Introdução
Esta Peça não contém a transcrição da Quarta
Instrução de Aprendiz. Só o Maçom que a conhece ou a têm por escrito, poderá entender
o conteúdo deste estudo.
A Quarta
Instrução do Grau de Aprendiz Franco Maçom do Rito Escocês Antigo e Aceito tem
por base dois eixos fundamentais: a Iniciação Maçônica e as noções de
conhecimento do Templo Maçônico. Suas abordagens nos remete em lembrança,
assimilação e reflexão, à atentarmos para o Simbolismo particular da Ordem,
concedendo-lhe pequenas fragmentações dos Mistérios e Alegorias de que estamos
ladeados. Certo é que esta Peça não esgota todas as interpretações e alusões da
Quarta Liturgia.
ASPECTOS IMPORTANTES DA QUARTA INSTRUÇÃO
1.
A Existência da Verdade
A
instrução é inaugurada pelo Ven.´.M.´. e 1º Vig.´. declarando que entre eles há
uma Verdade, e que esta é a existência de um Grande Arquiteto do Universo e
de tudo que existiu, existe e existirá. E que esta crença baseia-se pelo fato
de que somos dotados de um livre-arbítrio e discernimento. Doravante,
declara-se que o livre-arbítrio dirigido por uma sã Moral, é capaz de
distinguir o Bem do Mal.
Ora,
há distinção entre Bem e Mal? Ou há distinção sob o ponto de que se observa se
algo é Bem ou Mal? Por incrível ao ponto de parecer banal, o Homem necessita de
muita análise e cautela para tentar “distinguir” estas duas aspecções. Muitas
vezes em nossas vidas, fazemos o Mal achando que estamos a fazer o Bem.
Data vênia, neste ensejo, transcrevo um ensinamento Martinista que
diz:
Existem
duas crenças fundamentais relativas ao problema do mal considerado como o
oposto do bem: a) A crença de que o mundo foi criado por um Ser absoluto em
poder, sabedoria e bondade, e sempre permaneceu sob Sua divina direção; b) A
crença de que o mal não é uma simples ilusão, mas um poder que existe
independentemente de Deus.
Contudo, o bem, para cada homem, é o cumprimento de sua
própria lei. O mal é o que se opõe à sua própria lei. O objetivo da existência
do homem é o de que, por seu livre-arbítrio, ele aprenda a perpetuar a bondade
e a verdade, com felicidade. Ele continuará a ser atacado e punido pelo mal
aparente, até que aprenda a reconhecer que o mal provém de se próprio arbítrio[1].
Por alegoria, visualizemos a Balança sustentada por uma
Espada. Os pratos da balança indistintamente representam o Bem e o Mal. A
Espada que a sustenta é o Operador do Bem e do Mal, que a mantém em equilíbrio
para que haja movimento através de seu Livre Arbítrio, sua Liberdade. Para que
a Igualdade exista, é preciso haver e manter Fraternidade nas relações.
Agora,
visualizemos o Símbolo exposto no cabeçalho deste documento: temos um Oro Boro;
a Balança, um Prumo, o Barrete Frígio; um Delta Sagrado e a imagem do “aperto
de mãos”. Analisando, podemos interpretar que os pratos são o Bem e o Mal em
equilíbrio graças ao Prumo identificando a Igualdade que proporciona a
Fraternidade identificada pelo aperto de mãos. Há a Liberdade representada pelo
Barrete Frígio sob o Delta que sustenta o equilíbrio das Forças. Contudo,
somente há o equilíbrio porque há um movimento – cíclico - representado pelo
Oro Boro.
E o mais importante é refletirmos acerca da Espada, ou
melhor, do Delta Sagrado que sustenta as duas Forças, o Bem e o Mal, encimado
por um Barrete Frígio e segurando um Prumo. Pela Liberdade e Igualdade, haverá
Fraternidade, equilibrando-se as Forças do Bem e do Mal para que haja o eterno
movimento vibratório que há tudo dá existência.
A Espada não é boa nem má, a Espada que consagra, também
mata. Deus não é bom nem mal, o Deus que consagra também é aquele que mata.
a)
Ser Livre
O
que é Liberdade? É extremamente salutar que, como Maçons, usando da mais
preciosa ferramenta da Reflexão, encontremos o conceito de Liberdade, tarefa
nada fácil.
Considero-me
cristão porque creio que todo homem e toda mulher é uma Estrela e como tal,
necessariamente, um dia alcançará o Estado Crístico, aquele mesmo que já foi
alcançado por Buda , Krishna, Akhenaton, Zoroastro, Mahatma Gandhi, Madre
Tereza de Calcutá, Yosef Ben Miria (Jesus, o Cristo), Pitágoras e tantos
outros. É o Nirvana, estado Rosacruz, Mestre Maçom Ideal. É o estado de Yeoshua
o Grande Iniciado.
Nesta
eterna vibração tão existencial que vai desde a constituição da “matéria” até a
manutenção permanente do Universo, o homem equilibra-se por entre Colunas,
aliás, entre Forças, e assim aplica seu Livre Arbítrio para manter-se em
movimento. É uma condição natural, do próprio inconsciente, como uma
programação de software. Utilizamos nosso Livre Arbítrio sem darmos conta
disto. E isto o que é? É a nossa Liberdade, aquela deste plano.
Nosso
dever então é sermos bons, úteis, construtivos, Construtores.
O Princípio
Bom é essencialmente Justo e Poderoso e os sofrimentos do homem são uma prova
clara de seus erros, portanto, de sua liberdade; de ele ter se
afastado do Bom Princípio com o qual teria incessantemente gozado de paz e
felicidade. O mal não tem outra origem nem outra existência além da própria
vontade do homem livre[2].
Logo,
ser Livre é praticar o Bom, o Belo e o Justo, para que a Harmonia impere, a
Fraternidade governe e o Amor reine. Ser Livre é estudar e dominar o Vício para
que a Virtude resplandeça, desabroche sobre nossas cruzes e seja praticada
permanentemente. Ser Livre é manter-se em Oração e Vigília, para que os
preconceitos não ceguem, os medos não afugentem e o erro não domine. Por fim,
citamos Raymundo D’Elia Junior[3],
que nos traz a seguinte lição:
O valor do
homem é determinado por ele mesmo, através de sua Liberdade de Pensamento, e da
Pureza que sempre deve nortear seus Sentimentos. Que qualidades ele deveria
possuir, para ser digno de ser declarado Obreiro da Arte Real?
Dominar a
língua – sempre dizer menos do que pensar, sobretudo, não dizer coisas amargas.
Pensar antes de fazer uma promessa, e depois não quebrá-la, nem dar importância
ao que vai custar cumpri-la. Nunca deixar passar uma oportunidade para dizer
algo agradável à pessoa, ou a respeito dela, e deixar que as pessoas sintam a
ternura existente. Interessar-se pelos outros, por suas ocupações, por seu bem
estar, por sua família, e fazer perceber-lhes a importância dada. Evitar começar
uma frase com a pronome pessoal Eu, e não guardar carinho para as grandes
ocasiões, pois o Amor se revela em todos os pequenos gestos.
2.
Os Três Estágios de Maturação
No
diálogo/debate que ocorre em Ven.´. M.´., 1º e 2º
VVíg.´., há três frases que se ssobressaem: (1) os ruídos, as dificuldades e os
obstáculos da primeira viagem representam o caos que se acredita ter precedido
e acompanhado a organização dos mundos; (2) o ruído de armas que ouvistes em vossa
segunda viagem, representa a idade da ambição e os combates que a sociedade é
obrigada a sustentar antes de chegar ao estado de equilíbrio; (3) na terceira
viagem encontra-se felicidade, porque ela nos mostra o estado de paz e
tranqüilidade resultante da ordem e da moderação das paixões do homem, que
atinge a idade da maturidade e da reflexão.
Neste
sentido, a Antiga e Mística Ordem Rosacruz – AMORC, por seu Capelão no Ritual
de Templo, assim proclama:
Para o Ser, nunca houve começo, pois o nada não
pode dar origem a alguma coisa. Tudo era trevas antes de surgir a Luz; a
Luz, porém, não veio das trevas, pois as trevas são a ausência da Luz. A Luz é
um atributo do Ser, uma vez que o Ser é sempre luminoso devido à irradiação de
sua energia, causada por seus ininterruptos esforços para existir. A Luz
não tinha calor e, assim, o Ser era insensível; a Luz não tinha reflexo
e, assim, o Ser não tinha forma. Em seu eterno movimento, o Ser
expandiu-se. Múltiplas tornaram-se suas formas e complexa a sua natureza. A
crescente complexidade do Ser deu origem à densidade, e a densidade produziu o
calor da Luz. Então, surgiram os seres viventes. Com a Vida, veio a
sensibilidade do Ser, evoluindo para o esplendor da percepção do Eu! Na
consciência humana foram refletidas as glórias do Universo. Em sua
profundeza, o Ser tomou forma sensível e a Mente lhe conferiu Suas
dimensões. Então, a Luz brilhou, pois refletia, pela primeira vez, a sua
própria natureza! (Grifei)
a)
Representam o caos que se
acredita ter precedido e acompanhado a organização dos mundos / Tudo era Trevas
antes de surgir a Luz
No
Princípio, Deus criou o céu e a terra. Ora, a terra estava vazia e vaga, as
trevas cobriam o abismo, e um sopro de Deus agitava a superfície das águas.[4]
No
Princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus.
No
Princípio, ele estava cm Deus. Tudo foi feito por meio dele e a vida era a luz
dos homens; e a luz brilhava nas trevas, mas as trevas não a apreenderam.[5]
É
a Ordem sobressaindo-se sob o Caos. Diz Joaquim Gervásio de Figueiredo[6]:
Significa
que, assim como “Deus geometriza”, fazendo nascer universos de nebulosas
informes, assim a Arte Maçônica transforma o caos da matéria-prima em cosmo
harmonioso, colocando a ordem onde reinava a confusão e ascendendo a luz onde
imperavam as trevas.
O
caos é análogo às Trevas. O caos é a desorganização, é o nada, a não estrutura.
O caos é a ausência da Luz. A Luz é a clareza, o sistema, a ordem. Contudo, o
mundo não surgiu das Trevas, pois esta é a ausência da Luz. O mundo não surgiu
do nada, pois o nada não pode dar origem à alguma coisa. Contudo, se não houvesse
Trevas, certamente a Luz não ressoaria e nada superveniente poderia brotar em
seu coração.
b)
Representa a idade da ambição; os combates que a
sociedade é obrigada a sustentar antes de chegar ao estado de equilíbrio
Assim
como as Trevas serviram de norte (Norte é relacionado à escuridão) para a
construção de um advento grandioso, para se chegar ao estado de equilíbrio
faz-se necessário o Bom Combate. O equilíbrio é encontrado no caminho do meio,
e o Homem é recorrentemente tentado a pender mais para um lado do que para o
outro, e isto é seu permanente Combate.
No
Templo da Sabedoria, vemos duas Colunas a qual a Bíblia menciona estarem
erigidas à entrada do Templo de Salomão, no Livro dos Reis. Essas Colunas já
são conhecidas de tempos antigos, muito antes de Salomão, e seu simbolismo vai
além do meramente arquitetônico.
O
simbolismo das duas Colunas representam também a oposição que existe na
natureza. Esses pilares, na aparência, são postos entre si; mas , duas
condições produzem necessariamente uma terceira; esta última, seja ela qual
for, cumpre uma função intermediária e, assim, a oposição dos dois pilares é
harmonizada por essa nova condição e conduzida para a unidade. Essa é lei do
equilíbrio ou do meio termo, é o princípio conciliador. O bem e o mal, a vida e
a morte, o ser e a substância, o espírito e a matéria, constituem as oposições
da vida representadas pelos dois pilares. Cabe ao buscador reconhecer esses
opostos e encontrar entre eles o que explica suas oposições aparentes e também
estabelece a harmonia entre elas[7].
Com
efeito, as únicas lutas que o homem é constantemente forçado a travar e vencer,
é o Bom Combate que ele trava contra suas paixões, suas manias desgraçadas,
seus Vícios, suas inconstâncias no caminho da Luz e da Verdade. É, contudo,
neste combate de contrários aparentes que ele poderá penetrar no Templo da
Sabedoria e equilibrar suas forças. Assim, com o equilíbrio das forças em seu
poder, o homem tornar-se-á no Grande Iniciado, Reparador Divino, Christus.
Assim,
a idade da ambição é a vontade desregulada e desmedida do homem, em querer ter
tudo sem ao menos Ser. A sociedade só trava guerras porque é o homem
quem possui paixões e orgulhos. Equilibrando-se internamente, a Paz se fará no
mundo manifesto. Trata-se do desabrochar da Rosa sobre a Cruz. Controlando os
Vícios, as Virtudes serão.
c)
Por que encontrastes facilidade em vossa terceira
viagem? Porque ela nos mostra o estado de paz e tranqüilidade resultante da
ordem
Para
haver equilíbrio por entre Colunas, entre contrários (que em verdade são
aparentes), deve haver um terceiro princípio. Analogamente, é a terceira viagem
que o homem realiza após ter vivenciado os dois princípios aparentemente
oposicionistas entre si representados pelas Colunas. Oswald Wirth assim
leciona:
A
facilidade desta viagem é um efeito da perseverança do candidato, que soube
opor a calma e a serenidade ao fogo das paixões (princípios das Colunas). Ele é
tornado apto a julgar de maneira são; é isso que lhe permite penetrar até o
foco central do conhecimento abstrato simbolizado pelo Palácio de Plutão
(Coluna vermelha junto à qual o Aprendiz recebe seu salário). O Iniciado
permanece em meio às chamas (paixões ambientes) sem ser queimado, mas ele se
deixa penetrar pelo calor benfazejo que daí se destaca[8].
A
terceira viagem é marcada pela Purificação pelo Fogo. Ele simboliza o estado de
consciência atingido por quem recebe a Iluminação, a Sabedoria Divina. Por isso
os Messias, profetas e Mestres sempre são descritos como seres que contemplaram
o Fogo Divino ou foram por Ele consumidos. Desde a mais remota antiguidade, o
fogo fez a parte integrante das cerimônias religiosas. Nos templos do antigo
Egito, da Grécia e Roma, uma chama sagrada brilhava perpetuamente sob a
proteção de jovens sacerdotisas, ora chamadas de Vestais – em decorrência de
uma Ordem feminina dedicada à deusa Vesta em Roma; ora chamada de Columbas –
Ordem feminina do antigo Egito e Grécia. Esta tradição é simbolicamente mantida
atualmente pelas Columbas da Ordem Rosacruz AMORC e muito bem lembrada pela
existência da Chama Votiva na Maçonaria e na Tradicional Ordem Martinista, no
Altar do Venerável Mestre.
Conclusão
Para
estar em condições de receber a Luz da Verdade, é necessário que o Homem
desvencilhe-se de seus preconceitos, de seus vícios, de suas paixões. Neste
sentido, ele deve caminhar por entre obstáculos corruptos e inóspitos, seguro
em sua Perseverança e confiante no Altíssimo. Não há salário sem trabalho, e
para cada mérito há um determinado esforço.
Bibliografia
1 – AMORC, Ordem Rosacruz. Glossário de Termos e Conceitos
da Tradição Rosacruz. 2012. 1ª Edição. Curitiba: Grande Loja da Jurisdição de
Língua Portuguesa da Antiga e Mística Ordo Rosae Crucis;
2 – WIRTH, Oswald. A Franco-Maçonaria Tornada
Inteligível aos seus Adeptos – O Aprendiz. 1995. 1ª Edição. São Paulo:
Pensamento;
3 – TOM, Tradicional Ordem Martinista.
Manuscritos do Martinista. 2013. Curitiba: Grande Heptada Martinista da
Jurisdição de Língua Portuguesa da Tradicional Ordem Martinista;
4 – Bíblia de Jerusalém. Gênesis, Cap 1, Vers.
1 e 2. 2012. 8ª Impressão. São Paulo:
Paulus;
5 - Bíblia de Jerusalém. Evangelho Segundo São
João. Prólogo. Cap. 1, Vers. 1 ao 5. 2012. 8ª impressão. São Paulo: Paulus.
6 – D’ELIA JUNIOR, Raymundo. Maçonaria – 100
Instruções de Aprendiz. 2013. 1ª Edição. São Paulo: Madras;
7 – DA CAMINO, Rizzardo. Dicionário Maçônico. 2010.
3ª Edição. São Paulo: Ed. Madras;
8 – MACKEY, Albert Gallatin. Os Princípios das
Leis Maçônicas – Volume II. 2009. São Paulo: Universo dos Livros;
9 – SAINT MARTIN, Louis Claude de. Dos Erros e da
Verdade. 2011. Curitiba: Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa da
Antiga e Mística Ordo Rosae Crucis.
10 – FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de. Dicionário de
Maçonaria. 2011. 17ª Edição. São Paulo:
Pensamento-Cultrix.
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Ir.´. M.´. Inst.´. André Fossá
Aug.´. Resp.´. Loj.´. Simb.´. Cavaleiros do Oriente nº.18
Fraiburgo – Santa Catarina
Dedicado ao Querido Ven.´. M.´. Ir.´. Osmar Antônio do Valle Ransolin
[1]
Tradicional Ordem Martinista – TOM.. Segunda Etapa. Manuscrito 6. Pg. 3.
[2] Louis Claude de Saint Martin. Dos Erros e
da Verdade. Pg. 69.
[3] Raymundo Délia Junior. Maçonaria – 100
Instruções de Aprendiz. Pg. 178-179.
[4] Gênesis, Cap 1, Vers. 1 e 2. Bíblia de Jerusalém.
[5] Evangelho Segundo São João. Prólogo. Cap.
1, Vers. 1 ao 5. Bíblia de Jerusalém.
[6] Dicionário de Maçonaria. Pg. 312.
[7] Tradicional Ordem Martinista. Segunda
Etapa. Manuscrito 4. Pagina 3.
Não encontrei correspondência entre o texto produzido e a quarta instrução, pois esta não faz menção ás viagens. Solicito esclarecimentos.
ResponderExcluirDesculpe-me, no comentário anterior, onde trato da 4ª Ins.'. de Apr.'. M.'., eu não fiz referência ao proprietário do Blog, nosso ir.'. Prof. Pedro Rocha. Parabéns pelo Blog meu irmão.
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