- A Maçonaria Regular a partir do Século XVIII
Por que começar o debate por esta época?
A resposta é simples e evidente:
- Porque antes, só a partir de 24 de Junho de 1717, data considerada como oficial para a fundação da chamada “Loja de Londres”, embrião da futura Grande Loja Unida de Inglaterra, e da Maçonaria dita especulativa-, se começa oficialmente a tornar necessário, o reconhecimento oficial entre “Irmãos” de “Obediências” diferentes. Até aí, e dentro do espírito da “Maçonaria operativa” bastava aos maçons reconhecerem-se entre si através de “palavras, toques e sinais”.
A resposta é simples e evidente:
- Porque antes, só a partir de 24 de Junho de 1717, data considerada como oficial para a fundação da chamada “Loja de Londres”, embrião da futura Grande Loja Unida de Inglaterra, e da Maçonaria dita especulativa-, se começa oficialmente a tornar necessário, o reconhecimento oficial entre “Irmãos” de “Obediências” diferentes. Até aí, e dentro do espírito da “Maçonaria operativa” bastava aos maçons reconhecerem-se entre si através de “palavras, toques e sinais”.
O diálogo “- É maçom”? ”Irmãos como tal me reconhecem”
ultrapassava como deverá sempre ultrapassar, a “simples” fórmula ritualista.
Mas simultaneamente aqui começa a perversão do conceito de “regularidade” e a sua interligação com o e “reconhecimento”.
O Grande Oriente de França, potência hoje considerada
irregular; adiante veremos por que, em pleno Século XVIII, afirmava “que era
regular, todo o maçom que trabalhava numa Loja regular; sendo por sua vez
regular toda e qualquer Loja que como tal fosse reconhecida pelo Grande Oriente
de França. Mais concretamente; uma Loja dotada de constituições atribuídas ou
renovadas pelo Grande Oriente de França único a poder concedê-las”… (1773
Art.ºs II e III da Constituição).
É já manifesto o equívoco entre regularidade e
reconhecimento por um lado e por outro a falta de distinção entre a
regularidade formal e o “trabalhar regularmente”. Trata-se de um equívoco
histórico que tem sido alimentado, por razões distintas por várias Obediências,
regulares e não regulares.
A verdade é que, quer queiramos quer não, tudo começa
precisamente nas “Constituições ditas de Anderson” que marcam o início da
transformação de uma Maçonaria profundamente teísta numa Maçonaria deísta. Por
razões religiosas e, sobretudo políticas.
Precisamente razões que as referidas Constituições impõem
banir das discussões em Loja! Na realidade o que se pretendia era neutralizar a
influência e supremacia dos Católicos stuartistas e é este tipo de
comportamento que inicia outro grande equívoco histórico, o das condenações por
parte da Igreja de Roma.
“A partir daqui começa-se a impor o conceito “anglófilo” de
que são regulares os maçons que pertencem a uma Loja regular a qual deve
trabalhar à Glória de um “Ser Supremo”, o Grande Arquiteto do Universo”, Deus,
Princípio Único e Criador de todas as coisas, obedecendo, portanto ao expresso
nas “Constituições de Anderson”, e aqui se podem perguntar quais delas, se as
de 1723, a que se reporta o G.O.D.F., o qual se inicia tecnicamente em 1738 e
nasce politicamente em 1773, ou se as de 1737 a que se reporta a Grande Loja
Unida de Inglaterra que só é constituída em 1813 e, hoje em dia, se refere
também aos “Landmarks” de 1929.
Aparentemente levanta-se neste último raciocínio o problema
de o Grande Oriente de França, figura de proa da dita “irregularidade” ser,
afinal, historicamente anterior à Grande Loja Unida de Inglaterra,
majoritariamente senhora da chamada “regularidade maçônica”, e daí ser
discutível qual das duas Potências detém a legitimidade de atribuir
regularidade e irregularidades.
Este ponto de vista, que é defendido pelo G.O.D.F. e
“Potências” afins é não pertinente e pela simples razão de que carece da
pré-definição do que se entende por regularidade tradicional. Com efeito, o
comportamento histórico do G.O.D.F., durante o Século XIX a partir de 1849, e
mais concretamente em 1877 em que se torna facultativo a evocação ao G.A.D.U.,
o trabalhar com a presença do Livro Sagrado etc., é esse comportamento que se
desvia do que estava anteriormente aceite e definido e que justifica o estigma
de irregularidade que lhe é atribuído pela U.G.L.E.
Se por um lado, e no seguimento das ideias herdadas da
Revolução Francesa, se poderá entender o alargamento do ideal maçônico a todo o
tipo de homens, religiosos ou não, ou seja, adeptos de qualquer religião, ateus
e agnósticos, em nome da fraternidade e da tolerância, por outro se entra na
imposição do “laicismo” que vai acarretar por sua vez um “anti-clericalismo”
com os excessos que se conhecem e que entram pelo próprio Século XX. O que,
precisamente, contraria esse mesmo ideal de tolerância!
As “Potências” que se alinham com o G.O.D.F. insistem em
defender que a regularidade é um falso problema que apenas serve os interesses
anglo-saxônicos e em particular os da Grande Loja Unida de Inglaterra. Este
ponto de vista é, por sua vez, acompanhado frequentemente de afirmações mais ou
menos veladas de “vassalagem” das Obediências regulares à U.G.L.E.
Por sua vez as “Potências” regulares acusam as
“irregulares” de “vassalagem” ao Grande Oriente de França e encaram-nas, frequentemente,
com certa suspeição eivada de fantasmas dos séculos passados.
Sabemos também que a “regularidade” não reconhece
legitimidade nem às Lojas Femininas nem às Mistas, bem como, na maior parte dos
casos, a certos ritos muito em voga na Maçonaria Sul-Americana.
Trata-se de um diálogo de surdos que, apesar de tudo, vai
sofrendo evoluções. Por um lado começam a existir casos em que a U.G.L.E.
admite mais do que uma Loja Regular por país. Por outro o conceito de “Ser
Supremo”, o “Supreme Beeing”, começa a ficar cada vez mais diluído. Por outro,
Obediências existem que trabalhando regularmente não são reconhecidas como tal.
Afinal em que ficamos?
Tentemos então destrinçar o problema separando e definindo
conceitos o que talvez nos obrigue a reequacioná-lo por completo.
Lojas Regulares e
Trabalho Regular
Pressupondo que “trabalhar regularmente é trabalhar na
presença do Livro da Lei Sagrada, respeitando as Constituições e Landmarks e,
sobretudo, crendo e evocando o Grande Arquiteto do Universo, Deus, Criador de
todas as coisas e acreditando na Imortalidade da alma,” Lojas há que, apesar
disso não são reconhecidas como regulares.
Gostaríamos de colocar três questões que não deverão ser
entendidas no âmbito nacional, mas universal.
O problema que se põe ao “Maçom Regular” será “devemos considerar os maçons que
delas fazem parte como meus Irmãos”?
Por outro lado maçons de Lojas “irregulares”, trabalhando
“irregularmente” deverão ser considerados “maçons”?
E, finalmente, que dizer de “Irmãos” que dentro de uma
Obediência pressuposta Regular não trabalham regularmente?… Serão “Irmãos”?
São três perguntas propositadamente provocatórias que
colocamos em consideração.
Salvo melhor opinião é nosso entendimento que a resposta
comum a todas estas questões é só uma: -”Sim, só e se eu os reconhecer como
tal”.
Por quê? Porque é a resposta que desloca para dentro de
cada um de nós o incômodo da pergunta. Tudo depende, afinal, do que se absorveu
do ideal maçônico e das razões que nos levam a integrar a Ordem.
É evidente que a Maçonaria moderna obriga irremediavelmente
a regras de convivência e reconhecimentos diplomáticos mútuos que terão de ser
respeitados. Com certeza. Mas neste ponto, como noutros, o que interessa, é
saber do que se está a falar concretamente.
E sem nos esquecermos de que ao integrar Instituições
livremente, que possuem determinadas Constituições e Regulamentos, terá
fatalmente que cumpri-los sob pena de uma promiscuidade perversa conduzir a uma
anarquia prejudicial!
E se rejeitamos esse cumprimento apenas nos resta abandonar
de fato essas Instituições. O fato de não haver visitas rituais entre Irmãos de
Obediências regulares e irregulares não os impede de nutrir entre si uma
fraterna amizade e uma sã convivência baseada na tolerância e igualdade.
Não há dúvida de que a – Maçonaria – fatalmente evoluiu e evoluem
todos os dias e que a Maçonaria de hoje não é exatamente a mesma de a de há
trezentos anos!
Adivinho que algum de Vós já estará a dizer para com os
seus botões “Pronto, olha que maneira airosa de concluir e ficar bem com
todos”. Desculpem se os vamos surpreender e talvez mesmo chocar. Ainda não
terminamos.
É verdade que concluímos as considerações. Mas apenas na
área do ideal maçônico e das linhas mestras da ação exotérica da Maçonaria no
mundo. E aí se aplica tudo o que foi dito antes. Porém, se entrarmos pelo lado
esotérico e pela Tradição Iniciática as coisas complicam-se muitíssimo. Aí já
se torna racionalmente incompreensível admitir a incursão de um ateu puro na
esfera do sagrado, por exemplo. Aí teremos, de rever não o nosso conceito atual
de Regularidade, mas o conceito atual de… Maçonaria!
E se formos demasiado exigentes, e entendermos que a
Maçonaria de Tradição, que nos foi transmitida desde os mais remotos tempos até
1717 é que era a verdadeira Maçonaria, então seremos forçados a admitir que
seja perfeitamente estéril discutir a Regularidade quando aquilo que nalguns
casos se pratica muito pouco tem a ver com o que nos deveria ter sido
transmitido.
Poderemos então até perguntar se essa Maçonaria ainda
existe e sob que forma, em que Rito ou Regime.
E aí responderíamos quase pela negativa, embora onde ela
exista numa forma mais próxima da Maçonaria de Tradição seja precisamente
dentro de alguma Maçonaria Regular.
De qualquer modo o mais importante será independentemente
do que recebemos e praticamos conseguirmos um dia deixar este mundo melhor do
que o encontramos e poder responder à pergunta – “Eras Maçom?” – Pelas palavras
“Todos os meus Irmãos me consideravam como tal”!
Autor Desconhecido
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