Segundo o dicionário,
beneficência é a inclinação à prática do bem. É a ação de fazer bem a alguém.
O princípio da beneficência estabelece a obrigação moral de agir
em benefício dos outros. São considerados sinônimos de beneficência: caridade,
filantropia e humanidade. Beneficência, filantropia ou caridade significam amor
à humanidade, ao contrário do amor a si próprio ou egoísmo.
Outros dicionários definem filantropia como a ação voluntária, gratuita,
beneficente e assistencial desenvolvida por altruísmo, solidariedade,
fraternidade e amor ao próximo, que se diferencia da caridade, porque esta
seria por compaixão, e do assistencialismo, porque este seria para provimento
imediatista nas questões conjunturais contingenciais.
Na sociedade capitalista predominam as relações baseadas na expectativa do
benefício próprio, recebendo e oferecendo algo em troca. Em consequência,
aqueles que não têm condições de oferecer o que os outros querem, dependerá de
ajuda para não ficar condenado à destituição. O primeiro problema neste caso é
o pressuposto de superioridade do doador em relação ao recebedor. Além disso,
há o problema de expansão da demanda: quanto mais dinheiro for doado, mais
aparecerão pessoas querendo receber, seja por necessidade real, seja por
acomodação.
Muitas pessoas se colocam contra o assistencialismo, que é um tipo particular
de beneficência, enfatizando que o correto é “ensinar a pescar” e não simplesmente
“dar o peixe”. Acham o assistencialismo nocivo ao “dar o peixe”, pois
automaticamente é criada a dependência e redução da auto-estima.
Entretanto, é inegável que se uma pessoa está morrendo de fome, torna-se
necessário dar o alimento antes de cuidar do médio e longo prazo.
Para estarem capacitadas a aprenderem a pescar, as pessoas precisam antes de
assistência, apoio, carinho e compaixão. Além disso, existe o grande
problema de controle da eficácia dos recursos destinados à beneficência: foi
verificado que normalmente nas organizações que fazem “mero assistencialismo”
mais de 80% dos recursos vão para os usuários finais, ou seja, para aqueles que
realmente precisam de ajuda, enquanto que nas ONGs que “ensinam a pescar”,
cerca de 85% das doações terminam no bolso dos professores e não no bolso dos
alunos carentes. Se, por qualquer motivo, os ensinamentos não forem devidamente
absorvidos pelos alunos carentes, trata-se, em última análise, de recursos
desperdiçados.
Precisamos de ambas as posturas, pois parece ter uma interdependência nestas
iniciativas. De um lado, para que as pessoas carentes possam ter condições de
absorver algum ensinamento é necessário que suas necessidades básicas de
alimentação estejam atendidas. Por outro lado, o assistencialismo puro e
simples, sem preocupação de capacitação das pessoas para superação daqueles
problemas, tende a perpetuar a dependência.
A beneficência na visão de Cristo e do Cristianismo
Cristo recomendou fortemente a caridade e, mais que isso, colocou-a como
condição necessária para a felicidade futura. Nos ensinamentos de Cristo,
a caridade é muito mais que esmola ou assistência emergencial. Para ele, a
verdadeira caridade é aquela que realmente tira o outro da situação ruim em que
se encontra. Está implícito nestes ensinamentos que o que diferencia dois seres
humanos são apenas as circunstâncias e não a essência do ser. Estas
circunstâncias são precisamente as variáveis que devem ser mudadas ou atenuadas
através da caridade.
(Mateus 6.2 a 6.4) "Quando derem alguma coisa a um pobre, nada de alarde,
como fazem os fingidos, tocando trombeta nas sinagogas e nas ruas para chamar a
atenção para os seus atos de caridade. Digo-vos com toda a seriedade: esses já
receberam toda a recompensa que poderiam ter. Mas quando fizerem um favor
a alguém, façam-no em segredo, sem dizerem à mão esquerda o que faz a direita.
Vosso Pai, que conhece todos os segredos, vos recompensará” (Mateus,
7:12) “Portanto, tudo o que quereis que os outros vos façam, fazei o mesmo
também vós a eles: nisso está a Lei e os Profetas”
Dessa forma, a eliminação da pobreza viria como consequência do cumprimento
destes mandamentos. Max Weber, no livro “A ética protestante e o espírito
do capitalismo”, mostrou algumas diferenças entre o catolicismo e o
protestantismo e suas consequências para a sociedade. No catolicismo, a
salvação é obtida apenas por meio da fé na ressurreição de Cristo, com a
necessária intermediação da igreja, mas, segundo Tiago, a fé sem obras é
vazia. Dessa forma, as boas ações, ou caridade, são importantes para a
legitimação da salvação. Na teologia protestante, a salvação era uma
predestinação definida por Deus e cabia ao crente apenas trabalhar para
glorificar Deus, podendo gerar, com isso, uma acumulação de riquezas.
Para o catolicismo, a necessidade de trabalho foi decorrente do castigo de Deus
para a desobediência de Adão e Eva, gerando a necessidade dos homens tirar o
sustento com o suor do próprio rosto. Neste contexto, o trabalho era
considerado uma obrigação e não uma virtude, sendo um atributo indesejável e
próprio dos escravos. Além disso, a acumulação de riqueza era considerada
como um grande obstáculo para a salvação e existia a idealização da pobreza
franciscana.
Na ética protestante, dava-se grande importância à acumulação, mas se abominava
a ostentação. A riqueza, como resultado da dedicação ao trabalho, não tinha
outra razão de ser que não fosse para as obras de Deus e para ajudar aqueles
que necessitassem. Além disso, havia grande valorização da educação para todos
e se retirou o caráter pecaminoso da cobrança de juros. Nesta nova ética do
trabalho dizia-se que o sucesso era o maior indício de predestinação à salvação
e o pobre era suspeito de preguiça, o que constituía uma injúria a Deus. Como resultado,
as nações protestantes tiveram grande prosperidade no capitalismo e atingiram
grandes riquezas, enquanto várias nações católicas ficaram para trás.
Embora a caridade não fosse essencial para a salvação no contexto protestante,
o dinheiro e o trabalho eram considerados como um meio de expandir a obra de
Deus, sendo que Lutero e Calvino reconheciam que a caridade nascia da fé, da
mesma forma que a maçã provinha da macieira, ou seja: “não somos salvos
pelas obras, mas fomos criados para as boas obras”.
Como resultante
desta visão, a contribuição da população de países protestantes para
filantropia historicamente tem sido maior que as dos países católicos.
Além disso, a percepção de que os herdeiros não mereciam simplesmente ganhar as
fortunas e os incentivos fiscais direcionados para filantropia ajudaram a
alavancar as contribuições para beneficência. Por outro lado, a legislação
fiscal brasileira não tem estimulado a doação de recursos para a filantropia,
criando grandes limitações para a doação de recursos para fins sociais.
Por esses motivos, na área de filantropia existe grande defasagem entre o
Brasil e os EUA: por ano, o setor privado nacional investe cerca de dois
bilhões de reais na área social, enquanto nos Estados Unidos essa cifra atinge
70 bilhões de dólares, representando mais de 30 vezes, embora o PIB dos EUA
ultrapasse o PIB brasileiro em pouco mais de seis vezes. Cada brasileiro
desembolsa, em média, 12 dólares por ano em doações e nos Estados Unidos são
desembolsados 390 dólares.
No que diz respeito às Organizações Sociais, enquanto nos EUA existem cerca de
40 mil fundações, no Brasil, as 400 maiores entidades do terceiro setor
representaram 90% da atividade do setor em 2001. A 10ª fundação dos EUA
tem 10 bilhões de dólares de patrimônio, enquanto a nossa maior fundação tem um
bilhão. A 20ª maior fundação brasileira tem patrimônio de US$ 100 mil; a
correspondente americana, US$ 1 bilhão, ou seja, 10 mil vezes maior.
Considerando apenas o "The Giving Pledge", iniciativa liderada por
Bill Gates, verificamos que ela congrega cerca de 70 bilionários que se
comprometeram a doar, em vida, metade de suas fortunas para causas do bem.
Enquanto isso, dos 54 bilionários que o Brasil possui, somente dois são
considerados bons parceiros do terceiro setor.
Por que nós se deixamos
nossos corações propício à beneficência somente entre os dias de dezembro de
cada ano? Porque não se abre o coração para o restante, é porque nosso egoísmo
é superior a beneficência guardada a sete chaves em nossas atitudes, muitos tem
medo de se entregar ao próximo muitos tem receitas de se comprometer com o bem.
Uma forma de
"aliviar" a carência do bem é na época natalina aonde as pessoas
pensam que em comprar um presente "um brinquedo" sendo este barato e
doar a uma instituição de caridade "ONG" se redime de suas atitudes
pobre ser de espírito fraco pois Vejamos o preceito bíblico em (Mateus 6:2-4)
Cabem antes algumas
ponderações a respeito:
1 – A circulação do
Tronco não é prática universal na Maçonaria, porém é costume particular de um
Rito específico.
2 – É universal sim a
prática da beneficência na Maçonaria e esta nem sempre depende, por exemplo, de
ser praticada através da circulação do Tronco.
3 – O procedimento então
obedece à regra da tradição, uso e costume inerente à prática, levando-se em
conta a origem do Rito que dela faz o desempenho.
4 – Pelo seu caráter de
discrição, geralmente ninguém sabe o quanto quem pode dar, se deu, ou se nada
pode dar. A questão não é de obrigatoriedade, senão a da prática da virtude na
consciência do Maçom.
5 – A regra é de que
ninguém é obrigado a dar, muito menos se estabelecer um valor para o óbolo.
Então essa tradicional prática (circular o Tronco) oriunda da Maçonaria
francesa não depende de regulamentos de obediências. Ela é pratica espontânea e
universalmente aceita pelos Ritos que a praticam.
TRONCO – Do latim:
truncus – menciona o corpo humano, com exceção da cabeça e dos membros; o caule
de árvore; o cepo com olhais usado antigamente para os suplícios; origem de uma
família, de uma raça; parte de uma coluna, entre a base e o capitel.
Em Maçonaria o termo
“tronco” é usado para designar as contribuições financeiras dos Obreiros
durante os trabalhos de uma Loja e destinadas às obras assistenciais da
Oficina.
O termo “Tronco” é,
portanto de origem francesa, já que no idioma francês, a palavra tanto pode ser
tomada como tronco (do corpo humano, de uma árvore, etc.), bem como a “caixa de
esmolas”, já que é tradicional nas igrejas francesas a existência, na sua
entrada, de uma caixa para óbolos (donativos), identificada simplesmente pela
palavra “tronc”.
Nesse sentido é então
feito o uso do termo em Maçonaria como uma espécie de sinônimo de caixa de
esmolas.
O termo original era
mesmo de o “tronco da viúva”, já que por razões existenciais, primárias e
doutrinárias, simbolicamente a viúva é a Maçonaria e os Maçons os seus filhos
(a mãe Terra fica viúva do Sol, durante os três meses de inverno), assim o
título em Maçonaria seria mais correto do que o atual Tronco de Beneficência,
ou de Solidariedade, já que ambos exprimem redundância, pois se o mesmo é a
caixa de esmolas, evidentemente o seu produto é destinado à beneficência, ou às
obras de caridade.
A discrição expressa pelo
ato na Maçonaria (R.´.E.´.A.´.A.´.) quando o Hospitaleiro apresenta a bolsa
segura pelas duas mãos na altura do seu quadril esquerdo e o rosto virado para
o lado oposto, origina-se do costume praticado na França, principalmente entre
os séculos XVI e XVII quando permanecia junto à porta da igreja um membro da
confraria religiosa, cujo título era nominado como “hospitalário”.
Este, munido de uma
bolsa, ou saco preso a tiracolo da direita para a esquerda, oferecia o
recipiente aos fiéis que deixavam ao final a prática religiosa semanal. O ato
tinha por objetivo recolher ajuda para os pobres e necessitados.
Nessa oportunidade o
hospitalário objetivando uma atitude recatada abria e oferecia aos fiéis a
bolsa, ou saco com as duas mãos pelo lado esquerdo do seu corpo, ao mesmo tempo
em que dirigia o olhar para o sentido contrário. Essa postura (da discrição, do
recato e da sobriedade) viria influenciar diretamente o ato praticado
posteriormente nas Lojas Maçônicas pelo ofício do Hospitaleiro.
Alguns respeitáveis
historiadores atribuem o costume do “tronco” como haurido das antigas “Guildas”
que, em parte podem ser consideradas como precursoras da Maçonaria, sobretudo
com as suas normas de socorro mútuo, fraternidade e solidariedade. Nas Guildas
praticava-se o costume de se reunirem num recipiente as contribuições
destinadas às viúvas e aos órfãos.
“Guildas” associação que
agrupava, em certos países da Europa durante a Idade Média, indivíduos com
interesses comuns (negociantes, artesãos, artistas) e visava proporcionar
assistência e proteção aos seus membros
Na Maçonaria o Tronco
destinado à solidariedade é indubitavelmente a expressão lata e o símbolo de
como se deve praticar solidariedade de modo sigiloso e sem ostentação.
Assim, o giro do Tronco é
obrigatório e tem a sua suspensão quando é terminada a coleta em cada
sessão.
Apesar da obrigatoriedade
do procedimento, sabiamente o giro não permite que se saiba quem deu mais, ou
menos, ou quem nada pode dar. A prática individual da virtude da solidariedade
é concebida durante o giro com a mão direita fechada introduzida no recipiente
(bolsa, ou saco) logo abaixo da abertura. Em ato seguinte o contribuinte retira
a mão completamente aberta.
Em Maçonaria, sem
qualquer proselitismo religioso, ensina-se que o Tronco se inspira na moral dos
velhos princípios hebraicos e posteriormente sublimados pelas palavras do
Evangelho – “Tu, porém, ao dares a esmola, ignore a tua (mão) esquerda o que
faz a tua direita” (Mateus, 6,2-3).
No tocante aos recursos
que cada Maçom dispõe para a caridade, o ensinamento praticado desde os mais
remotos catecismos maçônicos (base dos rituais) inspira-se na oferta da pobre
viúva (a Viúva e o Gazofilácio), cuja contribuição “Jesus” considerou mais valiosa
e significativa do que todas as outras ali depositadas.
É oportuno salientar que
a prática da beneficência é divisa de toda a Maçonaria, independente do Rito
praticado ou da sua vertente originária (francesa ou inglesa).
Apenas o que pode se diferenciar
entre Ritos e Trabalhos maçônicos são os procedimentos ritualísticos para a
coleta.
É então imperativo se
compreender que se existem Ritos, ou Trabalhos (do Craft) que não possuam
passagens ritualísticas como o da circulação do Tronco, isso não significa em
hipótese alguma que nestes não exista a prática da solidariedade e caridade
maçônica.
A questão é apenas de
como se pratica a caridade, pois independente do modo ou artifício ela é
unânime em toda a Sublime Instituição.
Finalizando, espero ter
contribuído para o esclarecimento ao mesmo tempo em que ratifico, por razões
acima expostas, que não é possível uma Loja instituir taxas, doações, ou
limites monetários para a prática da beneficência.
A questão aqui não é a do
que está ou não escrito nos rituais ou nos gelados regulamentos dessa ou
daquela Obediência. A questão é a prática da Virtude, do calor humano, da
Solidariedade e da sensibilização exarada pelo Amor. Afinal o fundamento do
amor ao próximo também é um ideário maçônico e não carece de leis e
regulamentos para a sua afirmação, porém a Maçonaria ensina que não existe
Caridade sem Equidade.
O bem tem seu lugar no
universo mas para que ele triunfe de vez é preciso que você saia do seu casulo
e passe a praticar a beneficência.
VALDINEI PEREIRA GARCIA
A ∴R ∴L ∴S ∴ CAVALEIROS DE ATHENAS
Nº13