Entramos para a Maçonaria como recebedores e
devemos nos transformar em doadores e transformadores. Até hoje, as informações
que temos estudado sobre nossa instituição são históricas, relevantes, evidentes,
simbólicas e devidamente estudadas e preservadas, mas… Sentimos a falta de um
elo, de uma evidência maior para preencher determinadas lacunas obscuras,
difusas e mal explicadas.
A Ordem tem preservado uma representação simbólica
em todos seus componentes ocultando uma verdade, mostrando apenas a forma
visível e externa de uma realidade interior e espiritual.
Estamos ainda numa época em que todos ainda
necessitamos e aprendemos através do processo cerimonial precisando de uma
autoridade investida, e nos insurgimos contra qualquer liberdade e
independência fora dos padrões que elegemos e nos impusemos.
Enaltecemos a liberdade de consciência que é a
única que os maçons admitem, aceitam e divulgam, mas nos atemorizamos quando
nos deparamos com outras verdades que não se enquadram com nossa própria
estratificação (2) ou modo de pensar (3).
Disse o Senhor Buda… Que não devemos crer em algo
meramente porque seja dito; nem em tradições porque vem sendo transmitidas
desde a antiguidade; nem em rumores; nem em textos de filósofos porque foram
estes que os escreveram; nem em ilusões supostamente inspiradas em nós por um
Deva (isto é, através de presumível inspiração espiritual); nem em ilações
obtidas de alguma suposição vaga e casual; nem porque pareça ser uma
necessidade análoga; nem devemos crer na mera autoridade de nossos instrutores
ou mestres.
Entretanto, devemos crer, quando o texto, a
doutrina, ou os aforismos forem corroborados pela nossa própria razão e
consciência. “Por isto” disse o Buda ao concluir, “vos ensinei a não crerdes
meramente porque ouvistes falar, mas, quando houverdes crido de vossa própria
consciência, então devereis agir de conformidade e intensamente.” (4)
Os mais atentos poderão verificar que existem
similitudes de idéias e conceitos nos textos de seus autores preferidos atuais
ou antigos, pensadores, filósofos, cristãos, cientistas e tantos quantos
puderem relacionar; são ideias e conceitos expostos com outra linguagem ou
formas de expressão, pois, os períodos são marcados pelos viajantes de sua
própria época de conformidade com a dinâmica da vida de seu tempo histórico.
Estamos presenciando nesta época conturbada o
esfacelamento das estruturas que mantiveram a Humanidade num equilíbrio social
e de comportamento desejável (5).
Todos os esforços despendidos para promover o ser
humano em seus relacionamentos estão sendo transformados e alterados de forma
irreversível sendo parte de um processo evolutivo que independe de nossas
vontades, e deste modo, aceitando ou simplesmente compreendendo, há necessidade
de adaptação, transformação ou pelo menos compreensão.
A cada geração, aspectos essenciais são preservados
e ao mesmo tempo enriquecidos com outras formas que tomam o lugar das formas
desgastadas pelo avanço civilizatório. Esse processo evolutivo é firmado sobre
alicerces que foram sedimentados através do tempo e sobre eles, sempre
atendendo temporariamente às aspirações da vida interior (espiritual) que é
dinâmica, incessante e anseia expandir.
Nossa instituição proporciona um “despertar” para a
vida interior através dos procedimentos em todo processo da admissão, desde o
convite ao profano (6) até seu ingresso.
É uma experiência subliminar (7) que estimula uma
expansão da consciência provocando e revelando degraus de possibilidades evolutivas.
Toda a dinâmica trabalhada nesse processo de iniciação tende a centrar para
esse despertar (8).
Todos nós independente de nossa origem, berço ou
formação, enfrentou no mais íntimo de seu ser, aquela “crise existencial” em
que nos perguntamos “quem sou eu?”, “o que é a vida?”, “de onde viemos, para
onde vamos?”, “qual minha tarefa para essa existência?”.
O trabalho maçônico e sua dinâmica possibilitam a
resposta a essas reflexões ao longo do tempo, mas não é tudo.
Ela revela-se como um agente transmissor de valores
elevados e compreensão espiritual, proporcionados pelo aumento das percepções
sensoriais ativadas pela vivência e dinâmica da ação ritualística, podendo
resultar no recebimento de impressões superiores tornando a mente um
instrumento receptivo e transmissor de valores elevados e ampla compreensão
espiritual.
Toda existência de qualquer ser humano (e todos os
outros seres da natureza, “animados ou inanimados”) tem um termo onde sua
existência manifesta termina, havendo uma decomposição material e transformação
em seus elementos básicos, mas a força ou energia de coesão desses elementos
não se perde se transforma.
No Universo que conhecemos há uma causa ativa que
podemos chamar força ou energia que provoca uma manifestação, a existência
dessa manifestação e o seu afastamento. Essa manifestação toma uma forma, entra
em atividade e tem uma função apresentando um determinismo próprio que é
necessário compreender e está em constante evolução.
Foi em Londres que IIr.’. premidos pela necessidade
de se adequar ao espírito da época procurando escapar dos estreitos (9) padrões
mentais até então vigentes (séc. XVII), que em 24 de junho de 1717 a Maçonaria
passa de operativa para especulativa fundando-se a Grande Loja de
Franco-Maçonaria dando-se uma estrutura escrita e unificada procurando
estabelecer uma unidade formal e controlada.
Isso não quer dizer que a Maçonaria passa a existir
a partir dessa data, organizou-se como instituição a partir desse período, mas
suas origens remontam a um passado distante onde são encontrados símbolos e
sinais no Egito antigo e princípios morais e espirituais em todas as
civilizações da antiguidade.
Ofuscou-se em parte a mais bela e atrativa ideia de
uma Maçonaria livre em uma Loja livre, pois, a necessidade de controle foi se
sobrepondo aos méritos pessoais dos cidadãos livres e de bons costumes,
dificultando em nossa ótica, uma atuação autônoma e independente de Lojas e IIr
(10)
Mas, o que queriam registrar em nossos templos
através de toda simbologia nossos antepassados maçônicos? Após o ingresso, o
que nos motiva verdadeiramente em continuar participando dos trabalhos? Qual
nossa aspiração em ascendermos os vários graus? Desejo de servir à humanidade,
devoção aos trabalhos ritualísticos, oportunidade de lapidar nossos conceitos
morais, expandir nossa consciência, aculturação (11), convívio social e
político, alimentar um status relevante? Por que preservar? O que nos atrai?
Nossos estudos estão ancorados no conteúdo
histórico maçônico que está à disposição através da bibliografia oferecida
pelos diversos ritos; em toda dinâmica proporcionada pelo rito que provoca uma
mudança no comportamento estimulando nosso caráter na sociedade; e nos
conceitos inseridos no ritualismo que estimulam a reflexão sobre a
espiritualidade.
Atualmente com o recurso da tecnologia da
informática e das novas conquistas da ciência estamos mais amparados com
informações sobre qualquer tema, pois, estamos perfeitamente habilitados a
desenvolver e compreender a história, aprimorar nosso caráter, desenvolver
nossa espiritualidade sem precisarmos frequentar e nos submeter a uma
autoridade constituída como a Ordem ou a qualquer instituição, propiciando a
apreciação pessoal da realidade.
Por todo esse processo (se for só isso) não
precisamos frequentar as oficinas, pois, somos capazes de compreender e
aprofundar os estudos referentes à Maçonaria sem os chamados “segredos” que
(sob nosso ponto de vista) nada mais são (nesta atualidade) do que conteúdos
que convergem para um aprimoramento do caráter. Também muito falamos em “escola
de líderes”, mas muitos que aqui adentram possuem o embrião da liderança, pois
tomam atitudes políticas em seu ambiente profissional e social sem se
revelarem.
Mas, não haveria algo mais inserido nessa dinâmica,
nesse conjunto de fatores, que foi incluído no passado e que ainda não
conseguimos visualizar ou compreender?
Podemos afirmar que o trabalho ritualístico da
Ordem Maçônica, isto é, a prática dos rituais que se repetem é o símbolo da
dinâmica das formas e funcionamento do Universo (sistema e ordem) e se referem
ao homem por ser este uma consciência que pode compreender e assimilar o mundo
objetivo e que não está manifesto por acaso.
Revitaliza nossa vida espiritual, pois, proporciona
uma diretriz para o comportamento e entendimento que direcionam a compreensão
da essência criativa.
A advertência (12) e o título utilizado nas sessões
e impressos “À Glória do Grande Arquiteto do Universo” e comumente usado em
forma abreviada “GADU” deixa claro e expressa a lembrança e o reconhecimento de
um “Princípio Criador” e como consequência, de um “plano criativo” (13) com
Leis e conjunto de processos gerando no universo um desenvolvimento que
favorece o desabrochar da vida.
São forças construtivas disseminadas cujo efeito na
humanidade, a sua natureza e sua qualidade são ainda um mistério.
Quanto mais conhecimento e sabedoria nós
adquirimos, observamos que por trás da diversidade de formas há uma unidade
básica, que a Humanidade é a soma de todas as individualidades constituindo-se
um “Corpo da Humanidade” se assim podemos chamar, que o Homem não é um produto
isolado apesar de observarmos apenas as diferenças, e que nessa diversidade há
um todo único habitando o planeta e caminhando para uma realização maior.
Nossos “Princípios Gerais” caminham e indicam para
a realização de uma humanidade melhor e mais esclarecida que é o esforço e o
propósito que vem sendo trabalhado desde os primórdios das diversas
civilizações reconhecidas historicamente ou não (14).
Todo propósito quer de ordem política, tecnológica,
científica ou religiosa propugna o bem-estar, uma qualidade de vida que
proporcione satisfação e felicidade, liberdade de expressão, o direito de
usufruir dos bens oferecidos pela atual civilização proporcionando o espírito
fraternal em sua essência, o que afinal tem sido uma das buscas do ser humano.
A hipótese é que há um plano evolutivo em andamento
desde a criação do Universo (ou Universos) e que ainda não temos a plena
consciência de tal intuito.
Desde o aparecimento do homem no planeta esse plano
vem sendo executado ao longo de todas as civilizações e pelo grande impulso
dado pelos grandes “instrutores” das diversas raças. Se nos afastarmos de nossa
individualidade (15) e focarmos o aspecto abrangente e geral do ser humano no
planeta, perceberemos que há um ponto comum entre todos os povos e civilização
presentes ou passadas que é a elevação da consciência e convivência irrestrita
e fraternal entre todos os seres vivos de todos os reinos da natureza.
Esse aspecto comum está manifesto ou latente entre
os homens pelas suas organizações, grupos, ordens fraternais e iniciáticas,
instituições, igrejas (16) e personalidades que almejam e pregam um mundo
melhor e mais esclarecido.
Esses grupos formam e disseminam conhecimentos que
refletem suas ambições que são comuns entre si, mas formulados e expostos por
aspectos diferentes. Cada um desses grupos com sua dinâmica própria, instrui,
esclarecem e educam procurando elevar o nível de consciência de seus
participantes a um plano em que percebam em seu interior que há uma “família
humana” que caminha por um processo evolutivo que independe de nossa
compreensão.
Foram se formando através dos tempos sem que
tivessem contato, emergindo “espontaneamente” em todos os pontos do planeta e
se auto-estruturando procurando organizar-se e facilitar sua propagação.
Nossa Ordem objetiva a elevação e a expansão da
consciência em primeiro plano, um despertar para as metas espirituais, e como
conseqüência, deverá transpor as paredes da Oficina levando esse conhecimento
para a humanidade.
Trabalhamos com regulamentos e objetivos procurando
capacitar individualmente nossos membros para a ação influenciando a opinião
pública e assim provocando mudanças nas atitudes humanas. Somos partes de um
todo único cujo propósito é facultar a possibilidade da evolução pessoal e de
toda a humanidade.
José Eduardo Stamato, M.’.I.’.
ARLS Horus nº 3811 – Santo André – SP (Oriente de São Paulo) – Brasil
ARLS Horus nº 3811 – Santo André – SP (Oriente de São Paulo) – Brasil
Notas:
Pela sobrecarga como efeito de um acúmulo de informações em nosso
arquivo cerebral, acabamos armazenando informações com a certeza de estar de
posse da verdade maçônica (em particular), e hipóteses novas ou “redescobertas”
necessitam ser estudadas, pesquisadas e compreendidas em termos evolucionários.
E sendo uma suposição admissível, é passível de ser revelada.
Estratificação – disposição por camadas ou
estratos; (sociol.) processo social que conduz à superposição de camadas
sociais, mais ou menos fixa e rígido, de estados, classes ou castas.
Por analogia temos como ex. geral o óculo de grau
onde cada um se ajusta às suas próprias condições. São os diferentes graus de
consciência ou os diferentes patamares das inúmeras zonas de conforto.
Buda nasceu por volta de 563 a.C. e morreu por
volta de 483 a.C.
Se estivermos atentos perceberemos que essas
transformações são cíclicas. Os pontos de ruptura com o “status quo” das
diversas épocas geralmente foram marcados pelas revoltas, revoluções das massas
ou por comportamentos sanguinários de tiranos.
Profano – como adj.: (fig.) alheio; estranho a
idéias ou conhecimentos sobre certos assuntos. Não pertencente à religião;
oposto ao respeito que se deve a coisas sagradas; não sagrado; leigo. Como
s.m.: o oposto a coisas sagradas.
Subliminar – inferior ao limiar; que não passa do
limiar da consciência; que não chega a penetrar nela; subconsciente.
Isso tem a possibilidade de ser firmado se os
procedimentos na iniciação são feitos de maneira séria e não apenas mais uma
formalidade a ser cumprida.
No sentido de compreensão limitada, tendo como
parâmetro nosso século em que a ciência e a tecnologia nos favorecem uma
dimensão maior do homem e do Universo. Não esquecendo que nossos conceitos de
hoje também serão considerados “estreitos” no futuro.
Na época e por algum tempo como instituição social,
mostrou-se forte e unida provocando mudanças nos ambientes social-político e
econômico, mas houve um enfraquecimento pelo crescimento exagerado de membros
que nem sempre abraçavam os ideais maçônicos, mas favoreciam uma elevação de
status.
Aculturação – conjunto dos fenômenos resultantes do
contato, direto e contínuo, de grupos de indivíduos representantes de culturas
diferentes.
Advertência – ato ou efeito de advertir; aviso;
observação. Advertir – notar; considerar; refletir em; dar fé.
Plano criativo – não há acaso, há um
desencadeamento de fatores que geram uma manifestação cósmica possibilitando o
aparecimento de universos, sistemas e como consequência a vida, e havendo um
Arquiteto ou algo que idealize e promova uma manifestação se presume (em nossa
limitada compreensão humana) um plano, uma intenção ou uma vontade.
Como ex. geral, Lemúria e Atlântida.
Isso não significa abandono de nossas atribuições
pessoais (que também fazem parte desse plano). Como organização religiosa
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