Em geral um dos primeiros trabalhos que se solicita
a um Aprendiz Maçom, depois de falar da sua iniciação, é discorrer sobre o piso
mosaico.
Esse tema
rico é comumente abordado de forma muito pobre e totalmente sem proveito para a
formação humana do iniciado. Ao lado de vários outros temas ricos pobremente
tratados, a interpretações que se fazem hodiernamente nos trabalhos de Loja
acerca do piso mosaico constitui desperdício temático. Mas em que consiste esse
desperdício? E porque é um desperdício?
Tem-se
por prática na maçonaria produzir um conjunto de preconceitos factuais,
misturando e ignorando por completo os avanços nas mais variadas esferas do
conhecimento humano. Ao falar do piso mosaico é comum destacar que na Maçonaria
ele é o exemplo da convivência fraterna entre os diferentes. Outros procuram
dizer que ele é a dualidade e sob outro ponto de vista pode ser considerado
nefasto, pois representa a briga entre bem e mal e tudo que isso implica.
Porém, poucos param para pensar sobre o atual quadro da maçonaria e em que
sentido ele é “convivência” da diversidade. Por exemplo, já ouvi de um Irmão no
Estado do Espírito Santo dizer que não se admitia negros na Maçonaria. Aliás,
tem muito Confrade que se esconde por trás do mistério para dizer as maiores
perolas da burrice humana.
A falsa
idéia de que o piso mosaico representa a convivência entre diferentes pode ser
estendida ao fato que não há mulheres na Maçonaria ou homossexuais masculinos.
É uma falsa interpretação dizer que há convivência de diferentes na Ordem. É
mais plausível dizer que há um “arremedo” de diferente. Até mesmo nas Lojas
Maçônicas há uma seguimentação de status social e intelectual, isto é, existem
lojas de médicos; outra de empresários; outra de militares. O que comprova a
dificuldade de levar esse princípio da diversidade à frente em Loja.
A idéia
de diversidade propalada esbarra ainda no desejo explicito e inconsciente de “corpus
militare” tão ufanado pela Ordem. A idéia de militar revela um desejo de
semelhança entre todos, ou como é comum ouvir irmãos dizerem, hombridade. Só há
hombridade onde existem iguais e não diferentes.
Nos
equívocos históricos e literários temos outros detalhes que corroboram nossa
investida contra a falsa idéia de diversidade na Maçonaria, expressa no piso
mosaico. No contexto de James Anderson, o pastor falido e que ganhava a vida
fazendo genealogias fantasiosas para quem o pagava com a intenção de obter um
passado nobre, diversidade era uma falsa idéia. Na verdade o que havia era um
grupo pessoas, intelectuais e comerciantes com problemas em comum. Em geral
eram forasteiros em Londres, caso de Desaguliers, vindo de Paris fugindo pelo
fato de ser “protestante” em terras Católicas e James Anderson, oriundo da
Escócia e vivendo em Londres sofrendo as discriminações que um nordestino vive
em São Paulo.
Nesse
contexto de tão propalada convivência com os diferentes representada pelo piso
mosaico, somos levado a pensar que eram “iguais” se unindo para se proteger das
adversidades e que o “simbolismo” do piso mosaico serviu apenas como fundamento
de algo não tão nobre que é era a realização de interesses matérias. James
Anderson o de ser aceito na sociedade londrina – e produzir sua subsistência –
e Desaguliers uma estrutura para executar seus experimentos científicos.
A
questão, portanto, do piso mosaico como sinônimo de diversidade cai por terra
enquanto ícone de diversidade no interior da Loja. Somos mais um grupo de
iguais em busca de interesses pessoais, sejam eles nobre ou não. O que é
diverso parece-nos ser apenas os interesses. Alguns à procura de promoção
intelectual, outros, navegar na política Estatal e, sobretudo, os famigerados
advogados em distribuir o “cartãozinho” no final da seção.
Um leitor
honesto que seguiu as linhas desse texto ensaístico pode fazer a pergunta: Mas
afinal, não há um sentido nobre para o piso mosaico? Seria ainda assim possível
tomar esse símbolo tão forte nas Lojas sob uma ótica proveitosa?
Pensamos
que seja possível abordar o tema do piso mosaico sob uma ótica proveitosa e
formativa, mas é preciso desmontar a falsa idéia historicamente cultivada
acerca desse símbolo. Pode-se, por exemplo, refletir quão difícil é conviver com
o diferente e que o piso mosaico nos lembra sempre essa questão. Outro veio
temático é o caráter preto-branco no qual a sociedade de massa vive, dito de
outro modo, a sociedade de massa vive uma vida na qual a realidade parece ser
dividida entre isso ou aquilo. Esse simplismo do real, que é complexo,
põe dificuldades para vida das pessoas. A vida não é “oito ou oitenta”, ser
pai, por exemplo, não se reduz a isso ou aquilo. Consiste em um exercício muito
mais complexo.
Para
apontar um caminho proveitoso ou, como dirá um advogado de plantão, “profícuo”
na formação de quem chega à Maçonaria, o tema do piso mosaico deve ser o “ponta
pé” para se discutir o conceito de “cultura de massa” e tudo que implica pensar
a cultura. Decorre desse símbolo uma ampla reflexão sobre a formação
“humanística” nos dias de hoje, pois vivemos em época de sociedade que reduz e
ridiculariza qualquer tentativa de ir além dos “entretecimentos”. Dizer para um
“curioso” que na Maçonaria se discute filosofia é uma piada, pois para a cultura
de massa só existe as coisas do sexo e da violência, temas veiculas a cada
segundo nos vários canais de televisão. Nesse contexto de cultura simplista, de
dualidade da realidade, só pode existir o que a TV diz existir. Na TV só tem
erotismo e violência, logo, para essa cultura na Maçonaria só pode existir uma
coisa ou outra.
Enfim, o
texto é apenas um aperitivo, uma introdução breve para o tema do Piso Mosaico.
Aliás, o texto não tem a pretensão de ser “O Texto” sobre piso mosaico, pois em
maçonaria o que nos motiva é o fato do trabalho reflexivo coletivo. A
possibilidade de participar desse projeto coletivo é que estimula a
fraternidade.
Ir. Almeida
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