MAÇONS OPERATIVOS



Como todos nós sabemos a moderna Maçonaria, praticada atualmente no mundo, teve suas origens nas antigas Guildas da Idade Média. Elas foram influenciadas pelas Ordens de Cavalaria que surgiram na Europa durante as Cruzadas e, mais especialmente, pela Ordem dos Cavaleiros Templários. A Ordem dos Cavaleiros Templários surgiu no Oriente, tendo grande influência da cultura árabe, e foi pseudo-extinta pelo Papado em princípios do século XIV. Nessa época, já possuía complexa estrutura mundial e tinha sua sede central na França. Apesar de sua fragmentação em diversos países como Ordens distintas, com diversos nomes, ela se manteve como Ordem Templária na Escócia, então governada por Robert Bruce, inimigo declarado da Igreja Romana.

A combinação das Guildas de pedreiros livres com a Ordem dos Cavaleiros Templários foi, por assim dizer, oficializada quando o Rei Bruce criou a Ordem de Kilwinning, fundindo a Ordem Templária com a Grande Loja dos Maçons Livres.

Desde o início do século X, temos conhecimento dos chamados Maçons Aceitos. Eram pessoas ilustres de outras profissões ou meros filhos de pessoas influentes que eram aceitos pelas Guildas de Maçons Livres. Seu objetivo não era o de se tornarem, de fato, artesãos da profissão, mas, simplesmente, de estudarem ou se aperfeiçoarem nas ciências liberais, com ênfase maior na geometria. A geometria era a ciência básica de desenvolvimento das Guildas por ser necessária e imprescindível à arte de construir. A geometria, de fato, muito devia, em seu aprimoramento, à influência árabe trazida pela Ordem Templária, pois, lá no Oriente, essa ciência havia encontrado um desenvolvimento muito acentuado, tendo sido ela o elo entre a Maçonaria e os Templários.

Tudo teve seu curso normal com a absorção, cada vez maior, de Maçons Livres e Aceitos pelas Lojas Maçônicas Operativas, as quais, ao final da Idade Média, estavam perdendo a sua importância e influência, juntamente com a decadência do regime feudal. O último grande alento da Maçonaria Operativa se deu em meados do século XVII, por ocasião da necessária reconstrução de Londres após o grande incêndio.

Durante o reinado de George I, de 1714 a 1727, que foi o primeiro rei da casa de Hanover, derrubando, assim, a dinastia Stuart, criou-se, por influência da Coroa, a Grande Loja de Londres em 1717. Foi dada determinação, ao pastor anglicano Anderson, para redigir uma Constituição para aquela Grande Loja, consolidando as Antigas Obrigações dos Maçons e seus Landmarks. Naturalmente, nela foram incluídos os “desejos da Coroa” de que a nova organização se abstivesse de cuidar dos dois assuntos muito sensíveis na época, ou seja, que se proibisse a discussão de religião e de política no âmbito da Grande Loja recém-criada.

Essa modernidade, criada pela Grande Loja de Londres, imediatamente encontrou reação de muitas das corporações então existentes que se uniram em torno das Lojas de York. As Lojas de York continuavam seguindo as antigas tradições expostas, em parte, no Manuscrito Régio ou Poema Régio e nas tradições orais que sempre haviam imperado na Ordem, fazendo com que, por um longo tempo, só as quatro lojas originais fundadoras ficassem formando a Grande Loja de Londres.

Há que se salientar, dentre os Landmarks consolidados por Anderson, o quinto, que reza que a verdadeira Maçonaria se compõe, somente, dos três graus, Aprendiz, Companheiro e Mestre, incluindo-se, aí, o Sagrado Arco Real. Ou seja, todos os outros graus (Marca, Nautas, Graus de Cavalaria, Sacerdotes Cavaleiros, Monitor Secreto, etc.) foram, simplesmente, ignorados. Acontece, porém, que essa grande plêiade de graus continuou a ser praticada e trabalhada nas Lojas que não se uniram à Grande Loja de Londres.

Durante o reinado de George III, e sob influência dele, dois de seus irmãos assumiram como Grão Mestres das Grandes Lojas sediadas em Londres e em York. Por acordo firmado em 1813, reuniram essas Grandes Lojas sob o nome de Grande Loja Unida da Inglaterra, mantendo os parâmetros da Constituição de Anderson, ou seja, que a Maçonaria era composta somente de três graus mais o Santo Arco Real.

Os demais graus, que ainda eram praticados, foram, pouco a pouco, se organizando, cada um por si, formando seus próprios conselhos diretivos tais como a Grande Loja de Mestres Maçons da Marca, o Grande Priorado, o Grande Colégio dos Sacerdotes Cavaleiros Templários e muitos mais, entre os quais a Venerável Sociedade dos Maçons Livres e Maçons de Obras Rústicas, Muros, Telhados, Pavimentação, Reboco e Alvenaria de Tijolos, ou seja, a Grande Loja dos Maçons Operativos.

Na verdade, a Grande Loja dos Maçons Operativos é a mais antiga de todas, pois derivam, diretamente, das Guildas de construção da Idade Média, de onde vêm todos os seus rituais, seus conceitos filosóficos, seus regulamentos e forma de agir.

Ela é a depositária do tão decantado, hoje em dia, “Segredo Maçônico”, muito pouco conhecido ou explicado, mas sempre citado em nossa Maçonaria Especulativa.

Ora, vejamos: na Idade Média, as Guildas de Maçons Livres eram as responsáveis pelas construções das catedrais, castelos e mosteiros. Os castelos e mosteiros eram, na verdade, edificações bélicas defensivas com altos muros, torreões, seteiras, barbacans, fossos, passagens secretas, paióis e salas de armas, sendo que, por evidência, os construtores tinham ciência dos pontos fortes e fracos das edificações, sendo, então, necessário que o segredo fosse mantido, sob pena de se comprometer a própria profissão de maçom e o Estado.

Exemplo típico disso é a construção da Capela de Rosslyn, que teve suas fundações feitas durante cinco anos e, sua parte superior, em somente mais dois anos. Até hoje, seus subterrâneos não são por nós totalmente conhecidos e, nos últimos dez anos, descobriu-se a existência de um túnel que une a Capela com o Castelo de Edimburg, o qual não foi, ainda hoje, totalmente explorado.

Então, os Maçons Construtores ou Maçons Operativos eram os depositários dos grandes segredos e, até hoje, na Maçonaria Especulativa, fala-se dos “grandes segredos da Ordem”.

Para proteger esses segredos, os Grãos Mestres introduziram sinais, toques especiais e palavras de passe que faziam com que um Maçom fosse reconhecido por outro e, em função disso, o de mais alta hierarquia soubesse até onde podia discutir com seu interlocutor.


Muitos rituais foram desenvolvidos, todos muito semelhantes, e, como eram sempre transmitidos oralmente, foram se consolidando através dos tempos, em formas distintas. Mas, todos eles sempre tinham um ponto central, uma passagem obrigatória, que é o juramento de se manter secreto, para os que não atingiram o grau que se está colando, os segredos do mesmo. Desses rituais muito se sobressaiu àqueles introduzidos pelo Conde de Saint Claire, proprietário do Castelo e da Capela de Rosslyn, e que era, com certeza, além de Grão Mestre dos Maçons e Cavaleiro Templário, alto dignitário da Corte de Escócia.


Os Rituais de Iniciação aos diversos graus, nos quais se dividiam a comunidade, tinham a finalidade precípua de unir os operários daquele grau com uma maior solidariedade, transformando-os em irmãos e corresponsáveis pela comunidade, principalmente pela sua honra, mantendo sempre os segredos a salvo dos estranhos. O Ritual os unia e, pela sua solenidade, impedia que os segredos nele desvendados fossem transmitidos ao léo, por desleixo ou improbidade, submetendo os admitidos a castigos corporais se sucumbissem à sua indiscrição.


Como já vimos a Maçonaria Operativa, que teve seu apogeu entre os séculos X e XVII, encontrou o seu declínio após a reconstrução de Londres. A partir de então, as Lojas Maçônicas Operativas se tornaram cada vez mais raras e sempre com grande afluxo de Maçons Aceitos. Com o advento, na Inglaterra, do Sistema de Obediências, após a criação da Grande Loja de Londres, houve a agonia das Lojas Operativas e o golpe quase fatal foi à criação da UGLE, que não as contemplou como Lojas Maçônicas.


Quase fatal, mas não totalmente fatal, pois sempre existem os que amam preservar as tradições. Estes mantiveram a chama e se empenharam em reviver as antigas cerimônias e fundaram, em 1913, a Venerável Sociedade dos Maçons Livres e Maçons de Obras Rústicas, Muros, Telhados, Pavimentação, Reboco e Alvenaria de Tijolos, ou seja, a Grande Loja dos Maçons Operativos que, depois de algum tempo de existência, firmou acordo com a UGLE e hoje volta a vicejar.


Os Maçons Operativos se dividem, desde tempos imemoriáveis, em sete graus, a saber:
Iº - Aprendiz Contratado;
IIº - Companheiro do Ofício;
IIIº - Super Companheiro de Acabamento e Marcador;
IVº - Super Companheiro Edificador;
Vº - Intendente, Supervisor, Superintendente e Administrador;
VIº - Mestre Passado;
VIIº - Mestre Maçom, dos quais três são Grãos Mestres Maçons.

Suas cerimônias tentam resgatar toda a pura filosofia das Guildas maçônicas, sendo que a Iniciação de Aprendiz prevê que o neófilo tenha a idade simbólica de oito anos. Essa era a idade em que se colocava um aprendiz na Guilda. Inicia-se pelo banho e troca de roupa, pois todo o menino dessa idade, na Idade Média, vivia constantemente sujo e, normalmente, trajava andrajos. Os rituais dos graus seguintes ensinam, passo a passo, o desenvolvimento dentro da ciência de construir, desde a locação de uma obra até a sua conclusão, sendo os graus superiores, graus que ensinam a administração de um canteiro de obras até um conjunto de obras de um país.

Mas, na verdade, a Maçonaria Operativa trata o irmão como uma “pedra viva” de sua construção. Ele deve ter o seu aprendizado para passar de pedra bruta a pedra cúbica. No terceiro grau, como Super Companheiro, ele vai se polir até poder ser uma “pedra viva”, digna de uma marca própria. No quarto grau, leva-se essa pedra viva de marca para fazer parte de um edifício, ou seja, integra-se o Maçom à sociedade. No quinto e sexto grau, estuda-se a administração dessas pedras vivas para poder encaixá-las em uma grande obra social, para que, finalmente, no sétimo grau, possa ele, o Homem Maçom, ter a perfeição que lhe permita dirigir outros homens.

Esses são os conceitos básicos da Ordem dos Maçons Operativos que em um curto espaço de tempo queremos trazer para o Brasil.

Jorge Barnsley Pessôa Filho

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