O USO RACIONAL DA PALAVRA EM LOJA



A linguagem é, sem dúvida, o mais antigo e significativo sistema simbólico que a humanidade já desenvolveu. Foi o surgimento da linguagem que possibilitou ao homem acumular e transmitir o conhecimento.

Dentre todas as formas de linguagem, a palavra nos possibilita apreender todas as coisas do mundo no restrito espaço de nossas mentes.

É das palavras que nos utilizamos para formular pensamentos e desenvolver raciocínios.

Aprender é acumular novos arranjos de palavras para traduzir novos conceitos.

Enfim: a palavra é o mais poderoso e democrático instrumento já desenvolvido pelo engenho humano, e, como tal está sujeita ao bom e ao mau uso.

O dom da oratória, ou seja, a habilidade no uso das palavras causa admiração e proporciona prestígio e satisfação pessoal a quem o possui.

por isso mesmo os seres humanos, quase em sua totalidade, gostam muito de falar, principalmente quando há platéia.

O desejo pelo reconhecimento e admiração de seus pares é uma característica humana muito útil e profícua, porém, não basta dominar a arte de bem falar, mas também é preciso domínio sobre o assunto abordado, adequação do tema ao momento, ao ambiente e à platéia.

Preferencialmente que o discurso contribua para o crescimento intelectual ou que tenha utilidade para os ouvintes.

Muito tem se debatido, inclusive sendo tema recorrente nos erac’s, sobre como manter aos membros em nossa ordem e como definir um papel atuante da sublime instituição na sociedade moderna.

De fato tal momento histórico da maçonaria implica em revermos nosso papel como instituição, bem como o que fazer para prender o maçom em seu compromisso semanal junto a sua loja.

O uso da palavra dentro de loja tem papel preponderante neste aspecto!

É com palavras, mais do que com sinais, que se comprova a qualidade de um bom maçom.

Em loja, a palavra circula para certificar que está tudo justo e perfeito em ambas as colunas.

Numa instituição que preza, sobretudo, a liberdade e a igualdade entre os povos, os ritos maçônicos propiciam a todos os seus membros o direito à palavra. 

Infelizmente nem sempre os irmãos observam o bom senso ao “dela fazer uso”.

Verificamos que as pessoas tendem a fazer uso da palavra em demasia, ainda mais quando os VVen.·. no ensejo de serem educados dispensam o sinal de ordem, permitindo que o irmão fale livremente.

Contra as sessões monopolizadas pelos faladores ou oradores de plantão, apresentamos o presente trabalho, com fito de demonstrar que a melhoria das lojas e de seus quadros e uma reposição institucional da nossa instituição passam pelo uso racional da palavra em loja.

Os chineses, em sua cultura milenar, deixaram vários provérbios, dentre os quais destacamos: “ha três coisas na vida que não tem volta: a flecha disparada, a oportunidade perdida e a palavra lançada”; encontramos também na tradição hinduísta uma liça que diz “se paga mais carma pela nossa língua do que pelo resto de nosso corpo inteiro”.

Ou seja, ambas as culturas reconhecidamente sábias, importa em reafirmar que a palavra deve ser usada com parcimônia e cautela. E assim, o maçom, que é pedra bruta em constante lapidação, deve aprender a manter sua boca, sua língua e sua fala sob retidão.

Não é cediço relembrar que quando ingressamos na sublime instituição, existe expressa recomendação que o iniciado aprendiz, ouça e não fale, pois ouvindo estará recebendo a instrução necessária para galgar sua evolução. Em algumas lojas e ritos tal proibição vem sendo mitigada, no entanto permanecer a lição do aprender a ouvir, ou o permanecer calado, como ouvinte.

Entendemos que realmente assiste razão aos rituais que prescrevem a permanência do aprendiz, e às vezes dos companheiros (como no rito Adhorinamita) em silêncios senão falando quando devidamente assistidos por um mestre.

O silencio não deve ser interpretado como uma proibição, mas como salienta Nicola Aslam, como um aprendizado a comedir o usa da palavra sem o filtro da razão, ou seja, se for falar, falar aquilo que é importante e essencial, não se perdendo em inutilidades ou besteiras.

Devemos relembrar que dois são os momentos definidos no ritual de aprendiz maçom do R.·. E.·. A.·. A.·. para o uso da palavra: quando se dá a palavra ao bem da ordem em geral e do quadro em particular, nas sessões econômicas e, a palavra sobre o ato realizado, quando em sessões especiais.

Ressalva-se o direito do V.·. M.·. em entregar a palavra sempre que for interesse da loja a discussão.

Os IIr.·. devem aprender que “no silêncio da matriz da loja maçônica desenvolve-se o aprendiz e se realiza o mestre”.

Ora muitos IIr.·. confundem estes momentos de oportuna manifestação e passam a transformar o tempo em uma interminável ladainha de elogios, que na verdade é responsabilidade do Or.·., ou a praticar uma ode a própria inteligência, muitas vezes suposta, fazendo os IIr.·. suportarem um discurso vazio e inaproveitoso.

Detenhamo-nos um pouco na posição em que se deve falar em Loj.·. aberta, ou seja, à ordem, executando o Sin.·. Gut.·. (em loja de aprendiz).

Além de todo simbolismo referente ao sinal, quanto à representação do juramento maçônico a que nos submetemos, inteligentemente, tal sinal cansa.

Suscitamos os irmãos a tentarem falar mais que dois ou três minutos em executando o sinal de ordem. O sinal implica em retidão para que aqueles que se apresentam à assembléia sejam comedidos, pois implicará em transtorno físico seu abuso.

Ora uma das formas de impor o uso racional da palavra em loja é a não dispensa de se falar à ordem, por quem quer que seja, sendo a atitude gentil do V.·. em dispensar o uso do sinal uma atitude temerária que pode liberar o Ir.·. a falar demais.

Em um segundo momento, encontramos irmãos que ciosos de passar conhecimento aos demais, transformam a palavra ao bem da ordem em aula de historia, física, astronomia, etc. Na verdade, poderia se evitar este tipo de assunto despropositado, organizando estes irmãos de grande conhecimento, a proferirem palestra no tempo de estudos, que seria o uso adequado de tal quarto de hora.

Verificamos que as lojas, mesmo as que possuem comissão de admissão e graus, usam o tempo de estudos para leitura de trabalhos repetitivos, sobre ritualística e simbolismo.

Não que o estudo destes não seja necessário, todavia, poderia ser realizado o estudo e produzido o trabalho escrito, submetido apenas aos irmãos componentes da comissão de admissão e graus, em vez da repetição das leituras, utilizarem-se destes quartos de hora para passagem de conhecimentos mais interessantes e abrangentes sobre o cotidiano, ciência, política e a natureza das coisas.

Assim transportaríamos os pensadores, que discursam ao final, para o quarto de hora, no qual seria sobremaneira mais aproveitado.

O manual de ritualística maçônica brilhantemente define o escopo da “palavra a bem da ordem em geral do quadro em particular”:

“Este é o momento em que os IIr.·. fazem uso da palavra, referente a assuntos que digam respeito a ordem maçônica ou do quadro da loja no seu particular a exemplo de quando o Chanc.·., comunica as efemérides.” (manual de dinâmica ritualística do 1º grau R.·.E.·.A.·.A.·.)

De outra banda, observamos que quando tratamos da palavra sobre o ato realizado, também há equivoco dos irmãos que erroneamente a tratam como palavra a bem da ordem.

O nome é excludente ”palavra sobre o ato realizado”, ou seja, apenas sobre aquela sessão desenvolvida. Entretanto, verificamos um sem fim de: “sessão brilhantemente conduzida”, “belíssima sessão”, dentre outros. Nada se acrescentou ao acontecido até ali!

Não se pretende aqui coibir toda e qualquer manifestação, mas buscamos exaltar o bom senso.

As sessões devem ser realizadas para aumentar a irmandade do quadro da loja e da maçonaria universal, bem como enriquecer os obreiros de conhecimento, tornando-os esclarecidos e polidos para ocuparem o edifício social.

Não nos esqueçamos que a ordem repudia a vaidade, pois esta é aresta que se desbasta desde a iniciação, quando despidos de todos os metais, entramos como simples pessoas em loja. a palavra, quando bem usada exalta o individuo, e alguns irmãos embebidos desta exaltação passam a usar da palavra para saciar sua vaidade, de modo que desperdiça um tempo importante para a loja crescer em outros aspectos.

Ora como já dito acima, existem irmãos que tecem odes a si mesmos, ou tentam causar boa impressão através de sua retórica e oratória.

Chamamos atenção para que os irmãos cuidem com esta tentação, impedindo que a vaidade, despida na iniciação, volte a se instalar em nossos corações no dia a dia da loja.

Não nos esqueçamos da importante lição do mestre Jesus que num dia de sábado ensinou que “o mal não é o que entra pela boca do homem, mas o que sai de seu coração”.

Uma seção em que não se permite discursos vazios, usando o V.·. M.·. o malhete de forma consciente, uma ordem do dia devidamente organizada, e o bom senso dos irmãos quanto ao uso da palavra quando permitido pelo ritual, é utilizar racionalmente a palavra, sem que haja qualquer tolhimento aos irmãos.

Gostaríamos que se levasse como lição deste pequeno excerto: é direito inalienável de cada indivíduo e de cada irmão a livre manifestação.


Todavia, isto não pode ser causa nem de aborrecimento aos demais nem de imposição de idéias. Um bom discurso é aquele que incute a ideia pelo seu interesse despertado, jamais pelo cansaço da repetição enfadonha.

Tornemos nossas sessões mais inteligentes e menos faladas!

Autores:
Gabriel Bardal C.'. M.'.
Guilherme João Müller C.'. M.'.
Juliano Alves da Rocha Loures A.'. M.'.
Kleber Gil Zeca A.'. M.'.
Marco Antonio Langer A.'. M.'.
Ricardo Key Sakaguti Watanabe A.'. M.'.


Referências Bibliográficas
Ir.·. Ismael Aquiles Salinas, artigo: O silêncio. site: http://www.unidad-servicio-uruguay.org/osiencio.htm

IIr.·. Antonio Lira Bonfim, Antonio Neto de Lima, Francisco Moézio, Gleidivam Palácio Bezerra e José Cardoso Neto: artigo: Fraternidade entre irmãos. existe? Como melhorar?: Maringá: Revista “a Trolha”, ano XXXIV – nº218 – dezembro/2004, págs. 19/21.

Aslan, Nicola. Comentários ao ritual do aprendiz maçom: vade-mecum iniciático. Maringá: Editora Maçônica “a Trolha”. 2ª edição 2003

Boucher,  Jules. A Simbólica Maçônica: Segundo as regras da simbólica esotérica e tradicional. São Paulo: editora Pensamento

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