Em Maçonaria a Iniciação é a chave, o ponto de partida,
precedida, tão somente, pelos atos preparatórios…
Uma Iniciação sempre traduz uma expectativa porque é um
princípio, e todo começo importa em fato novo.
O vocábulo Iniciação não se apresenta isolado; deva-se
entender a palavra sob o aspecto filosófico, portanto ela é compreendida como
sendo entrar em iniciação, ou seja, ingressar num início.
Uma iniciação não é um ato comum e tampouco exclusivo da
Maçonaria ou de outra Instituição paralela. A criança é iniciada na escola
quando ingressa no complexo (para ela) mundo das letras e dos números, da
escrita e da oralidade. A puberdade envolve uma iniciação ao sexo.
A evolução normal dos povos civilizados apresenta uma
tendência para a simplificação.
A iniciação maçônica de hoje difere muito da dos tempos
iniciais, como acontece com os processos iniciáticos religiosos. O homem atual
desenvolveu o poder da síntese, deixando de lado as evoluções desnecessárias.
Questiona-se muito a respeito da validade ou não deste comportamento que,
atingindo a Igreja, lhe causou certos transtornos.
O fator que mantém as tradições e que apresenta a iniciação
maçônica como tradição do que era em séculos passados, é o símbolo. A supressão
de certos atos, com a justificativa de modernizá-los, de simplificá-los, de
adaptá-los às circunstâncias da atualidade. Na Maçonaria atual, modernizada,
não abre mão de certos atos simbólicos porque eles representam de modo
compreensível todo um conjunto de mistérios.
A revelação não supre o valor do símbolo. O mistério
permanece e cada vez mais ele pode ser fortalecido e também ampliado, renovado
e recriado. A mística é a grande atração para os maçons. Eles aceitam e mantêm
a tradição.
Paralelamente à iniciação, o iniciado deixa ou adquire
hábitos, jura, promete novas atitudes, novos comportamentos, nova filosofia de
vida. Podemos exemplificar com a iniciação do sacerdote da Igreja que faz voto
de celibato. Os Templários faziam voto de pobreza.
Se fôssemos verificar a respeito das variações iniciáticas
entre os povos, religiões, raças e posições geográficas, nos perderíamos em um
emaranhado de conceitos, válidos todos eles quando questionados e quando
recebida a justificativa.
A criação do homem, embora lendária, foi uma iniciação.
Juntado o pó com a água, feito o barro, concluída a modelagem, veio o sopro
divino e, ainda que surgindo adulto, o primeiro homem símbolo teve um longo
aprendizado. A sua posição era cômoda porque nada tinha para deixar atrás ou de
lado. Tudo era princípio. Houve, sim, um voto. Apenas um: o de não comer dos
frutos da Árvore do Conhecimento.
Não temos qualquer preocupação em duvidar desse princípio
da criação. Mesmo que tenha sido uma tradição simbólica, início da saga
hebraica, ele representa um ponto de partida. Se, antes, já existia o ser
humano – os denominados “filhos da terra” – desses não temos a história. Iremos
nos defrontar com teorias, as mais credenciadas, mas não poderemos sobre essas
teorias construir nossa filosofia.
A Maçonaria acredita num princípio e obedece aos Landmarks,
que são os princípios básicos de sua doutrina. A importância de estabelecer
critérios analíticos em torno desse princípio não é vital. O posicionamento
maçônico atual é o de crer e aceitar a existência de um Deus a quem denomina de
Grande Arquiteto do Universo e da existência de uma vida após a morte.
Portanto, iniciação implica em aceitarmos um novo
princípio, com todas as injunções que o compõem, inclusive com abrir mão de
tudo o que era antes da iniciação.
Esta seção, separando o passado do presente, não é possível
ocorrer no plano
físico.
O iniciado, ao deixar o Templo, ao retornar ao “mundo”, esquece a sua nova
condição e readquire o comportamento que tinha isto paulatinamente, porque a
“natureza não dá saltos”. O mundo então o recebe como ser mais aperfeiçoado.
Toda iniciação se desenvolve no plano mental, espiritual e místico.
Muitos tendem a dar à Maçonaria um aspecto religioso e
assim, dentro das Lojas, formam-se correntes as mais diversas. O religioso, de
forma geral, tende a adaptar a Maçonaria aos seus princípios; assim, sob o
ponto de vista espírita, o maçom espírita praticante construirá em sua
iniciação um panorama que não conflite com sua crença. Porém, sem afirmar que a
Maçonaria é agnóstica, a religião, embora extremamente necessária, não está
incluída na filosofia maçônica.
Crer em Deus e numa vida futura não implica em qualquer
princípio religioso. A religião fundamenta-se sempre, na fé. A Maçonaria prescinde
desta fé. O maçom religioso será, sempre, um maçom compreensivo. O religioso
crê no dualismo: Deus e Diabo. A Maçonaria aceita a Deus como um Princípio, sem
a preocupação de perquirir sobre a origem deste Princípio, O homem, é criatura;
o Criador é Deus. O homem é eterno; a Eternidade é Deus.
Temos, portanto, na iniciação um aspecto curioso: trata-se
de uma Iniciação Maçônica e não de uma iniciação religiosa. Uma iniciação
escolhida, aceita, experimental, e não uma iniciação imposta. A religião pode
ser seleção, mas genericamente é imposta.
Nossos pais, por exemplo, nos impõem um nome que devemos
suportar até a morte. Paralelamente, nossos pais nos dirigem para uma religião:
a religião deles. Na maturidade, o homem pode escolher o seu próprio destino
religioso, porém, a influência do lar será à base de tudo.
A Maçonaria aproxima o seu adepto a Deus. Ela o apresenta
como uma obra perfeitamente construída, adornada e acabada por um Grande
Arquiteto. O mistério se denomina, também, Deus. Para a Maçonaria o Diabo nada
é; ela aceita o dualismo como equilíbrio de forças. O Diabo será apenas
oposição, descrença, desamor. O homem passa constantemente por iniciações. Nem
sempre, são iniciações conscientes.
A Iniciação Maçônica, como vimos, é formada por um conjunto
de fatores. Inicialmente individual, para posteriormente integrar-se a um
grupo.
As iniciações inconscientes resultam de uma evolução
espiritual; o que se processa no homem, dentro de seu universo, ainda não está
muito bem definido, mas existe. E a materialização do “conhece-te a ti mesmo”,
da revelação do grande mistério da Criação. Homem, quem és?
A Maçonaria dá muitas respostas, mas se torna necessário
que o candidato passe, efetivamente, por uma Iniciação. A Maçonaria precisa com
muita urgência, para sobreviver, de iniciados, e não de elementos que passam
por uma iniciação sem que a morte se efetive. Para uma comparação, com a
finalidade de que haja compreensão maior, foi necessário para Jesus que
morresse para cumprir a sua missão de redimir o homem. Sem uma morte, não
haverá iniciação.
… Portanto, em resumo, a Iniciação nada mais é do que a
aceitação da morte. Assim, esta morte perde o seu aspecto trágico.
Quando o homem se convencer de que a Iniciação para uma
nova aventura. Todos aqueles que tiverem um amigo maçom e que forem propostos
como candidatos ao ingresso na Maçonaria, terão uma oportunidade única e
exclusiva. Sempre, contudo, que o candidato busque entender a Iniciação.
Em outros países – Estados Unidos, Argentina, Chile,
Uruguai, etc. – as Lojas distribuem aos candidatos um manual que serve de
orientação, inclusive dos familiares. Nós, brasileiros ainda temos tabus quanto
ao ingresso na Ordem. O candidato, já adentrando a Câmara das Reflexões, ainda
ignora o que seja a iniciação. Esta falha é imperdoável.
Cabe ao apresentador, ao padrinho esclarecer seu afilhado
acerca do que seja a iniciação maçônica. Obviamente se esse mestre souber
realmente da importância deste conhecimento.
O homem em núpcias prepara-se para a iniciação do
casamento, tendo já passado por um período de noivado. O casamento
indubitavelmente é uma das fases mais importantes tanto para o homem quanto
para a mulher. Trata-se de uma iniciação séria que cada vez menos é assim
considerada, pois assistimos a desfazimentos de casamento por motivos os mais
fúteis possíveis.
O importante da iniciação do casamento é que se apresenta
contínua. Cada dia que passa surgem problemas que devem ser solucionados, e
isto perdura até o fim; não o fim de um casamento mas o da vida.
Passado o período de “mel”, surgem os filhos e a grande
problemática do amadurecimento, o encaminhamento dos filhos para a vida, as
questões que, eles geram as preocupações. Depois, vêm os netos, as enfermidades,
a velhice. Muitas vezes o casamento se interrompe com a morte da companheira,
afastamento permanente que causa traumas.
Mesmo havendo separação, prematura ou não, as funções
geradas pelo casamento não cessam; em caso de separação judicial, subsiste a
manutenção do outro cônjuge, dos filhos menores e desamparados: uma
continuidade trágica, perturbadora, que traz, sempre, infelicidade.
Assim é o maçom. A sua iniciação não apresenta um ponto
estanque; é contínua e permanente, porque a cada dia que passa novas
experiências surgem. Até o fim, o fim da vida, o maçom prossegue nos atos
misteriosos e místicos da iniciação. O maçom é para sempre, in eterno. O maçom
depois de iniciado sempre será maçom.
Temos a iniciação profissional. No início entusiasta, depois
rotineira. Conforme a profissão, ela se apresenta insossa, repetitiva, um
castigo, tudo sempre igual: um patrão, uma tarefa, sempre em busca da
aposentadoria. Há profissões, porém, que exigem progresso, atividade constante,
e que dão grande satisfação; como acontece nas pesquisas científicas.
A Maçonaria também possui essa parte: a grande busca, a
experiência, o próximo como elemento de trabalho operativo. Essas iniciações
são simultâneas: religiosas, espiritualistas, científicas, operacionais,
místicas, enfim, um corolário de princípios que não cessa prossegue até o fim
da vida, desta vida.
Não podemos fixar uma norma a respeito da iniciação; a
Maçonaria dispõe de tradição para realizar iniciações formalmente iguais,
revestidas de simbolismo escolar. No entanto, nem a Maçonaria, nem as
religiões, nem a própria vida, iniciam alguém.
A iniciação é mística individual, pois ela se realiza
dentro do indivíduo. Obedece-se a ritos rígidos, esses são externos, daí que a
cerimônia iniciática se reveste de características fixas, enquanto a cerimônia
mística envolve a personalidade do iniciando e difere de indivíduo para
indivíduo. Com isto, surge a incógnita da possibilidade ou não de encararmos
uma iniciação rotulada de atualizada ou moderna.
A iniciação, seja qual for, será sempre paralela ao
desenvolvimento espiritual do indivíduo. Uma obra clássica não significa
antiga, de séculos passados. O clássico pode ser moderno e atual; o que
classifica é o lugar que encontra na sociedade. Assim, podemos fixar uma iniciação
clássica como a aceita por uma maioria. Sempre, porém, ela será atual no
conceito do iniciando e não no conceito do iniciador.
A instrução era feita, a cinqüenta anos atrás, de
conformidade com os métodos tradicionais; primeiramente, a alfabetização, para
depois, ano após ano, num trabalho de paciência beneditina, incutir na mente do
aluno o conhecimento previamente programado, numa escala crescente para
desenvolver o raciocínio até atingir a universidade, onde a personalidade do
mestre passava a plasmar a cultura.
Hoje, a televisão se encarrega de tudo. Amanha, quem sabe,
a telepatia dará a orientação precisa e correta. Portanto, quando se cogita de
entender o que seja uma iniciação, deve-se atentar a todas as suas nuances e
facetas, para, depois, colher os resultados. E por este motivo que sempre
alertamos: o iniciado não é o que passa por uma iniciação, mas o que inicia.
O segredo, o grande segredo maçônico é o comportamento do
iniciando na Câmara das Reflexões, tão conhecida pelos maçons e de certo modo
um assunto esotérico, ainda particular, de vendado de forma muito discreta numa
linguagem apropriada compreensão dos maçons, daqueles verdadeiramente
iniciados.
O candidato, concluída a sindicância e aprovado pelo
plenário, sem voto divergente, é chamado. Esta chamada contém muito misticismo.
Dissera Jesus ao discípulo: “vem e segue-me”. O candidato, nesta altura já
avisado de que a sua entrada para a Maçonaria foi aceita, responde a chamada. É
muito importante ser chamado.
Na competição atual, o homem busca alcançar um espaço; ele
desbrava caminhos, luta e nem sempre vence. Porém, na Maçonaria, quando menos
espera, recebe o chamado, transmitido pelo seu apresentador, seu padrinho. Esse
chamado deve ser atendido? O que passa pela mente do candidato?
O atender o chamado significa um ato de obediência. A
obediência de modo geral, significa submissão, ou seja, uma concordância tácita
de que tem disposição para ingressar em uma Instituição que desconhece. O
enigma deve ser decifrado e o homem, por ser desafiante, ousado, impetuoso,
passa a enfrentar o desconhecido. Ignora o nome dos participantes da
Instituição onde anuiu ingressar, ignora a filosofia do grupo, os conceitos, a
parte esotérica. Porém, aceita e acompanha o padrinho até o Templo.
Atender ao chamamento é o resultado do trabalho de
preparação que aludimos acima. Toda Loja, toda jurisdição maçônica trabalhou
com muito interesse para atrair o novo irmão que irá beneficiar com a sua
personalidade e presença a fraternidade universal.
É o retorno, o eco das vibrações enviadas através da mente,
da voz, das práticas, do misticismo, do mistério. Se o chamamento for bem
equacionado, se as vibrações emanadas tiverem sido bem distribuídas,
indubitavelmente atingiram em cheio o candidato e ele não poderá, de modo algum,
negar o chamamento.
Não será ele quem decide. A congregação é que decidiu
recebê-lo. E a fatalidade da preparação a que ninguém escapa a atração
irresistível em busca, inconsciente, da perfeição. Assim, o candidato se
entrega totalmente à iniciação. Aqui cessa a participação individual para dar
lugar à participação do grupo.
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