Novos Mestres:
Eis-vos finalmente na Câmara do Meio. Eis-vos
merecidamente revestidos da plenitude de todos os direitos de Mestres Maçons.
Eis-vos igualmente onerados com a totalidade dos deveres de Mestres Maçons.
Estais na Câmara do Meio iguais entre iguais. Cada
um de vós não é menos, não vale menos, do que eu ou qualquer outro Mestre Maçom
presente nesta sala – quaisquer que sejam os ofícios por alguns exercidos,
quaisquer que sejam as dignidades à alguns outorgadas.
Cada um de vós não é mais do que eu ou qualquer
outro Mestre Maçom presente nesta sala – quaisquer que sejam os vossos méritos,
os vossos títulos acadêmicos ou posições profanas.
Cada um de vós é exatamente igual a mim e a
qualquer outro Mestre Maçom presente nesta sala – iguais entre iguais na nossa
comum pequenez perante o Grande Arquiteto do Universo, perante a nossa comum
ignorância do sentido da vida e da existência, perante o nosso comum desejo de
ser melhor, saber mais, fazer bem, viver plenamente.
Tendes exatamente os mesmos direitos que cada um
dos outros Mestres Maçons presentes nesta sala – e que, afinal, se resumem ao
direito de transmitir aos demais as opiniões e os entendimentos de cada um, ao
direito de cooperar na tomada das deliberações que hajam de ser tomadas e ao
direito de participar organizadamente na administração da Loja.
Recaem sobre vós exatamente os mesmos deveres que
recaem sobre cada um dos outros Mestres Maçons presentes nesta sala – todos os
deveres inerentes a um homem de honra e de bons costumes, fiel à sua palavra e
aos seus compromissos, mais os deveres resultantes do nosso comum compromisso
de nos aperfeiçoarmos permanentemente, acrescidos da especial responsabilidade
assumida pelos Mestres Maçons: a partir de agora, não sois responsáveis apenas
por vós próprios e pela vossa própria melhoria; a partir de agora sois
responsáveis também por todos os Aprendizes e Companheiros desta Loja.
Responsáveis por os auxiliarem na sua jornada,
responsáveis pela preparação e evolução de cada um como todos nós nos responsabilizamos
pela vossa preparação e evolução. Responsáveis por iguais que um dia também
acederão a esta Câmara do Meio no exato mesmo estatuto de que agora vós, como
todos os demais Mestres Maçons presentes nesta sala, dispondes.
Compreendeis agora, se não vos tínheis já
apercebido antes, que a dureza dos Mestres na apreciação dos vossos trabalhos
não era vã exigência, estulto apoucamento ou deslocada manifestação de
inexistente superioridade. A nossa meticulosidade no apontar dos mais ínfimos
detalhes negativos dos vossos trabalhos, tantas vezes mostrando-os piores e
mais significativos do que realmente eram, o nosso hábito de temperar os
quantas vezes parcos elogios ao resultado do vosso esforço com a referência ao
que podia ser melhor, não se destinaram nunca a desmerecer do vosso trabalho ou
alardear inexistentes superioridades. Foram como tudo o que ritualmente em Loja
se processou ao longo de todo o tempo da vossa formação, simples meios,
ferramentas, de vos incutir algo que deveis considerar absolutamente inerente à
condição de Mestre Maçom: uma absoluta e permanente exigência da melhor
qualidade possível em tudo o que somos e fazemos uma absoluta aspiração à maior
aproximação que nos for possível da perfeição.
O vosso percurso teve de ser longo e duro, porque
culmina na vossa presente situação de iguais entre iguais, com a inerente
consequência de que o direito de vos julgar e de julgar as vossas ações passou
a ser em primeiro lugar atribuído aos mais severos dos julgadores: vós
próprios!
A nossa aparente severidade nunca foi, pois, mais
do que mera preparação para a mais rigorosa severidade na vossa apreciação e na
apreciação dos vossos atos, a indeclinável e inabalável severidade que um homem
de bem, livre e de bons costumes, devidamente preparado e completamente
consciente de si próprio deve devotar à sua auto-apreciação, como meio de ser e
tornar-se sempre, dia a dia, momento a momento, melhor, cada vez melhor, cada
vez um poucochinho menos longe da inatingível meta da perfeição.
De vós a Loja pede sempre o mesmo: aquilo que cada
um de vós, em cada momento, puder dar. Cada um de vós retirará e receberá da
Loja sempre o que lhe aprouver do que a Loja tem e todos nos sabemos que a Loja
só tem aquilo que nós lhe dermos, pelo que, quanto mais todos lhe dermos, mais
poderemos tirar.
Meus Irmãos Mestres Maçons, hoje festejai. A partir
de amanhã reiniciai o vosso trabalho, reempunhai as vossas ferramentas,
senhores do vosso trabalho, do vosso caminho, da vossa criação.
Confiamos todos em que, como até aqui, sereis
dignos de vós próprios e das vossas ferramentas até ao momento em que
finalmente vos autorizardes a vós mesmos a pousá-las, quando verificardes ter
chegado a vossa meia-noite.
Meus Irmãos no vosso grau de Mestres Maçons e na
vossa insuperável qualidade de homens livres e de bons costumes, bem-vindos ao
vosso lugar, bem-vindos aonde sentíamos a vossa falta, bem-vindos a esta Câmara
do Meio!
Rui Bandeira
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