Entende-se por dogma o ponto fundamental e indiscutível de uma doutrina
religiosa e, por extensão, de qualquer doutrina ou sistema.
A palavra “dogma”, em grego, significa “opi-nião”, mas, em filosofia, é
empregada no sentido de opinião explicitamente formulada como verdadeira. Daí
serem chamados dogmáticos aqueles que oferecem uma filosofia fundada em dogmas,
ou que a apresentam dogmaticamente. No Cristianismo, porém, chamam-se dogmas as
verdades reveladas e que são propostas pela suprema autoridade da Igreja, como
artigos de fé, que devem ser aceitos por todos os seus membros.
Pejorativamente, também são chamados “dogmas” as afirmações que expressam
opinião, sem os necessários fundamentos, mas que são proclamadas como verdades
indiscutíveis.
A Maçonaria não professa nem impõe dogmas maçônicos, visto que ela não
se proclama depositária de nenhuma “Revelação”; ela só tem princípios. Como,
porém, não existe uma religião sem dogmas, a Maçonaria não condena o pensamento
dogmático em si, deixando a cada Maçom o direito de ser dogmatista, fora da
Maçonaria. Não obstante, o ensinamento maçônico não é dogmático.
O dogmatismo era, entre os gregos, a posição filosófica que se opunha ao
cepticismo. Enquanto os defensores desta posição negavam a possibilidade do
conhecimento, os dogmáticos afirmavam-na plenamente. Kant emprega o termo em
sentido pejorativo, e o considera não apenas oposto ao cepticismo, mas também à
critica por ele estabelecida.
Chama-se “dogmatismo moral” a concepção que explica legítima a certeza
pela ação. Emprega-se em geral para indicar a afirmação de doutrinas que não
admitem em si mesmas nada de imperfeito ou errado. O “dogmatismo moral” opõe-se
ao “dogmatismo intelectual”. Aquele afirma que nossos conhecimentos espontâneos
são a expressão de nossos desejos, e que as nossas atitudes intelectuais, em
suma, dependem dos interesses humanos. O “dogmatismo intelectual” afirma a
independência do nosso conhecimento quanto aos nossos interesses.
Dogmatismo negativo? é o nome que se dá geralmente ao cepticismo,
porque ao afirmar a impossibilidade do conhecimento verdadeiro, faz uma
afirmação dogmática, enquanto se chama de positivo o dogmatismo contrário.
Chama-se
“dogmatismo intelectual”, genericamente, as doutrinas que afirmam a capacidade
de nossa mente, de nossa intelectualidade, para alcançar a verdade no problema
crítico. Entre essas doutrinas, podem ser salientadas: a teoria mista, fundada
na evidência abstrata e na evidência sensitivo-intuitiva, que admitindo o
problema crítico, afirma, ainda mais, que os princípios ideais são
objetivamente certos, e que a intuição sensitiva e a demonstração funda em
termos reais.
Outra teoria é a de
dinamismo intelectual, que também admite o problema crítico, mas aceita certos
postulados kantianos de condições a priori, não adquiridas, mas inatas, que é a
tendência a afirmar. Há, ainda, a teoria da intuição intelectual, que admite
haver intuições intelectuais suficientes para dar soluções necessárias.
Se a maçonaria é composta por livres-pensadores que buscam a Verdade,
obviamente ela não pode ser dogmática. Mas o que é verdade?
A definição de
Verdade é das mais complexas, por isto cada filósofo a apresenta de uma forma
diferente. Os dicionaristas a apresentam apenas como a qualidade pela qual as
coisas aparecem tais como são; realidade, exatidão, sinceridade, etc. E por ser
definida segundo pontos de vista tão variados, a Verdade em filosofia é um dos
problemas mais espinhosos.
Em metafísica,
define-se a Verdade como “o que realmente é”. Em Lógica, “a conformidade do
pensamento com o seu objetivo”, por oposição ao erro. Em Moral, “conformidade
de uma afirmação com o pensamento”, por oposição à Mentira. A verdade tem por
caráter a evidência e produz no espírito que a possui a certeza. A coordenação
das verdades constitui a ciência.
A Verdade dos conhecimentos humanos é à base de toda Filosofia, a
Verdade moral é à base de toda vida social. Para os antigos, a verdade era uma
divindade alegórica, filha de Saturno, isto é, do Tempo, e a mãe da Justiça.
Representavam-na, geralmente, sob a figura de uma mulher segurando na mão um
espelho ou um facho, e algumas vezes saindo de um poço.
O verdadeiro objetivo da Maçonaria é a busca da Verdade, quer no sentido
filosófico, quer no sentido religioso. Para o Maçom, a investigação da Verdade
é contínua, é algo que se começa com a sua entrada em Loja como Aprendiz, mas
não acaba quando atinge os graus mais elevados.
Por meio de símbolos e alegorias, a Maçonaria ensina aos seus adeptos
que a Verdade constitui um atributo da Divindade, sendo ela a busca de todas as
virtudes, sem, contudo apontar-lhes o que ela considera como Verdade, nem a
definindo. Deixa esta tarefa, e isto constitui a principal característica da
Instituição Maçônica, aos seus adeptos, para que, por meio do estudo, da
pesquisa e da meditação, possam chegar, neste particular, a “Conclusões” que
satisfaçam em tudo a Moral e a Razão.
Respeito
O que é o Respeito?
É a deferência, obediência, submissão, acatamento; também pode incluir medo,
temor e receio. É comum, dentro de nossa Ordem, ver e ouvir irmãos de graus
superiores exigindo respeito – obviamente para os graus superiores – dos graus
inferiores. Ou ver irmãos, que não se dão conta que estão “temporariamente” em
cargos de Grandes Oficiais ou Grandes Luzes, exercendo um pseudopoder de mando
de forma a humilhar e a se sobrepor aos outros irmãos. Aí eu pergunto: devemos
respeitar os irmãos de graus superiores? Claro que devemos, principalmente, -
ou seria tão somente? – àqueles que sabem se dar ao respeito de seu alto grau,
porque muitos são traídos em seus belos, laudatórios e esotéricos discursos
pelos seus próprios atos, por sua ação.
Então me vem à
pergunta que não quer calar. A quem devemos respeitar mais, um Aprendiz, que é
o futuro da Ordem, ou a um irmão do grau 33ª? A meu ver, quem optou por
qualquer um dos dois errou, e feio! O início dos trabalhos ao meio-dia iguala
os irmãos presentes na sessão. Ou alguém duvida? Será que nós temos irmãos que
são mais iguais que os outros? Se nós perguntarmos a dez irmãos de graus
superiores, o que fazer se um irmão Aprendiz levantar em Loja e disser: “Eu
exijo respeito”, nove vão responder: “Esse sujeitinho tem que ser posto pra
fora”.
Todos os irmãos, independente de grau, merecem o respeito de todos.
Respeito se conquista respeitando os outros, e a política de respeito pela
imposição de medo e terror só leva a se conseguir acabar com um dos três
pilares básicos da maçonaria que é a Igualdade.
Disciplina
O que dizer da
Disciplina? Disciplina é um regime de ordem imposta e a relação de subordinação
entre um superior e seu inferior, com imposição de limites. Ora, a maçonaria
não prega e não impõe limites à livre investigação da verdade? Se em algum
momento tivemos que impor limites é porque falhamos em nossa missão. A palavra
“limite” evoca outra que lhe é próxima: disciplina. Como uma entidade, como a
maçonaria, pode ser evolucionista e progressista impondo limites? Posso afirmar
sem medo de errar que os guias e sua autoridade são fatores degenerativos, em
qualquer civilização.
Ao seguirmos outra
pessoa não há compreensão, mas só medo e submissão, de quem resulta, por fim, a
crueldade do Estado e o dogmatismo da religião organizada. Ao mencionar “medo e
submissão”, deixo claro que chamo de “autoridade” aquele poder que busca
impor-se com autoritarismo, sem fundamento real na aceitação e na compreensão,
sendo assim um instrumento de perpetuação das estruturas da sociedade.
Vemos que a autoridade como instrumento de submissão não é bem-vinda,
até porque seus efeitos se limitam à presença do agente repressor. É preciso
deixar claro que tanto o irmão que segue outro, quanto o que é seguido, abre
mão de sua liberdade. O que segue porque deixa de ser livre e passa a “comer na
mão do outro”. O que é seguido porque passa a ter a responsabilidade de pensar
por dois, e a agir conforme agrade seus seguidores. E aí se vai mais um dos
três pilares básicos da maçonaria que é a Liberdade.
Hierarquia
Hierarquia pode ser
definida como ordem e subordinação de poderes. Graduação da autoridade,
correspondente a várias categorias, classes, escala de valores ou castas. A
maçonaria, atualmente, pode ser definida, em várias obediências, como uma
entidade dividida em castas. Todo irmão exaltado é imediatamente rotulado pelos
mais velhos de “mestre novo” ou “mestrinho”.
Mas um dia, esse
mestre chega ao 33ª, e aí é apresentado o velho jargão que “na maçonaria,
antiguidade é posto”. Quer me parecer que os mais velhos, que usam esse
artifício, têm medo de ser contrariados em seus desatinos e ditames. São
“mestres velhos” e não “velhos mestres”. Eles se entregam e deixam aparente,
sem sombra de dúvida, a sua total insegurança.
Posso afirmar que, um aprendiz que domina completamente seu grau, está
no topo de sua escala hierárquica. A hierarquia deve se dar pelo conhecimento
do grau em que o irmão está, e pelos atos e fatos praticados pelos irmãos
(exemplo e trabalho), em prol da sua Loja, da sua Obediência e da Maçonaria em
Geral. De que adianta ser Mestre se não conhece os cinco PP.·. PPerf.·., e não
se lembra de seus juramentos e seus compromissos assumidos, tanto no seu grau
atual quanto nos graus anteriores? Têm muitos MM.·. II.·.que não passariam por
um exame simples da sua classe, entre os Mestres.
Quer me parecer que
a excessiva militarização da nossa Ordem, de meados do século passado até
agora, tem feito muitos Irmãos confundirem maçonaria com caserna. Talvez sejam
militares frustrados. Afinal, tem gente que adora uma farda. Muitos Irmãos têm
se mostrado ávidos por graus, só para chegarem mais rápido ao topo da
“hierarquia”. Dá-me pena desses Irmãos. Nem sabem o que estão fazendo na
Ordem.
Como dizia meu avô,
velho espanhol, quando em criança, minha mãe me arrumava todo para passear:
“Aunque de seda se vista el mono, mono se queda”. Ou seja: “Ainda que se vista
o macaco de seda, ele continua macaco”. E vamos subir de grau! Afinal, os
comerciantes de joias e paramentos precisam sobreviver. Com a divisão em
castas, os Irmãos de graus superiores evitam conversar, e até mesmo
cumprimentar, os Irmãos dos graus ditos inferiores. Sentar na mesma mesa desses
em ágape, dito “fraternal”, nem pensar!
E ai se vai o último dos três pilares básicos da maçonaria, a Fraternidade.
Conclusão
O que vocês querem para Maçonaria? Um monte de “lambe-botas”,
bajuladores, que precisam “se dar bem” com os graus superiores para poder subir
e alcançar cargos? Ou querem uma Maçonaria composta de homens livres e de bons
costumes, que sejam livres-pensadores e busquem incessantemente a Verdade, sem
restrições? Quem quiser impor Respeito, Disciplina e Hierarquia está no lugar
errado, devia procurar e se inscrever na caserna. Aí estão os três dogmas, de
uma Maçonaria que se diz, e deveria ser, antidogmática.
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