Sexta-feira, 4 de junho, 23:30 h. Terminava a
cerimônia pela qual eu havia esperado durante muitos anos de minha vida. Dali
para frente muita coisa mudaria na minha forma de enxergar o mundo e de
participar dele.
Todos na sala me chamavam de “Irmão” e me cumprimentavam.
Como isso soava esquisito, pois todos eram desconhecidos para mim. Pela minha
cabeça só passavam fragmentos dos sons e sensações por que eu havia passado há
alguns instantes. Ainda ressoavam algumas perguntas que me haviam sido feitas e
as respostas mais ou menos corretas que eu havia retribuído.
Algumas vozes na sala me soavam familiares, pois eu as
havia ouvido e agora podia identificar seus donos. Em geral todos eram muito
diferentes do que eu havia imaginado quando não os podia ver.
Dia seguinte. Meu primeiro ato, após as obrigações matinais
de higiene pessoal, foi pegar o adesivo de nossa Loja, que meu padrinho me dera
na noite anterior, e colocar no vidro traseiro do carro. Agora eu era “um
deles”. Estava cheio de orgulho por ter sido aceito na Ordem e poder desfrutar
do status que isso gerava.
Dirigia torcendo para que alguém reconhecesse os símbolos
contidos no adesivo do carro e identificasse minha nova situação de maçom. Até
ficava imaginando as respostas que daria caso alguém me fizesse as perguntas
necessárias para identificar meu “status maçônico”.
E como explicar a sensação de orgulho causada por um Irmão
buzinando e te cumprimentando em plena rua? Será que alguém mais ouviu esta
buzina? Será que algum “profano” percebeu que agora eu sou um ser
“diferenciado”?
Mas pensando bem, agora que já se passaram alguns dias da
iniciação, este adesivo da Loja parece muito discreto, quase que é preciso
colocar uma lupa para enxergar os símbolos. Está na hora de colocar um adesivo
de nossa Potência no vidro traseiro do carro e um outro no pára-brisa
dianteiro. Vai que um policial pare meu carro… quando ele vir o adesivo com o
esquadro e o compasso com certeza irá me mandar ir embora, pois saberá que seus
superiores são meus Irmãos e ele não mexeria com o Irmão do chefe, claro.
Vi num site uma caneta toda decorada com temas maçônicos,
linda, nada discreta. Em qualquer lugar que eu a usar serei identificado, quase
reverenciado. Serei um sucesso. Lógico que a comprei. Ah, e também um anel de
ouro com o esquadro e compasso em preto. Reluz mais do que um farol em dia de
nevoeiro. Pode-se vê-lo à distância.
Isso sem falar dos pins que tenho na lapela de meus ternos.
Cada um para uma ocasião diferente. Tem aqueles para as Sessões Magnas, aqueles
para uso em reuniões de trabalho e também alguns que podem ser usados com
roupas mais informais. Também existem os meus prendedores de gravata.. Tenho
vários.,uns dez pelo menos. Apesar de prendedores de gravata estarem fora de
uso. Mas quem se importa? Como ainda meu avental é todo branco eu compenso isso
usando outros adornos. Levo um tempão para colocar tudo: caneta, anel, pins,
prendedor de gravata…
Só que há uma coisa que tenho me questionado muito
ultimamente: meu comportamento. Pergunto-me se meus mais recentes atos estão
sendo coerentes com o que eu escuto na Loja. Minha paciência curta poderia ser
o motivo dos meus problemas no trabalho, por exemplo?
Vejo que o que tenho aprendido em Loja e o que tenho
praticado são suas coisas distintas. Critico os Irmãos , fico de olho nas
cunhadas e pasmem até nas sobrinhas, dou pequenos golpes usando meu três pontos
na assinatura, fico na minha, mas pago minha cotização em dia não é?
Porém, hoje começo a entender o que os Irmãos querem dizer
quando citam que as instruções são simbólicas, mas que elas vão transformando o
iniciado. Percebo que estou muito distante de ser a pessoa que eu gostaria,
pois ainda sou apegado a futilidades e aparências.
Meus filhos têm sido o maior espelho deste meu comportamento
errôneo, pois não sei ter uma palavra de carinho para com eles e sempre que
eles querem me contar algo sobre seu dia eu uso a desculpa de estar cansado e
não lhes dou atenção, Pobrezinhos. Dias atrás por falta de paciência até dei um
tapa neles, e briguei com a cunhada indo dormir no sofá.
Meus irmãos então tem um irmão desempregado na Loja, mas
ele é Mestre, ele deve saber todos os segredos maçônicos da riqueza. Eu não
devo nem me preocupar com ele não é? E aquela “cunhada” da rua de trás, o irmão
está doente, afastado pelo INPS, eu nem tenho tempo para ir lá, pois isso é
coisa dos irmãos mais velhos de loja, do irmão hospitaleiro não é? Eu sou só um
simples aprendiz, Minha obrigação é ir à loja! Pois é só pegar meu RITUAL
REXONA, por em baixo do braço e ir para a sessão. Pois é bem legal, sempre tem
uns comes e bebes depois! Estudar maçonaria eu faço isto depois!
Ah sim! Preciso trocar de carro, eu vou negociar com o
irmão que tem uma garagem de venda de carro, pois agora sou maçom e vocês sabem
maçom, tem que ter carro novo, de preferência importado.
Escrever sobre tudo isso é muito doloroso, mas talvez sirva
para alertar outros a não cometerem os mesmos erros que os meus. E a pensar bem
os motivos que têm para quererem adentrar a Ordem. Se for só para satisfazer o
ego ,advirto , alerto e falo que é trabalho e tempo perdido. Mas se for para
começar a dar um rumo mais reto à sua vida e buscar formas de se tornar uma
pessoa mais humana e solidária e começar a pelo menos perceber seus erros posso
afirmar que é um bom começo, se não é sinto muito você não completou sua
iniciação! Estas nas trevas, e sempre estarás!
Ir.’.Denílson Forato –
M.’.M.’.
ARLS Frank Sherman Land Pta. – GOP
ARLS Frank Sherman Land Pta. – GOP
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