I – PREÂMBULO
Loja de Mesa ou de
Banquete, conforme o próprio ritual do Grande Oriente do Brasil é a sessão
ritualística em que os maçons se confraternizam em torno de uma mesa de
refeições. É comumente chamada de banquete ritualístico, embora José Castellani
considere que este termo é impróprio.
Os Maçons têm por
tradição reunirem-se muitas vezes após os trabalhos para realização de um ágape
– termo que designa o repasto dos primitivos cristãos. A palavra “banquete”
surgiu desse hábito, “pois ela deriva do italiano ‘banqueto’, que era o
banquinho em que os primeiros cristãos sentavam-se, durante as ceias
comunitárias nas catacumbas, onde se escondiam”.
A dinâmica da vida
atual, principalmente nos grandes centros, tem levado muitas Lojas a não
realizar os ágapes ao final dos trabalhos maçônicos. Contudo, algumas Lojas têm
mantido a tradição da realização anual da Loja de Mesa, tradição que vem da
Maçonaria de ofício, ou operativa, e dos primeiros Maçons aceitos, da moderna
Maçonaria, coloquialmente conhecida, no meio maçônico, como Maçonaria
especulativa.
Joaquim Gervásio de
Figueiredo diz que o banquete é uma festividade maçônica realizada em Loja ou
Oficina de Banquete, em grau de Aprendiz, para que dele possam participar todos
os maçons. Ele afirma, ainda, que “embora seja uma tradição muito antiga, as
primeiras regras normativas dessa cerimônia datam de 1721 e referiam-se aos
banquetes anuais realizados no dia de São João Batista, por motivo da eleição
do Grão-Mestre da Grande Loja de Inglaterra...”
Quanto aos ágapes o
mesmo autor assim se expressa, in verbis: “ÁGAPES (gr.).
Refeição em que os cristãos primitivos se reuniam para comemorar a última ceia
de Jesus Cristo com seus discípulos, e davam-se mutuamente o ósculo de paz e
fraternidade. Estava associada à Eucaristia. Ambas essas cerimônias foram
depois separadas, e por último os ágapes foram suprimidos pela Igreja, alegando
prática de abusos.
A Maçonaria o conserva nos graus capitulares.” (o destaque é
da transcrição) Rizzardo da Camino, em
síntese, assim se manifesta sobre o banquete: A Maçonaria moderna (1723) elegia
os seus dirigentes por ocasião das reuniões convocadas para o banquete, tendo
sido sempre ao redor de uma mesa que se tomavam as decisões importantes e como
exemplo cita a Ceia do Senhor e a dos Cavaleiros da Távola Redonda.
Segundo este autor, o
vocábulo banquete está em desuso entre nós, tendo sido substituído pela palavra
“ágape”, como, por exemplo, ocorre após as Iniciações, quando deve haver uma
confraternização festiva e essa abrange o comer e o beber com moderação.
Rizzardo da Camino diz
ainda que “a origem da palavra é simplória; como para tomar um lugar na mesa,
com comodidade é preciso sentar-se, isso era feito nos ‘bancos’, de onde
derivou a palavra Banquete”.
Quanto ao ágape, assim se expressa o autor: “ÁGAPE – De origem grega, significando, amor; termo usado nos tempos do cristianismo primitivo; reunião para refeições entre os que se amam. Nessas refeições, e o exemplo marcante foi a Santa Ceia, os Discípulos reuniram-se com o Mestre para comer o cordeiro pascal, com pão e vinho; o significado de hoje seria a comunhão litúrgica.
“Ágape, com acentuação
proparoxítona, é o termo usado em maçonaria para as reuniões de refeição; no
Grau 18, o de Príncipe Rosa Cruz, os trabalhos são conclusos com esse Ágape.”
II – INTRODUÇÃO
Como visto, ágape era
uma refeição que os antigos (primitivos) cristãos faziam em comum. Eles se
reuniam em torno de uma mesa disposta em formato de ferradura, pois para eles
esta disposição transmitia a idéia de imagem do céu em suas épocas solares.
Assim, a reunião de
mesa tinha o cunho ritualístico religioso. Era o Kidush.
O Kidush (da raiz
hebraica kodesh = sagrado) significa “santificação, sagração” e era realizado
na véspera de uma festa religiosa, ou na véspera do shabat (sábado), para
realçar a santificação do dia.
A última ceia de Jesus
com os apóstolos foi um Kidush, que precedeu à Pêssach (Páscoa).
A realização de
Kidush, muito comum entre os essênios, deu origem à eucaristia, haja vista que
a Igreja herdou muitas das práticas hebraico-judaicas. Assim, a Liturgia
Eucarística da Missa é uma das partes em que a influência hebraica mais se manifesta.
A Oração Eucarística é considerada o ponto central da ação de graças e
consagração em que se revive a última Ceia de Jesus, quando, lançando as
bênçãos sobre o pão e o vinho, ele os distribui entre os convivas; depois da
devida preparação, realiza-se a Comunhão entre os fiéis, que se reveste do
recebimento do corpo e do sangue do Cristo, como alimento espiritual.
Também, entre os
demais povos da antiguidade, os banquetes eram freqüentes. Qualquer evento
extraordinário se transformava em motivação para que uma família, uma
associação ou um grupo social se reunisse, para comemorar ao redor de uma mesa.
Além dos hebreus, que
demonstravam particular prazer com suas festividades, os egípcios e os gregos
as celebravam, com singular recolhimento de convidar os deuses para os seus
banquetes sagrados. De igual forma, os romanos não se esqueciam de convidar os
Deuses festins, colocando-os em leitos que circundavam as mesas guarnecidas com
iguarias.
Os Maçons,
co-participando dos banquetes primitivos, mantiveram as tradições antigas,
realizando um belo culto ao simbolismo em seus dias festivos.
Segundo Castellani,
“por herança recebida dos membros das organizações de ofício, que,
tradicionalmente, costumavam comemorar os solstícios, essa prática chegou à
Maçonaria moderna, mas já temperada pela influência da Igreja sobre as
corporações operativas. Como as datas dos solstícios são, aproximadamente, 22
de junho e 22 de dezembro, muito próximas das datas comemorativas de São João
Batista - 24 de junho - e de São João Evangelista - 27 de dezembro – elas
acabaram por se confundir com estas, entre os operativos, chegando à
atualidade. Hoje a posse dos Grão-Mestres das Obediências e dos Veneráveis
Mestres das Lojas realiza-se a 24 de junho, ou em data bem próxima; e não se
pode esquecer que a primeira obediência Maçônica do mundo, a Premier Grand
Lodge, foi fundada em 1717, em Londres, no dia de São João Batista”.
Há que ser feito um
registro, ainda que não diretamente vinculado ao tema, mas para que possa ter
uma visão ampla, e não estreita, do assunto envolvendo a Loja de Mesa ou
Banquete Ritualístico.
A Maçonaria da
atualidade, denominada como especulativa, deveria, na verdade, ser conhecida
como Maçonaria dos Aceitos, haja vista que a forma atual da instituição
maçônica somente se iniciaria no final do século XVI, quando foi aceito o
primeiro homem não ligado à arte de construir, em 1600, na “St. Mary’s Chapell
Lodge” (Loja da Capela de Santa Maria), em Edimburgo, na Escócia.
Desde então, as
organizações operativas, devido ao declínio da arquitetura gótica, para
sobreviver passaram a admitir homens não ligados à arte, em geral pessoas de
destaque na sociedade, os quais passaram a ser denominados de Maçons Aceitos.
Este processo de aceitação
progrediu com tal velocidade que ao final do século XVII o contingente de
aceitos superava, largamente, o de operativos, propiciando a criação da
primeira Obediência Maçônica da história, a Premier Grand Lodge, de Londres, no
início do século XVIII, precisamente no dia 24 de junho de 1717.
A Premier Grand Lodge
foi fundada por quatro Lojas de Londres, mas esta novidade (sistema
obediencial) não foi bem aceita pelos demais Maçons ingleses, das Lojas livres,
os quais criticavam, entre outras coisas, a descristianização dos Rituais,
passando a tratar os membros da Grande Loja como “modernos”.
A 17 de julho de 1751,
para combater os “Maçons Modernos”, uma assembléia de Maçons declarava a
intenção de reviver a Antiga Arte Real, segundo os verdadeiros princípios
maçônicos. Na seqüência foi instalada uma outra Grande Loja denominada de
Grande Loja dos “Antigos”, formada, em sua maioria, por Maçons Irlandeses,
residentes em Londres.
Em 27 de dezembro de
1813, ou seja, mais de sessenta anos depois, foi consumada a união das duas
Obediências Maçônicas, da qual resultou a United Grand Lodge of England (Grande
Loja Unida da Inglaterra).
Daí, então, a adoção
pela Maçonaria das datas de 24 de junho e 27 de dezembro e, provavelmente, por
conseqüência, os dois São João – o Batista e o Evangelista – terem se tornado
os padroeiros das Lojas de aceitos, de diversos Ritos até a atualidade. Apesar
de Castellani dizer que “essas Lojas são chamadas de São João, provavelmente em
decorrência do título que as corporações de construtores tinham, na Idade
Média: Confraternidades de São João”
.
O que é de
conhecimento geral é que as festas de São João Batista, a 24 de junho –
solstício de inverno, em nosso hemisfério – e de São João Evangelista –
solstício de verão, em nosso hemisfério – são celebradas pelos Maçons com
Sessões Especiais.
Como não se sabe a
qual São João grande parte da Maçonaria honra como padroeiro, os dois são
aceitos como tal. Mas, a maioria dos autores destaca São João Batista como o
verdadeiro padroeiro, por ter sido ele tomado como patrono pelos membros das
sociedades de construtores romanos – os “collegiati” – convertidos ao
cristianismo, e ainda pelo fato de os colégios de arquitetos celebrarem, assim
como os povos da antiguidade, naquele hemisfério (Norte), o solstício de verão.
Esta tese foi reforçada pela fundação da primeira Obediência Maçônica do mundo
– a Premier Grand Lodge – a 24 de junho de 1717.
III – LOJA DE MESA
Passemos, então, ao
conjunto de procedimentos que são utilizados no decorrer de uma Loja de Mesa
ou, como coloquialmente vem sendo denominado, de um Banquete Ritualístico.
O que é um Banquete
Ritualístico? É a sessão ritualística em que os maçons se confraternizam em
torno de uma mesa de refeições.
De maneira geral, o
Banquete Ritualístico deve ser realizado nos edifícios maçônicos, em salas
apropriadas. Pode, todavia, ter lugar em qualquer outro edifício, contanto que
tudo esteja disposto de maneira que, de fora, nada se possa ver e ouvir; isso
significa que o Banquete Ritualístico deve estar a coberto dos olhos profanos,
já que se trata de uma sessão ritualística.
Como dito, o Banquete
Ritualístico, antigo costume maçônico, deveria ser realizado pelo menos uma vez
por ano, de preferência no solstício de inverno (no hemisfério Sul), ou de verão
(no hemisfério Norte). Os solstícios ocorrem quando o Sol atinge sua posição
mais afastada do equador terrestre: para o hemisfério sul, o solstício de verão
ocorre quando o Sol atinge sua posição mais austral (meridional, sul), enquanto
o solstício de inverno ocorre quando o Sol atinge sua posição mais boreal
(setentrional, norte).
O solstício de
inverno, em nosso hemisfério, ocorre a 21 de junho, que é, então, a época mais
propícia para o Banquete Ritualístico, embora muitas Oficinas o realizem no dia
24 de junho, aproveitando o solstício e homenageando o padroeiro de muitos
ritos maçônicos, São João, o Batista, conforme visto na Introdução deste
trabalho.
O Banquete
Ritualístico também pode ser realizado no solstício de inverno no hemisfério
norte, 21 de dezembro, ou a 27 de dezembro, em homenagem a São João, o
Evangelista.
Tudo o que é usado no
Banquete Ritualístico tem um nome simbólico, ligado à arte de construir, aos
materiais de construção e aos instrumentos necessários ao trabalho de
edificação, são seguintes os nomes simbólicos:
• Areia amarela: a
pimenta do reino
• Areia branca: o sal
• Armas, ou Canhões: os copos
• Bandejas: as travessas
• Bandeja grande: a mesa do banquete
• Bandeiras: os guardanapos
• Bandeira grande: a toalha de mesa
• Barricas: as garrafas
• Demolir os materiais: comer
• Espadas, ou Alfanjes: as facas
• Fazer fogo: beber
• Materiais: as iguarias servidas na Loja de Mesa
• Picaretas: os garfos
• Pólvora amarela: a cerveja
• Pólvora forte: o vinho, ou o licor
• Pólvora fraca: a água
• Pólvora preta: o café
• Telhas: os pratos
• Areia branca: o sal
• Armas, ou Canhões: os copos
• Bandejas: as travessas
• Bandeja grande: a mesa do banquete
• Bandeiras: os guardanapos
• Bandeira grande: a toalha de mesa
• Barricas: as garrafas
• Demolir os materiais: comer
• Espadas, ou Alfanjes: as facas
• Fazer fogo: beber
• Materiais: as iguarias servidas na Loja de Mesa
• Picaretas: os garfos
• Pólvora amarela: a cerveja
• Pólvora forte: o vinho, ou o licor
• Pólvora fraca: a água
• Pólvora preta: o café
• Telhas: os pratos
A mesa do banquete é
disposta em forma de ferradura, com as extremidades correspondendo ao Ocidente
e a cabeceira (mesa de honra), ao Oriente.
O Venerável Mestre
ocupa o centro da parte da mesa que constitui o Oriente, tendo, à sua esquerda,
os Mestres Instalados e, se for o caso, o Venerável de Honra, e, à sua direita,
as Dignidades do Simbolismo, presentes à sessão.
Os demais Oficiais e
Dignidades, colocam-se como em Loja, ou seja: O Orador e o Secretário
colocam-se nas extremidades da mesa de honra, frente a frente; ao lado deles,
colocam-se o Chanceler e o Tesoureiro, tendo, junto a si, o Hospitaleiro; o 2º
Vigilante senta-se na metade do lado Sul, ou na extremidade ocidental, ou
sudoeste, da mesa (da ferradura); na metade da mesa do lado Norte, coloca-se o
Experto; o 1º Vigilante ocupa a extremidade noroeste da mesa, variando a
posição, conforme o rito (inversão dos lugares dos Vigilantes, Orador,
Secretário, etc.); o Mestre de Cerimônias fica próximo à extremidade, ao Norte,
junto ao 1º Vigilante e à disposição deste; finalmente, o Cobridor fica na
extremidade sudoeste, de frente para o Oriente (se ali estiver o 2º Vigilante,
ficará ao lado dele).
Os demais obreiros
colocam-se à vontade, em torno da mesa, sempre na parte externa da ferradura,
com Aprendizes e Companheiros ocupando o mesmo local que lhes compete nos
templos. Se o espaço na parte externa não for suficiente, admite-se a ocupação
de alguns lugares na parte interna.
Na mesa deve ter uma
fita estreita, azul ou encarnada, conforme o Rito, indicativa do alinhamento
das armas.
Na parte interna da
mesa, sobre um pedestal colocado junto à mesa de honra, à frente do Venerável
Mestre, estarão as Três Grandes Luzes Emblemáticas da Maçonaria (o Livro da
Lei, o Esquadro e o Compasso), dispostas no grau de Aprendiz Maçom. Isso é
fundamental, pois não pode haver sessão ritualística sem a presença das Três
Grandes Luzes Emblemáticas.
Sobre a mesa de honra,
diante do Venerável, estará um candelabro de sete braços (o menorá hebraico),
um pedaço de pão e um copo de vinho tinto; à frente do 1º Vigilante, estará um
candelabro de cinco braços e, à frente do 2º Vigilante, um candelabro de três
braços. A presença do pão e do vinho é uma lembrança do ritual hebraico de
kidush , incrementado pelos essênios.
Todos os participantes
da Loja de Mesa estarão paramentados e as Dignidades e Oficiais usarão as jóias
de seus cargos. Algumas Obediências costumam recomendar que não sejam usados os
aventais, pois eles seriam reservados para os trabalhos da Loja no templo;
isto, todavia, não é correto, pois, em qualquer sessão ritualística, o maçom
deve portar o seu avental, sem o qual será considerado como se estivesse nu.
Também recomendam,
muitas Obediências, principalmente européias, que, além do banquete
ritualístico, realizado por ocasião do solstício de inverno, seja realizado um
outro, em forma "profana", por ocasião do solstício de verão. Nessa
oportunidade, é recomendada uma excursão ao campo, para o reencontro com o Sol
e a Natureza, em sua plenitude, seguida de banquete, com a presença de
familiares e amigos dos maçons da Loja.
IV – CONCLUSÃO
A Loja de Mesa ou
Banquete Ritualístico reveste-se de uma cerimônia sagrada, que deveria ser
praticada pelas Lojas, anualmente, com toda solenidade, nas duas grandes festas
tradicionais e, eminentemente simbólicas, que são as chamadas Festas
Solsticiais ou de São João. Nessas festas são celebrados os Banquetes
Fraternais.
Algumas Lojas
realizam, anualmente, o Banquete Ritualístico, por ocasião da data de sua
fundação. Este é o caso da Augusta Respeitável, Estrela da Distinção Maçônica,
Loja Simbólica Águia do Planalto, fundada em 7 de setembro de 1969, que
realiza, desde o ano de 1999, o seu banquete ritualístico em data próxima à de
fundação.
O Banquete
Ritualístico, como visto, tem reminiscências antiqüíssimas – Ceia dos
Apóstolos, Ceia Pascoal dos Judeus e os Ágapes do Amor dos Cristãos – razão
pela qual deve se revestir da maior seriedade. Não é uma brincadeira. É uma
comunhão fraternal, razão pela qual é realizado longe das vistas profanas,
portanto, deve ser evitado o excesso de bebida e de comida. Infelizmente, em
algumas ocasiões, tem se presenciado, neste tipo de Ágape Sagrado, mera festa
de comilança.
O Banquete Ritualístico
é um momento de confraternização, que é exercer uma confraternidade, em nome de
todos os Maçons do orbe terrestre, de salientar os laços que unem os Irmãos
dessa Ordem Universal. Neste momento deve-se estar conectado com o Grande
Arquiteto do Universo, entendendo que, no momento dessa confraternização,
dever-se-ia estar recebendo o mesmo alimento espiritual, alimento propiciador
de uma ligação espiritual forte, mantenedora de um laço invisível e
inquebrantável, que deve estar isento de qualquer mácula, pois advém de seres
Iniciados.
Colaboração do Ir.´.
Altair da Silva Carvalho - M.´.I.´.
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