A Maçonaria é, por
vezes, vista do exterior como uma instituição fechada, imutável, dotada de uma
grande coesão, que atua em bloco. Esta visão não é, nem de perto, nem de longe,
correta. Pelo contrário, a Maçonaria é dotada de uma invulgar diversidade,
agrupando sob a mesma genérica denominação, realidades distintas, práticas
diversas, entendimentos díspares. Em todos os aspetos, a começar logo pelas
suas origens…
A maior parte dos
estudiosos da Maçonaria considera que ela tem a sua origem nas corporações
medievais de construtores em pedra, de catedrais, palácios, fortificações,
etc.. Mas essas agremiações medievais, embora partilhando regras e costumes
similares, tinham características muito próprias e específicas, em função da
sua localização geográfica.
Só para falar das
Ilhas Britânicas, a organização específica das Lojas Operativas inglesas
diferia das escocesas, que por sua vez, tinham sensíveis diferenças das
irlandesas.
Por isso, quando se
afirma que a Maçonaria Especulativa moderna evoluiu da Maçonaria Operativa
– afirmação que, pessoalmente, considero correta, é bom que se tenha presente
que esta evolução resulta de diferentes Tradições, não inteiramente díspares,
mas também não totalmente semelhantes.
Mas, ainda no campo da
origem da maçonaria, há aqueles que a situam nos Templários e respectiva
Tradição. E aqueles que a fazem remontar aos Antigos Mistérios egípcios e ou
mitraicos.
Só no tema das origens
podemos detectar assinaláveis diferenças de entendimento, que conduzem a
diversas posturas e práticas. É inevitável que haja diferenças de concepção,
mais visíveis ou mais subtis, entre quem considera praticar algo que evoluiu
das corporações medievais e quem acredita que a sua prática descende da
tradição cavalheiresca religiosa e ainda quem considera a maçonaria herdeira
dos herméticos mistérios da Antiguidade.
Mas a Maçonaria também
assume estilos e práticas diversas em função dos grandes espaços em que se
insere. Não é a mesma coisa falar-se da Maçonaria Americana e da Maçonaria Européia
Continental. Não é de todo a mesma a realidade da Maçonaria Inglesa e da Latino-americana.
Isto para não falar da diversidade asiática e da progressiva afirmação maçônica
em África.
Mesmo dentro de cada
bloco geográfico – diga-se assim – as Obediências Nacionais e as práticas maçônicas
em cada país mostram-nos assinaláveis diferenças e visíveis variantes,
designadamente em práticas rituais.
Cada país tem uma
discreta evolução própria, que, ao longo do tempo, adquire uma individualidade
específica, também inerente às diversidades culturais dos diversos povos. Se
assistir a uma sessão de Loja em Itália, na Alemanha, em França, num país
eslavo e em Portugal, ainda que em Lojas do mesmo rito – designadamente do Rito
Escocês Antigo e Aceito – facilmente reconhecemos um ambiente comum, uma base
partilhada, mas também diferenças, idiossincrasias, práticas próprias.
Por outro lado, não
olvidemos a transversal diferença existente entre a Maçonaria Regular e a
Maçonaria Liberal, aquela trabalhando à glória do Grande Arquiteto do Universo
e com os seus obreiros na busca de um aprofundamento espiritual, esta efetuando
os seus trabalhos à glória do Homem e do seu aperfeiçoamento moral.
Ambas têm a sua
específica valia e ambas são – creio-o – necessárias. Mas as respectivas buscas
são diferentes. Sem serem reciprocamente opostas, prosseguem caminhos
diferentes, esta tendente a melhorar o relacionamento do Homem com a Sociedade
e os diferentes grupos sociais, aquela trilhando a rota de uma espiritualidade
baseada na Fé no UM universal, origem e reflexo de tudo e todos. Ambas as vias
são – repito – respeitáveis e valiosas.
Ambas têm assinaláveis
pontos de contacto entre si, partilham aqui e ali caminhos e princípios e
valores comuns. Ambas têm – sobretudo – a inestimável características de
integrarem homens que procuram ser melhores.
Mas são
intrinsecamente diferentes. Para os cultores de cada uma das vias, essa é a
melhor. Intrinsecamente nenhuma é melhor do que a outra. Apenas diferentes.
Por outro lado ainda,
a Maçonaria pratica-se em diferentes ritos, uns mais universais ou mais
difundidos, outros mais seletos ou localizados. Sem preocupações de exaustão,
podemos referir uma dezena de ritos hoje em dia praticados: Emulação, York,
Escocês Antigo e Aceite, Escocês Retificado, Sueco, Brasileiro, Adonhiramita,
Francês ou Moderno, Memphis-Misraim, Schröder. Cada um com simbologia própria
ou diferente interpretação simbólica, ou diverso encadeamento do ensinamento.
Todos diferentes.
No entanto, cada maçom
de um destes ritos, de visita a uma Loja de qualquer dos outros, reconhece ali
Maçonaria…
Mesmo na mesma região,
no mesmo país, na mesma Obediência, praticando o mesmo rito, cada Loja tem uma
prática subtil mente diferente das demais. Tem a marca da sua individualidade,
o resultado da sua evolução própria, a levemente diferente evolução de uma
mesma matriz.
E, finalmente, dentro
de cada Loja, que pratica o mesmo rito, que pertence a uma mesma Obediência, no
mesmo país e na mesma região do globo… cada maçom é – inevitável e felizmente!
– diferente do Irmão ao seu lado.
Cada maçom tem a sua
pessoal busca a sua individual interpretação, o seu diferente caráter, a sua
diversa história, o seu incomparável plano. Buscam todos o mesmo – o seu
aperfeiçoamento -, utilizando o mesmo método, seguindo o mesmo rito,
integrando-se no mesmo grupo. Mas, porque intrínseca e gloriosamente
diferentes, não prosseguem todos o mesmo caminho, à mesma velocidade e não
chegarão aos mesmos lugares. Embora naveguem à vista um dos outros.
Embora se auxiliem e
influenciem mutuamente. Cada um é um diferente maçom, ainda que na mesma
maçonaria.
Quando se fala em
Maçonaria, está-se na realidade falando de todas estas diversas maçonarias.
Todas – mais ou menos – diferentes. Mas todas se incluindo no mesmo universal
conceito de… Maçonaria.
Ir.’. Rui
Bandeira
Publicado no Blog “A
Partir Pedra”
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