A VISÃO EVOLUTIVA DO APRENDIZADO




"...De fato, há poucas atividades mais estimulantes do que aprender coisas novas, conseguir perceber a LUZ onde só havia trevas.

O aprendizado ocorre no cérebro. Durante muitos séculos, o cérebro foi tratado como uma caixa-preta, à qual não podíamos ter acesso direto, e cujas maquinações só poderiam ser depreendidas por meio de observação cuidadosa e perspicaz do comportamento de pessoas...

Porém, desde a época da virada do século XIX para o XX, a compreensão que temos do cérebro fez grandes avanços, e a neurociência está conseguindo ligar habilidades e comportamentos humanos a áreas e processos cerebrais específicos, abandonando o modelo “caixa-preta” por outro em que o cérebro é percebido como um órgão material, que tem uma fisiologia, no qual agem células, neurotransmissores etc. 

Uma das descobertas que essa ciência já conseguiu fazer é que, ao aprendermos, mudamos a própria arquitetura física do órgão..., a formação de uma memória de longo prazo altera nossa rede neural em pelo menos duas maneiras: não só aumenta a força do sinal da sinapse na área relevante como cria novas sinapses (as estruturas neurais que permitem a passagem de um sinal químico ou elétrico entre neurônios vizinhos).....

...Como mostra o psicólogo cognitivo Daniel Willingham em “Why Don’t Students Like School?”, o cérebro pensa em duas situações: quando é estritamente necessário (não há procedimento na memória que nos ajude) e quando nós acreditamos que seremos recompensados por resolver determinado problema.

A recompensa? Pequenas doses de dopamina, um poderoso neurotransmissor associado aos circuitos de prazer do cérebro, liberado quando se resolve uma questão (e também durante o consumo de cocaína). Para que a dopamina seja liberada, o fundamental é calibrar a dificuldade do problema.

Se ele é fácil demais e o aprendiz já sabe a resposta antes de pensar, não há pensamento nem, portanto, dopamina. Se ele é difícil demais e a pessoa já pressente que não conseguirá encontrar a solução, o cérebro “desliga-se”; não havendo a possibilidade de dopamina, não vale a pena gastar o maquinário neural.

     Mas o que é, em termos neurológicos, pensar? Pensar é combinar informações de maneira diferente. Essas informações podem vir do ambiente externo e/ou da memória de longo prazo.

 A memória de longo prazo é aquela que armazena informações e processos que estão fora de nossa consciência imediata. A tabuada, por exemplo, ela não estava na sua mente antes de eu mencioná-la e desaparecerá de novo em alguns minutos, mas, sempre que você precisar fazer uma multiplicação, ela virá, facilmente à sua mente. O local do cérebro em que esse novo processamento de informações se dá é a memória operacional (ou “de trabalho”, do inglês working memory).

A memória operacional tem capacidade limitada... sua capacidade é determinada geneticamente. Pensar bem, portanto, envolve quatro variáveis: 
1ª) informações externas, do ambiente;
2ª) fatos na memória de longo prazo;
3ª) procedimentos na memória de longo prazo; e
4ª) tamanho do espaço disponível na memória operacional.

   A primeira implicação dessa descoberta é que o domínio de fatos não apenas ajuda no ato de pensar: ele é indispensável. Como mostra Willingham, décadas de pesquisa em ciência cognitiva revelam que, se você não domina as informações básicas de determinado assunto, não conseguirá ter um raciocínio analítico/crítico a seu respeito.  

Até a leitura se torna mais fácil se o cérebro já conhece o assunto em questão: a pesquisa mostra que uma pessoa com ótima habilidade de leitura e pouco conhecimento de um assunto entende menos de um texto sobre aquele tema do que outra pessoa que lê mal mas conhece o assunto.

...Se a memória é importante, surge outra pergunta fundamental: como o cérebro memoriza? Nosso cérebro ficaria sobrecarregado se memorizássemos tudo o que aprendemos. A maioria do que aprendemos passa para a memória de trabalho e é descartada, não chegando nunca à memória de longo prazo.

Como decidimos o que é armazenado? Infelizmente isso não depende da nossa vontade de memorizar algo ou apenas da quantidade de vezes que tenhamos tentado.

O cérebro decide da seguinte maneira: se você pensa cuidadosamente sobre algo, é porque é importante para você e provavelmente precisará ser pensado novamente – e, assim, deve ser retido.  Na formulação feliz de Willingham,  “memória é o resíduo do pensamento”.

Se você pensar sobre algo e o entender, provavelmente vai lembrar-se depois. Veja que essa compreensão deixa claro que o processo do pensamento é cumulativo: quanto mais se pensa, mais se conhece – e, quanto mais se conhece, mais fácil é o pensamento, e assim sucessivamente.

...E como um instrutor faz para que um aprendiz pense em algo? Provavelmente a resposta mais comum dos instrutores seja “fazer com que aquele conteúdo tenha relevância para a vida do aprendiz”, apostando que a ligação emocional do assunto com a vida do aprendiz desperte sua atenção. A ciência da cognição sugere que esta não é uma boa aposta: existe uma relação entre a emoção e memória, mas a emoção precisa ser bastante forte para que tenha impacto na memória.......

A chave para o aprendizado não está no que é ensinado, mas em quem ensina e como. Deve haver uma conexão pessoal entre o aprendiz e seu mestre, e para que haja essa ligação o instrutor precisa ser percebido como uma pessoa do bem por seus aprendizes e ter uma explanação bem organizada.

Se não existir essa conexão pessoal ou se o material a ser ensinado não estiver bem organizado, não haverá aprendizagem. (Uma dica dos neurocientistas sobre como organizar o material: o cérebro humano adora histórias. Conte uma história).

A última lição da ciência da cognição é sobre a importância da repetição. Repetir um aprendizado aumenta nossas chances de dominá-lo. Primeiro, porque a repetição espaçada é um antídoto contra o esquecimento.

Segundo, porque a repetição faz com que certos procedimentos sejam automatizados e, assim, possam sair da memória operacional e ir para a memória de longo prazo. Lembre-se: pensar ocorre quando combinamos novas informações, vindas do ambiente e/ou da memória de longo prazo, e isso acontece na memória de trabalho.

 Quanto mais espaço livre tiver na memória de trabalho e quanto mais informação tiver na memória de longo prazo, melhor será nossa capacidade de pensamento. A prática importa porque fazem as duas coisas: ao automatizar processos, libera espaço na memória de trabalho e enriquece a memória de longo prazo...."

Uma transliteração de parte um Artigo de Gustavo Ioschpe, publicado na Revista VEJA de 20 de março de 2013, à pág. 94 a 96, que foi adaptado para nossa maneira de instruir e/ou aprender, na Maçonaria, a ARTE REAL; a ARTE DO PENSAMENTO.

Gustavo Ioschpe é Economista.

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