O conflito faz parte das nossas
vidas. Quer queiramos, quer não. Existem interesses divergentes, quantas vezes
inconciliáveis. Quando tal sucede, várias formas de lidar com o assunto
existem: a força, a imposição de poder, a desistência, a conciliação, a
cooperação, a hierarquização, etc..
Os maçons também vivem e estão sujeitos a
conflitos. Tanto como qualquer outra pessoa vivendo em sociedade.
Mas os maçons aprendem a lidar melhor com o
conflito. Desde logo, porque aprendem, interiorizam e procuram praticar a
Tolerância. Esta postura não elimina, obviamente, os conflitos, nem leva quem a
pratica a deles fugir, ou a ceder para evitá-los. Pelo contrário, ensina e
possibilita a melhor gerir o conflito. E mais bem gerir um conflito não é
procurar ganhar a todo o custo.
Mais bem gerir um conflito consiste em detetar e
obter a melhor solução possível para o mesmo. Por vezes, "vencer" o
conflito pode parecer à melhor solução no curto prazo, mas revelar-se
desastrosa depois.
O maçom aprende a gerir o conflito, desde logo se
treinando a fazer algo que, sendo básico, é muitas vezes esquecido: ouvir!
Ouvir o outro, as suas razões, pretensões. Ouvir o outro não é apenas deixá-lo
falar. É prestar efetivamente atenção ao que diz e como o diz.
Para procurar determinar porque o diz e para que o
diz. E assim lobrigar exatamente em que medida existe realmente conflito de
interesses entre si e o outro - ou se existe apenas uma aparência de conflito
de interesses, por deficiente entendimento, de uma ou das duas partes, de
propósitos, intenções, objetivos.
Ouvir o outro é o primeiro exercício prático da
Tolerância, da verdadeira Tolerância. Porque esta não é o ato de,
condescendentemente, admitir que o outro tenha uma posição diferente da nossa e
permitirmos-lhe, "generosamente", que a tenha.
A verdadeira
Tolerância não é um ponto de chegada - é uma base de partida.
A verdadeira Tolerância resulta do pressuposto
filosófico de que ninguém está imune ao erro. Nem nós - por maioria de razão.
Portanto, tolerar a opinião do outro, a exposição do seu interesse, porventura
conflituais com a nossa opinião e o nosso interesse, não é um ato de
generosidade, de condescendente superioridade.
É a consequência da nossa consciência da Igualdade
fundamental entre nós e o outro. Que implica o inevitável corolário de que,
sendo diferentes as opiniões, se alguém está errado, tanto pode ser o
outro como podemos ser nós. A Tolerância não é um ponto de chegada - é uma
base de partida. Não é demais repeti-lo.
Porque a consciência disto possibilita a primeira
ferramenta para a gestão do conflito: a disponibilidade para cooperar com o
outro, para determinar (1) se existe verdadeiramente divergência entre ambos;
(2) existindo, qual é ela, precisamente; (3) em que medida é essa divergência,
superável, total ou parcialmente; (4) ocorrendo superação parcial da
divergência, se o conflito se mantém e, mantendo-se, se conserva a mesma gravidade;
(5) finalmente, em que medida é possível harmonizar os interesses conflitantes:
cada um abdicando de parte do seu interesse inicial? Garantindo ambos os
interesses, seja em tempos diferentes, seja em planos diversos?
Treinando-se na prática da Tolerância, o maçom
aprende a lidar melhor com o conflito, porque é capaz de, em primeiro lugar,
determinar se existe mesmo conflito, em segundo lugar predispõe-se para
cooperar na superação do conflito e finalmente adquire a consciência de que
existem várias, e por vezes insuspeitas, formas de superar, controlar,
diminuir, resolver, conflitos - quantas vezes logrando-se garantir o essencial
dos interesses inicialmente em confronto.
E tudo, afinal, começa por saber ouvir e por saber
tolerar (o que implica entender) a posição do outro.
Por isso o primeiro exercício que é exigido ao
maçom é a prática do silêncio. Para que aprenda a ouvir, para que se aperceba
do que realmente é dito, para que reflita sobre a melhor forma de resolver os
problemas que ouça expostos.
Através do silêncio, aprende o maçom a sair de si e
a atender ao Outro. Através da Tolerância da posição do Outro, aprende o maçom
a descobrir a forma de harmonizá-la com a sua. Através da busca da Harmonia,
aprende o maçom a gerir os conflitos. “Através da gestão dos conflitos,
torna-se o maçom melhor, mais eficiente, mais bem sucedido.”
Rui Bandeira
Inicialmente publicado, em 31 de março de 2010, no blogue A Partir Pedra (a-partir-pedra.blogspot.pt)
ResponderExcluirMuito bom texto! Realmente nós maçons aprendemos a gerir melhor todos os conflitos, que no dia a dias encontramos. Eu, aprendi muito com a prática do silêncio .Um T.F.A. a todos os IIr.
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