À.•. G.•. D.•. G.•. A.•. D.•. U.•.
A realização de cerimônias especiais com o objetivo de marcar a transição entre determinados momentos na vida de um indivíduo é uma característica inerente à vida em sociedade desde tempos imemoriais. Essa tradição começava no próprio seio familiar, culminando, mais tarde, em diversos ritos responsáveis por transformar a condição social do indivíduo perante a comunidade. Freqüentemente, tais ritos de passagem eram apenas uma mera afirmação solene de fato natural ou social já consumado (1), mas havia também cerimônias com o objetivo de conduzir o indivíduo a um novo estado de consciência, conhecidas como Rituais de Iniciação. O presente trabalho esboça de forma sucinta as características desse gênero de ritual, reconhecendo a importância da iniciação maçônica.
O principal aspecto dos rituais de iniciação é o abandono de uma condição inferior ou impura em prol de uma relação superior com o Sagrado, geralmente através de uma morte e renascimento simbólicos. Os elementos simbólicos da iniciação podem revelar-se em visões e transes místicos — como ocorre nas jornadas xamânicas — ou através de ritualística consistentemente conduzida, por um grupo de veteranos, com o objetivo de proporcionar uma experiência verdadeiramente transformadora naquele que se inicia. Nesse contexto a iniciação maçônica, em contraste ao primeiro caso que resulta numa experiência mística pessoal e imprevisível, apresenta-se como uma jornada simbólica deliberadamente concebida para sublimar o Cand.•., esclarecendo-lhe a razão e despertando qualidades indispensáveis ao cumprimento de seus futuros deveres de neófito.
A finalidade transformadora do ritual evidencia-se logo em sua primeira etapa, durante a prova da terra. Símbolos relativamente acessíveis à compreensão profana, tais como o esqueleto humano, o pão, a ampulheta e texto de advertência cumprem o indispensável papel de conduzir o Cand.•. a uma postura de recolhimento e auto-reflexão capaz de reprimir aspectos negativos da personalidade que poderiam obstruir os elevados objetivos da iniciação. Paralelamente, outros símbolos de significado hermético (2) operam num nível de consciência mais elevado, providenciando novas camadas de conhecimento, acessíveis apenas através de dedicado estudo. Indecifráveis à maioria dos Ccand.•., a presença de tais símbolos serve de aviso à sua condição de ignorância e aguça sua sensibilidade para as lições que virão em seguida.
E essas lições são inúmeras: o desnudamento de um lado do corpo, a cegueira imposta e os esclarecimentos do Venerável Mestre diante das respostas incompletas do Cand.•. convidam à humildade; a Taça Sagr.•. ensina a temperança; a prova do Ar pede constância; a da Água, abnegação; a do Fogo, entusiasmo; e o Juramento, finalmente, demanda discrição e lealdade, virtudes indispensáveis a todo Maçom, cujo desenvolvimento e contínuo exercício garantirá que não se perca no meio do caminho. Embora algumas destas lições sejam tradicionalmente chamadas de provas, observa-se que elas estimulam e ensinam o Cand.•. ainda mais do que o testam, e eis aí outro fato que evidencia a finalidade eminentemente doutrinária da cerimônia.
As diversas etapas que compõem o ritual de iniciação maçônica são os primeiros golpes de cinzel, que preparam a pedra bruta para que possa atingir a beleza e estabilidade às quais está destinada. Conduzem o Cand.•. dos domínios profanos da ignorância para a sublimação gradativa de seus vícios, demandando-lhe responsabilidades amparadas do braço firme do conhecimento. Importante notar que as observações expostas acima não passam de uma percepção superficial e incompleta da realidade maior que a iniciação nos oferece e que os conhecimentos ocultos no simbolismo do ritual acompanharão o Maçom por um longo período — quiçá por toda a vida — revelando-se gradativamente, em razão da maturidade espiritual à qual seu esforço e dedicação o conduzam. Tal qual ocorre nos fatos naturais da vida, que são percebidos diferentemente em cada fase da existência humana, assim também são os fatos maçônicos aos olhos do obreiro humilde e laborioso..
Dayvisson Magalhães Alves, M.M.
(Trabalho do Grau de AP.•. M.•.)
ARLS Duque de Caxias Luzeiro do Oriente – nº. 0252 (Grande Oriente de Pernambuco), Brasil
Notas:
(1) Como as cerimônias que tratavam da puberdade ou do nascimento, por exemplo.
(2) Entre esses, destaco o Sal, o Enxofre e o Mercúrio, além do simbolismo da Caverna Iniciática, representada pela abreviação VITRIOL e pela própria Câmara de Reflexões.
CARVALHO, William Almeida. Rito de Iniciação: Uma Abordagem Antropológica. 2007. Online. Disponível em:http://www.freemasons-freemasonry.com/1carvalho.html
DA CAMINO, Rizzardo. Simbolismo do Primeiro Grau. Ed. Madras, São Paulo, 1998.
DUARTE, Jan. Iniciação e Ritos de Passagem. Online. Disponível em:http://www.casadobruxo.com.br/textos/magia99.htm
Câmara de Reflexões. Online. Disponível em: http://cidademaconica.blogspot.com/2007/07/cmara-de-
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