MARY´S CHAPEL, A LOJA MAÇÔNICA MAIS ANTIGA DO MUNDO


Quem passa em Hill Street junto à porta n.º 19, não deixa de reparar no invulgar do seu aspecto, desde as colunas jônicas laterais até um misterioso emblema gravado por cima da entrada, que tem sido motivo das mais desencontradas leituras por aqueles que desconhecem estar diante da Mary´s Chapel n.º 1 de Edimburgo, a mais antiga Loja Maçônica ativa do Mundo.

Esse emblema esculpido em pedra sobre a entrada principal portando a data 1893, nasceu de um projeto apresentado pelo Venerável Mestre Dr. Dickson no Lyric Club em 6 de Outubro desse ano e que se destinava a ser colocada aqui. Consiste num hexalfa dentro de um círculo tendo ao centro a letra G resplandecente.

O hexalfa ou estrela de seis pontas com dois triângulos opostos entrelaçados circunscritos pelo círculo designa a Harmonia Universal, a Alma Universal alentada pelo G raiado indicativo de Geômetra, o Grande Arquiteto do Universo, portanto, God ou Deus, que como Espírito (triângulo vertido) elabora a Matéria (triângulo vertido), ambos os princípios não prescindido um do outro (triângulos entrelaçados) para que a Grande Obra do Universo (a sua evolução e expansão incluindo todos os seres viventes dele) seja justa e perfeita, o que se assinala no círculo.

Em linguagem Maçônica, isso quer dizer que os trabalhos de Loja possuem retidão e ordem. Em linguagem hermética ou segundo os princípios de Hermes, o Trismegisto, significa “o que está em cima é como o que está em baixo, e vice-versa, para a realização da Grande Obra”.

Nesse emblema aparecem também muitas marcas em forma de runas pictas (isto é, a dos primitivos habitantes da Escócia, os pictos, que estabeleceram o seu próprio reino) e símbolos de graus maçônicos que vêm a designar em cifra, correspondendo à marca Maçônica pessoal, os nomes dos Oficiais da Grande Loja da Escócia e da Loja de Edimburgo nesse ano de 1893 da qual esta Loja de Mary´s Chapel faz parte como número 1.
Com efeito, entre os triângulos e o círculo aparece a sigla LEMCNºI, “Loja (de) Edimburgo Mary´s Chapel n.º 1”, e dentro dos triângulos 12 símbolos correspondentes aos 12 Oficiais desta Loja, enquanto os 4 símbolos fora do círculo designam os 4 Oficiais da Grande Loja presentes quando se aprovou esta peça artística.
Como exemplo único evitando indiscrições, repara-se no H com o Sol Levante por cima: é a marca pessoal de George Dickson, Venerável Mestre desta Loja de Edimburgo em 1893.
Leva a designação atual de Loja de Edimburgo porque Mary´s Chapel (Capela de Maria), onde a Loja funcionou originalmente, não existe mais. Ela foi fundada e consagrada à Virgem Maria, no centro de Niddry´s Wynd, por Elizabeth, condessa de Ross (Escócia), em 31 de Dezembro de 1504, sendo confirmada por Carta do rei James IV em 1 de Janeiro de 1505. A capela foi demolida em 1787 para a construção de uma ponte no sul da cidade.

Esta Loja é a número 1 na lista da Grande Loja da Escócia (estabelecida em 30 de Novembro de 1736) por lhe ser muito anterior possuindo a ata de uma sessão Maçônica datada de 31 de Julho de 1599, constituindo o documento maçônico mais antigo do mundo e num tempo de transição entre a Maçonaria Operativa e a Maçonaria Especulativa, posto à existência de esta Ordem poder-se repartir por três períodos distintos:
1.º) Maçonaria Primitiva (terminada com os colégios de artífices romanos, osCollegia Fabrorum);
2.º) Maçonaria Operativa (terminada em 1523); Maçonaria Especulativa (iniciada em 1717). Por esse motivo, foi nesta Loja de Mary´s Chapel que William Shaw (c. 1550-1602), Mestre de Obra do James VI da Escócia e Vigilante Geral do Ofício de Construtor, apresentou os seus famosos Estatutos Shaw datados de 28 de Dezembro de 1598, apercebendo-se pelo texto que ele além de pretender regular sob sanções a Arte Real dos artífices, procurava estabelecer uma separação entre os maçons operativos e os cowan, isto é, profanos.

O fato de aqui redigir-se uma ata Maçônica em 1599, pressupõe que a Loja é anterior a esse ano e estaria organizada e ativa desde data desconhecida. Seja como for, esta também foi a primeira Loja Maçônica antes de 1717 a admitir membros que não fossem construtores: Sir Thomas Boswell, Escudeiro de Auschinleck, Escócia, foi nomeado Inspetor de Loja em 1600, o que constitui a primeira informação relativa a um elemento não profissional recebido em Loja de Construtores Livres.

Outros autores dão o nome como John Boswell, Lord de Auschinleck, admitido como maçom aceito nesta Loja. Este John Boswell é antecessor de James Boswell, que foi Delegado do Grão-Mestre da Escócia entre 1776 e 1778.

As atas de 1641 desta Loja Mary´s Chapel igualmente indicam que maçons especulativos foram iniciados nela. Nesse ano foram iniciados Robert Moray (1609-1673), general do Exército Escocês e filósofo naturalista, Henry Mainwaring (1587-1653), coronel do Exército Escocês, e Elias Ashmole (1617-1692), sábio astrólogo e alquimista. 

Reconheceu-se aos três novos membros o título de maçons, mas como não gozavam dos privilégios dos autênticos obreiros, pois o cargo era somente honorário, foram denominados como accepted masons.

Ainda sobre Robert Moray, Roger Dache, do Institut Maçonnique de France, informa que a quando da sua iniciação Moray recebeu como marca Maçônica pessoal o pentagrama ou estrela de cinco pontas, muito comum na tradição dos antigos construtores, com a qual se identificou bastante e a utilizou nas assinaturas de diversos documentos.

Ainda sobre Elias Ashmole, G. Findel, na sua História da Maçonaria, diz que há uma confusão nas datas sobre a sua iniciação Maçônica: Ashmole terá sido iniciado em 16 de Outubro de 1646 em uma Loja de Warrington, Inglaterra, mas o fato é que o próprio escreve no seu Diário ter sido iniciado em Edimburgo em 8 de Junho de 1641.

Em 1720, o artista italiano Giovanni Francesco Barbieri apresentou na Loja Mary´s Chapel um trabalho lavrado em reproduzindo com muita fidelidade a Lenda de Hiram, ou seja, o fenício Hiram Abiff que era o chefe dos construtores do primitivo Templo de Salomão, em Jerusalém.

Sabendo-se que essa Lenda foi incorporada ao ritualismo maçônico cerca de 1725, conjectura-se que Giovanni possa ter sido um dos maçons aceitos da época e que a Lenda já era parte da ritualística Maçônica em Mary´s Chapeldesde muito antes.

Há ainda o registo da visita de Jean-Theophile Désaguliers (1683-1744) à Loja Mary´s Chapel em 1721, visita estranha do filósofo francês Vice-Grão-Mestre (em 1723 e 1725) da recém-formada Grande Loja de Inglaterra. 

Os maçons escoceses duvidaram do seu estatuto e sujeitaram-no a rigoroso inquérito em 24 de Agosto de 1721, até finalmente acreditarem nele e aceitarem-no com as regalias do cargo. Seja como for, não parece que as pretensões de Désaguliers tenham obtido o êxito que procurava, talvez por motivos de recusa de sujeição dos maçons escoceses aos maçons ingleses, o que recambia para a antiga questão independentista.

Foram ainda iniciados nesta Loja de Edimburgo o príncipe de Gales, depois rei Eduardo VII (1841-1910), e o rei Eduardo VIII (1894-1972), que abdicaria do trono britânico para poder casar com a americana Bessie Wallis Warfield.

A caneta com que assinaram o documento da sua iniciação é conservada no museu desta Loja, que o visitante pode ver entre outros objetos relacionados com a longa história dos maçons de Mary´s Chapel.

Aqui fica, em síntese simplificada para o leitor não familiarizado com estes assuntos, a história da Lodge of Edinburgh n.º 1 (Mary´s Chapel), aliás, desconhecida de muitos maçons apesar de ser a mais antiga da Escócia e do Mundo.

Por Vitor Manoel Adrião 


Fonte: Lusophia

BOOZ ou BOAZ?


As discussões bíblicas sempre ocuparam um lugar de destaque nas minhas elucubrações intelectuais. Possuo a Bíblia em mais de 15 línguas, do hebraico ao coreano, passando pelo esperanto e pelo afrikaner.

Há uns 10 anos atrás, depois de velho, comecei a estudar hebraico para tentar ler no original o Antigo Testamento.

Sempre me intrigou a divergência sobre a palavra Booz ou Boaz, citada várias vezes em inúmeros livros da Bíblia. 25 no Antigo Testamento e 2 no Novo Testamento. Pela minha Concordância Bíblica (Sociedade Bíblica do Brasil, Brasília: 1975, pg. 107) são 21 citações em Rute, uma em 1 Reis, 2 em Primeiro Crônicas, 1 em Segundo Crônicas, 1 em Mateus e 1 em Lucas. Para efeitos de simplificação vou considerar somente Rute (Rt 2,1) e o nome de um par de colunas que se encontrava na frente do templo de Salomão (1 Rs 7,21).

O livro de Rute tem como subtítulo Rute nos Campos de Booz (ou Boaz dependendo da versão): “Noemi tinha um parente por parte de seu marido, pessoa importante, do clã de Elimelec, cujo nome era Booz”, Bíblia de Jerusalém, São Paulo: Ed. Paulinas, 1980, pg. 415. Em latim da Vulgata: “erat autem vir Helimelech consanguineus homo potens et magnarum opum nomine Booz”, Bíblia Sacra – Iuxta Vulgatam Versionem, Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1983, pg. 359.

O livro de 1 Reis: “Ergueu as colunas diante do pórtico do santuário; ergueu a coluna do lado direito, à qual deu o nome de Jaquin; ergueu a coluna da esquerda e chamou Booz (ou Boaz)”, Bíblia de Jerusalém, São Paulo: Ed. Paulinas, 1980, pg. 518. Em latim da Vulgata: “et statiot duas columnas in porticum in porticum templi cunque statuisset columnam dexteram vocavit nomen eius Iachin similiter erexit columnam secundam et vocavit nomen eius Booz”, Bíblia Sacra – Iuxta Vulgatam Versionem, Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1983, pg. 468.

Depois de uns 4 meses de aula perguntei à minha professora Zahava de hebraico o que era בֹּעַז (leia-se obviamente da esquerda para a direita com os sinais massoréticos criados pelos estudiosos judeus a partir do século VIIº d. C. para ajudar a grafar as informações transmitidas oralmente) e ela singelamente me disse: Boaz.

Ai foi a minha vez de novamente perguntar: o que significa Booz? Ela espantada: o que é isso? Retruquei que era uma forma alternativa para a palavra Boaz. Ela riu e me disse: Isso não é hebraico, pois nele não existem vogais [somente os sinais massoréticos] e muito menos dobra de vogais, a não ser em nomes próprios ou estrangeirismos.

Resolvida a questão com a dona da língua, passei a tentar entender por que o Booz (corrupção da palavra Boaz) penetrou no Ocidente. Entrei em contato com a Bíblia de Jerusalém, reputada de ter os maiores exegetas e conhecedores da Bíblia no mundo, em Paris, pois nos seus textos bíblicos sempre empregou a palavra Booz.

Encontrei um especialista de erudição beneditina e lhe perguntei: qual é o certo Boaz ou Booz? Respondeu-me serenamente: claro que é Boaz. Retruquei na hora: por que a Bíblia de Jerusalém emprega a palavra errada ou corrompida: Booz? Ao que candidamente me respondeu: dado que São Jerônimo traduziu a Bíblia para o latim como Booz, a Igreja manteve a tradição até os dias atuais...

Como é de conhecimento geral, São Jerônimo terminou a versão denominada Vulgada da Bíblia, em latim, traduzido do grego e do hebraico, no ano 405 d.C. Era para os cristãos desde então, a versão universal da Bíblia até a Reforma quando Lutero traduziu a Bíblia para o alemão, rompendo com o monopólio católico e da língua latina.

A tradução de Lutero para os dois textos acima já emprega o Boaz.
Veja-se o título do capítulo dois de Rute: “Rut liest Ähren auf dem Feld des Boaz” e a citação: “Es war aber ein Mann, ein Verwandter des Mannes der Noomi, von dem Geschlecht Elimelechs, mit Namen Boaz; der war ein angesehener Mann”, Die Bibel nach Martin Luthers übersetzung, Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1985, pg. 281.

O texto de 1 Rs 7,21 é: “Und er richtete die Säulen auf vor der Vorhalle des Tempels; die er zur rechten Hand setzte, nannte er Jachin, und die er zur linken Hand setzte, nannte er Boas“, Die Bibel nach Martin Luthers übersetzung, Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1985, pg. 359.

A versão inglesa do Rei James (Kings James Version – KJV) mantém o Boaz já que os protestantes não tinham por que manter a tradição de São Jerônimo. O capítulo de Rute apresenta no título a seguinte versão: “Ruth Works in the Field of Boaz” e o versículo é o seguinte: “And Naomi had a kinsman of her husband's, a mighty man of wealth, of the family of Elimelech; and his name was Boaz”, Bible KJV.

O versículo de 1 Reis 7,21 é o seguinte: “And he set up the pillars in the porch of the temple: and he set up the right pillar, and called the name thereof Jachin: and he set up the left pillar, and he called the name thereof Boaz”, Bible KJV.

A versão portuguesa da Biblia traduzido por João Ferreira de Almeida reza: “Tinha Noemi um parente de seu marido, senhor de muitos bens, da família de Elimeleque; o qual se chamava Boaz”, Bíblia, Sociedade Bíblica do Brasil, Brasília, 1969, pg. 288.

O versículo de Reis é o seguinte: “Depois levantou as colunas no pórtico do templo, tendo levantado a coluna direita, chamou-lhe Jaquim; e tendo levantado a coluna esquerda, chamou-lhe  Boaz”, Bíblia, Sociedade Bíblica do Brasil, Brasília, 1969, pg. 365.

Conclusão: o correto é a palavra Boaz, visto que pelo exposto, a vertente católica da Bíblia usa o Booz numa homenagem tradicional a São Jerônimo; os protestantes, principalmente os anglo-saxônicos e germânicos por não terem a carga da tradição, usam a palavra certa.

EPÍLOGO MAÇÔNICO
Em época de globalização já é tempo da maçonaria brasileira ver o que acontece no resto do mundo em relação às colunas do Templo de Salomão: Boaz e Jakin. Não há mais desculpas de erros elementares depois da Internet.

O primeiro ritual maçônico publicado no mundo de forma clandestina que causou comoção foi Masonry Dissected de Samuel Prichard em 1730. Na página 18 desse repositório de informações do século XVIII está lá a palavra em letra maiúscula: BOAZ.

Ainda no século XVIII, os maçons ingleses, com o clássico Three Distinct Knocks (Três Batidas Distintas) de 1760, já diziam: “the senior and junior Warden have each of them a Column in their Hand, about Twenty Inches long, which represents the two Columns of the Porch at Solomon´s Temple. Boaz and Jachin”.

Dois anos depois em 1762, o best seller que desvendou os mistérios dos modernos trazia no seu título, em letras garrafais, o recado: Jakin and Boaz.

Em seguida, os franceses, já agora no século XIX também atacam de Boaz. Possuo uma série de Thuileurs (Rituais) franceses do século XVIII e XIX, sendo que o mais famoso e raro é o de Delaunaye que apresenta diversas palavras em hebraico com o nome corrompido e o nome retificado:

Noms corrompus Noms rectifiés Leur signification BOOZ BOHAZ en Force.

Os ingleses desconhecem o Booz que é uma invenção, como se viu acima da Igreja Católica. Desconheço algum livro anglo-saxônico que empregue a palavra Booz. 

Agora em tempos mais recente, o clássico Bernard E. Jones, uma das maiores autoridades inglesas em maçonaria afirma que: “the pillar was named after Boaz...”.

Os norte-americanos, a começar pelo controverso Albert Pike, também desconhecem o que é Booz. O erudito Pike no seu clássico Moral and Dogma pontifica: ”the word Boaz is בעז ".

Ainda nos norte-americanos, suas duas melhores enciclopédias sobre assuntos maçônicos desconhecem a palavra Booz. Robert Mackey na sua Enciclopédia de Maçonaria, no verbete Boaz (inexiste o Booz) declara que: “Boaz. The name of the left hand pillar that stood at the porch of King Solomon´s Temple”. Henry Wilson Coil no seu afamado Coil´s Masonic Encyclopedia no verbete Boaz que faz remissão aos Pillars and Columns apresenta o seguinte verbete: The Two Pilllars or Columns, Jachin and Boaz, with their Pannels.

A revista Philalethes da Sociedade Philalethes nos EUA fundada em 1928 e que congrega os estudiosos da maçonaria norte-americana também só usa Boaz conforme se observa no artigo sobre “The Great Pillar” do Ir. Harry L. Haywood: “the names 'jachin' and 'boaz' by which the two pillars at Solomon's Temple were known, were in each instance a Hebrew form of those old Semitic root-terms. The Hebrews had their own language, religion, culture, but they all had come to them by inheritance, to a large extent, from the older peoples of the Near East, just as our own language, religion, and culture, thought it is peculiarly our own, came to us from Europe and Britain”.

Harry Carr, o José Castellani britânico, apresenta várias citações com Boaz e nenhuma com Booz.

A maior e mais antiga Loja de Pesquisas Maçônicas do mundo, a Quatuor Coronati de Londres publicou até hoje 118 volumes dos seus Ars Quatuor Coronatorum, iniciados em 1886. Compulsando o índice geral de minha coleção completa anotei mais de 20 citações sobre Boaz e nenhuma sobre Booz.

E para terminar, os modernos acadêmicos maçons franceses também atacam de Boaz. Daniel Ligou no seu Dictionnaire de la Franc-Maçonnerie no verbete Boaz: “Seconde colonne du Temple que l´on traduit généralement par ‘dans la force’. Sur le symbolisme general.Cf; Colomne, Temple”.

Todas as Bíblias maçônicas nos EUA, que são versões do Rei James (KJV), constam a palavra Boaz.


Autor Desconhecido

A CADEIA DE UNIÃO


Em todas as reuniões das Lojas que trabalham no Rito Escocês Antigo e Aceito (mas não só neste rito: por exemplo, também no Rito de Schröder) se reserva um momento para que todos os maçons presentes formem a Cadeia de União.

É um dos momentos marcantes da reunião: ao formarem e integrarem a Cadeia de União, os maçons relembram que cada um individualmente faz parte de um Conjunto. Conjunto que é mais forte do que a mera soma das forças individuais, porque a todas estas se agrega a força da união de todos.

A Cadeia de União simboliza e demonstra ainda o princípio fundamental da plena Igualdade dos maçons. Todos os presentes, desde aquele que dirige a Loja ao mais recente Aprendiz se unem, na mesma exata e igual postura, cada um mero elo de uma cadeia. Não há, naquele momento, distinção alguma, não se atende a graus, a funções, a antiguidades. Todos iguais em comunhão!

É um momento de reflexão, de solidariedade, de união, em que cada um sente que contribui para o grupo - mas também sente que beneficia da força comum do grupo.

A Cadeia de União forma-se perto do final dos trabalhos, já depois de finalizados os debates da ordem do dia. Por muito acesos que tenham sido esses debates, por muito díspares que tenham sido as opiniões formuladas, por muito distantes que porventura estivessem as concepções confrontadas, o debate já terminou, a decisão já foi tomada, ora uma bissetriz traçada com as contribuições de todos, ora uma opção que não será a de todos.

Mas todos contribuíram, leal e esforçadamente, para a assunção da decisão, contra a qual nenhum militará. Todos se reúnem na cadeia de União, onde não há lugar a desacordos, pontos de vista ou discordâncias: cada um assume a sua função de elo de uma cadeia, igual a todos os outros elos, solidário com todos os outros elos. De muitos, e diferentes, se faz um, o grupo, o conjunto.

A Cadeia de União é a expressão da rara capacidade que os maçons adquirem e praticam: conformar e utilizar a diversidade para o bem e o objetivo comum. Todos são diferentes, todos colocam as suas diferenças em prol do grupo, todos são ali iguais.

A Cadeia de União é a prática sempre repetida, que, em iguais proporções, reforça o elemento "cadeia" (cada um é um elo, uma peça de um conjunto) e "união" (todos juntos, todos em comum, solidários).

A Cadeia de União é uma prática pela qual se forma, reforça e assinala a coesão do grupo. Nos momentos em que o grupo assim se une, desvanecem-se os individuais egos, avulta o coletivo, na busca de uma egrégora fortalecida e fortalecedora. Todos os espíritos se unem no mesmo objetivo, na mesma intenção, na mesma prece, na mesma celebração, seja o que for, mas o mesmo...

A Cadeia de União é um gesto, mas é muito mais do que um gesto. É parte integrante do nosso segredo de maçons, não porque guardemos ciosamente a notícia da sua existência (este texto prova o contrário...), mas porque é realmente impossível explicar a quem nunca participou numa Cadeia de União o efeito, a paz, a comunhão, a força, que produz nos membros de uma Loja assim unidos.

É um gesto, mas é muito mais do que um gesto. E o seu significado só é plenamente apreendido por quem nele participa, uma e outra e ainda outra vez e muitas vezes. É um significado que não se ensina. Aprende-se vivendo-o!

Fora de Loja, só se forma Cadeia de União em homenagem fúnebre a maçom que passou para o Oriente Eterno. E aí, então, têm lugar como elos nessa cadeia todos aqueles que se reclamam de ser maçons. Aí não importam reconhecimentos, nem regularidades, nem nada dessas miudezas.


Aí, pessoas de boa vontade e com muito em comum homenageiam uma pessoa de boa vontade que nos precedeu no caminho que todos trilharemos.

Rui Bandeira

A GRANDE LUZ


Não é, com certeza sabido, quando realmente ocorreu. Se num tão remoto passado, que até a lembrança foi encoberta pelas brumas do tempo, se mais recente, mas perdidos os registros devido ao caráter sigiloso … o fato é que em algum momento do passado o homem começou a perceber que era por demais valioso o Dom da vida ostentando uma peculiaridade ainda mais valiosa e fascinante que é a inteligência, o conhecimento, o saber.
E começou então uma busca no sentido de resguardar o que já se sabia para transmiti-lo de geração em geração através dos bancos genéticos do saber de seus membros e também de aumentar a capacidade do saber, pois via o homem, como até hoje acontece, uma infinidade de possibilidades que decorrem do fato de apoderar-se do conhecimento.
Sentia o homem a necessidade de organizar esta situação. Organizá-la em conjunto. E foi assim se instituindo a partir de frágeis comunidades no início, o que hoje se chama de Maçonaria. Surgiu duma necessidade no sentido de organizar o conhecimento. De agrupar os elementos considerados como sendo portadores de conhecimentos mais apurados, de vivência mais rica em saber.
Assim, a partir de insipientes passos titubeantes começou a se consolidar o esboço do movimento que envolveria o mundo como uma teia de infiltração duradoura e silenciosa, a Maçonaria.
Ao avolumar-se o corpo da ordem pela profusão de elementos participativos gradativamente se engajando em suas fileiras, começaram a se delinear as regras que permitiram fosse a ordem respeitada e caracterizada em seus objetivos, comportamentos e também se fez a conceituação necessária a reger o ingresso na ordem.
E como em todos os movimentos grupais em que o número de participantes começa a ficar significativo, quão mais não quando de caráter mundial, passou a ordem a ter dificuldades na unidade, na coesão dos elementos participativos, dificuldade natural do acomodamento de todos os princípios, de todas as diferentes linhas comportamentais.
E inevitavelmente surgiram os cismas. Correntes paralelas se formando dentro da ordem mantendo objetivos comuns, mas seguindo seus Obreiros trilhas diferentes por julgarem de bom alvitre se portarem doutra forma. Mas absolutamente nada deve ou deveria influir no entrelaçamento dos Irmãos das correntes diferentes que se formaram, originando Rituais específicos segundo tradições regionais diversas, costumes outros ou mesmo dificuldades peculiares de determinadas áreas de atuação.
Vem a ser, e assim deve ser encarado, como um fato absolutamente natural. Mas o que deve ser mantido comum é o que aqueles primeiros seres humanos, os quais num intento de perpetuar e aumentar o saber instituíram fundamentados sobre colunas ostensivamente fortes, belas e sábias.
Deverá este princípio ser resguardado incondicionalmente, quer fira ou não nossos interesses pessoais. Quer agrade ou magoe devem os princípios básicos da ordem ser resguardados, sob pena de que isto não respeitado, a ordem como um todo bata as colunas, por permitir o caráter de individualidade, quando a Maçonaria é essencialmente universal e mística, sem dono, sem um comandante.
Deverão os princípios de a ordem estar inexoravelmente acima de qualquer vício ou costume fugaz de determinada Loja, introduzido perniciosamente ou desavisadamente pelo continuísmo ou pelo marasmo intelectual.
É neste particular que também reside grande parte da força da Maçonaria, o poder de iluminar seus Obreiros conseguido e mantido pelas luzes das Lojas. As luzes vivas que incansavelmente deverão erguer-se do Oriente para iluminar com saber os Obreiros indicando-lhes os caminhos a serem seguidos até o Ocidente.
Nos auspícios desta situação de iluminação abundante e profusa é que se fundamenta a Loja, que é a célula viva do grande corpo místico chamado Maçonaria.
Assim sendo, como uma célula de qualquer ser vivo precisa de muita energia, assim a Loja necessita da iluminação abundante proporcionada pelas suas grandes luzes que harmoniosamente deverão distribuir dentre os Obreiros esta luz a iluminar constantemente os caminhos a serem trilhados.
E a ninguém mais de direito e obrigação cabe a incumbência de espargir esta luz do que àquele por todos nós consignado como sendo o Mestre por excelência, e em consequência o Mestre Venerável.
E a esta luz não chamaria em hipótese alguma de ocupação ou cargo, que poderia deixar transparecer a ideia de uma incumbência meramente oficial de coordenação dos Trabalhos em Loja. E não é absolutamente esta a posição do Venerável.
Ele é, antes de tudo, uma verdadeira situação de combustão com conseqüente liberação de energia, de desfragmentação de possíveis correntes, de iluminação das situações em Loja as quais venham a se refletir no comportamento dos Obreiros também na vida profana.
Deverá estar intrínseca a capacidade do Venerável de ser carismático no sentido de ser obedecido com doçura e benevolência. De ser acatado com modéstia.
De ser realmente aquela luz que brilha soberana e calma no Oriente da Loja. Poder-se-ia dizer que o Venerável Mestre é a posição que culmina uma vida maçônica orientada para o humanitarismo e para as metas da ordem e não o galgar sequencial inconsequente dos degraus que se projetam no ascender de cargos da Loja.
O Venerável Mestre não ocupa tão-somente cargo, ou desempenha determinada função na Loja. O Venerável Mestre existe como a apoteose de uma vivência maçônica.
Ele não ocupa, não desempenha, não coordena, ele simplesmente “É” a própria luz, na Loja, em função da qual existe e não pode por ninguém este facho de luz ser obliterado.
O Venerável Mestre deve ser aquilo que todo Maçom teria por objetivo, por meta a alcançar ao longo de sua vida maçônica. E esta meta será alcançada se o Venerável atuante conduzir a contento seus Obreiros derramando-lhes em profusão o que de mais importante se pode objetivar, a luz da sabedoria.
Ir.'. Luiz Paulo Seitenfuss


OS SINAIS DE RECONHECIMENTO MAÇÔNICOS


Um dos segredos que os maçons devem guardar consiste nos sinais, palavras e toques próprios de cada um dos graus. A sua origem - os sinais pelos quais um artesão da maçonaria operativa identificava as suas aptidões perante mestres que o não conhecesse - já foi aqui sobejamente explicada. Mas qual a sua utilidade e significado atuais?

Desde o século XVIII que há exposés, ou revelações, de rituais maçônicos. Como seria de esperar, uma vez que cada Grande Loja tem autonomia para alterar os seus rituais - o que costumam fazer com alguma regularidade - rapidamente os sinais de reconhecimento estabelecidos nos rituais terão sido alterados em reação a essas "inconfidências".

Também não surpreenderá que, em função dessas alterações, os sinais de reconhecimento não sejam, hoje em dia, os mesmos nem em todo o mundo, nem em todos os ritos, nem em todas as obediências.

 Há variações, pelo que os maçons são delas instruídos para que possam reconhecer irmãos apesar das diferenças.

Entenda-se, por outro lado, que estes "meios de reconhecimento" são meramente rituais. O que é que isto significa?

Significa que, em primeiro lugar, são usados no contexto das sessões rituais, e do acesso às mesmas.

Assim, se um maçom se dirigir a um templo onde se vão reunir irmãos de outra Loja na qual não seja conhecido, e pretender assistir à sessão, é quase certo que o farão identifica-se através dos sinais rituais de reconhecimento.

No entanto, quase certo é também que não se fiquem por aí. Nos nossos dias a maioria das Obediências emite cartões em nome e para uso dos seus obreiros que atestam estarem os mesmos com a sua situação regularizada.

É também costume as Obediências emitirem, a pedido, o chamado "Passaporte Maçônico", que permite a identificação do seu portador perante Obediências estrangeiras. Sem qualquer destes documentos, e sem que sejamos conhecidos, é não só possível como quase inevitável vermos a nossa entrada negada numa sessão de Loja.

E fora de uma sessão de Loja?

Espero que ninguém imagine os maçons a fazer macaquices e "sinais secretos" a estranhos, não vá dar-se o caso de eles serem maçons também... Fora de Loja os maçons, ou já se conhecem previamente, ou reconhecem-se pela sua postura, forma de estar na vida e princípios que defendem.

Dados os modernos meios de identificação (cartões, passaporte maçônico, etc.), a utilidade original dos sinais de reconhecimento é reduzida.

Por que se mantêm então, e qual a razão do seu secretismo?

Não nos esqueçamos de que a Maçonaria se socorre de símbolos e alegorias para transmitir os seus ensinamentos.

Assim, os segredos de grau recordam a cada maçom que deve ser um homem honrado, de bons costumes, capaz de guardar para si um segredo que lhe tenha sido confiado.


Por outras palavras, os maçons guardam segredo desses sinais de reconhecimento, uma vez mais, por uma razão muito simples: porque juraram fazê-lo.

Paulo M.

MAÇONARIA – PERGUNTAS E RESPOSTAS QUE ESCLARECEM

O que é maçonaria?

É uma instituição essencialmente filosófica, filantrópica, educativa e progressista.

É filosófica porque em seus atos e cerimônias tratam da essência, propriedades e efeitos das causas naturais. Investiga as leis da natureza e relaciona as primeiras bases da moral e da ética pura.

É filantrópica porque não está constituída para obter lucro pessoal de nenhuma espécie, senão, pelo contrário, suas arrecadações e recursos se destinam ao bem-estar do gênero humano, sem distinção de nacionalidade, sexo, religião ou raça. 

Procura conseguir a felicidade dos homens por meio da elevação espiritual e pela tranquilidade de consciência.

É progressista porque, partindo do princípio da imortalidade e da crença em um princípio criador regular e infinito, não se aferra a dogmas, prevenções ou superstições. E não põe nenhum obstáculo ao esforço dos seres humanos na busca da verdade e nem reconhece outro limite nessa busca senão a da razão com base na ciência.

Quais são seus princípios?

Seus princípios são a liberdade dos indivíduos e dos grupos humanos, sejam eles instituições, raças, nações; a igualdade de direitos e obrigações dos seres e grupos sem distinguir a religião, raça ou nacionalidade; a fraternidade de todos os homens, já que somos todos filhos do mesmo criador e, portanto, humanos e, como consequência, a fraternidade entre todas as nações.

Qual é seu objetivo?

Seu objetivo é a investigação da verdade, o exame da moral e prática das virtudes.

Qual é o lema?

Ciência - Justiça - Trabalho. Ciência para esclarecer os espíritos e elevá-los; Justiça para equilibrar e enaltecer as relações humanas; Trabalho por meio do qual os homens se dignificam e se tornam independentes economicamente. Em uma palavra, a maçonaria trabalha para o melhoramento intelectual, moral e social da humanidade.

A maçonaria é religiosa?

Sim, é religiosa, porque reconhece a existência de um único princípio criador, regulador, absoluto, supremo e infinito ao qual se dá o nome de Grande ou Supremo Arquiteto do Universo, porque é uma entidade espiritualista em contraposição ao predomínio do materialismo. Esses fatores, que são essenciais e indispensáveis para a interpretação verdadeiramente religiosa do universo, formam a base de sustentação e as grandes diretrizes de toda ideologia e atividade maçônica.

A maçonaria é uma religião?

Não. A maçonaria não é uma religião. É uma sociedade que tem por objetivo unir os homens entre si. União recíproca, no sentido mais amplo e elevado do termo. E esse seu esforço de união dos homens admite em seu seio pessoas de todos os credos religiosos sem nenhuma distinção.

Para ser maçom é necessário renunciar à religião a qual se pertence?

Não, porque a maçonaria abriga em seu seio homens de qualquer religião, desde que acreditem em um só criador, o Grande ou Supremo Arquiteto do Universo, que é DEUS. Geralmente existe essa crença entre os católicos, mas ilustres prelados têm pertencido à Ordem Maçônica, entre outros, o Cura Hidalgo, Paladino da Liberdade Mexicana; o padre Calvo, fundador da maçonaria na América Central; o Arcebispo da Venezuela, d. Ramon Ignácio Mendez; padre Diogo Antonio Feijó; cônego Luiz Vieira; Frei Caneca e muitos outros.

Quais outros homens ilustres foram maçons?

Filósofos como Voltaire, Goethe e Lessing; músicos como Beethoven, Haydin e Mozart; militares como Frederico, o Grande, Napoleão e Garibaldi; poetas como Byron, Lamartine e Hugo; escritores como Castellar, Mazzine e Espling.

Somente na Europa houve maçons livres?

Não. Houve também na América. Os libertadores da América foram todos maçons. Washington, nos Estados Unidos; Miranda, o pai da liberdade sul-americana; San Marttin e O’Higgins, na Argentina; Bolívar, no norte da América do Sul; Marti, em Cuba; Benito Juarez, no México; e o Imperador D. Pedro I, no Brasil.

Quais os nomes de destaque no Brasil que foram maçons?

D. Pedro I, José Bonifácio, Gonçalves Ledo, Luís Alves de Lima e Silva (o Duque de Caxias), Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto, Prudente de Morais, Campos Salles, Rodrigues Alves, Nilo Peçanha, Hermes da Fonseca, Wenceslau Brás, Washington Luiz, Rui Barbosa e muitos outros.

Por José Everaldo Andrade Souza

M.·.M.·. da  A.·. R.·. L.·. S.·. da Loja Elias Ocké – nº 1841. Or.·. de Ilhéus – Bahia.


Referência Bibliográfica: Mansur Neto, Elias. O que você precisa saber sobre maçonaria- 2 ed. - São Paulo: Universo dos Livros, 2009.


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