Nosso
Rito pode, sem dúvida nenhuma, orgulhar-se de seu papel de vanguarda junto à
plêiade de Ritos praticados pela Franco-Maçonaria mundial.
De
fato, grande parte dos feitos heróicos encabeçados por maçons ou dos movimentos
sociais nascidos em lojas maçônicas, tiveram grande envolvimento com o ideário
preconizado por nosso rito.
O
Rito Moderno, desde sua criação oficial no ano de 1761, sempre se caracterizou
por um pensamento progressista, uma filosofia coerente, uma lógica arrebatadora
e, principalmente, pela defesa corajosa e pujante da Liberdade Absoluta de
Consciência.
Caberia
perguntar: onde o Rito Moderno abeberou-se para formar seu “arsenal explosivo”
de idéias?
A
resposta para essa pergunta nos faz retornar ao século XVII, época do genial
Francis Bacon, chamado com justiça de pai do enciclopedismo moderno.
Bacon,
além de estadista, foi o primeiro exemplo notável da tendência empirista do
pensamento inglês e, ainda mais significativamente, foi o profeta e protetor da
revolução científica nascente.
Bacon
foi o primeiro autor a tentar identificar os métodos adequados para uma ciência
bem sucedida, uma vez que uma ciência cujas investigações se dão
desorganizadamente e feitas por um excêntrico qualquer, não podem trazer
resultados significativos.
Bacon
assume em “New Atlantis” (1627) a tarefa de apelo e encorajamento à colaboração
dos sábios, defendendo que é ao Estado que compete criar as instituições de
investigação e ensino de que a ciência moderna necessita.
Para
Bacon, a prosperidade e o bem estar da comunidade dependem dos esforços
dirigidos para o progresso da pesquisa científica, uma ideia completamente nova
para a época. Na obra supracitada, Bacon defende a ideia que é melhor várias
pessoas trabalhando em conjunto do que uma isoladamente, para a prática das
ciências e o desenvolvimento da sociedade como um todo.
A
“Casa de Salomão”, instituição científica utópica descrita em seu “New
Atlantis”, clama pela aplicação da ciência e a fundação de uma academia de
cientistas. Notemos aí a semelhança da simbologia aplicada por Bacon e a
simbologia maçônica. Nossas lojas devem estar baseadas no Templo de Salomão,
mas não o da antiguidade obscurantista e crédula, e sim do preconizado por
Bacon, centro de irradiação da luz, da razão e da ciência para o mundo.
A
idéia baconiana de uma “república dos sábios” figurada pela simbólica “ilha de
Bensalém, inspirará o movimento nascente de constituição das academias, através
de Leibniz e Oldenburg (1615-1677), primeiro secretário da Royal Society e
grande admirador de Bacon.
Muitos
outros grandes vultos seguiram os passos de Bacon e a abertura da “via
racional” para o progresso da humanidade deu a sólida estrutura para a formação
filosófica do Rito Moderno. Vejamos brevemente alguns deles.
Pierre
Bayle (1647 – 1706), filósofo francês, foi o precursor do ceticismo de Hume,
refutou a doutrina de Spinoza a respeito da criação. A importância de Bayle se encontra
na enorme influência que seus escritos tiveram, inclusive sobre os
enciclopedistas que, sob muitos aspectos, o imitaram.
Bayle
lançou a idéia de que nenhum dogma é solidamente fundamentado na razão,
declarando a inutilidade completa das disputas teológicas em que se envolviam
calvinistas, jansenistas, molinistas sobre a graça, o livre-arbítrio etc.
Bayle, apesar de calvinista, defendia a tolerância religiosa e o respeito à
consciência individual.
John
Locke (1632-1704) foi filósofo, político e médico. Destacou-se tanto com sua
filosofia política, quanto com sua teoria do conhecimento, estabelecendo os
limites do inteligível aos humanos.
Locke,
ao contrário de Descartes que considerava que o conhecimento, originava-se de
um conjunto de idéias claras e distintas, inatas em nossa mente, considerava
que a filosofia deveria ser erigida sobre a razão e sobre o senso comum e não
sobre especulações metafísicas, uma vez que o conhecimento não pode ser
adquirido antes da experiência, esta a fonte da razão.
Além
disso, Locke advogava uma ampla tolerância religiosa e filosófica, dando à
consciência o direito de revoltar-se contra qualquer sistema opressor e
intolerante.
David
Hume (1711-1777), filósofo escocês, nascido em Edimburgo, irmão maçom iniciado
na “St. Mary’s Chapel Lodge” iniciou seus estudos na área jurídica, mas
logo se apaixonou pela filosofia. Hume é um empirista radical, o naturalista
mais influente e completo da filosofia moderna, além de uma figura essencial do
iluminismo.
A
ética de Hume vê o pensamento moral como a expressão de sentimentos que sofrem
uma evolução devido à nossa necessidade de cooperação social. Assim, a moral
não seria originada em uma “lei divina”, mas sim na necessidade humana de
conviver em sociedade.
Hume
encara a ciência como a busca pela descoberta de princípios simples que nos
permitiriam discernir a ordem em meio ao caos. Assim, para Hume os
acontecimentos naturais são em si mesmos, “irregulares e separados”, e a arte
científica consiste em detectar os padrões em que se inserem.
Bernard
de Mandeville (1670-1733), filósofo holandês, de expressão inglesa, também
empirista, fundamentou a moral nas tendências do homem, e não sobre um
raciocínio filosófico-metafísico. Também não fundamentou a sociedade, seu
progresso ou declínio nos princípios gerais morais de valor absoluto, mas em
fatores, experimentalmente detectados, dos interesses e similares.
Charles
Louis de Secondat, barão de Montesquieu (1689-1755), nascido nobre, iniciado na
Maçonaria no dia 12 de maio de 1730 na Horn Tavern Lodge, desenvolveu uma
profunda admiração pela Revolução Inglesa de 1688 e pelos ideais
constitucionalistas de tolerância e liberdade a ela associados.
Sua
obra prima “O Espírito das Leis” (1748) introduziu um traço positivista na
discussão das leis das nações, que era até então terreno para vários tipos de
deduções teológicas e racionalistas. Montesquieu atribui o sistema legal dos
diferentes países a acasos externos, como a geografia e o comércio.
Foi
o maior responsável pela teoria da tripartição dos poderes do Estado
(Legislativo, Executivo e Judiciário) e o maior mestre em Direito
Constitucional que a humanidade já viu.
Adam
Smith (1723-1790), filósofo e economista escocês, membro da loja maçônica “St.
Mary Chapel” foi influenciado pelo empirismo moral de Hume, apoiando-se na
experiência para estabelecer uma ética. Admitindo a liberdade, formulou os
conceitos de liberalismo político e econômico. Defendia que o melhor meio de um
Estado desenvolver a economia é deixá-la desenvolver-se livremente de acordo
com suas leis naturais, com um mínimo de fiscalidade e interferência.
Jeremy
Bentham (1748-1832), pensador, jurisconsulto e economista inglês, nascido em
Londres. É considerado um dos últimos representantes da Escola Moralista
Inglesa. Defendeu a moral utilitarista, em que a utilidade do indivíduo e da
sociedade são o fundamento da norma moral. A utilidade dos objetos é definida
pela sua capacidade de produzir prazer e de evitar a dor, ou o infortúnio. A
sociedade ideal é a que permite a felicidade do indivíduo sem comprometer o bem
estar coletivo. Suas idéias terão continuidade com James Mill e Stuart Mill.
John
Tolland (1670-1722), filósofo e Teólogo, filólogo e político da Irlanda. Fez
estudos filosóficos em Glasgow, Edimburgo, concluindo em Leiden, Holanda.
Seu
livro mais famoso “Christianity not mysterious” (1696) foi mandado queimar pelo
Parlamento Irlandês e colocado fora da lei na Inglaterra.
Tolland
defendeu uma religião natural, sem sobrenaturalismo. Foi um dos mais
representativos deístas e o primeiro a ser chamado “livre pensador”. Negou a
autenticidade da revelação. Tolland foi, juntamente com Shaftesbury, um dos
principais artífices da transição do deísmo para o agnosticismo.
Anthony
Ashley Cooper, terceiro conde de Shaftesbury (1671-1713), filósofo inglês, teve
a John Locke como preceptor.
Shaftesbury
foi um dos principais representantes da moral do sentimento, foi sempre um
otimista metafísico, mas assim como Bayle, se revelou cético frente às
religiões sobrenaturalistas, limitando-se à religião racional de deísmo.
Voltaire,
pseudônimo de François-Marie Arouet(1694-1778), foi um filósofo empirista,
deísta, liberal que cedo se tornou um livre pensador. Permaneceu três anos na
Inglaterra e lá absorveu a filosofia empirista inglesa, que difundiu a seguir
na França, onde até então predominavam várias formas de racionalismo
cartesiano. É sua a frase que ainda soa atual: “para um só filósofo ainda há
hoje cem fanáticos”.
Meus
irmãos, não querendo me estender em demasia, finalizo por aqui esse mostruário
de celebridades intelectuais que deram contribuições essenciais ao nosso rito.
Se houvesse tempo, teríamos que citar toda a nata intelectual da Revolução
Francesa, todos os grandes cientistas desde Galileu, Copérnico, Giordano Bruno,
Newton, Tycho até os atuais como Stephen Hawking, Feynman, Planck, Heinsenberg,
entre tantos outros que ainda levam corajosamente o estandarte da ciência e da
razão em um mundo, apesar de toda a evolução, ainda estranhamente assombrado
pelos demônios do passado.
Nosso
rito não precisa de mistificações para ser grandioso, não precisa de
invencionices e enxertos para ser especial e não precisa de crendices para
atestar sua mais pura essência maçônica. O mais maçônico entre os maçônicos.
Nosso
rito só precisa de homens compenetrados de seus ideais, homens dispostos a
muito mais do que a mera repetição mecânica de fórmulas rituais. Nosso rito
precisa dos espíritos mais ousados. Os mais genuinamente maçons entre os
maçons. (grifo meu)
André
Otávio Assis Muniz
Bibliografia
GOTTSCHALL,
Carlos Antonio Mascia. Do Mito ao Pensamento Científico, A busca da
realidade, de Tales a Einstein. 2ª Edição. Porto Alegre: Atheneu, 2004
BLACKBURN,
Simon. Dicionário Oxford de Filosofia.Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997
DIVERSOS.Enciclopédia
Simpósio de Filosofia.http://www.cfh.ufsc.br/~simpozio
RUSSEL,Bertrand.História
do Pensamento Ocidental.Rio de Janeiro: Ediouro,2001
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