OS SEGREDOS PROFANOS E O SEGREDO MAÇÔNICO




O que poderemos dizer acerca do que é o Segredo? Os Segredos?
Como os poderemos definir? Aos segredos profanos e ao “Segredo Maçônico”?

A palavra Segredo encerra nela própria e desde logo, um significado de Mistério. De fato, todo o segredo encerra um mistério que é coisa ou conhecimento oculto a que só alguém ou algumas pessoas têm acesso.

Ora, todo o conhecimento oferece um poder a quem o detém sobre quem não o possui e essa faculdade pode ser exercida perversamente, egoisticamente, de forma negativa. Portanto, nestes casos, o poder do conhecimento corrompe. Mas esse poder do conhecimento pode ser também exercido justamente, altruisticamente, de forma positiva e, nestes outros casos, o poder do conhecimento eleva quem o possui e o usa e o oferece generosamente aos outros.

Compulsando o Grande Dicionário da Língua Portuguesa de José Pedro Machado, encontramos as seguintes significações de segredo:
Coisa ou circunstância que se oculta a outros, fato sobre o qual se guarda rigoroso silêncio não o comunicando a terceira pessoa,
causa oculta de que se faz mistério, sentimento íntimo que não se comunica a outrem, silêncio ou discrição sobre uma coisa que nos foi confiada ou que se confiou a outrem.

Quanto às definições profanas de segredos, podemos referir algumas das mais comuns :

Segredo Profissional: Referindo-se a fatos ou assuntos de que alguém tem conhecimento no exercício da sua profissão e de que, por razões éticas ou morais não pode divulgar, mesmo em processo de justiça na fase de instrução do mesmo.

Segredo de Justiça: Que proíbe a divulgação do que se passa sobre um processo de justiça na fase de instrução do mesmo.

Segredo de Estado: Referindo-se a assuntos que interessam à segurança, honra ou brio da nação e que é expressamente proibida a sua divulgação.

Segredo Político: Também referido com o segredo de Estado, mas que pode apenas circunscrever-se no seio de uma organização política ideológico-partidárias em determinadas circunstâncias e momentos de luta política.

Segredo Militar: Refere-se a assuntos cuja divulgação pode prejudicar os Planos Estratégicos de um exército ou parte dos comandos de um exército, afetando a segurança da nação ou de um momento de conflito bélico.

Segredo das Consciências: O que há de mais oculto na mente e no íntimo da alma e que não se admite seja violado.

Segredo do Coração: O que se refere com os sentimentos e emoções ocultas no coração humano que se pretende ocultar e defender da curiosidade alheia, por pudor, ou por razões de defesa da intimidade e dos preconceitos.

Segredo de Polichinelo: O falso segredo que toda a gente conhece.

O Segredo é um privilégio do saber e um sinal ou forma de participação no poder.

O segredo está ligado à ideia de tesouro e tem os seus guardiães.
Aqueles que são capazes, sem desfalecimentos ou fraquezas, de guardar os seus segredos adquirem uma força e um poder incomparáveis que lhes conferem sentimentos de sã superioridade por serem eleitos ou escolhidos.

Para os Alquimistas o Segredo dos Segredos é a arte de trabalhar a “Pedra da Sabedoria”, a “Pedra Filosofal” que revelaria todos os Saberes.

Para os Esoteristas a não divulgação dos Segredos assenta na ideia de que os não iniciados não estão preparados para acolher bem os Segredos, porque não os compreendem através da sua cultura profana e, por isso, podem desfigurar o sentido profundo desses Segredos. Não se podem, portanto, oferecer “Pedras Preciosas e Bem Trabalhadas” a quem não as pode reconhecer como tal.

O SEGREDO MAÇÔNICO
Numerosos autores já procuraram definir em que consiste o Segredo Maçônico.

“Convém, primeiramente, acentuar que a Maçonaria, enquanto Ordem Iniciática de Homens e Mulheres “livres e de bons costumes”, sem distinções de raças, credos, religiões, ideologias ou culturas são, por definição, uma Organização Fechada”, mas não secreta.

Com efeito, as sociedades secretas perseguem frequentemente fins profanos, políticos ou outros, enquanto que as Organizações ou Associações Iniciáticas procuram, essencialmente, o Conhecimento e o Desenvolvimento Espiritual do Homem.

Os “Segredos” Maçônicos são frequentemente tidos pelos profanos que procuram iniciar-se na Maçonaria, como a possibilidade de acederem ao Conhecimento dos Mistérios das revelações de ordem metafísica, mas só mais tarde se apercebem que esses mistérios estão mais ligados ao ritual e ao simbolismo que envolve todos os sentidos da elevação humana à sua condição mais nobre da Fraternidade Universal entre os homens, considerados Livres e Iguais.

O Ritual dos ágapes e as Cadeias de União têm, por exemplo, todo o sentido desse Mistério da Fraternidade, na mesma linha de significado da bela tradição do Banquete de Platão.

A Lei do Silêncio nos Maçons provem da tradição dos Pitagóricos que também se encontra em outras organizações iniciáticas, e está mais relacionada com a necessidade de se dominarem e compreenderem as linguagens dos Ritualismos e Simbolismos que servem de base à procura do Conhecimento e do Aperfeiçoamento Espiritual do ser humano, através de “degraus” de aproximação ou graus, primeiro Simbólicos e, depois, filosóficos, que através das tradições e dos Conhecimentos que vêm do passado procuram projetar a Luz e a Beleza dos Conhecimentos acumulados para o Futuro.

Estes Trabalhos perseverantes, discretos, desenvolvidos com a “Força e o Vigor” do Trabalho sobre as “pedras brutas” da ignorância e dos preconceitos, que só o Livre Pensamento pode desbastar, é prosseguido até que essas pedras fiquem “polidas e cúbicas”, isto é, livres das “arestas” da ignorância, dos erros, dos preconceitos, da intolerância.

E, tendo-se partido de “pedras brutas” diferentes entre si, se chega, pelo trabalho e pelo estudo – com “sabedoria, força e beleza” – às pedras polidas e cúbicas já aptas para se unirem – “unindo o que é diverso” - com as quais, unindo-as, se possam construir “as abóbadas perfeitas de arco inteiro” e os “Templos” da Sabedoria, da Verdade, da Justiça, da Razão e da Harmonia entre os homens.

Sem segredos não há memória nem história. Sem segredos não há conhecimento nem progresso.

O segredo é à base da solidariedade e da cumplicidade fraternal. Esses


Trabalhos precisam ser executados e desenvolvidos silenciosamente, por etapas de conhecimento e aperfeiçoamento humano, descobrindo-se os “Segredos” e revelando-se os “Mistérios” que se sentem mais do que se vêm, pois, quase sempre, apenas dizem o indizível e revelam o invisível, a partir da interioridade que vai “iluminando”, em cada Maçom, o obscurantismo ainda nele existente e, através dele e de todos os restantes Maçons e outros homens “iluminados”, se vai combatendo e vencendo, assim, as trevas desumanizadoras e retardadoras ou retrógradas do processo de aperfeiçoamento da sociedade humana.

Ora, os “Segredos” da Maçonaria, que são as tradições, os caminhos, os processos, os trabalhos maçônicos, os rituais e seus simbolismos, enfim, carecem de bases espirituais, de conhecimento de simbologia e de filosofia, as quais, através do ritualismo, devem unir todos os Maçons espalhados pela superfície da terra, numa metalinguagem universal, para só se revelarem em conhecimentos e aperfeiçoamentos pessoais aos não iniciados através já de uma linguagem comum, descodificada, profana, compreensível, essencialmente baseada nos exemplos de humanidade e de cidadania, de generosidade e amor perante as causas humanas e cívicas, que sejam capazes de gerar-nos outros nossos semelhantes profanos, efeitos positivos de desejos e ações de aperfeiçoamentos humanos, pelos exemplos de vida e pelos conhecimentos reveláveis pelos Maçons.

É verdade que a Maçonaria utiliza nos seus rituais e simbologias as antigas tradições de velhas culturas e sociedades, que contêm atos e palavras que, à luz de uma linguagem não meta filosófica e não simbólica, poderão correr o risco de fazer recair sobre os Maçons interpretações profanas malévolas sobre os seus “Segredos”.


Por exemplo: palavras ou rituais antigos, aparentemente inadequados ou excessivos nos tempos modernos, porque simbólicos, sobre juramentos, provas ou “punições” em caso de quebra de valores e princípios maçônicos ou de falta de solidariedade e fraternidade entre os Maçons.

Mas nas reuniões ou assembleias da Maçonaria nenhum segredo ou mistério se deve passar que seja contrário à moral e aos bons costumes, às religiões ou à pátria, porque não são esses os segredos e os fins da Maçonaria, assim como também nada na Maçonaria pode atentar contra a consciência, o livre pensamento e a liberdade individual dos seus membros.

O caráter “Secreto e/ou Discreto” dos Maçons e dos “trabalhos” maçônicos, porque também se ocupam da luta contra a tirania, a corrupção, a injustiça e o obscurantismo, exige a proteção desses “mistérios”, em qualquer tipo de sociedade, porque essas forças negativas da sociedade humana que a maçonaria combate, se manifesta sempre em todos os tempos e em todas as sociedades e todos os sistemas políticos e, mesmo em democracia, essas forças negativas tendem a tentar infiltrar-se na Maçonaria para, a coberto do bom nome da maçonaria e dos seus altos desígnios, melhor se ocultarem e trabalharem na sombra.

Todas as melhores associações de homens bons são, e sempre foram, em todos os tempos, as mais cobiçadas e procuradas para nelas se tentarem infiltrar e se camuflarem os que, não tendo nobres virtudes, julgam que, assim, se podem beneficiar e se disfarçarem de ser quem não são.

Todavia, em todo o mundo e em muitas línguas se podem encontrar obras literárias sobre a maçonaria que revelam abertamente quase todas as concepções simbólicas, e filosóficas da maçonaria, em todos os seus graus.


Mas é bem diferente a interpretação livre que se possa retirar dessas leituras da sua revelação pública, com ou sem exibição dos rituais que se praticam no seio dos trabalhos e sessões maçônicas, dado que estes só se explicam e compreendem através do conhecimento filosófico e simbólico do caminho e prática maçônica.


Por outro lado, todo Maçom está obrigado, por juramento reiterado em cada sessão de trabalho em que participa, a não revelar a profano algum o que se passou no seio das suas sessões maçônicas, constituindo essas revelações uma falta grave a esses juramentos.

Então quais são os “Segredos e Mistérios” da Maçonaria?
Esses Segredos e Mistérios estão muito mais na vivência do pensamento e da prática desses “trabalhos rituais” que conduzem ao Aperfeiçoamento Espiritual do Homem e na condição de esse exercício maçônico ser assumido livremente, mas discretamente, pelos Maçons, defendendo-se esses conhecimentos de serem mal compreendidos por pessoas não qualificadas, ou não ainda preparadas, as quais poderão conduzir a incompreensões, atos ou situações nefastas, causadoras de mais desequilíbrios na harmonia que os Maçons buscam construir na humanidade.

Esta metafísica maçônica não pode conformar-se nem conter-se, só, no quadro das fórmulas ou lógicas meramente cartesianas e racionalistas, embora a Maçonaria procure investigar permanentemente a Luz da sabedoria, a Verdade ética e moral dos seus postulados e a Razão da justiça humanista da dimensão ontológica (Ser e Estar) dos homens e, nesse aspecto, serve-se de processos filosóficos racionalistas e positivistas.


Como em toda a manifestação espiritual do homem, mesmo nas suas relações interpessoais ou no seio das suas organizações religiosas, políticas, militares, econômicas, sociais e culturais, e até profissionais, as linguagens dos simbolismos e dos ritualismos têm os seus códigos de entendimento e os seus “segredos” e “mistérios”, cujas aprendizagens, conhecimentos e significados completos e verdadeiros, são só acessíveis aos “iniciados” e “mestres” de todos as classes e profissões da sociedade humana, mas cujos “segredos” não são igualmente inteligíveis por cidadãos que não pertençam a essas classes e profissões.


Na maçonaria procura-se, através da simbologia e do ritualismo, o conhecimento abstrato, filosófico, que conduza ao aperfeiçoamento do homem enquanto SER nas suas dimensões cultural, espiritual e social, isto é, na sua humanidade, enquanto sociedade humana que deve ser convivencial, a qual deve tender para assumir o seu progresso através da compreensão e prática de sistemas de vida em comum assentes nos valores da Liberdade, Igualdade, Fraternidade.


O “Segredo Maçônico” é, enfim, na sua essência, a procura de conhecimentos que conduzam ao Aperfeiçoamento individual e coletivo e que possuem um caráter intrínseco e indivisível.


Esses “Segredos” que vão revelando a “Luz do Conhecimento” e através dele se vão abrindo o “Caminho do Sentido da Vida” que conduz ao Aperfeiçoamento Humano, é que é a essência da Iniciação.

É esta sabedoria que percorre os tempos e que ultrapassa os limites das ciências, da filosofia e das religiões, porque orienta o homem na descoberta do seu próprio SER ainda não revelado, interroga a origem, o sentido e o destino da humanidade, transcende a vivência meramente física e material e que centra a missão do homem no seu próprio aperfeiçoamento interior e na busca da sua harmonia convivencial, em equilíbrio com a natureza planetária e cósmica que habita.


No plano formal “O Segredo Maçônico” pode sintetizar-se conforme o fez o ilustre historiador Maçom Professor A.H. Oliveira Marques no seu Dicionário de Maçonaria Portuguesa:
 “...Cada Maçom compromete-se solenemente, no ato da iniciação e em cada “aumento de salário”, (subida de grau) a não revelar o que se passa nas sessões do respectivo grau.”

Esta obrigação estende-se aos participantes em toda e qualquer reunião maçônica. De uma maneira geral, é vedado aos irmãos Maçons narrarem pormenores da vida maçônica e, nomeadamente, a desvendarem a qualidade de Maçom de qualquer outra pessoa sem a sua expressa autorização, à exceção de si próprios, salvo quando se tratem de Maçons já publicamente assumidos e identificados como tal.

Segundo alguns autores sobre maçonaria, como o historiador Professor A.H. Oliveira Marques, existem três tipos de segredos maçônicos:

O Segredo das Deliberações, que respeitam ao conteúdo administrativo de cada sessão e que se estende não só aos profanos mas também a todos os Maçons que nela não participem, i.e. semelhante a alguns segredos profissionais.

O Segredo dos Ritos, que respeita ao conteúdo ritualista de cada sessão (e aos seus significados) e que se estende, para alem dos profanos, a todos aqueles que pertencem a um grau inferior, para proteger a autenticidade do valor das elevações a graus superiores e das provas a que os candidatos têm de se submeter.

O Segredo da Filiação, que respeita à qualidade maçônica em si e que se estende somente aos profanos, destinando-se a proteger os Maçons contra as perseguições político – religiosas que lhes podem ser movidas, mesmo em democracia.

Porventura o caráter mais transcendente e metafísico do “Segredo” é que ele se liga sempre ao domínio do “Mistério“ e esta dimensão faz do Segredo uma concepção que só ao ser humano pertence, porque definidora da sua natureza pensante, criadora, imaginativa, transcendental, dotado de memória individual e coletiva e que pela sua vocação social procura o constante aperfeiçoamento e progresso, numa busca incessante das revelações de todos os segredos que se lhe apresentam, quer através da espiritualidade filosófica deísta, quer através do conhecimento científico e artístico ou do pensamento racionalista -positivista que lhe abra novas fronteiras de “Novos Segredos e Mistérios”.
É a prática da “Arte Real” da Vida!

Sem segredos não há memória nem história. Sem segredos não há conhecimento nem progresso. O segredo é à base da solidariedade e da cumplicidade fraternal.

É na busca da revelação dos segredos, na sua compartilha, que a sociedade humana se organiza para compreender as partes de um todo universalista para, na sua caminhada de aperfeiçoamento, melhor “saber distinguir a árvore da floresta”, para, assim, melhor entender e saber cuidar de uma e de outra e, com a força do trabalho perseverante, a bem de todos, encontrar a luz e a beleza da sua origem e destino e, principalmente do seu “Caminho de Vida” que, como diz o grande poeta andaluz António Machado, "...caminante non ay camino, el camino se hace al andar…"

Mas o segredo dos Maçons está também na sua disponibilidade para se elevarem como seres humanos a níveis de espiritualismo, de cidadania e de conhecimento que os diferenciem como bons e justos cidadãos, empenhados na construção de uma Cidade Melhor, dispostos a lutar pelos seus valores e princípios, pela pedagogia e pelo exemplo.


Nessa caminhada os Maçons aprendem o valor do silêncio quando entregues ao estudo e à meditação, quando é preciso escutar a voz dos outros seus irmãos, nas suas diferentes posições e reflexões, aprendem a riqueza e a sabedoria de unir o que é diverso, aprendem que há um tempo e segredos maçônicos para calar para respeitar o silêncio, mas também que há um tempo e um momento para não calar, para erguer a voz e a luta pela justiça, pela verdade, pela razão, que há um tempo para dar o exemplo de os Maçons deverem estar na primeira linha de combate por um mundo melhor.


Descobrir e lutar pelo valor da Liberdade e que esta não é possível sem a conquista da Igualdade Humana, e que ambas só se realizam na prática da Fraternidade - que é a solidariedade com amor - é que é o grande sentido da vida que não se esgota apenas numa consideração do humano mas se completa no respeito e na procura do amor e do equilíbrio harmonioso com todo o ecossistema planetário e sideral do universo, em todas as suas formas de vida aparente ou não aparente, conhecidas ou ainda por conhecer.

Este é o “grande segredo e o grande mistério da vida”, e é no quadro deste maior segredo que a maçonaria e os Maçons buscam a revelação dos “segredos” do seu próprio aperfeiçoamento enquanto Seres Humanos Aperfeiçoáveis, os segredos que os iluminem na “construção de um templo” de uma humanidade fraternal que aprenda e apreenda o verdadeiro sentido humanista da vida.

Por CARLOS MORAIS DOS SANTOS
M.:M.:, Gº25, Obr.: honorário e efetivo da R.:L.: ACÁCIA, Or.: de Lisboa -
do Grande Oriente Lusitano

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