HIERARQUIA E PODER NA MAÇONARIA



"O Maçom deve aceitar as distinções hierárquicas com humildade e assim, exercitar a virtude do bom viver e do amor fraternal”.

                 HIERARQUIA MAÇÔNICA – Uma sociedade para ser poderosa e útil, necessita possuir força moral bastante para impor-se, dando e exigindo dos seus membros direitos e deveres; e é o respeito zeloso da sua tradição o maior fator para criar essa força moral.

             Sociedade que viola e habitua-se a modificar os seus princípios fundamentais, o direito de outorga, e o dever que exige, degenera-se gradualmente, torna-se decadente e perde a sua razão de ser.
              
            Daí, a necessidade de conservação do seu passado, do interesse em torná-lo conhecido e amado a fim de inculcar o exemplo de veneração pela causa da instituição e, para assegurar os direitos e deveres de cada um, à imprescindibilidade de selecionar, estimular e classificar os mais dedicados associados a quem galardoa, distingue e se destina funções especiais.

   A Maçonaria, pois, como instituição que necessita possuir força moral suficiente para poder cumprir a sua missão social e exigir dos seus membros o cumprimento de deveres, tem, por meio do respeito aos seus ritos, conservado a sua tradição e, pelos seus graus, classificado seus associados, ajustando-os a uma hierarquia ora formalística, ora dirigente. Essa hierarquia, porém, não significa a superioridade individual exigindo a subordinação passiva.

  Ela não é mais do que uma classificação, como fonte inspiradora da obediência natural e voluntária de indivíduos e agrupamentos a outros com funções e conhecimentos especiais, para que marchem os negócios sociais sistematizados e com as responsabilidades definidas.

Deste modo há, na Maçonaria, a hierarquia moral ou litúrgica e a administrativa ou de cargos. A primeira se baseia no sistema dos graus e representa o dever que tem o Maçom de respeitar a situação que outro adquire com a posse de uma distinção conferida e significativa apenas de honras e de responsabilidades, para com o ideal associativo. A segunda, isto é, administrativa ou dos cargos, assegura a unidade, vigilância, execução e regularidade das formas sociais. O Maçom investido de um grau adquire e assume compromissos não só para com a instituição como para com os Irmãos menos graduados.

Obrigado a conhecer os direitos e deveres, a sua responsabilidade maçônica aumenta, e o dever de guiar, aconselhar e ensinar os menos galardoados, se impõe. E então, para ser ouvido, respeitado e seguido, preciso é que tenha certas prerrogativas, e como prêmio de sua aptidão e esforço, conferem-se-lhes honras e considerações. (Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia – Nicola Aslan).

A HUMILDADE – Podemos entender a humildade como reconhecimento da existência de uma potência superior a nós, a qual rege nossas vidas. Alguns chamam de Deus, outros de Alá, ou qualquer outro nome que queiram dar. Para os Maçons, Deus é o Grande Arquiteto do Universo (porque construiu o Universo e tudo o que ele contém).

Todos os Maçons são absolutamente iguais dentro da Loja, sem distinção de prerrogativas profanas, de privilégios que a Sociedade confere. Esta igualdade não fere o princípio hierárquico maçônico porque os Irmãos postos em evidência o foram pelo voto dos obreiros; todos têm o direito de serem eleitos Veneráveis Mestres ou outros cargos; sempre chega a vez de todos, no rodízio recomendável.

À vista do texto supracitado vamos, também, examinar como complemento do assunto, o direito de dispor de força ou autoridade para deliberar, agir e mandar; isto é ter poder.

PODER – Mais prejudicial que o orgulho é o que o poder inspira. Por poder entendemos aqui todo o domínio que um homem tem sobre outro, quer esse domínio seja extenso ou limitado.

O poder exerce uma fortíssima influência sobre aquele que o tem.  É preciso que uma cabeça seja bem forte para não ser perturbada por ele. Dentro de cada homem dormita um tirano que só espera para despertar uma ocasião propícia. Ora, o tirano é o pior inimigo da autoridade, porque nos dá dela uma intolerável caricatura. Daí uma multidão de complicações sociais, de irritações e de ódios. Faz uma obra má, todo aquele que diz aos que estão na sua dependência: “faça isto porque é essa a minha vontade, ou melhor, porque é esse o meu desejo”. 

 Em todos nós há qualquer coisa que nos incita a resistir ao poder pessoal, e essa qualquer coisa é muito respeitável. Porque, no fundo, somos iguais, e ninguém há que tenha o direito de exigir a nossa obediência por ele ser quem é, e nós sermos quem somos; neste caso as suas ordens aviltam-nos, e não é permitido que nos deixassem humilhar.

É preciso termos vivido nas escolas, nos escritórios, no exército, termos seguido de perto as relações entre patrões e criados, termos parado um pouco onde quer que a supremacia do homem se exerça sobre o homem, para se formar uma ideia do mal que fazem aqueles que praticam o poder com arrogância. De cada alma livre, fazem uma alma escrava, isto é, uma alma de revoltado. E parece que este efeito funesto, antissocial, se produz com mais certeza quando  quem manda está mais aproximado pela sorte, daquele que obedece. 

O mais implacável dos tiranos é o tirano em ponto pequeno. Um chefe de setor de uma oficina emprega mais ferocidade nos seus processos que o diretor da fábrica, ou o patrão. O cabo é mais duro para os soldados que o sargento e este que o coronel. Em certas casas onde a senhora não tem muito mais educação que a criada, há entre uma e outra as relações de cão e gato. Infeliz daquele que cai, onde quer que seja nas mãos de um subalterno ébrio de autoridade. Pode se adornar de virtudes que não possuem, mas, sua consciência, na hora certa, saberá mostrar que são vazios e nocivos.

Esquece-se que o primeiro dever de quem quer que exerça o poder, é a humildade. A soberba não é a autoridade.  Nós não somos a lei. A lei está acima de todas as cabeças. O que fazemos é interpretá-las, mas para fazer valer aos olhos dos outros, é preciso que primeiramente nos tenhamos submetido a ela. O mando e a obediência na sociedade não passam afinal da mesma virtude: a sujeição voluntária. A maior parte das vezes não somos obedecidos, porque não obedecemos primeiro.

O segredo do ascendente moral pertence aos que mandam com simplicidade, adoçando pelo espírito a dureza do fato. O seu poder não está na fortuna, nem na função, nem no título, nem nas faixas ou medalhas, mas unicamente nele mesmo. O que confere a um homem o direito de pedir a outro homem o sacrifício do seu tempo, de seu dinheiro, das suas paixões, e até da sua vida, é que não só ele mesmo está resolvido a esses sacrifícios, mas que já se antecipou a fazê-los interiormente.

Nos nossos mais de trinta anos de caserna, fomos comandados e comandamos (mandamos com). Em todos os domínios da atividade militar e humana, há chefes que lideram, inspiram, amparam, encantam, arrebatam e entusiasmam seus comandados; debaixo de sua direção as tropas fazem prodígios. Com eles, sentimo-nos capazes de todos os esforços, prontos a entrar em combate com entusiasmo. Há, também, déspotas, arbitrários, que são detestados.

RESUMAMOS PARA CONCLUIR: A única distinção necessária é a que consiste em uma pessoa querer ser melhor. O homem que se esforça por vir a ser melhor torna-se mais humilde, mais abordável, mais familiar.  Mas, a hierarquia nada perde com isso, e ele recolhe tanto mais respeito quanto menos orgulho semeou.

O Maçom vale pela sua personalidade, seu comportamento, sua filosofia, sua disposição de “servir” seu Irmão. Nem a posição social, nem o dinheiro, nem a cultura o destacarão dos demais. A tendência dos mais humildes será a de lutarem para alcançar os portadores de atributos e virtudes excepcionais, e jamais haverá a exigência de um nivelamento por baixo, ou seja, que o virtuoso abra mão de suas qualidades para igualar-se ao menos dotado.

Como se cumpririam melhor os deveres de cidadão, se o mais humilde e o mais altamente colocado aproximassem mãos e corações, permitindo que se entendam, estimem e amem. Eis o verdadeiro cimento que a Maçonaria adotou, como um símbolo de amor fraternal que liga os Maçons de todos os países do mundo, numa única e comum Fraternidade.

Irm. '. Valdemar Sansão – M.’. M.’.


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