Tentar identificar a Maçonaria brasileira com o
Liberalismo oferece dificuldades específicas, apesar da história da Instituição
dos chamados “pedreiros livres” estarem intimamente ligado à luta contra o
absolutismo.
Desde o seu início regular, recebeu nos seus quadros uma
quantidade significativa de conservadores.
Entretanto, é difícil chegar a um consenso acerca do que
seja um maçom liberal ou conservador e do que existe de democrático na
Maçonaria, pois o Liberalismo é precisamente o que distingue a democracia
liberal das democracias não-liberais, como as que existiram no Brasil durante
os períodos de arbítrio com Maçonaria, com raríssimas exceções, sempre atuante.
Acrescente-se uma certa indefinição, no tempo e lugar,
quanto aos referenciais históricos do termo Liberalismo no Brasil. Daí a
célebre frase de Holanda Cavalcanti:
“Nada mais igual a um Saquarema do que um Luzia no
poder”
O Liberalismo é um fenômeno histórico que surge na Idade
Moderna. Com efeito, na era da descolonização, o Liberalismo é menos absorvido
na América Latina do que as ideologias nascidas na Europa, como a democracia, o
nacionalismo e o socialismo.
Para o historiador, de todo o modo, o Liberalismo deve
representar um fato histórico. Todavia é possível encontrar diversas definições
históricas; não basta a marca do liberal, como pretendeu Holanda Cavalcanti,
para entender uma época histórica.
Desde 1817 que as associações para-maçônicas, como se
verifica no movimento de 1817 em Pernambuco, contra o domínio português,
souberam articular-se com as academias que pregavam o ideal de liberdade, mas
esta liberdade não pugnava pelo Liberalismo como hoje é entendido.
Nem mesmo o sentido
republicano dado por alguns pesquisadores da Revolução pernambucana nos
autoriza o entendimento de uma Maçonaria republicana e liberal, apesar dos
membros destas academias estarem influenciados pelo ideário da Revolução
Francesa, cujo membro mais expressivo é o do general Gomes Freire de Andrade na
sua luta para derrubar a Junta Governativa, quando se fixa em Lisboa e tenta
derrubar o marechal Beresford.
No Brasil Imperial o termo liberal indicava uma atitude
tolerante, ou as profissões exercidas pelos homens livres. A tolerância liberal
da Maçonaria brasileira nos autoriza admitir que, apesar de ter o Iluminismo
chegado a reboque na pregação da liberdade dentro das academias e das
sociedades secretas, das pregações individuais daqueles que estudaram na Europa
ou leram os livros das luzes, a Maçonaria foi a grande responsável pelo fato do
Brasil ter tido uma experiência monárquica importante e válida.
Não seria nenhum absurdo, portanto, afirmar que o nível de
ingenuidade estabelecido no transcorrer da história do Liberalismo maçônico
durante o Império, com maçons defendendo idéias contingentes no Parlamento, não
era um Liberalismo genuíno, mas membros de Partidos que se inspiravam nas
idéias liberais que não desenvolveram uma política coerente com os princípios
proclamados ao lado de outros que se inspiravam nas idéias liberais que não
tomaram o nome de liberais; o que não significa que na Maçonaria brasileira
inexistiam idéias liberais.
Muito própria do Brasil Império, a idéia conservadora não
deve ser entendida como uma crítica à Maçonaria, mas um ajustamento da sua
doutrina com a realidade política praticada no Brasil. No Império os maçons
lutavam contra a opressão clerical e contra o absolutismo. Pretendiam a
laicidade do Estado e do ensino, admitindo a Monarquia desde que respeitada a
soberania popular.
Muitas acusações foram feitas contra a Maçonaria brasileira
com o equivocado argumento de que ela defendia uma ação subversiva contra as
instituições monárquicas e ódio profundo contra a Igreja. Como validar tais
argumentos, se o seu segundo Grão-Mestre foi o primeiro Imperador do Brasil e
dezenas dos melhores nobres e tantos clérigos pediam a iniciação?
Na verdade, a expansão dos modelos doutrinários burgueses
na formação do pensamento maçônico brasileiro foi respondida pela Igreja
Católica com o distanciamento e depois com práticas de franca hostilidade.
O fortalecimento da corrente conservadora estava
diretamente articulado à permanência da sua subordinação às diretrizes
regalistas do estado Monárquico. Por outro lado, há que se considerar o
fortalecimento da parcela burguesa maçônica, principalmente a que defendia um
radicalismo democrático de que se revestiu conjunturalmente o processo
abolicionista e até mesmo o golpe de 1889, instaurando a República no Brasil.
Olhando para o passado os maçons de hoje deveriam ver o
Liberalismo não como uma simples ideologia política de um determinado partido,
mas como uma “encarnação” nas estruturas sociais e nas instituições políticas
que estão à espera de um novo renascer, de uma nova e revitalizada vida liberta
das ambigüidades que o próprio termo liberal confinou por tanto tempo nas
masmorras da incompreensão.
Por fim, não me parece que o povo maçônico tenha
consciência dos seus direitos e da necessidade que existe de sua participação
na tomada de decisões para que se possa consolidar uma Maçonaria democrática em
que as divergências sejam aceitas, porque vista como natural na vida maçônica
nos países mais desenvolvidos.
Não importa que as Constituições maçônicas apresentem
traços liberais. O que está escrito é uma coisa muito diferente daquilo que
efetivamente vem sendo praticado. Se me perguntarem se existe uma Maçonaria
liberal no Brasil, responderei que existem alguns maçons que se consideram
liberais, pois a Maçonaria do Brasil, como o próprio país, jamais foi, de fato,
liberal.
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