Dom Lélis Lara
Dom Lélis Lara fala sobre
relação da Maçonaria e Igreja Católica. Bispo Emérito e Consultor Jurídico da
CNBB proferiu palestra para platéia de 200 pessoas, no Templo da Loja Maçônica
União de Ipatinga. DOM LARA palestrou, por cerca de 40 minutos, para uma atenta
e diversificada platéia, entre os quais o padre Geraldo Ildeu (conservador).
O Bispo Emérito da Diocese Itabira-Coronel
Fabriciano, Dom Lelis Lara, foi o centro das atenções de um eclético e seleto
público, na noite da última segunda-feira, (01 de setembro de 2010, segundo
mensagem repassada – via Internet – pelo Ir∴ Sérgio Antônio), quando proferiu inédita palestra
sobre as relações entre a Igreja Católica e a Maçonaria, no Templo da Loja
Maçônica União de Ipatinga, no centro da cidade.
O religioso palestrou a convite
do Venerável Mestre da Loja União de Ipatinga, Ednaldo Amaral Pessoa, que tem
como um dos pilares de sua gestão a realização de sessões públicas onde são
realizadas palestras, abertas à comunidade, sobre temas diversos e de grande
interesse de toda sociedade, não apenas dos maçons e seus familiares.
Segundo Dom Lara, o Concílio
Vaticano II (1963-1965) escancarou as portas e janelas da Igreja para o mundo,
e que depois do Concílio o propósito da Igreja Católica é se aproximar de todas
as pessoas do mundo, sem preconceito, sejam elas cristãs ou não.
E foi exatamente no espírito do
Concílio Vaticano II que o Bispo se inspirou para falar da relação entre a
Igreja Católica e a Maçonaria. Dom Lara disse que “quando se fala de Igreja e
Maçonaria, muitas vezes se estabelece ou se imagina um confronto entre essas
duas entidades, mas não deveria ser assim, porque católicos são cristãos e os
maçons também, senão todos, certamente grande parte.
E Jesus, ao final de sua vida,
deixou para os seus seguidores o testamento de que devemos amar uns aos outros.
Mas, segundo o bispo, esta palavra de Jesus não foi sempre bem entendida, e que
às vezes é entendida de acordo com a índole das pessoas, e as pessoas mais
radicais muitas vezes ficam com o coração armado, na defensiva ou no ataque,
quando, como filhos de Deus, deveriam viver como irmãos, com o coração desarmado,
respeitando as diferenças.
RITOS
Inicialmente, Dom Lara
apresentou, de forma objetiva, a história da Igreja Católica, destacando a
caminhada da Igreja - que já dura mais de dois mil anos - e que a instituição é
como um barco no meio do oceano, que passou por muitos escolhos e superou
muitas tempestades, e que procura sempre se adaptar aos tempos. O bispo lembrou
ainda que o Papa João XXIII, responsável pela convocação do Concílio do
Vaticano II, foi o grande responsável por colocar a Igreja Católica no caminho
da atualização. Entretanto, segundo Dom Lara, este trabalho de atualizar a
Igreja não é fácil, porque há várias correntes ou tendências dentro da própria
Igreja, o que dificulta a caminhada.
Dom Lara destacou também que a
Igreja Católica mundial adota dois ritos (maneira de celebrar a liturgia e de
organizar a vida da Igreja) distintos: o rito latino e o rito oriental, sendo
que na Igreja Católica oriental existem padres casados exercendo o ministério,
o que não é admitido pela disciplina da Igreja Católica Latina.
Esta postura, de dois ritos
distintos, de acordo com o Bispo, é em respeito às grandes tradições e costumes
dos orientais católicos. Dom Lara apresentou também à platéia o índice
esquemático do Código de Direito Canônico, dando uma ideia de como se
constitui, se organiza e funciona a Igreja Católica, destacando que o Povo de
Deus está em evidência na sociedade eclesial. Ele finalizou seu breve relato da
história da Igreja dizendo que estava ali “em simples pinceladas, um retrato da
Igreja Católica, que nós dizemos ‘santa e pecadora’.
MAÇONARIA OPERATIVA
Em seguida, Dom Lara discorreu
sobre a origem da maçonaria, na idade média, quando a sociedade civil se
constituía de corporações, entre as quais se destacaram as associações
religiosas e as de operários. Dentre as de operários tinha destaque especial a dos
pedreiros, que, por causa dos seus serviços apreciados em edifícios públicos,
especialmente em igrejas, gozava de certas prerrogativas, de isenções e de
franquias. Daí a origem de franc-maçon, ou pedreiros livres. Todos eram
profundamente religiosos e cada associação queria firmar seus alicerces na
religião, que dominava a sociedade, a fim de garantir sua estabilidade e
proteger seus membros, proporcionando-lhes bem-estar físico, desenvolvimento
intelectual e eterna felicidade à alma.
MAÇONARIA FILOSÓFICA OU ESPECULATIVA
Citando vasta bibliografia
consultada, Dom Lara lembrou que o pastor protestante James Anderson foi o
responsável pela elaboração das “Constituições” maçônicas, que em 1723 foram
adotadas pela Grande Loja de Londres, que havia sido fundada em 1717. Dom Lara
não deixou de citar também que foi James Anderson que distinguiu a Maçonaria
Operativa, já extinta àquela época, da Maçonaria Especulativa, que pretendia
plasmar o século das luzes, tendo por base Liberdade, Fraternidade e Igualdade.
A grande diferença entre as duas fases da
Maçonaria, a Operativa e a Especulativa ou Filosófica, é que na segunda os
ofícios (pedreiros, carpinteiros etc.) passaram a ser simbólicos. Em vez da
construção de catedrais de pedra, o ideal devia ser, a partir de então, a
edificação de catedrais humanas, ou homens ideais, para honra do Grande
Arquiteto do Universo (Deus)
APROXIMAÇÃO
Já entrando na questão das
divergências entre as duas instituições, Dom Lara lembrou que a partir do
século XIX, mais precisamente em 1877, o Grande Oriente da França suprimiu de
suas constituições o dever de acreditar em Deus e na imortalidade da alma, e
admitiu em seus quadros irreligiosos e ateus, caindo na irregularidade. Em
função disto, a Loja Mãe da Maçonaria, Grande Loja Unida da Inglaterra, cortou
relações com ela e ainda as mantém cortadas.
Assim, constatado que o
anticlericalismo e o anticatolicismo se verificam apenas na Maçonaria irregular
e não são da essência da Maçonaria Universal, é cada vez mais forte o movimento
de aproximação entre a Igreja Católica e a Maçonaria. Ainda segundo o Bispo, é
neste contexto que devem se colocar os pronunciamentos da Igreja Católica após
o Concílio Vaticano II.
Dom Lara citou ainda um trecho
bíblico ... “não deixes tua mão esquerda saber o que a direita faz” (Mateus
6,3) para enaltecer uma das convicções dos maçons, que é a de praticar a
filantropia sem dar publicidade ao ato. O que, segundo ele, é um princípio
louvável.
O Bispo foi enfático também ao
afirmar que “muitas vezes a Maçonaria é vista como associação envolta em
mistérios, segredos, como por exemplo, sinais para se identificarem como
maçons; e isso faz com que muitos imaginem ou fantasiem coisas estranhas,
ridículas e absurdas, como pactos com o diabo e coisas assim”.
RELAÇÃO TENSA
Ao discorrer sobre o
relacionamento entre a Igreja e a Maçonaria, Dom Lara disse que “ao longo da
história, aconteceu muita coisa que¸ infelizmente, devemos lamentar. As
relações entre estas duas instituições foram tensas. Mas essas tensões não tinham
a mesma intensidade em todas as regiões. Antes do Concílio Vaticano II o
posicionamento da Igreja Católica em relação à Maçonaria era muito severo. O
cânon 2335, do antigo Código de Direito Canônico, estabelecia excomunhão para
quem ingressasse na Maçonaria ou em outras associações que maquinassem contra a
Igreja ou autoridades civis legitimamente constituídas.
No atual código de Direito
Canônico esta penalidade não consta. Aliás, a palavra Maçonaria não é conhecida
no atual código de Direito Canônico. O cânon 1374 desse Código penaliza o
católico que ingressar em associação que maquina contra a Igreja. Não se refere
explicitamente à Maçonaria”, enfatizou o religioso.
Para Dom Lara, na Região
Metropolitana do Vale do Aço as relações entre Igreja Católica e Maçonaria
parecem tranquilas, e que o Bispo Diocesano, Dom Odilon Guimarães Moreira tem a
mesma impressão.
Ele citou ainda dois
acontecimentos recentes que definem bem a boa relação entre as duas
instituições. “Um que teve grande repercussão nacional, e mesmo fora do Brasil,
a missa celebrada, no Natal de 1975, na Loja Maçônica Liberdade, de Salvador,
pelo Exmo. Sr. Cardeal Avelar Brandão Vilela, Arcebispo daquela cidade, já
falecido. Naquela oportunidade, o Cardeal foi agraciado com distinta honraria
da Maçonaria. No ano seguinte, 1976, semelhante homenagem recebeu o Cardeal
Arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns”, destacou.
Mas Dom Lara deixa claro que a
relação Maçonaria e Igreja Católica não é a mesma em todos os lugares, e que
depende da orientação de seus responsáveis ou dirigentes. Segundo ele, coisa
semelhante acontece com a Igreja Católica e Igrejas Protestantes, citando como
exemplo casos em que pretende-se realizar a celebração ecumênica de um
casamento entre uma parte católica e a outra de religião cristã não católica.
Há pastores que o permitem e há os que se opõem radicalmente a tal celebração.
Segundo ele, dentro da própria
Igreja Católica, em questões não definidas pela doutrina ou autoridade da
Igreja, a orientação ou decisão dos bispos não é sempre a mesma.
O Bispo Emérito da Diocese
Itabira-Coronel Fabriciano finalizou sua palestra com uma mensagem de união para
os presentes: “o desejo ardente de Jesus Cristo é que todos sejam UM. E que
todas as pessoas da Terra se enlacem num grande abraço. Este sonho de Jesus
Cristo deve encontrar eco e ressonância no coração de todos nós, seus
seguidores. Ao longo da história sempre surgiram pessoas sensíveis ao projeto
de Deus ao criar o homem e a mulher à sua imagem e semelhança”.
Para o presidente da Loja
Maçônica União de Ipatinga, Ednaldo Amaral Pessoa, a visita de Dom Lara
proporcionou momentos de rara felicidade a todos aqueles que compareceram à
sessão. “A manifestação de Dom Lara foi simplesmente louvável, pois
proporcionou oportunidade para que misticismos acerca da Maçonaria e da Igreja
Católica fossem esclarecidos” destacou.
Ednaldo destacou ainda que a
mensagem de Dom Lara mostrou-nos a lição de que a relação com DEUS, para quem
crê, é terapêutica e nos leva a viver a cura de nossas feridas interiores e
físicas. Por fim, ressaltou que a presença de Dom Lara na Loja Maçônica
demonstrou o quão grande é a sua coragem, restando constatada a erudição,
sabedoria, inteligência e simplicidade, tão peculiar em Dom Lara.
A palestra de Dom Lara foi
acompanhada por cerca de 200 pessoas, representantes de vários setores da
comunidade, como Lions, Rotary, Judiciário, OAB e padres, além de membros de
várias Lojas Maçônicas da região metropolitana do Vale do Aço.
A palestra despertou de tal
forma o interesse da comunidade que a administração da Loja União de Ipatinga
teve que colocar um telão no salão que antecede seu Templo para que várias
pessoas não voltassem para casa sem assistir a palestra, visto que o interior
do Templo já estava completamente lotado.
Ao final da cerimônia, Dom Lara
foi homenageado com uma placa de agradecimento e reconhecimento aos relevantes
serviços prestados à comunidade, bem como por seu desprendimento em realizar a
inédita palestra.
S∴ F∴U∴
J
M Viveiros
O Resumo da palestra:
ResponderExcluir“o desejo ardente de Jesus Cristo é que todos sejam UM. E que todas as pessoas da Terra se enlacem num grande abraço.