Na Maçonaria existe o costume de os seus membros se
tratarem por irmãos ou manos, uma vez que a Augusta Ordem Maçônica é uma
Irmandade de caráter fraternal.
Mas para além deste hábito, existe outro que
costuma fazer alguma confusão aos recém-chegados. É o fato de todos no seu
trato habitual se tratarem por “tú”. Independentemente da idade, do grau ou
da qualidade maçônica (cargo que se represente em Loja ou na
Obediência), todos, mas mesmo todos, se tratam por “tú”.
Enquanto na vida profana é habitual as pessoas
tratarem-se com alguma deferência, nomeadamente tratar-se por “você” ou por
“senhor” ou até mesmo pelo título acadêmico que detenham, na Maçonaria não
existe esse distanciamento pessoal. Quando se aborda um irmão,
é por “tú isto…” ou “tú aquilo…” É “tú” e pronto!
Isto por si só, é uma demonstração que aos maçons
não interessam os cargos ou as profissões que um irmão desempenhe na sua vida
profissional.
Em Loja todos sãos iguais entre si.
Desde o mais desfavorecido financeiramente ao mais folgado em questões de metais,
não existe diferença no trato. Os “metais” devem ficar sempre fora de portas do
Templo.
Esta é outra das virtudes que se podem encontrar na Maçonaria a par da tolerância e do espírito fraternal.
E como entre irmãos não há lugar
para deferências ou "salamaleques", é mais salutar e
sensato o tratamento por “tú” que por outra coisa qualquer.
Desse modo, aos recém-chegados dá-se lhes a
confiança necessária para se enturmarem com os mais antigos
na casa, e aos mais idosos em idade, consegue-se que mantenham
dessa forma, um espírito jovem e reverencial que a todos agrada.
Aos mais jovens é que normalmente causa algum
desconforto em tratar alguém mais velho em idade por uma forma tão simples de
tratamento, mas com o tempo esse pequeno desconforto passa e é normal que
depois nem se note a diferença de trato nem a idade do irmão com quem se
interage.
Esta forma de tratamento entre
pessoas foi dos hábitos que mais “estranheza” me causaram nos meus tempos de
neófito.
É como se costuma dizer: “primeiro estranha-se,
depois entranha-se…”
Mas em Maçonaria e em como tudo o que sejam
instituições, associações ou grupos onde o Homem se reúna, existe sempre
uma hierarquia a respeitar, e como tal, o tratamento com alguém hierarquicamente
superior, devido às funções que lhe são acometidas, nunca poderia ser igual à
que os outros membros terão entre si.
E como afirmei acima, se na Maçonaria os seus
obreiros se tratam entre si como irmãos e no trato normal por “tú”, não deixa
de ser interessante que quando se trata de alguém com funções diretivas, esse
tratamento seja enaltecido.
Apesar de quando um irmão se dirige a um irmão que
ocupe um cargo relevante na estrutura maçônica o trate na mesma por “tú”, a
diferenciação no tratamento é respeitante ao cargo e função ocupada em si e não
à pessoa em concreto.
Por isso é que é habitual se ouvir falar em
“Venerável Mestre”, “Respeitável Irmão” e “Muito Respeitável Grão-Mestre” entre
outros apelidos que se conheçam e que existem, que servem apenas para
diferenciar um irmão dos restantes apenas pelas funções que lhe são atribuídas e
nada mais.
Em Maçonaria todos os cargos são transitórios, tal
como quase tudo na vida, e os maçons têm isso presente, e como tal, não adianta
ou não é necessário existir outro tratamento que não seja por “tú”, pois se
hoje desempenhamos um cargo, amanhã poderemos estar apenas a ocupar um lugar
numa das colunas.
E quem hoje se encontra simplesmente numa coluna e
sem funções atribuídas, amanhã poderá ser chamado a ocupar alguma
função importante na estrutura maçônica. E este tipo de tratamento possibilita
uma transição entre colunas ou funções sem qualquer tipo de
sobressaltos.
Concluindo, se as designações dos cargos maçônicos
ou dos títulos dos graus maçônicos que existem poderem sugerir algumas vezes
que o tratamento entre irmãos possa derivar em "pantominíces", essa
assunção está bastante errada.
O tratamento entre irmãos é sempre feito da forma
mais simples que se conhece, utilizando simplesmente o pronome “tú”.
E é assim que se quer que a Maçonaria funcione, de
uma forma simples e elementar.
PS: Texto adaptado deste outro, também escrito e publicado por
mim.
Nuno Raimundo
NR: No Brasil o usual
é o termo “você”. O texto foi originalmente, escrito no português praticado em
Portugal.
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