É conhecido que a maçonaria recorre extensivamente a símbolos como forma
de transmissão do conhecimento. É evidente que esses símbolos terão algum
significado. O que, todavia, é menos evidente, é que não há significados
universalmente aceites ou impostos para os símbolos maçônicos. O que um
interpreta de um modo, outro pode interpretar de modo diverso. Assim sendo, de
que serve a simbologia na maçonaria? A que aproveita essa
"plasticidade" nos significados dos símbolos? E como é que se podem
usar os símbolos como meios de comunicação do seu significado subjacente, se
esse significado pode variar de pessoa para pessoa?
Para o entendermos, temos que recuar no tempo. Bem antes de a maçonaria
especulativa ter surgido - o que sucedeu, oficialmente, em 1717 - já os maçons
operativos se socorriam de símbolos para se recordarem dos ensinamentos que os
seus mestres lhes haviam transmitido. De fato, muitos dos trabalhadores da
pedra não sabiam ler nem escrever, pelo que se socorriam de pictogramas e
representações de objetos para o efeito.
Os símbolos não eram propriamente secretos; o seu significado - as
técnicas a que os mesmos se referiam - é que era apenas revelado a alguns. A
maçonaria especulativa veio a adotar esse método de transmissão de
conhecimento. Assim, hoje como outrora, os símbolos são auxiliares de
memória, instrumentos de suporte ao conhecimento, verdadeiras mnemônicas- diríamos
hoje: são cábulas - que nos permitem recordar, evocar e especular.
Mas se o seu significado pode ser individualizado, como é que o
conhecimento passa sem se perder, sem se desvanecer, sem se espraiar numa mar
de semânticas? De forma muito simples: para tudo há um início, e o método
consiste, precisamente, em dar a cada um os pontos de partida, sem estabelecer
qualquer ponto de chegada... Assim, a um aprendiz é, desde logo, ensinado o
significado comum de vários símbolos: o esquadro, o prumo, o nível, o mosaico
bicolor do chão dos templos, a pedra bruta, a pedra polida, entre outros. É das
poucas ocasiões que, em maçonaria, alguma coisa é verdadeiramente ensinada, e
mesmo aí os significados gerais são dados com parcimônia de explicações e de
forma sucinta e concisa.
A cada um é dito, então, que deverá procurar interpretar cada símbolo de
forma pessoal, podendo quer aplicar o significado original, quer levá-lo até
onde o deseje. E é esse o trabalho do aprendiz: estudar os símbolos, construir
um significado em torno dos mesmos, e aplicá-lo a si mesmo.
E como se mantém um denominador comum? Quando um maçom se refere ao
prumo, os demais sabem que se refere à retidão moral, à integridade, à
verticalidade de caráter - aquilo que ouviu quando, ainda aprendiz, lhe
"apresentaram" os símbolos. Contudo, mais tarde cada um irá
interiorizar a seu jeito o que estas palavras significam. O que será sinal de
caráter para um poderá ser duvidoso para outro; a nenhum, porém, é imposto
qualquer significado universal. E por quê? Porque, se a maçonaria se destina a
tornar cada homem num homem melhor, deve fazê-lo dentro do absoluto respeito
pela sua liberdade.
Por isso se diz que em maçonaria tudo se aprende e nada se ensina no
sentido de que cada um deve procurar os seus próprios ensinamentos sem esperar
que lhos facultem. Cada um deverá poder procurar, no mais íntimo de si, o que
quer fazer dos princípios que lhe são transmitidos: se quer segui-los ou
ignorá-los, quais aqueles a que vai dar maior preponderância, e até onde vai
levar esse ânimo de se superar. E é por tudo isto que, sendo essa luta de cada
homem consigo mesmo algo de mais único do que uma impressão digital, a
liberdade individual de interpretação se impõe sobre qualquer eventual
tentativa de normalização do significado dos símbolos.
Paulo M.
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