Como todos os maçons sabem, a Lenda de Hiram Abiff é a principal alegoria iniciática da Maçonaria. Os elaboradores desta alegoria tiveram uma excepcional inspiração ao introduzi-la nos rituais de passagem do companheiro a mestre, pois este personagem, aqui visto como sendo o arquiteto construtor do Templo de Salomão, é um arquétipo de grande apelo místico, cuja tradição é cultivada em praticamente todas as antigas culturas, na forma do herói sacrificado.
Simbolicamente, o seu sacrifício representa a transição do
profano para o sagrado, do técnico para o cientifico, do reino grosseiro da
matéria para o reino subtil do espírito. Neste rito de passagem, pelo fenômeno
da simbiose, o companheiro rebelde, que vivia no domínio inferior da
consciência, reconcilia-se com o substrato superior, e adquire agora da forma
correta (e não pela violência), a sua passagem de grau.
A Loja Maçônica, observadas as devidas proporções, representa o
Templo de Salomão como sede do respeito e veneração ao Supremo Arquiteto do
Universo, que por sua vez pode ser comparada ao corpo do homem místico que se
estende do Norte ao Sul e do Oriente ao Ocidente em correspondência aos quatro
pontos cardeais, uma vez que o Ser Humano é a unidade indivisível do Universo.
O Venerável (no Oriente) representa cabeça que se expande aos
mundos superiores, se converte em sabedoria Espiritual, é o Salomão (o Saber),
que constrói um Templo para a Glória do Grande Arquiteto do Universo.
O baixo ventre (o Ocidente) o lado direito (o Sul) e o lado
esquerdo (o Norte) são representados pelos Vigilantes os obreiros responsáveis
pelo aprimoramento dos Aprendizes e Companheiros.
Quando olhamos os conceitos filosóficos da Maçonaria Operativa
vemos que nossos antepassados tinham por objetivo principal espiritualizar o
ser humano e fazer dele um super-homem, intelectual e espiritualmente, com
completo domínio de si mesmo.
Na lenda de Hiram Habiff nos diz a dificuldade de penetrar na
caverna,seja pela escuridão, seja porque coberta de espinhos, representa os
riscos e o trabalho que temos todos nós de penetrar em nós mesmos, para
descobrir os sentimentos negativos que devem ser extirpados, retirados do local,
submetendo-os ao "julgamento", ou seja, esclarecer como devem
desaparecer para que nos sintamos livres e purificados.
As terras más onde, lançadas, as sementes não podem vicejar,
ficando sufocada se perecendo, como muito bem explanou Jesus na parábola do
Semeador.
Qual era o dever de Stolkin? Procurar e vencer os assassinos de
Hiram. Stolkin será cada um de nós, no momento em que nos dispomos à Grande Busca;
a busca de uma finalidade gloriosa: encontrar e vencer os assassinos que estão em
nós, aqueles que "matam" as Virtudes e nos faz homens inúteis e nocivos.
A Caverna representa a Consciência Humana, a parte que é
invólucro; a
abóbada, sempre escura, representa o nosso íntimo, consciência ou
inconsciência. Para vencer os assassinos devemos sobrepujar as dificuldades
representadas pelos espinhos, e penetrar em nós mesmos. Do lado de fora nada
podemos realizar.
Devemos vencer todo egoísmo, para podermos empregar a força
onipotente do Amor. O Amor nunca pode conviver com o egoísmo, porque este trata
sempre de matar em nós outros a Fé e a Esperança. Somente o Amor nos pode
ressuscitar da morte para a verdadeira vida. Somente esta faculdade nos pode
regenerar, quando nos encontramos livres do egoísmo. Então, a Palavra Sagrada é
a essência da Fé, da Esperança e do Amor.
Por outro lado, devemos reconhecer que não foi só na Palestina
que a Luz das Luzes trabalhou para conduzir os homens do Inferior ao Superior,
mas que também em terras longínquas outros Profetas do Altíssimo, usando Ritos
e costumes similares, os enobreceram e transformaram em um meio de expressar à
humanidade, pela alegoria e pelo símbolo, profundas verdades espirituais e
morais.
No curso da nossa obra, traçaremos a origem de aspectos tão
peculiares como a Pata do Leão Garra, a Garra da Águia, as duas Colunas, o
Rebento da Acácia, o ato de passar por cima de um túmulo aberto e também da
luminosa Estrela da Manhã, a qual traz Paz e Salvação à multidão, embora, de
modo inflexível e terrível, traga morte ao homem solitário. Em retrospecto,
passarão diante de nós Ritos de Iniciação, de 12 Quem Foi Hiram Abiff? Morte e
de Ressurreição, que existem em todas as partes do mundo e a partir deles muito
aprenderemos que nos ajudará em nosso estudo.
Quando o homem render-se-á à Razão, deixando os preconceitos múltiplos,
materiais e corriqueiros, para segui-la e alcançar o objetivo de sua vida?O
homem teima em confiar em sua Inteligência, quando essa, apenas, cria os problemas;
teima em não saber que é a Razão quem soluciona os problemas criados pela
Inteligência!Todos os presentes continuam a Lenda, ofereceram-se para igual
empenho, ou seja, para ir à busca dos assassinos.
Isso é muito comum; quando alguém se apresenta na condição de
líder todos querem usurpar da mesma condição.
Todos seguimos, como primeiro impulso a liderança. O
desconhecido ou nosso "EU" passa a adquirir instantaneamente,
opositores,pois todos pretendem superá-lo e sonhar com o êxito do seu trabalho;
são os nossos múltiplos sentimentos representados pelos noventa ou mais
Mestres, que se põem campo para diminuir e desvalorizar o trabalho da Razão, ou
do nosso "Eu".
Com a alegórica representação da Lenda, a Maçonaria dá uma lição
aos Neófitos de como pode um verdadeiro Maçom, colher a oportunidade que lhe é
apresentada de possuir a coragem de "matar" um assassino, mas não
como ser humano, como semelhante; será um assassino encontrado na
"Caverna" de nossa própria consciência; a supressão do defeito, do
erro e da ignorância.
Os "golpes de punhal" que a Maçonaria pede aos seus
adeptos, são endereçados a pequenas coisas triviais: uma pequena parte do
tempo; a supressão de alguns prazeres;um óbulo para a causa geral. São essas
pequenas perdas em benefício do todo.
Os "manes" de Hiram significam a sua "alma";
a sua presença e memória. Infidelidade, a infração e a transgressão, não serão,
propriamente à personalidade de Hiram Abiff, mas, ao que ele significa dentro
da estrutura arquitetônica espiritual e social da Maçonaria, tendo como causa
última a conclusão da construção do Grande Templo que somos nós mesmos.
A formação de um Maçom há de torná-lo um vencedor; quando
conquistada pelo seu valor e capacidade uma posição de mando na Sociedade, ele
deverá provar que é um caráter incorruptível; assim a Maçonaria terá nele
concluído o seu trabalho; a honestidade, a justiça e a firmeza de decisões, a
tolerância e o amor fraterno serão sementes que a Maçonaria lançou em terra
fértil. Será o prêmio que os componentes da Loja de onde emergiu aquele bom
Maçom receberão pelos longos trabalhos executados no decorrer de anos de
sacrifício e destemor.
A Maçonaria estimula o pensamento e o talento de cada um. Daí
resulta que os homens de valor nela estão, sempre, em evidência; daí resulta
que, inevitavelmente, ela pode servir de instrumento à ambição, que não será
legítima se for desonesta e que será útil se for modesta. Entretanto, não se
pode negar que onde começa um simples impulso de ambição pessoal, aí começa,
também, a desfalecer o Espírito Maçônico.
“A Maçonaria é uma Instituição perfeita, formada por homens
imperfeitos"! Cabe a nós, os de visão mais profunda, influirmos nos demais
para que valorizem aqueles que, realmente, são os mais capazes e que o
conhecimento não seja, apenas, um item de um programa, mas uma realidade.
"Toda vida útil é curta, dure embora, um século; mas a vida do homem laborioso
é sempre longa”.
O nome de Hiram está conectado com a ciência, com o conhecimento
dos segredos da natureza, com a energia que transforma os metais. Ele conhece,
domina o fogo, transmuta os elementos. É uma lenda que serve tanto ás tradições
alquímicas, cuja obra consiste na obtenção da pedra filosofal, sintetizando o
processo pelo qual a natureza produz os elementos químicos, como á Cabala,
prática esotérica que busca o segredo do universo através da síntese do número,
(que corresponde ao Verdadeiro Nome de Deus); serve também ás tradições
iniciáticas antigas, que procuram a integração dessa energia numa união final
com Deus, o Principio Criador do universo; por fim, atende igualmente aos
próprios anseios dos filósofos iluministas, religiosos ou não, que acreditavam
na construção de uma sociedade justa e perfeita através de uma educação
orientada para a prática das virtudes éticas e morais, já que para isso, era
preciso criar um espírito novo, livre de preconceitos, dogmas e vícios
deformadores do caráter humano. (Um renascimento cultural)
Tudo isso equivalia a uma “depuração” da alma pelos mesmos
processos utilizados pelas sociedades iniciáticas. Os “homens novos” que dai resultariam
ergueriam “templos á virtude e cavariam masmorras ao vicio”, construindo uma
sociedade ideal, semelhante ás utopias sonhadas pelos filósofos.
Hiram representa a inteligência que percebe a Verdade; a
Liberdade sem a qual a inteligência é impotente, ou seja, a compreensão de
Verdade através da Razão.
ORIENTE DO RIO DE JANEIRO, RJ.
A.·. R.·. L.·.M.·. FLAUTA MÁGICA DO RIO DE JANEIRO, Nº 170
M.·.M.·. SANDRO PINHEIRO
https://www.recantodasletras.com.br/resenhasdelivros/2545366
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