EQUILÍBRIO: O PRIMEIRO PASSO PARA ALCANÇARMOS A ESPIRITUALIDADE


 O equilíbrio contém certos atributos que se caracterizam pela integração dos instintos animais inferiores (irracionais) e superiores (racionais). É a através desta integração entre o pensamento e as atitudes que o ser humano vai adquirindo uma consciência transcendental.

Muitas vezes para se alcançar o equilíbrio é preciso estabelecer um novo padrão de pensamento (NPP) ou novo padrão mental (NPM).

Faz-se necessária a aquisição de um NPM, para alcançarmos a paz e a felicidade porque o presente é consequência de programação mental passada e, o futuro é consequência do presente.

Daí a importância de nos organizarmos, quer na vida pessoal, emocional, quer na vida financeira, profissional. Pois, são estes os eixos que nos auxiliam na caminhada em busca à harmonia espiritual. Uma vez que, o contrário, podem levar-nos ao desequilíbrio, que encontra origem na ansiedade, nas preocupações e na ausência de fé ou de confiança em si mesmo.

Não vale a pena sofrer por antecipação. Aquele que sabe programar bem o que tem a resolver, não precisa de se preocupar, pois a solução, em algum momento, aparecerá.

Na busca do equilíbrio defrontamo-nos com duas palavras extremamente significativas. São elas: necessidade e carência. A necessidade significa o essencial inevitável e muitas vezes até vital; a carência tem significado relativo e pode ser passageira. A necessidade é absoluta e, geralmente, encontra-se fora de nós, ou seja, é encontrada com terceiros; a carência, ao contrário da necessidade, pode ser preenchida por algo que pode ser encontrado em nós mesmos. A percepção de ambos passa pelo autoconhecimento.

O exercício da paciência e da tolerância geram confiança e segurança. Todavia, o principal instrumento para se chegar ao equilíbrio é a oração ou a meditação. Nesta linha de pensamento, já dizia um ilustre pensador:

“Em qualquer circunstância, seja na vitória ou no fracasso, na paz ou no combate, entre amigos ou sitiado por adversário, jubiloso ou em lágrimas, recolha-se à oração e à paciência”.

A própria natureza ou a ciência da vida ensina-nos que devemos viver em paz, e, ao mesmo tempo, deixar os outros também viverem as suas vidas com tranquilidade.

Há um processo simplista que, se observado, poderá levar-nos ao equilíbrio. Vejamos:

“Primeiro, façamos o melhor para nós mesmos; em seguida, para os outros, sem nos preocuparmos se eles estão ou não a ser-nos gratos”.

Este desprendimento vai atuar como um canal aberto em conexão com o universo.

Vale lembrar que, tanto a busca pela harmonia quanto pelo equilíbrio requerem que se dê uma especial atenção ao nosso corpo físico. Por exemplo: tratá-lo adequadamente; não sobrecarregá-lo com alimentação imprópria ou pesada; fazer exercícios físicos, conforme a capacidade de cada um; evitar fumo e bebidas alcoólicas, enfim, respeitar o seu corpo, porque assim você estará respeitando a si mesmo, e não correrá risco de ver alguma área ou órgão do seu corpo ficar sem trabalhar em busca da SABEDORIA DIVINA, que é consequência do equilíbrio e da harmonia.

Desta forma, lembre-se de que tanto o equilíbrio como a harmonia dependem diretamente das suas escolhas internas ou externas. Ou seja, prefira suprir, primeiramente, as suas necessidades para que a sua energia vital fique cada vez mais ativada e, consequentemente, em harmonia com o universo ou com a sabedoria cósmica.

Por outro lado, registe-se que o verdadeiro equilíbrio terá sempre como consequência um agir com mais eficiência e eficácia necessárias para que se possa dar solução aos possíveis problemas que lhes são apresentados. Esta solução deve ocorrer na medida certa, nem mais nem menos, tudo de forma equilibrada. Corroborando esta afirmação dizia Confúcio: “ultrapassar o alvo é tão incômodo quanto não o atingir”.

É muito frequente estarmos cultivando a nossa própria ansiedade que, via de regra, a projetamos para o futuro e sempre carregada de certos fatos, muitas vezes indesejáveis, tristes e infelizes. Esta carga negativa, causada por essa ansiedade, se não for revertida a tempo, estará à nossa espera um pouco mais adiante.

Há uma afirmação bastante usada pelos esotéricos, com vista a facilitar a abertura do canal para alcançarmos o equilíbrio: “integro e combino diversas polaridades da minha vida para gerar o equilíbrio, a unidade e a harmonia ao criar o que sou e ao manifestar o que faço”.

O Caminho da Espiritualidade, segundo a Teosofia

Segundo alguns esotéricos, para alcançar à espiritualidade é preciso conhecer as sete Voltas da Chave Espiritual, as quais poderão facilitar a abertura do canal de comunicação com o Divino. Elas são basicamente representadas da seguinte forma:

Compaixão (amor): Significa sentir a dor do outro;

Verdade: Deve-se evitar toda e qualquer mentira, até mesmo as pequeninas;

Simplicidade (humildade): A sociedade consumida afasta-nos sempre da simplicidade natural, por isso, devemos estar sempre atentos. Todavia, ser simples ou humilde não significa ser subalterno;

Ordem (equilíbrio): Temos que estar sempre em ordem para darmos equilíbrio a nossa vida. A desordem externa representa a desordem interna, causadora de tantos males;

Contentamento: Devemos procurar viver em estado de graça ou de alegria;

Paciência: Significa tolerância, ou seja, a ciência da paz (paz + ciência); e

Compreensão: Trata-se do amor que sentimos por nós mesmos e, ao mesmo tempo, o que é/ deve ser projetado para os nossos semelhantes.

Portanto, concluímos refletindo sobre as seguintes frases, inerentes à sabedoria cósmica: “Orai e vigiai, porque o temor me sobrevém” e “Não faça força, deixe que a força cósmica faça por você”. Pois, como as palavras de um sábio: “se pretendemos ser os arquitetos e atores da nossa própria caminhada evolutiva é mister que cuidemos do nosso equilíbrio espiritual, escolhendo quando e como sintonizar com as vibrações alheias, seja numa conversa, num convívio mais íntimo, numa palestra, enfim, numa simples leitura, como é o caso que ora ocorre, pois, até o que lemos pode ser-nos motivo de enriquecimento ou de desarmonia interior, já que é vibração que nos penetra a alma”.

Aildo Carolino

 

EGRÉGORA MAÇÔNICA - UMA VISÃO CRÍTICA


 1. INTRODUÇÃO

A Maçonaria Moderna identifica-se, de forma geral, com um mote: “a busca da verdade”. Por sua vasta história e amplitude geográfica, produziu ritos diversos e linhas de estudo que podem ser equiparadas às múltiplas vertentes do conhecimento humano. Mas, por mais diversas que sejam suas formas de atuação, a Ordem Maçônica não pode olvidar-se quanto ao compromisso de seu objetivo principal: elucidar a mente e dissipar as trevas da ignorância.

No entanto, alguns temas suscitam maiores reflexões do que outros. O tema do presente trabalho - “A Egrégora Maçônica” - é um destes que se apresenta arenoso. Eivado de muitas ilações, sensações, até crenças, constrói ambiente enigmático para o pesquisador maçônico atento ao intento de atingir-se certo grau de assertividade. Diante desta circunstância, a ARLS Caminho de Luz, que adota o REAA, permitiu-se adicionar um subtítulo ao tema, qual seja, “Uma Visão Crítica”.

A visão crítica a que se refere aqui é aquela que busca identificar os reais fundamentos de qualquer premissa. Uma vez esmiuçado o conceito, reconstrói-se o mesmo com a responsabilidade de referenciar a pesquisa, a lógica e a razão, e não crendices efêmeras ou sensações pessoais.

 Egrégora, para muitos Maçons, significa a reunião de forças mentais e espirituais dos irmãos congregados em Loja, na presença de uma entidade espiritual. Ou ainda, conforme o Rito, a ligação psíquica e espiritual à essência de todo Maçom que existe ou já existiu.

Assim, ouve-se em reuniões maçônicas do REAA explicações das mais variadas formas, se utilizando do misticismo, esoterismo, e de tantas outras quase ciências para tentar dar sentido para reunião dos irmãos em loja.

No entanto, baseando-se em um resgate histórico, nos fundamentos iluministas da Maçonaria Especulativa, bem como no berço de nascença do REAA, outro significado para “Egrégora” pode ser identificado.

A despeito das cargas esotéricas, a união de desígnios e o foco comum na execução ritualística apresentam-se, aparentemente, como fatores importantes a serem estudados na geração do chamado “espírito de corpo”, de pertencimento e aglutinação.

 Em razão desta dualidade de conceitos, tão díspares, o tema foi desenvolvido buscando um resgate histórico do contexto da formação da maçonaria especulativa, e, nesta esteira, a identificação dos objetivos eleitos para ser a razão de atuar da maçonaria através do REAA. Em sequencia, buscar-se-á verificar se é plausível a hipótese de que a maçonaria brasileira, impregnada pela forte presença da mística latina, deturpou premissas iluministas do REAA ao fazer inserir passagens ritualísticas e conceitos exógenos em sua doutrina.

Com isso, pretende-se identificar racionalmente os motivos pelos quais os irmãos se reúnem com espírito mais associativo e profícuo em algumas sessões do que em outras.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1. BREVÍSSIMO RESGATE HISTÓRICO

 A Maçonaria foi levada para França pelos Stuarts e sua corte, quando estes foram exilados no Castelo de Saint Germain. Teria sido a primeira manifestação Maçônica em território Francês. Descende ainda, conforme o Historiador G. Bord, do regimento criado por Carlos II, chamado Guardas Irlandeses (Procedimentos Ritualísticos 1º Grau, p.9).  

Ainda na França, o gérmen do Rito Escocês Antigo e Aceito bebe do iluminismo, que rompe com a lógica obscurantista e passa ao pensamento científico racional. Representava a vitória da ciência sobre a superstição que dominava o pensamento medieval.

Também, pudera. Na Idade Média, período que durou do Século X ao XV o homem viveu aprisionado em seu pequeno mundo, cheio de superstições e medos. Com pouquíssimas pessoas alfabetizadas de fora do clero, a igreja atuava como fornecedora de justificativas religiosas para todos os momentos. As epidemias e catástrofes eram quase sempre atribuídas ao diabo e resolvidas com exorcismos, sinais da cruz e outros simbolismos.

Os Reis respeitavam o poder da igreja e essa, por sua vez, dependia deles para sua proteção e patrocínio. Tendo o controle do poder espiritual, e também político e financeiro, a Igreja Católica foi responsável por manter a ordem social da Idade Média.

Isto fica evidente, com base no fragmento de um texto da época:

Deus quis que, entre os homens, uns fossem senhores e outros servos, de tal maneira que os senhores estejam obrigados a venerar e amar a Deus, e que os servos estejam obrigados a amar e venerar o seu senhor (...).

O surgimento da Maçonaria Especulativa está intimamente ligado com vários acontecimentos ocorridos na Europa. No final do século XV, o Mercantilismo permitiu o surgimento das pequenas indústrias, e as expansões marítimas trouxeram mudanças na consciência popular. O ceticismo, que questionava a autoridade tradicional (nobreza e clero) desaguaria em conceitos mais claros e universais.

Princípios Humanistas resgatam a filosofia da Grécia Antiga, tentando encontrar explicações racionais sem a utilização da religião e da superstição.              

O século XVIII trouxe uma nova etapa ao Renascimento, o Iluminismo. Seus ideais espalharam-se por quase toda Europa, jogando luz sob as ideias obsoletas e supersticiosas da Idade Média, conhecida como a Noite dos Dez Séculos.

Os entraves para a evolução do homem precisavam ser retirados e com isso, a Razão deveria ser sua guia, substituindo a antiga crença religiosa e ganhando maior liberdade política, econômica e social.

Ao que consta, tanto o nascimento da Maçonaria Especulativa quanto o florescimento do REAA, advêm do homem ter relembrado sua especial condição: a racionalidade. Neste contexto, os grandes inimigos da maçonaria são eleitos e seus antídotos enfaticamente recomendados, chegando aos rituais franceses o juramento maçônico de se combater o despotismo, a ignorância, os preconceitos e os erros, além de se lutar perenemente contra o fanatismo e a superstição.

2.2. OS INIMIGOS DA MAÇONARIA ENFATIZADOS NO REAA

 Identificado o contexto histórico francês do REAA, surge dúvida séria quanto à compatibilidade do conceito de Egrégora Maçônica em um rito que exige de seus membros o juramento de combater os grilhões da humanidade.

Assim, com o intuito de bem identificar os significados contidos nos substantivos que representam os inimigos da maçonaria, em especial para o REAA, é que se enxerga a necessidade do detalhamento dos seus conteúdos.

A Maçonaria tem por objetivo o combate aos “grilhões” da humanidade, como o despotismo, o preconceito, a ignorância e o erro, dessa forma buscando glorificar a verdade e a justiça.

Entende-se por grilhões uma forma de restrição de liberdade, mas não somente ao sentido de liberdade como o de circular livremente, mas sim a liberdade de pensamento, liberdade essa que se alcança através da capacidade de discernir; e o discernimento, por sua vez, é alcançado pela razão.

O discernimento é necessário ao Maçom, pois somente pode ser considerado livre aquele que não está aprisionado aos grilhões do preconceito, da ignorância, do erro e da superstição. A Razão unida à inteligência deve ser usada pelo correto uso do Maço e do Cinzel. A Pedra Bruta deve ser transformada aplicando-se nela a Razão e a Inteligência para ser utilizada no Edifício Social como uma Pedra Cúbica, de forma justa e perfeita.

Entende-se por preconceito o juízo pré-concebido, que se manifesta numa atitude discriminatória, perante pessoas, crenças, sentimentos e tendências de comportamento. É uma ideia formada antecipadamente e que não tem fundamento sério.

A ignorância é a condição da pessoa que não tem conhecimento da existência ou da funcionalidade de algo. O estado da pessoa desprovida de conhecimentos; sem cultura; condição de quem não tem estudo.

O erro é definido como uma opinião, julgamento contrário à verdade. Falsa doutrina ou opinião falsa. Um engano ou equívoco.

A superstição, outra masmorra da razão, pode ser definida como um desvio do sentimento religioso, fundado no temor ou na ignorância, e que empresta caráter sagrado a certas práticas destituídas de qualquer transcendência. Define-se, também, como uma crendice em que se confia em situações com relações de causalidade que não se podem mostrar de forma racional ou empírica. Ela geralmente está associada à suposição de que alguma força sobrenatural, que pode inclusive ser de origem religiosa, agiu para promover a suposta causalidade.

Superstições são, por definição, não fundamentadas em verificação de qualquer espécie. Elas podem estar baseadas em tradições populares, normalmente relacionadas com o pensamento mágico. O supersticioso acredita que certas ações (voluntárias ou não) podem influenciar de maneira transcendental a sua vida.

O elo causal entre a atitude do supersticioso e o efeito que se supõe ocorrer é, em muitos casos, difuso, muitas vezes não declarado e sempre impossível de ser verificado ou sem cunho científico.

Esta maneira de pensar contrária à razão, não só viola os princípios da ciência, mas aprisiona aquele que assim age. A Maçonaria se levanta contra a superstição por já ter experimentado, nas brumas da história humana, a facilidade com que homens sem escrúpulos manipulam pessoas através de crendices, retirando-lhes a liberdade de ação e de pensamento.

2.3. A EGRÉGORA MAÇÔNICA NO REAA E SUA POSSÍVEL (E EQUIVOCADA) ORIGEM

 Algumas definições de Egrégora Maçônica que estão disponíveis em livros e repositórios levam o maçom a pensar em entidades terrenas e espirituais trabalhando juntas, com princípios místicos envolvidos, formando uma unidade ativada pela suposta energia do pensamento.

Para alguns autores, como Jorge Adoum e Nicola Aslam, a Egrégora Maçônica, se “bem feita”, com a reunião de fortes e idênticas vibrações, com pensamentos da mesma natureza, um ser verdadeiro ganharia vida e ficaria animado de uma força boa ou má, conforme o gênero dos pensamentos emitidos pelos participantes. 

Orlando Soares da Costa, preceitua:“O nosso corpo, tal como o planeta Terra, é um verdadeiro campo eletromagnético. As células do nosso corpo são basicamente compostas de sódio e potássio. Basta um pequeno conhecimento de física elementar para saber que nosso corpo físico é uma grande bateria. Cada célula do nosso corpo é ligada a três dos nossos sistemas: o Nervoso, o Circulatório e o Imunológico. Interessa-nos neste momento apenas o Nervoso. Este como sabemos, é formado por miríades de pequenos feixes capilares que se encontram em dois grandes eixos, os sistemas nervosos simpáticos e parassimpáticos, que se unem em um eixo central que é a medula, que conduz toda a carga energética ao conjunto cerebral em nossa caixa craniana, através do hipotálamo.”              

Inclusive autores maçônicos que se autodenominam ligados ao REAA, identificam a presença do ente Egrégora e atribuem-lhe uma posição central nas sessões ritualísticas. Um deles é Rizzardo da Camino. Em seu livro “O Aprendizado Maçônico”[1], ele nos traz:

“As Lojas mais “espiritualizadas”, emprestam à Cerimônia, atenção especial; há um fundo musical adequado; a luminosidade passa a ser mais amena com colorido adequado; todos de pé; o Oficiante ajoelha-se; ergue com ambas as mãos o Livro Sagrado e lhe faz a leitura. Esse momento é de expectativa. Os videntes notam a formação de um “SER ESPIRITUAL”, com semelhança ao ser humano, com características angélicas, envolto em nuvens diáfanas; cresse e cobre a todos os presentes, permanecendo em flutuação, tenuamente visível, sem perturbar pelo seu mistério.

É “um corpo espiritual” que se forma; seus componentes são retirados da aura de cada um dos IIr.·. presentes. É a Egrégora. É o mistério que faz de cada um, um só ser; todos os Maçons passam a uma individualização única; é a harmonização dos pensamentos, dos ideais, dos propósitos; é a aura geral, o esplendor único. É a transformação do corpo físico em corpo místico; é a fusão de todos numa corrente divina. A Egrégora é um ser real, que permanece enquanto o Livro Sagrado permanecer aberto. E “ele” esse corpo divino e místico, esotérico e diáfano, faz parte da “cobertura celestial”. É a proteção real. Não há mais o porquê de um Ir.·. manter com outro qualquer dissonância, pois todos passaram a formar um só corpo, fundidos e imersos na Egrégora.”

A leitura das linhas acima, em contraste com as definições trazidas no tópico anterior sobre superstição, dá condição de o pesquisador maçônico questionar a validade e existência desta entidade chamada Egrégora. Afirmar pela existência e formação de um campo vibracional energético, sem qualquer lastro doutrinário ou simbólico oficialmente admitido pelos rituais, muito menos cientificamente válido, alcança, aparentemente, as raias da fantasia, encobrindo os reais motivos pelos quais os maçons, no REAA, se reúnem em sessão de Loja.              

Diante de tal panorama, pergunta-se o real motivo dessa influência exacerbada do misticismo no pensamento maçônico latino. Por que razão a cultura maçônica brasileira aceita melhor os fatos explicados com base em argumentos metafísicos do que aqueles explicados com bases científicas?              

Sem dúvida que a característica dos povos latinos de serem suscetíveis a influências do misticismo não lhe é exclusiva. A Humanidade de modo geral sempre esteve sujeita a influências de tudo aquilo que não se pode explicar. Desde as mais priscas eras, o pensamento do homem era levado por crenças místicas. Já na Grécia Pré-Socrática toda e qualquer explicação era dada com base em atos praticados por deuses ou semideuses de sua mitologia.                

Mais tarde, com a ascensão do Império Romano, a cultura grega foi absorvida pelo povo romano e o misticismo foi mais arraigado ainda nas crenças da população.              

Os Latinos foram um antigo povo de origens indo-européias estabelecido na Península Itálica, mais precisamente na costa do Mar Tirreno, na região hoje chamada de Lácio, local onde se encontra a cidade de Roma. Esse povo contribuiu de forma determinante na formação do povo romano, que absorveu sua língua e cultura. Por esta razão, muitas vezes o termo “latino” é empregado como sinônimo de “romano”.               

Os latinos e depois os romanos antigos acreditavam serem descendentes de Marte, o Deus grego da guerra, relacionando a isso o caráter de ser um povo extremamente belicoso. Mesmo após a queda do Império Romano, com o domínio dos povos bárbaros, passou-se a evidenciar a crença monoteísta em um ser supremo.

Com o evoluir da História, os povos europeus passaram a sofrer pesada influência da Igreja Católica nas Idades Média e Moderna. Com o advento das grandes navegações, os colonizadores da América Latina, mais notadamente os espanhóis e portugueses, essa influência cruzou o oceano e desembarcou no novo continente, a América.

O indivíduo branco, que participou da formação da cultura brasileira fazia parte de vários grupos, que chegou ao país durante a época colonial. Além dos portugueses, vieram os espanhóis, de 1580 a 1640, durante a União Ibérica (período sob o qual Portugal ficou sob o domínio da Espanha). Entretanto, foi dos portugueses que recebemos a herança cultural fundamental, onde a história da imigração portuguesa no Brasil confunde-se com nossa própria história.

A mitologia portuguesa[2] é herdeira de um caldeirão de povos e culturas, com mitologias bastante diversas entre si, que deixaram um fértil legado imaginárias. Engloba o conjunto de narrativas maravilhosas e lendas sobre personagens e suas façanhas, fenômenos naturais e objetos extraordinários ou regiões fantásticas, com características sobrenaturais, transmitidas de geração em geração, no decorrer dos séculos, tanto no campo literário como no da tradição oral.

Todavia, um dos mais importantes legados portugueses foi à religião católica, crença de grande parte da população brasileira. O catolicismo, profundamente arraigado em Portugal, deixou no Brasil as tradições do calendário religioso, suas festas e procissões, tornando-se a religião oficial do Estado até a Constituição Republicana de 1891, que instituiu o Estado laico. Atualmente, o Brasil é considerado o maior país do mundo em número de católicos nominais. De acordo com o IBGE 73,8% da população brasileira declara-se católica.

Com isso, os povos latino-americanos obviamente acabaram formando uma cultura essencialmente misticista, em virtude de toda influência na sua formação social e política, não apenas de seus colonizadores mas também dos próprios povos que já habitavam o continente antes da invasão européia. Portanto, seria pouquíssimo provável que tais povos se desvirtuassem dessa característica. 

Como hipótese científica, admite-se que estas circunstâncias sociológicas pressionaram o contingente de maçons brasileiros a tal ponto que, por um conforto ideológico-religioso, preferiu-se optar em descaracterizar passagens ritualísticas e premissas doutrinárias do REAA, a buscar desenvolver-se aptidões de pesquisa metodológica científica geradora da liberdade de espírito. Tal particularidade constitui, em conjectura, o fundamento da adição do conceito de Egrégora Maçônica dentro do REAA.

2.4.EGRÉGORA MAÇÔNICA VS SUPERSTIÇÃO E A AUTÊNTICA ESPIRITUALIDADE

Há tempos o homem segue costumes, muitas vezes sem saber como surgiram e por que permanecem até hoje, quando tudo parece ter esclarecimento lógico e racional. Ocorre que infelizmente a sociedade é alimentada por dogmas culturais e mídia transbordada por uma pseudociência mística que mistura sua falácia com o jargão científico, mas rejeita o método científico como teste para suas teorias.

 Uma pseudociência é um mito que reivindica status científico, mas não quer ser julgada como tal. Ironicamente, sua expansão só tende a aumentar, uma vez que nos oferecem aquela visão romântica da vida que queremos ver, e é muito fácil acreditar em algo quando estamos com sede de nos apegar a qualquer coisa. Todos os dias os nossos temas culturais, o nosso sistema educacional, nas revistas, nos jornais, na televisão, no rádio e mesmo nas escolas nos bombardeiam com elas.

Apesar de ser possível apontar características supersticiosas dentro de praticamente todas as religiões, é considerado um equívoco confundir as duas coisas. Religião não é magia. Enquanto uma prática supersticiosa, como um talismã ou uma simpatia, propõem melhorar nossa existência aqui e agora no mundo físico, a religião trata da vida espiritual. A superstição traz um benefício imediato, apenas por placebo, enquanto a religião busca a paz divina, envolvendo normas éticas e códigos de conduta.

Hipócrates de Cós é o pai da medicina. Ele é lembrado, principalmente, por causa do juramento hipocrático. Mas ele é celebrado sobretudo por seus esforços para arrancar a medicina do terreno da superstição e trazê-la à luz da ciência. Numa passagem peculiar, Hipócrates escreveu:

 “Os homens acham a epilepsia divina, simplesmente porque não a compreendem. Mas se chamassem de divino tudo o que não compreendem, ora, as coisas divinas não teriam fim.”

A um Deus das Lacunas é atribuída a responsabilidade pelo que ainda não compreendemos. Como o conhecimento da medicina, tecnologia e demais disciplinas tem se desenvolvido progressivamente, cada vez mais aumenta o que compreendemos e diminui o que tinha de ser atribuído à intervenção divina ou magia.

 Há milênios filósofos céticos cansados de respostas fáceis e despertados pela admiração e a curiosidade de descobrir o que há por trás dos mistérios que os cercam, instavam em atacar e desafiar tudo, a eles não escapando a crença nos deuses, que dominantemente é vislumbrado, de diversas formas, como factível de tal existência. Muitos, contudo, extinguem o politeísmo e a existência de um Deus antropomórfico (com formas humanas) conferindo a Este uma unidade: o Todo, o Uno, as leis que governam o universo, o Criador de um plano, A energia e matéria, o espírito de bondade e inteligência infinita, a Perfeição e as formas que denominamos de Natureza. O próprio gênio e físico Albert Einstein tinha sua concepção de que “Deus é a lei e o legislador do Universo“.

A busca pela verdade é campo da ciência e da racionalidade. O problema dessa busca é a capacidade de interpretação, pois na cultura popular prevalece uma espécie de Lei de Gresham, segundo a qual a ciência ruim expulsa a boa, nos tornando analfabetos da razão.

Há 2400 anos, Platão, no livro VII das Leis, deu a sua definição de analfabetismo científico:

Aquele que não sabe contar um, dois, três, nem distinguir os números ímpares dos pares, ou que não sabe contar coisa alguma, nem a noite nem o dia, e que não tem noção da revolução do Sol e da Lua, nem das outras estrelas [...]. Acho que todos os homens livres devem estudar esses ramos do conhecimento tanto quanto ensinam a uma criança no Egito [...] Com espanto, eu [...] no final da vida, tenho tomado conhecimento de nossa ignorância sobre essas questões; acho que parecemos mais porcos do que homens, e tenho muita vergonha, não só de mim mesmo, mas de todos os gregos.

Compete aos homens, por sua racionalidade, identificar e desmitificar todo conhecimento mal empregado, pela oportunidade de enxergarmos determinados costumes com o olhar crítico da ciência, onde a dúvida só pode ser sanada pelas lentes das evidências. O próprio ceticismo nos deu amparo para questionar o, até então, inexplicável e sermos livres de fato.

Nessa toada, livres e de bons costumes, os Maçons tem o dever de se desvencilhar das amarras da falsa ciência. Os bons pedreiros, ao construírem seus edifícios e catedrais, carecem utilizar o conhecimento empírico e pragmático da engenharia, caso contrário suas obras tendem a ruir.

Na vida espiritual (leia-se espírito como personalidade imaterial da consciência) os Maçons têm os mesmos deveres, se desvencilhar das amarras da ignorância e do erro. Apesar disso vemos no meio Maçônico alguns costumes que se assemelham as ditas superstições, dentre elas aquelas trazidas do meio profano e outras que se originaram dentro de Loja, vezes por má interpretação, outras por simples influência do meio cultural no transcorrer dos tempos. Nisso podemos citar o uso de amuletos ou termos empregados de forma duvidosa ou equivocada, tal como a concepção da Egrégora Maçônica por muitos.

3. CONCLUSÃO:              

Os motivos que levam os Maçons do REAA a reunirem-se em Loja, não dependem de uma energia vibracional gerada entre os irmãos, os colocando em um uníssono ou sincronia, mas sim tal harmonia está em objetivos e ideais convergentes, a fim de poderem progredir nos trabalhos da Maçonaria, em coerência com o Humanismo, que foi a base teórica e filosófica do Movimento Iluminista.

Ao se reunirem os Maçons, obtém-se uma sinergia, resultado da somatória de todos os esforços voltados para os mesmos objetivos, mesmos fins, e que são muito claros para todos os praticantes do REAA: combater o despotismo, a ignorância, os preconceitos e os erros; glorificar a Verdade e a Justiça; promover o bem-estar da Pátria e da Humanidade; levantando Templos à virtude e cavando masmorras ao vício.

A Maçonaria Especulativa busca entender, por meio da razão, a Natureza e o papel do homem em seu meio, por isso luta por manter-se livre das superstições, temores e erros.

Por outro lado, não se pode deixar de reconhecer a importância da espiritualidade que outros Ritos Maçônicos no Brasil conservam em suas práticas, tendo por base a formação religiosa do povo brasileiro, influenciada fortemente pela Igreja Católica, pelas religiões africanas e indígenas. E tal fato não é nem bom ou ruim, mas uma realidade com as quais os maçons devem aprender a conviver, em conformidade com os princípios da tolerância e livre credo.

Com ou sem mística, o que é de fato fundamental é agregar forças construtivas para que os maçons consigam dar formas concretas aos fins supremos de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

AAp.´. MM.´.:

David Simão

João Duleba

Murilo França

Claudio Ramos

Ricardo Igor

Elton Rocha

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

http://curiosidadesmisteriosantigos.blogspot.com.br/2015/06/latinos-saga-de-um-povo.html

http://www.infoescola.com/mitologia-grega/teogonia-de-hesiodo/

http://mestresdahistoria.blogspot.com.br/2011/02/catequizacao-dos-povos-indigenas.html#!/tcmbck

http://www.suapesquisa.com/astecas/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Miss%C3%B5es_jesu%C3%ADticas_na_Am%C3%A9rica

https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_portuguesa

https://www.todamateria.com.br/cultura-brasileira/

http://www.ebah.com.br/content/ABAAAggYMAB/a-influencia-dos-povos-na-formacao-cultura-brasileira

http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar./index.php?option=com_content&view=article&id=308

Os conceitos apresentados, com adaptações, foram consultados nos seguintes sites: http://www.significados.com.brhttp://pt.wikipedia.org

Hernandes, Paulo Antonio Outeiro.

Curso de formação de aprendizes do Rito Escocês Antigo e Aceito.

1º edição-Londrina-Ed. Maçônica “A Trolha”, 2015.

Bauer, Alain

O Nascimento da Franco Maçonaria – tradução Fulvio Lubisco

São Paulo-Ed. Madras, 2008.

Pike, Albert e Pessoa, Fernando.

As Origens e os Ensinamentos da Maçonaria- tradução Fulvio Lubisco.

São Paulo-Ed. Madras, 2015.

Cortella, Mario Sergio

Pensar nos faz bem- filosofia, religião, ciência e educação.

5º edição- Petrópolis- Ed. Vozes, 2015.

Procedimentos Ritualísticos, 1º Grau Rito Escocês Antigo e Aceito. 2016.

Ritual, 1º Grau-Aprendiz Maçom- Rito Escocês Antigo e Aceito. 2009.

SUPERSTIÇÕES E CRENDICES

 

OS TEMPLÁRIOS OU A ORDEM DO TEMPLO


 

Por volta do ano 300 o Imperador romano Constantino tornou o Cristianismo religião oficial do império romano, ficando a Palestina sob a guarda do império. Peregrinos iam e vinham da Terra Santa com o objetivo de visitar os locais onde Jesus teria pregado a sua doutrina. Um dos locais preferido era a basílica de Anastasi, edificada pelo imperador Constantino, que fora construída onde teria sido o Santo Sepulcro.

A ocupação da Palestina pelo Islã no século VII, não impediu que as peregrinações dos cristãos acontecessem até Jerusalém. Isto foi devido à habilidade de Carlos Magno em fazer um tratado com o califa de Bagdad, Ha-run al Rashid.

Porém, no início do Século XI, mais precisamente no ano de 1009, a região passou para o califado egípcio, que rompeu os tratados existentes e o novo califa saqueou Jerusalém e destruiu o Santo Sepulcro, exacerbando o fanatismo islâmico e impondo uma perseguição aos infiéis cristãos. Apesar da violência praticada pelos árabes, as peregrinações continuavam mesmo com o risco de não poderem voltar para casa.

Esta agressão levou os cristãos europeus a fazerem incursões isoladas à Terra Santa, com a violência a aumentar em frequência e intensidade. O grande cisma da Igreja em1054, com a separação da igreja romana da ortodoxa e a derrota do imperador bizantino Aléxio Comenus pelo exército turco, levou Roma a pensar numa intervenção na Terra Santa.

Em 27 de Novembro de 1095 foi instaurado pelo papa Urbano II o concílio de Clermont, que convocou o povo a libertar Jerusalém das mãos dos árabes. O papa fez ainda uma viagem pela Europa mostrando que além da libertação da terra santa, existia também a possibilidade de conquistar novos feudos e saquear uma região muito rica.

Estes dois últimos apelos chamaram à atenção, pois a Europa nesta fase da idade média estava repleta de nobres não primogênitos, ociosos que vagavam como mercenários e esta seria uma oportunidade para este tipo de pessoas conquistarem algo, já que não teriam direito pela hierarquia a bens herdados de seus pais.

A primeira cruzada iniciou-se após a convocação papal e em 1099 a cidade de Jerusalém foi conquistada após sequencia de grandes saques e violência praticada pelos cruzados contra a população muçulmana. Nesta primeira empreitada oficial dos cristãos, estava um cavalheiro francês chamado de Hugues de Payns, que fez voto de fé unindo para sempre o seu destino com Jerusalém.

No ano de 1100 foi fundado o Outremer (palavra francesa que significa além do mar), os estados latinos do oriente compostos pelos condados de Edessa, Jerusalém e Antioquia.

O reino latino no oriente era grande e mal protegido. A igreja do Santo Sepulcro (reconstruída) passou a abrigar os monges gregos (ortodoxos) e a grande mesquita Cúpula da Rocha abrigou os monges latinos. Estes últimos adotaram as regras de Santo Agostinho e incentivaram os laicos que trabalhavam com eles a fazerem os votos de viverem junto aos monges. Entre estes leigos estava Hugues de Payns.

Em 1119 um grande massacre de cristãos ocorreu próximo do Rio Jordão, fato que levou o rei de Jerusalém, Balduíno II, a criar uma milícia independente, subordinada à igreja. Assim, em 1120 Hugues de Payns e mais alguns leigos são convocados, sob a liderança do primeiro, a formarem esta milícia, onde perante o Patriarca de Jerusalém, Gormono de Picquigny, fizeram três votos monásticos, de OBEDIENCIA, POBREZA E CASTIDADE. Foi doada aos cavaleiros uma parte do palácio próximo das ruínas do Tempo de Salomão. Com isso passaram a serem chamados de Cavaleiros do Tempo ou Templários.

O grupo pretendia implementar a fraternidade, os votos de pobreza (no sentido de despojamento material) e de penitência. Mas para formar uma milícia era necessária a aquisição de armas, roupas e animais que eram muito caros na época. Precisariam de grande apoio financeiro e logístico. Devido ao tamanho do reino cristão no oriente, grande era o trabalho dos templários com tão poucos homens. O recrutamento no reino latino era insuficiente. Assim, com autorização do rei de Jerusalém, Hugues de Payns viaja para a Europa para pedir a bênção papal, apoio financeiro e recrutar novos cavaleiros.

Entre 1124 a 1130, Hugues começa sua viagem por Roma, onde recebe as bênçãos papais e privilégios que dariam condições para ordem crescer e fortalecer. Dentre outros incluíam: isenção de impostos, livre trânsito e principalmente autorização para receberem doações. Após a passagem por Roma, Hugues faz uma maratona pela Europa.

Além dos motivos de fé, grande número de cavaleiros mercenários ou sem atividades vislumbraram uma oportunidade de deixar a vida de fora-da-lei, servir a uma causa nobre e seguir uma carreira brilhante. Para dominar a arrogância, a violência e prepotência militar, Hugues recorre a um grande conhecedor da alma humana, Bernardo, o São Bernardo. Entrega-lhe a carta de Balduíno II, onde pedia que este elaborasse para os templários regras monásticas adequadas, que fossem compatíveis com a necessidade da guerra e ao mesmo tempo adaptada a uma ordem religiosa. Onde normas de conduta em que a penitência, a humildade, obediência absoluta a superiores e disciplina duríssima, fossem utilizada para cortar os impulsos de gente nem sempre bem intencionada.

O frade guerreiro do templo teria de associar a mansidão e humildade do monge com a nobreza e a coragem do verdadeiro cavaleiro. Entre outros deveres, São Bernardo incluiu a perda da vaidade (o Templário teria vestes próprias e poucas, não se deveria preocupar com a aparência); Equilíbrio harmônico entre o corpo e o espírito; poderiam ser somente homens de preferência viúvos; coragem e bravura para morrerem sob a bandeira do Cristo; terem a solidariedade como forte sentimento comunitário, onde tudo o que pudesse desagregar como competição, inveja, ciúmes, calúnias era drasticamente condenado; Respeito pela hierarquia, onde no topo estaria o Grão-Mestre. A vida Religiosa e administrativa da ordem subordinava-se a setenta normas.

As iniciações na ordem aconteciam a noite. O Candidato esperava do lado de fora e por três vezes dois cavaleiros se dirigiam a ele para perguntar o que desejava ao qual respondia por três vezes que a sua vontade era entrar na ordem.

Após a entrada, era dito ao pretendente que a vida seria dura e perguntado se seria capaz de suportar as asperezas que o aguardavam; que não esperasse benesses, honrarias e riquezas. Que deveria fugir dos pecados do mundo, servir ao Nosso Senhor, ser pobre e fazer penitência

Perguntavam-lhe novamente se ele estaria disposto a ser servo e escravo da casa.

Perguntavam-lhe se estava disposto a renunciar à própria vontade.

Se as respostas fossem sim, o candidato era retirado e a assembleia debatia o desejo do candidato de entrar na ordem e se havia alguém que soubesse algo a respeito do candidato, deveria falar nesse momento. Não existindo nada, o candidato era admitido.

O candidato era instruído e retornava ao templo, ajoelhando-se e fazia o juramento.

O Grão Mestre perguntava-lhe: Pensaste bem? Ainda estás decidido a submeter-te às dificuldades e às asperezas que vigoram na casa?

Em caso de resposta positiva, a Assembleia levantava-se e orava para que o novato fosse bem sucedido.

DE seguida nova bateria de perguntas era feita e no final o Grão Mestre dizia: Procurai não mentir, pois se o fizeres, sereis considerado perjúrio e tereis de abandonar a casa.

No final o candidato era submetido ao teste de obediência, onde lhe era solicitado que cuspisse na cruz. O candidato poderia fazê-lo em sinal de obediência (geralmente cuspindo ao lado da cruz) ou negando-se a fazê-lo em função do juramento de servir a Nosso Senhor.

Por último o candidato aprovado era beijado levemente na boca pelo capelão. Estas duas últimas partes da ritualística foram utilizadas para a condenação da ordem sob alegação de homossexualidade e negação a Cristo.

Os nobres europeus que desejassem auxiliar a ordem moral e financeiramente, doavam recursos, posses e edifícios. Tudo o que fosse produzido nas terras ou proveniente do aluguer era transferido para a Terra Santa.

A transferência de dinheiro induziu a ordem a desenvolver com rapidez técnicas bancárias e financeiras. Passaria a ser grande emprestadora de dinheiro, logicamente evitando a usura. O fato do voto de pobreza e de despojo de vaidades, sendo que cada Templário poderia ter no máximo quatro denários, deu ao Templo a reputação de honestidade, fazendo com que nobres e reis ricos confiassem aos templários os seus capitais, que para além da custódia, faziam render o dinheiro. Para guardar tanta riqueza foi construída em Paris uma fortaleza para guardar dinheiro e tesouros.

Segundo levantamentos feitos, nos tempos áureos da ordem, os Templários tinham-se espalhado por toda a França, no centro norte da Itália, Portugal, Espanha, Alemanha, Hungria, Países Baixos, Inglaterra, Escócia, Irlanda, além claro da Palestina.

Para se movimentarem, para transportar bens gerados na Europa e encaminhados para a Palestina, para transportar dinheiro e tesouros, os Templários criaram uma grande frota de navios que passaram também a prestar serviços de transporte de cargas e pessoas para nobreza e reis.

No oriente, além das atividades de proteção dos peregrinos, os templários desenvolveram grande capacidade de negociação com os chefes árabes da região. Chegando ao ponto de serem requisitados para serviços delicados de missões diplomáticas por reis e papas. Mantinham relações cordiais com emires, sempre baseados em interesses econômicos e políticos sem a contaminação por argumentação religiosa. Inclusive permitiam que fiéis muçulmanos fizessem suas preces na grande mesquita Cúpula da Rocha, onde ficavam como já ditos os monges latinos.

Em 1144 o condado de Edessa (o condado mais ao norte) foi tomado pelos árabes. Dando origem à segunda Cruzada. Foi o maior exército cristão formado, e apesar disto foi um fracasso de estratégia. Agrediu mais cristãos (Império Bizantino – Constantinopla) do que muçulmanos. Ao contrário da fracassada campanha do exército cruzado, os Templários participaram de forma exemplar e imaculada.

Problemas de ordem política e administrativa dentro e entre os reinos latinos no oriente enfraqueceram ainda mais a frágil estrutura dos reinos cristãos. Em 1184 Saladino entra em Jerusalém recuperando para as mãos islâmicas a Terra Santa. Saladino que vinha de conquistas em territórios árabes, teve misericórdia com os cristãos de Jerusalém, mas não teve o mesmo comportamento com os templários e hospitalários. Torturou-os até a morte.

A derrota de Jerusalém aconteceu pela falência dos poderes e da inabilidade política dos nobres feudais que governavam a região. Mas a culpa recaiu sobre os Templários, porque tinham como objetivo primordial defender a Terra Santa e a queda de Jerusalém e do Santo Sepulcro representavam a falência do ideal.

Os principais inimigos dos Templários não foram os muçulmanos, mas a inveja, a cobiça e a ganância de reis e religiosos. Os privilégios que adquiriram quando de sua formação tornaram-nos muito ricos (a Ordem e não os Templários). Mesmo no auge da história dos templários (final do século XII), começaram a surgir descontentamento de sectores da igreja e de outras ordens religiosas, que perdiam rendas em detrimento dos cavaleiros.

A sociedade ocidental que havia acatado e tolerado os privilégios iniciais e até a arrogância da Ordem (no auge), não estava mais disposta a suportar as falhas dela. A situação agravou-se com a queda de Jerusalém, quando grande parte dos cavaleiros retornaram para a Europa, e já não se justificavam mais tais privilégios. Estima-se que nesta época, 15.000 templários inativos passaram a exercer funções burocráticas administrando o grande patrimônio da ordem.

Em 1291 a queda de Acre, pois fim ao Outremer e desferiu golpe fatal na ordem templária e nos hospitalários. No concílio Ailes 1292, o papa Nicolau IV decreta a fusão das duas ordens. Houve resistências em ambas e a fusão nunca aconteceu.

Morre Nicolau IV e o próximo papa, Bonifácio VIII, via com bons olhos os templários, inclusive porque recebeu deles grandes somas em empréstimos. Por outro lado, o pontífice tinha vários atritos diplomáticos e religiosos com o rei francês Felipe o Belo. Já nesta época a ordem estava dividida em duas frentes, a de França onde estava o centro administrativo e financeiro e a ordem de Malta na ilha de Chipre, composta de militares envolvidos em relações com os governos da região.

Durante a queda de Acre morre em combate o Grão-Mestre Guillaume de Beaugeu. Em Malta tinha-se destacado um cavaleiro que assistia em combate a certos casos de imoralidade e corrupção dentro da ordem. Era um homem de grande experiência de campo onde tinha feito a sua história de honra e dedicação. Este cavaleiro chamado Jacques de Molay foi indicado para ser o novo Grão-Mestre. Havia um concorrente para o cargo, Hugues de Perraud, cavaleiro burocrático com mais de 30 anos de serviços, mas que nunca tinha ido para frente de batalha e que era aliado de Felipe o Belo. Independentemente da sua força política, Hugues de Perraud não foi indicado e Jacques de Molay torna-se o Grão-Mestre.

Em 1306 após sequência de erros administrativos e bélicos, Felipe o Belo desvaloriza a moeda. O resultado foi uma grande revolta popular. Acossado, Felipe refugia-se na sede dos Templários em Paris. Segundo alguns historiadores, Felipe vendo aquela riqueza encheu-se de cobiça e exigiu que o Templo emprestasse ao rei 300 mil florins em ouro. Jean de La Tour, tesoureiro do Templo, emprestou o dinheiro a Felipe sem autorização do Grão-Mestre e sem um termo de garantia.

Jacques de Molay ao retornar em 1307 para Paris verifica a contabilidade, descobre o enorme rombo nas contas e despede de forma irrevogável o contador, aplicando-lhe sanção disciplinar. Jean de La Tour, homem de origem burguesa com boas relações no trono, pede auxílio a nobres próximos do rei. Este solicita a Clemente V, o novo papa, a recondução do tesoureiro ao cargo. O papa exige que Jacques de Molay o readmita que o faz a contragosto.

Felipe o Belo percebe que a Ordem não era mais intransponível, o flanco estava aberto. Passa a difamá-la. Inicia o processo levantando dúvidas sobre a fidelidade da ordem a Cristo. A inquisição já tinha sido instalada e bastava uma denúncia de heresia para que as investigações se iniciassem.

A acusação de que os templários negavam Cristo cuspindo na cruz, fato já comentando que era um teste da obediência, mas que não punia o iniciado caso ele negasse o ato, foi usado como uma das grandes heresias praticadas. O beijo do capelão no final da iniciação e a figura de dois homens montados no mesmo cavalo (símbolo da simplicidade e economia) foram utilizados como práticas de homossexualidade. Assim, em 13 de Outubro de 1307, sexta-feira, cerca de 150 templários, inclusive Jacques de Molay, foram presos em Paris.

Á custa de longas sessões de tortura, muitos cavaleiros assumiram culpas e assinaram falsos depoimentos. Os bens dos Templários foram desejados por todos incluindo o rei Francês e o papa. A frota de navios desapareceu com a prisão dos 150.

Em 18 de Março de 1314 Jacques de Molay e Geoffroy de Charny foram queimados em praça pública. Conta-se que antes de morrer de Molay pediu que afrouxassem a corda e olhando para Notre Dame faz uma prece a Virgem Maria, testemunhando a sua inocência e da ordem. Lançou uma praga a Felipe por traição e a Clemente V por abandono, de que eles em breve iriam prestar contas no tribunal Divino. O papa morre um mês depois e Felipe antes de se completar um ano.

Após as prisões e mesmo antes da morte do Grão-Mestre, os templários livres dispersaram-se, vivendo como refugiados e entrando em ordens religiosas ou não. Em Portugal e Espanha os templários tiveram mais sorte. O Rei Português, bem como os Reis de Aragão e Castela, não vendo acusações substanciais contra os cavaleiros não pactuam com a sua condenação. Enviam mensageiros ao papa Clemente V e pedem que nos seus domínios, os Templários sejam poupados, inclusive por haver ameaças de invasão muçulmana à península Ibérica. O papa para se livrar dos problemas, concede-lhe o seu pedido, mas que exige que o nome seja mudado. Assim, é formada a Ordem dos Cavaleiros do Cristo em Portugal e em Espanha, a Ordem de Nossa Senhora de Montesa.

Os Templários criados ao princípio como monges guerreiros do Cristo, excederam em muito os objetivos iniciais. Foram responsáveis pela introdução dos conceitos de transações comerciais, fidelidade bancária, administração austera; inventaram o cheque bancário. Trouxeram para a Europa conhecimentos de arquitetura (as grandes obras de igrejas e castelos são pós templários), navegação e diplomacia. A ordem acabou em 1314, mas deixou um grande legado para o Ocidente.

Adaptado de Giovani R. Carvalho

 

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