A designação sala dos passos perdidos foi copiada pela Maçonaria
do parlamento inglês, constava de uma antecâmara onde o cidadão esperava ser
atendido, ou recebia decisões e despachos de assuntos de seu interesse.
Era
quando este perambulava sem destino para descarregar sua ansiedade; algo
semelhante à sala de preocupações do tio Patinhas, onde aquele anda em círculos
até afundar o piso sob seus pés pelas mesmas razões.
Na Maçonaria este cômodo está localizado antes do átrio e do
templo. É a sala de espera para aguardar o inicio dos trabalhos e onde são
tratados os mais diversos assuntos. Onde possível, consta de um local
confortável, com poltronas ou cadeiras, mesa, e onde se pratica a
sociabilização, cada um a sua maneira e de acordo com sua personalidade.
Neste local não existe ordem nem ritualística, as pessoas
transitam pela sala em qualquer direção, formam grupos em diálogos de todos os
tipos, nada tem rumo, daí a semelhança com a ante-sala do parlamento
inglês.
Aproveita-se o tempo para pagar emolumentos ao irmão tesoureiro.
Se houver alguma coleta de recursos para campanhas de caridade da loja, o irmão
hospitaleiro faz esta coleta, dá recibo e a registra.
Recebem-se recados do
irmão secretário de alguma pendência de documentos ou outras providências
burocráticas.
O irmão mestre de cerimônias faz a distribuição dos colares aos
oficiais se o obreiro tiver cargo em loja, mas estes não os vestem. Assina-se o
livro de presenças junto ao irmão chanceler.
É discretamente feito o telhamento
de visitantes. Consulta-se o edital com alguma novidade em exposição.
Regem as etiquetas e comportamentos profanos, dentro do maior
respeito.
A agitação vai lentamente cedendo lugar ao silêncio, e conforme
os arranjos de preparação vão progredindo e a hora de inicio dos trabalhos se
aproxima, vai perdendo a influência o mundo profano até adentrar ao átrio, onde
toda a agitação cessa.
O mestre de cerimônias convida os irmãos a adentrarem ao
átrio.
O Cobridor externo, já devidamente paramentado, portando espada,
fecha a porta externa às suas costas.
Passa a reinar silêncio e o comportamento é formal,
ritualístico, silencioso e ordeiro. Consta em uma sala, normalmente de quase a
mesma largura do templo e adequada para receber todos os irmãos perfilados.
As
lojas que possuem átrios de pequenas dimensões usam a sala dos passos perdidos
também como átrio.
O átrio é o vestíbulo do templo, é onde cada obreiro coloca seu
avental e paramentos com a garantia de estar fora de alcance de olhos
profanos.
É preparado o cortejo de entrada em duas filas, uma para cada
coluna; os irmãos aprendizes ficam perfilados ao lado norte e os irmãos
companheiros ao lado sul; os oficiais das colunas tomam o lado onde ficam
locados dentro da Loja.
Inicia-se a preparação espiritual do grupo; mesmo que não
existente no rito escocês antigo e aceito, por simples tradição, o mestre de
cerimônias recita oração e pede ajuda ao Grande Arquiteto do Universo para que
a reunião seja agraciada de bons fluídos, comunicando ao venerável mestre que o
templo está devidamente ornamentado e que os trabalhos já podem iniciar.
O venerável mestre determina que o mestre de cerimônias cumpra
com seu dever.
O mestre de cerimônias determina que os irmãos guarda do templo
e mestre de harmonia tomem seus lugares dentro do templo. Estes entram e
fecha-se a porta do templo atrás deles.
O mestre de cerimônias aguarda um breve instante e dá uma batida
com seu bastão na porta do templo, que é respondida pelo guarda do templo pelo
lado de dentro. O guarda do templo abre a porta para entrada do cortejo ao
interior do templo.
O mestre de cerimônias coloca o cortejo em marcha, adentrando
primeiro os irmãos aprendizes, seguidos pelos irmãos companheiros, mestres sem
cargo seguidos pelos oficiais, o segundo vigilante, o primeiro vigilante,
ficando para o final, o irmão venerável mestre, e após este, se presentes,
outras autoridades da grande loja, remanescendo apenas o Cobridor externo em
sua função.
Pela descrição das funções dos dois ambientes percebe-se que
enquanto na sala dos passos perdidos reina o caos do mundo profano no átrio age
o sacro, tem regras e ritualística.
Num atua o mundano, noutro o sagrado, para
honra e à glória do Grande Arquiteto do Universo.
Charles Evaldo Boller
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