A MAÇONARIA NA VISÃO DE UM INICIADO



Sabemos e não necessitamos de quem nos diga que a Maçonaria, tal como é conhecida hoje em dia, está muito longe da instituição original. Todos os seus trabalhos atuais não são mais do que uma rememoração da Iniciação Antiga nos Mistérios de Osíris e, também, dos antigos druidas, fazendo dela, como todas as religiões, uma instituição composta e modernizada de tempos em tempos, segundo a exigência das circunstâncias. 

Todas as religiões têm por objetivo espiritualizar o homem e fazer dele um super-homem, intelectual e espiritualmente, suprema autoridade do domínio de si mesmo, varrendo a ignorância, o egoísmo e o medo. Chegar a super-homem, ou Mestre, é chegar a defrontar-se com Deus, com o Fogo Sagrado, com a Sarça de Horeb, e ouvir a voz interior que lhe grita: “Descalçai vossos pés, porque o solo que pisais é sagrado!” 

O Mistério do Fogo, na Maçonaria, está baseado numa lenda de Hiram Abiff, que relata o Terceiro Grau do Mestre Maçom. A lenda desse grau é uma adaptação de um relato simbólico; seu disfarce oculta a Grande Verdade da Iniciação Interna. A lenda é uma verdade disfarçada, porque a Verdade nua fere os olhos dos débeis, e estes tratam de destruí-la, como sucede com todas as verdades religiosas, que foram descobertas ao público. A verdade nua envenenou Sócrates, crucificou o Nazareno, queimou Savonarola e assassinou Gandhi. 

A lenda do Terceiro Grau é uma verdade oculta. Os homens de boa vontade podem descobrir e descerrar seu véu, chegando à sua compreensão por meio do estudo, da aspiração, respiração e meditação, como temos explicado nos graus anteriores. Sem esses requisitos, ninguém pode chegar a levantar o Véu de Ísis. A lenda, com sua cerimônia enigmática, estimula, primeiro, a imaginação e, logo, converte-se em motivo de visualização, que conduz à intuição e que nos abre a porta do Templo da Verdade, isto é, dá-nos o poder de descobrir a Verdade para podermos contemplar sua beleza. 

O motivo da lenda é a construção do Templo, para que nele habite o Deus íntimo e tenha sua completa liberdade de manifestação. O Templo é o corpo dominado, educado e guiado por mandato do Espírito, que é a verdade e a virtude. 

O Templo de Salomão é o modelo do corpo humano. O Templo, como o corpo humano, estende-se do Oriente ao Ocidente e do Norte ao Sul, o que quer dizer que o homem é unidade indivisível como o Universo. Sua cabeça, que se eleva em direção a mundos superiores, converte-se, pela Sabedoria Espiritual, em Salomão, que levanta um Templo para glória do Grande Arquiteto do Universo Íntimo. 

Esse corpo-templo, maravilha das idades, foi construído e dirigido pelo poder, pelo saber e pela beleza. Apesar disso, no mundo inferior do homem, existem, sempre, certos defeitos e vícios que o induzem a cometer barbaridades inauditas e indignas; esses defeitos são a ignorância, o medo e a ambição. A ignorância é um defeito que faz o homem crer que sabe, não desejando aprender nada; o medo elimina a fé do coração do homem em seu Deus íntimo e em seus guias; a ambição é filha do egoísmo, que exige tudo para si, sem merecimento. 

Essa trindade de vícios – ignorância, medo e ambição – no homem quer, sempre, obter o que não merece do mundo espiritual e material. O simbolismo ou a lenda nos ensina que o Mestre Interno, que está trabalhando, sempre, pelo bem do homem, pelo seu progresso espiritual e anímico, é atacado pelos três defeitos, em princípio, qualidades ou caracteres necessários ao homem. O desejo de progredir se converteu, por meio do intelecto, em ambição egoísta; o amor desenfreado a si próprio tornou-se fanatismo estúpido, e, por sua ambição e ignorância fanática, o homem perdeu sua fé, e o Medo se apoderou dele. 

Esses três grandes vícios matam, no homem: o Eu Superior, na parte Oriental; a Personalidade, na Ocidental; na parte Sul, o Intelecto. Em outras palavras: o Mestre Interno, Eu Superior, que é a Consciência; a Personalidade, Eu Individual, que é a Vontade, e o Intelecto, ou Inteligência. 

Como todas as lendas e fábulas escolhidas para transmitir uma verdade às gerações posteriores, seu significado é múltiplo. Contudo, o único que importa ao Mestre Maçom é o significado interno e pessoal, ou individual. 

Hiram é o Sol, é o Eu Superior, é o Espírito Divino dentro do corpo do homem, é o Ideal de todo ser que vem a esse mundo. Enfim, é o homem. Esse homem-Deus se encontra, continuamente, devido à sua mente objetiva, ameaçado pela Ignorância, pelo Fanatismo e pela Ambição, que o dominam e impedem seu progresso. Todavia, o homem nasce e está obrigado a construir e a dirigir o Templo da Vida e a fazer dele o Templo de Deus Vivo, ou a levantá-lo para a glória do Grande Arquiteto do Universo, expressando, em sua obra, sabedoria, poder e amor. 

Porém, nossas baixas tendências e paixões estão sempre na expectativa e matam, dentro de nós, a voz da consciência, a Voz do Íntimo, nosso único guia, e, assim, verifica-se, em nós, a simbólica “morte de Hiram”, ou o adormecimento do Eu Superior, cujo Ideal Elevado dirige nossa vida a um fim superior. Quando nos entregamos às nossas paixões, nossos trabalhos de adiantamento ficam suspensos devido à perda do guia ou do Eu Superior. 

O Templo é o corpo do homem. A construção do Templo é a evolução e a elevação de esforços para um fim superior, através do conhecimento da Verdade e da prática da virtude. O Templo de Salomão é o símbolo do corpo físico, Jerusalém (cidade-paz) é o mundo interno. Os quatro pontos cardeais do Templo, no corpo, são: a cabeça, que corresponde ao Oriente; o baixo-ventre, ao Ocidente; o lado direito, ao Sul; o esquerdo, ao Norte. Os construtores do Templo são os átomos construtores no corpo físico. 

Os obreiros tinham três graus e se dividiam em três categorias. Os Aprendizes trabalhavam na parte inferior do corpo, o ventre; os Companheiros na parte média, o tórax; os Mestres, na parte superior, a cabeça. As duas colunas do Templo são os dois polos, passivo e positivo, representados pelas pernas esquerda e direita. A câmara do meio é o “Lugar Secreto”, ou o Mundo Interno do homem no coração ou peito. Apesar do grande número de obreiros dentro desse Templo, todos trabalhavam, silenciosamente, na Obra do Grande Arquiteto, e não se ouve nenhum ruído, porque esse Templo não foi nem é construído por mãos humanas, nem por instrumentos materiais e metálicos. 

Sete anos durou a construção do Templo, porque o resultado da Genuína e Verdadeira Iniciação se obtém depois de sete anos, os quais são necessários para a limpeza dos átomos inferiores, para dar lugar aos superiores. O corpo é o Templo de Deus Vivo. Deus pode se manifestar nesse corpo por meio da alma, que é fogo e luz no sexo, sempre, na sua presença. O templo material, onde se celebrava a Iniciação, representa o corpo-templo de Eu Sou Aquele. As cerimônias são evocações que ajudam a encontrar o Fogo Sagrado e a Luz Interior. Foi isso que Jesus quis dizer: “O reino de Deus está dentro de vós... Vós sois o templo do Espírito Santo...”.

Jorge Adoum

Especial para o Diário de Cuiabá



O presente artigo pode ser encontrado em toda a sua íntegra na Revista Arte Real, uma publicação e comercialização de assinaturas da Grande Loja do Estado de Mato Grosso. www.glemt.org.br – revistaarte@entreirmaos.net e glemt@glemt.org

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