capital em Siquém, posteriormente transferida para Samaria.

O reino de Israel sobreviveu 208 anos (930 a 722 a.C.).
Com a queda de Samaria, a maioria de seus habitantes foi levada cativa para a Assíria.

Já o reino de Judá durou 343 anos (929 a 586 a.C.).

Com a destruição de Jerusalém pelo rei caldeu Nabucodonosor, a maioria de seus habitantes foi levada prisioneira para a Babilônia.

Segundo a tradição judaica e cristã, Salomão é, ao mesmo tempo, adorado e censurado.

Adorado por sua sabedoria, pelos escritos que produziu e pelo templo que construiu.

Censurado por se unir a mulheres que, ao invés de se converterem ao Deus dos judeus, fizeram-no afastar-se dele, cultuando outros deuses.

Para a Maçonaria, Salomão é mais importante pelo que simboliza – a Sabedoria – do que propriamente pelo que foi ou fez.

Salomão é personificado, nas Lojas maçônicas, pelo Venerável Mestre e pela deusa Minerva, deusa e símbolo da Sabedoria.

Ir Almir Sant’Anna Cruz.


RITO DA PALAVRA DE MAÇOM (MASON’S WORD)


 

De acordo com vários maçonólogos, o Rito da Palavra de Maçom (Mason’s Word), criado por volta de 1637 na Escócia seria o rito mais antigo da Maçonaria chamada “especulativa”.

O rito foi fundado por maçons escoceses calvinistas e presbiterianos de Kilwinning para substituir o ritual Inglês e Anglicano dito das Antigas Obrigações operativas da  Idade Média e do Renascimento [1].

A partir de 1696, os maçons desejaram criar uma arte da memória conforme os princípios do Calvinismo, isto é, não baseado em imagens visuais, mas exclusivamente em imagens verbais como as metáforas e alegorias.

Posteriormente, depois de ter passado por várias influências, anglicanismo e catolicismo, a Grande Loja de Londres transforma-o em 1717, em rito filosófico universal que se tornou a matriz do ritual de três graus praticado pela Maçonaria contemporânea.

CONTEXTO DO APARECIMENTO

A expressão Palavra de Maçom que está na origem do rito é sem dúvida modelada na expressão Palavra de Deus ou “Palavra do Senhor”. É por esta expressão que os calvinistas da Escócia designavam a Bíblia, referência entre todos, o Sola scriptura [2] de Lutero. Ao usar esta expressão da “Palavra de Deus”, os calvinistas pretendiam retornar a um cristianismo autêntico, antes das práticas da Igreja dos Católicos romanos, estes últimos sendo considerados por eles como “idólatras” e “góticos”, aludindo à construção de catedrais na França e no resto do Continente europeu.

Para compreender a história do Rito Palavra de Maçom, devemos primeiro lembrar o contexto, ou seja, em primeiro lugar, que a chegada do reformador calvinista John Knox (1514-1572) na Escócia (1555 e depois em 1559 para ali fundar a Reforma) estava na origem de profundas convulsões no plano da organização das irmandades até então católicas.

Como resultado das suas novas conversões, aquelas de maçons que se tornaram presbiterianos por sua vez, desejavam reformar a prática das antigas regras e retornar a uma leitura escriturística das Obrigações (Charges). A reorganização das Obrigações levou a muitas mudanças nas lojas operativas que se tornaram mais abertas à livre interpretação das Escrituras de acordo com o princípio da liberdade de julgamento dos reformadores. Além disto, a abolição do culto aos santos, a rejeição da estética católica e a controvérsia da época sobre a arte da memória levou os maçons das lojas presbiterianas a desenvolver um método de simbolização baseado mais em diálogos e metáforas literárias do que nos símbolos gráficos das Antigas Obrigações [3].

FONTES E EVOLUÇÕES DO RITO PALAVRA DE MAÇOM

Os testemunhos incluindo a expressão “Mason Word” são numerosos e foram a seu tempo examinados pelo maçonólogo David Stevenson. Isto representa um total de cerca de vinte textos escoceses escritos no século XVII e uma dúzia de textos britânicos do século XVIII.

O Rito Palavra de Maçom teria sido elaborado dentro da loja calvinista [3] Kilwinning n° 0, entre 1628 e 1637. Os documentos mais antigos sobre ele mencionam um ritual que consistia em receber em loja um novo membro, dando-lhe um aperto de mão (origem da “garra”) enquanto os nomes das duas colunas do Templo de Salomão eram comunicados, com referência à passagem bíblica da Epístola de Paulo aos Gálatas (Gl 2,9), lembrando a troca dos apertos da mão direita (mão da verdade) entre Tiago, Pedro e João, de um lado, e Paulo de Tarso, de outro.

Documentos posteriores pertencentes aos textos fundadores da Maçonaria em particular, o “Manuscrito dos Arquivos de Edimburgo” (“Edinburgh register house” que data de 1696 e que era o ritual da loja Canongate Kilwinning, ” [4] , mostram evoluções significativas desde aquela época. Eles mencionam em particular um “catecismo” por perguntas e respostas, a prática dos cinco pontos do companheirismo [5], bem como a transmissão de uma palavra adicional em “M. B.” ao segundo grau [6].

Autor desconhecido

Notas

[1] No sentido da palavra inglesa da época. Diríamos hoje “filosófico”.

[2] Cerimônia de admissão a uma corporação de maçons antes do século XVII.

[3] Os historiadores podem determinar se uma loja era calvinista, católica ou anglicana examinando alguns detalhes nos seus rituais ou outros documentos de arquivo, tais como a presença ou ausência do qualificativo holly (santo) ao lado do nome de uma capela, ou mesmo em alguns manuscritos referências mais explícitas, por exemplo ” Santa Igreja Católica no manuscrito Dumfries no 4 de 1710 (ver, por exemplo, Négrier 2005 pp. 106 e 109).

[4] Trata-se da loja de Canongate, pequena aldeia a leste de Edimburgo. Esta loja, cujos arquivos datam de 1630foi anexada à Loja Presbiteriana de Kilwinning em 1677. (Stevenson 2000, p. 64)

[5] Que alguns autores associam aos cinco pontos calvinistas da TULIP (Negrier 2005, passim).

[6] Os rituais maçônicos do século XVII só conhecem dois graus: aprendiz e companheiro-mestre

Bibliografia

Roger Dachez, “ Nouveau regard sur les anciens devoirs “, Franc-maçonnerie magazine, noHS N°3, novembre 2016, p. 18-23

Patrick Négrier, La Tulip : Histoire du rite du Mot de maçon de 1637 à 1730, Saint-Hilaire-de-Riez, Éd. Ivoire-Clair, coll. “ Les Architectes de la Connaissance “, avril 2005 (ISBN978-2-913882-30-0, présentation en ligne)

Patrick Négrier, Le Rite des Anciens Devoirs : Old Charges (1390-1729), Saint- Hilaire-de-Riez, Éd. Ivoire-Clair, coll. “ Lumière sur… “, Dezembro 2006 (ISBN978-2-913882-39-3)

David Stevenson (trad. Patrick Sautrot), Les premiers francs-maçons : Les Loges Écossaises originelles et leurs membres [“The Origins of Freemasonry: Scotland’s Century, 1590-1710, Cambridge Univer-sity Press, 1988, paperback ed. septembre 1990”], Saint-Hilaire-de-Riez, Éd. Ivoire- Clair, coll. “ Les Architectes de la Connaissance”, mai 2000, 256 p. (ISBN 978-2-913882-02-7, apresentação online)

 

A ALUSÃO AO BODE NA MAÇONARIA: PREJUDICIAL OU NÃO?


 

Já escrevi sobre esse tema, mas resolvi reavaliar alguns conceitos (o autor).

A figura do bode pertence às mais velhas tradições e crenças pagãs. Foi usado para representar diversos deuses do panteão egípcio, entre eles Set, Rá e Amon. Nos mistérios de Dionísio, os gregos utilizavam a máscara e a pele de bode nas cerimônias. Nos cultos celtas e dos etruscos era parte dos rituais. O carro do deus do trovão (Thor) era puxado por bodes.

Relatos contam que no antigo Israel o sumo sacerdote levava dois bodes ao Templo de Jerusalém no Dia do Perdão, um era sacrificado para expiar os pecados da comunidade e o outro recebia a transferência das más ações das pessoas. A confissão a um bode, símbolo do silencio absoluto, era certeza de que os pecados confessados estariam protegidos das indiscrições profanas.

Na Idade Média, o bode emprestou sua forma para o diabo e era associado à arte da bruxaria. As mulheres associadas a tal prática utilizariam os bodes como montarias por adorarem a divindade Pã, metade homem, metade bode. Curiosamente, acreditava-se que o bode parecia saber muito mais do que aparentava.

É bastante conhecida a alegoria do “Bode na Sala”. Conta-se que, para solucionar reiteradas reclamações e cobranças em sua casa e por orientação daquele sábio amigo de sempre, um chefe de família amarrou um bode no centro da sala.

A presença do animal gerou grande incômodo, pela bagunça e pelo forte mau cheiro. Dias depois, e atendendo aos reclamos dos ocupantes da casa, o bode foi removido, o ambiente higienizado, voltando a reinar a harmonia.

Essa estratégia excêntrica teria sido largamente utilizada em tempos pretéritos na extinta União Soviética para implantar o sistema coletivo de compartilhamento de moradias, quando os residentes antigos não aceitavam receber outras famílias. Mas, isso não vem ao caso agora. É apenas para ilustrar como o animal é estigmatizado.

No que se refere à Maçonaria, o imaginário popular, alimentado por uma boa parte dos próprios maçons, tem contribuído para falsas interpretações e menções caluniosas. Destaque-se a narrativa explorada por Leo Taxil ao atribuir à Maçonaria o culto a Baphomet, associado à figura do diabo. Leo Taxil, escritor e jornalista francês, em 1887 teria sido recebido em audiência pelo Papa Leão XIII. Extorquiu a Igreja e depois disse que tudo foi uma invenção para ganhar dinheiro.

No passado, os maçons foram acusados de reunirem-se clandestinamente para realizar cerimônia ritualística de sacrifício de um bode, evocando uma visão equivocada de sua identificação com seres da escuridão, fruto de acusação de detratores em obras antimaçônicas que incriminavam a maçonaria por suposto culto a um bode preto e da associação com a figura de Baphomet, da qual os Templários e outros grupos eram acusados de prestar adoração.

A efígie de um bode na Estrela Pentagonal Invertida, com um único ápice voltado para baixo, representa a desordem causada pela inversão das leis universais, o caos; o mundo de cabeça para baixo; para as trevas da ignorância. No “Dicionário da Franco-Maçonaria e dos Franco-Maçons”, de Alec Mellor,  destaca-se que a figura do bode alude à impureza animal em oposição ao homem, cujo símbolo perfeito, o antídoto, encontra-se na Pentalpha e na Estrela Resplandecente.

Na cultura popular brasileira, o bode-preto é uma expressão usada para designar o diabo (satanás, lúcifer, satã, capeta, capiroto, coisa ruim, asqueroso, tinhoso etc.). José Castellani escreveu em sua obra “A Ação Secreta da Maçonaria na Política Mundial” (São Paulo: Landmark, 2007) que, no passado, alguns líderes religiosos de pequenas e médias cidades influenciavam a população ao afirmar que os Maçons adoravam ao diabo, realizando missas negras e cultuando bodes negros e faziam com que os fieis de seus rebanhos, ricos em fervor religioso, mas certamente pobres em massa cinzenta, tivessem medo de passar em frente aos templos maçônicos, e que se forçosamente tivessem que fazê-lo, fizessem o sinal da cruz para se livrarem dos ‘maus fluidos’ daquelas ‘casas do diabo’. Esse preconceito tem resistido ao longo do tempo.

Como já citado em outro trabalho, transformando o limão em limonada, a “gozação” caiu no gosto de muitos e o desvirtuamento virou “grife”, no sentido de trabalhar em silêncio e de ser guardador de segredos, que no fundo um grande número de maçons entende como uma boa propaganda (??!!). Aproveitando-se dessa situação, adereços e variados itens com a figuras de bode são comercializados, grupos sociais ligados à maçonaria fazem constar a palavra “bode” nas suas denominações.

Por brincadeira, irmãos se referem mutuamente de bodes e várias anedotas são repassadas despretensiosamente. Todos bem o sabem que esse animal, criatura de Deus, não tem nenhuma relação com a ritualística e referência simbólica na maçonaria, sendo uma vítima dessa situação, como no contexto histórico acima descrito.

Ocorre que, aí pode estar montada uma armadilha sem tamanho para a Maçonaria e os irmãos que alimentam essas galhofas precisam entender que estão denegrindo a própria imagem e desqualificando a Ordem Maçônica, dando munição para os seus inimigos gratuitos e irresponsáveis, que se utilizam desses argumentos para provocar o distanciamento de cidadãos de bem que poderiam fortalecer os quadros de obreiros das Lojas.

Os membros da Ordem que refletirem sobre essa situação e persistirem nesse comportamento podem estar jogando contra o próprio time. Vários irmãos mais antenados não aceitam essas referências e repreendem aqueles que fazem troça do assunto. Potências começam a se insurgir contra esse comportamento de vários de seus membros e recomendando evitar a associação da figura do bode à Ordem. Torna-se, assim, urgente e imprescindível que essa postura de alguns ingênuos (?) seja repensada e essa referência ao “bode” seja desmistificada em nosso meio.

São inúmeras as situações em que familiares de candidatos a entrar para a Maçonaria, por desinformação ou preconceitos, aconselham seus entes queridos a recusarem os convites e a se afastarem desse caminho, que estaria associado ao maligno com base em narrativas deturpadas e que resistem ao longo do tempo. Bem sabemos que não é verdade, mas contribuímos para fortalecer esses argumentos quando fazemos gracejos e piadinhas sugestivas a respeito.

Até então este escriba entendia que a menção à alegoria do “bode” teria um caráter inofensivo e refletiria apenas e tão-somente o bom humor característico da alegre e vibrante convivência entre irmãos que se respeitam e se admiram mutuamente, conforme registrado em artigo com o título “Bode em pelo de Lobo”, publicado no Blog “O Ponto Dentro do Círculo”.

Mas, refletindo sobre algumas situações e tomando conhecimento de notícias de conflitos de opiniões envolvendo potenciais candidatos mais conservadores, caiu a ficha, como se diz no popular, ao compreender que tal atitude não estava levando em consideração o alto nível de desinformação e de posturas tendentes a dar ouvidos aos maledicentes e divulgadores de falsas notícias e futricas que, infelizmente, ficam à espreita, como lobos, prontos para acionar a máquina de triturar reputações, fomentando a intolerância e ávidos para desabonar e provocar conflitos na união de pessoas de bem que têm como único foco tornar feliz a humanidade, como é o caso da Maçonaria Universal.

Com as redes sociais exalando cheiro de esgoto, não falta muito para a Maçonaria cair na máquina de triturar reputações que a cada dia ganha novos adeptos e, pasmem, com a nossa inocente contribuição.

Já se fala em “Milícias de Pensamento”, impondo restrições à livre troca de informações e de ideias, que é um upgrade no “Politicamente Correto”, podendo elevar o nível de rejeição que a Ordem já colhe junto a um grupo de desinformados, mas que tem agora a força persecutória de internautas agitadores e intolerantes que pilotam as pujantes Redes Sociais, alimentando o modismo da execração e do ostracismo.

A cólera em relação ao cenário de cancelamento que ganha corpo a cada dia, aumentada exponencialmente por meio de exaltados sentimentos de repulsa que são instigados e com milhares de adeptos arregimentados em pouquíssimo tempo, podemos vislumbram a convergência de um sentimento de que é preciso punir de uma forma ou de outra. É um perigo potencial.

Não existe critério de julgamento e a intolerância é aumentada com qualquer tentativa de esclarecimento. É censura e lacração pura e simples oriunda de fontes indeterminadas, porém mais próximas do que imaginamos.

Com habilidade e sem patrulhamento, respeitando a liberdade de expressão dos irmãos, não se pode negligenciar na vigilância permanente para que essa temática não faça mais parte de nossas conversas e que aqueles que têm interesses comerciais ou façam uso da referida imagem em seus grupos sociais evitem associar tais práticas e símbolos à Ordem Maçônica, simples assim, de forma a preservar a imagem dos obreiros do bem.

Enfim, não restam dúvidas de que se trata de um tema bastante espinhoso e polêmico e que deve ser abordado com muita cautela, para não ferir suscetibilidades. Torna-se de bom alvitre lembrarmo-nos dos conselhos de nossos pais: brincadeira tem limites e consequências. Já passou da hora de parar com essas chacotas. O assunto é delicado e precisamos tomar consciência do problema e virar logo esta página.

Quando a gente acha que tem todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas… (L. F. Veríssimo)

Autor: Márcio dos Santos Gomes

Márcio é Mestre Instalado da ARLS Águia das Alterosas – 197 – GLMMG, Oriente de Belo Horizonte, membro da Escola Maçônica Mestre Antônio Augusto Alves D’Almeida, da Academia Mineira Maçônica de Letras.

MAÇONARIA E OS GRAUS INEFÁVEIS DO RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO


São denominados Graus Inefáveis porque, em quase todos eles, a Palavra Sagrada sempre se refere a DEUS. A designação de inefáveis tem por origem a palavra latina Inefabilis, que exprime algo que não pode ou não deve ser falado ou enunciado, referindo-se ao fato deles estarem empenhados na investigação e na contemplação do nome Inefável, o sagrado nome de DEUS do povo Israelita.

O Nome Inefável dos Judeus é representado pelo Tetragramaton (nome de DEUS em grego), composto por quatro letras hebraicas: yod, he, vau, he ou em maiúsculas : IHVH. Sua verdadeira pronúncia antiga é atualmente desconhecida; os hebreus sinceros consideravam esse nome demasiado sagrado para ser proferido, e, ao lerem as Escrituras Sagradas, o substituíam pelo Adonai, que significa "Senhor".

Os cristãos têm substituídos estas quatro letras por INRI (Iesus Nazarenus, Rex Ludeorum, "Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus").

A Maçonaria continuou e perpetuou essa tradição e reverência ao sagrado Nome de Deus, substituindo, porém as quatro letras hebraicas que o compunham pelo Tetragramaton Maçônico G.'.A.'.D.'.U.'. (Grande Arquiteto do Universo) .

Os Graus Inefáveis são praticados na Loja de Perfeição que compreendem do 4º ao 14º Grau do R.'.E.'.A.'.A.'.

4º - Mestre Secreto

5º - Mestre Perfeito

6º - Secretário Íntimo

7º - Preboste ou Juiz, ou Mestre Irlandês

8º - Intendente dos Edifícios, ou Mestre em Israel

9º - Cavaleiro Eleito dos Nove

10º- Cavaleiro Eleito dos Quinze

11º- Sublime Cavaleiro Eleito dos Doze

12º- Grão-Mestre Arquiteto

13º-Cavaleiro do Real Arco

14º-Grande Eleito, ou Perfeito e Sublime Maçom

Trecho do Livro A Lenda de Hiram nos Graus Inefáveis do R.'.E.'.A.'.A.'. de Denizart Silveira de Oliveira Filho - 2013 - 2º Edição - Editora Madras.

 

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