Em um artigo anterior a esse comentamos o significado da
letra G para os maçons atuais e antigos, iremos repassar alguns aspectos
acrescentado alguns detalhes sobre esse importante símbolo.
A letra G nas lojas maçônicas não tem o mesmo significado e
características de universalidade quando comparada com as joias, os móveis, ou
os ornamentos da Loja.
As ferramentas de trabalho, as maiores e menores luzes, e
os pilares, transmitem as mesmas lições aos maçons em todas as línguas e são
universalmente aceitas, no entanto a inicial “G” tem sua interpretação baseada
na língua inglesa.
Além do significado da divindade temos a explicação que o
‘G’ significava originalmente Geometria. Historicamente, maçonaria operativa
usava a geometria aplicada e, assim, nos tempos antigos a Maçonaria era
sinônimo de Geometria.
A palavra Geometria teve significado especial para os
maçons antigos. O pedreiro da idade média não usava manual de arquitetura, e
não havia desenhos de construção; sua arte era baseada apenas em geometria, e
sua habilidade consistia em saber de cor muitos dos processos de Geometria, e
seus segredos eram nada mais do que estes mesmos processos e o conhecimento de
como aplicá-los, o que ele não compartilhava com aqueles que não houvessem sido
iniciados no ofício.
Sendo este o caso, era natural que o que ele devesse ter em
alta reverência a Geometria, representada pela sua letra inicial (que é a mesma
em francês, latim, alemão e Inglês, as línguas Maçônicas), e adotado a letra G
como um símbolo nos seus trabalhos.
Haywood em seu Tratado sobre o simbolismo maçônico diz
claramente “… Não tem havido consenso entre os nossos estudiosos, quer quanto à
origem da letra G ou ao seu significado. Normalmente, nós podemos discutir
sobre a maneira em que um símbolo foi introduzido no Ritual, estudando os
registros do início do século XVIII, na Inglaterra, e o tempo que o Ritual foi
lançado em sua forma moderna, mas esse estudo não pode nos ajudar, porque os
maçons do século XVIII eram confusos sobre o assunto. Esta confusão sobrevive
até os dias de hoje com algumas autoridades afirmando uma teoria, outros
afirmando o oposto….“
No entanto, um olhar para o velho documento de Masonic
Charge, o Manuscrito Haliwell datado de 1390 lança algumas dúvidas
sobre uma explicação tão elaborada. É verdade que na abertura deste manuscrito
lemos os versos que traduzidos querem dizer: “Nesse tempo, através de uma boa
geometria, este ofício honesto de boa alvenaria foi ordenado e fez desta
maneira, de contra-facção destes atendentes juntos; Em orações de este senhor
que imitou geometria, e deu-lhe o nome de alvenaria, para o ofício mais honesto
de todos“.
Assim, Geometria foi tida em alta estima pelos maçons
operativos. No entanto, o Manuscrito continua, em seus versos, mais tarde, para
se referir a Deus, e rogo aos maçons: “Ore agora a Deus Todo Poderoso, E a sua
mãe Maria brilhante“.
Essa citação pode nos levar a crer que os pedreiros da
época levaram a letra inicial de Geometria e a penduraram na loja para servir
como um símbolo de reverência. Mas, o que está claro no Ritual de 1740 é que,
quando os primeiros vislumbres de simbolismo especulativo começaram a fazer sua
aparição na corporação, a importância da geometria foi enfatizada pela letra G,
significando a raiz e o fundamento de todas as artes e ciências.
Ao mesmo tempo, os maçons especulativos começaram a se
referir a Deus como o Grande Geômetra do Universo, e alguns acham que essa
tendência ajudou a resignificar a letra “G” da Geometria para Deus (God), o que
seria válido somente no idioma inglês.
Em algumas das apresentações em inglês, a letra G teve
significado de “glória, grandeza e geometria”. Até o final do século XVIII e
início do XIX, a letra G foi começando a ser interpretada e a ter um
significado simbólico de Deus, pelo menos na maçonaria inglesa, em comparação
com geometria. São essas duas noções distintas que ainda estão vivas nos
rituais praticados hoje.
Entre 1740 e 1780 não há evidência da letra G ser um item de
mobiliário de loja, quer como um pendente a partir do teto da sala quer como um
molde no chão ou como parte do desenho do traçado da prancha de mestre.
A primeira menção à letra ‘G’ em ritual antigo da Grande
Loja da Inglaterra é encontrada hoje no ritual do Segundo Grau. No final de uma
instrução no Segundo Grau as seguintes palavras aparecem: “Quando nossos irmãos
antigos estavam no compartimento central do Templo, sua atenção foi dirigida a
certos caracteres hebraicos que são representados pela letra G, denotando Deus,
o Grande Geômetra do Universo, a quem todos devemos submeter e quem devemos
adorar humildemente”.
Revisando os numerosos documentos ingleses e escoceses
datados de 1696 até 1730 não se encontra qualquer menção à letra G. A mais
antiga referência, é um anúncio de jornal, em 1726, que anuncia que não
haveriam várias palestras sobre a Maçonaria Antiga, em especial sobre o
significado da letra G.
O significado a letra G será visto no “Manuscrito Wilkinson”,
datado de 1727 como um ritual, onde é perguntado: O que é o centro da Loja? E a
resposta é: A letra G. No entanto, o uso da letra G foi, definitivamente,
estabelecido no ritual maçônico por Prichard em 1730. Em seu livro, encontramos
passagens no Grau de Companheiro que indicam o significado de Deus e de
Geometria como a quinta das sete artes liberais e ciências antigas.
A consulta aos manuais antigos nos revela claramente que a
letra “G” entrou nos rituais maçônicos especulativos no Segundo Grau da
Maçonaria. Mais tarde, quando os dois graus foram divididos em três, continuou
a permanecer no segundo grau, dentro de uma estrela de seis pontas. No manual
também aparece à alusão aos caracteres hebraicos que nos dá uma indicação de
como a letra G veio a ser colocada na estrela.
De acordo com antigas tradições judaicas o verdadeiro nome
de Deus, dado ao povo judeu através de Moisés, não tinha permissão para ser
escrito, salvo com as consoantes J (ou Y), H, W, e apenas H. Na época do exílio
a pronúncia e, consequentemente, a verdadeira ortografia, do Santo Nome foi
perdida.
As consoantes mantiveram-se, mas quais vogais eram ninguém
conseguia descobrir. Encontrar o nome perdido se tornou uma das grandes
ambições de sacerdotes e estudiosos judeus, e esta pesquisa tornou-se um dos
principais temas da literatura da Cabala. Não tendo o próprio nome os
cabalistas tinham o costume de inscrever um hebraico “Y” (Yod ou Ghemeel) para
o centro de um triângulo com lados iguais para retratar o Nome.
É possível que este símbolo tenha sido trazido para a
Maçonaria pelos maçons especulativos que também eram cabalistas, mas que, no
decorrer do tempo, os cabalistas não maçons que compunham a maior parte das
lojas na Grande Loja da Inglaterra, substituíram a letra inicial de “Deus”
(God) para o hebraico “Yod”.
Como vemos o simbolismo da letra G na maçonaria sofreu
adaptação de seu significado ao longo dos últimos séculos e hoje pode ser
interpretado tanto como Geometria como um louvor a Deus, o Grande Arquiteto do
Universo.
Honório Sampaio Menezes, 33º, REAA, Loja Baden-Powell 185,
GLMERGS, Porto Alegre, RS, Brasil.
São fontes de informação sobre o assunto:
Harry Le Roy Haywood, Symbolic
Masonry – An interpretation of the three degrees, Fugazi Press.
The Masonic Lodge of Education
(website), Masonic G for God and Geometry
Grand Lodge of British Columbia and
Yukon (website), The Haliwell Manuscript (with Translation)
Samuel Pritchard, Masonry
Dissected, 1730
Henry Carr. The Collected
Prestonian Lectures – 1925 to 1960
Albert Pike, Morals and Dogma
William Hutchinson. The Spirit of
Masonry
Charles T. McClenachan. The Book of
the Ancient and Accepted Scottish Rite Of Freemasonry
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