O SILÊNCIO MAÇÔNICO


Esta peça de arquitetura foi elaborada a partir das reflexões que emanam das percepções originadas das atividades em Loja e também de leituras de textos de sábios irmãos, tais como Toufic Anbar Neto, Eduardo Miguel Lopes Rodrigues e Nicola Aslan.

Silêncio, no que se refere à Ordem, está intimamente relacionado aos segredos e simbolismos maçônicos (boa parte destes públicos atualmente, revelados em páginas e páginas da Internet).

É uma pena que a maioria dos indivíduos que as constroem sejam pessoas que, um dia, mereceram a confiança de irmãos em Loja e que, além de não assimilarem a filosofia embutida em tantas alegorias, não foram merecedores do respeito um dia neles depositado.

As convicções adquiridas, no entanto, me fazem crer que muito do que constitui os segredos maçônicos são impossíveis de se revelar, posto que está na alma do iniciado na arte real.

Lembranças que vem à mente reportam-me aos meus primeiros contatos com a Sublime Instituição, onde somos recebidos por advertência contida na frase "TUDO QUE AQUI OUVIRES, TUDO QUE AQUI SOUBERES, QUANDO DAQUI SAÍRES DEIXE QUE FIQUE AQUI" . Na progressão das instruções, fica claramente estabelecido ao aprendiz que seu papel será principalmente de ouvinte, que a Ordem espera que ele saiba muito mais escutar do que falar; palavras sempre com significado semelhante... manter o silêncio como sua virtude maior.

Desde cedo aprendemos que, em Maçonaria, o silêncio tem um rico significado, que incita ao neófito perscrutar os mistérios do seu íntimo, buscar dentro de si mesmo as suas verdades absolutas, com as quais trabalhará de hora em diante.

Ficamos sabendo que o significado simbólico do desbastar a pedra bruta significa lapidar nosso interior, buscando cepilhar rudezas e asperezas para que, polidos, sejamos virtuosos e justos.

A necessidade da exaltação do silêncio, na Maçonaria, remete aos mais antigos conhecimentos da humanidade, sendo utilizado por várias religiões, congregações filosóficas e outras entidades afim. Desde as primeiras civilizações, notadamente as que tinham sociedades iniciáticas, o silêncio é um importante elemento cultural, imposto drasticamente para salvaguardar seus segredos.

São exemplos para nós os egípcios que, entre magos e sacerdotes, ao serem iniciados assumiam um estado de silêncio total, a fim de se manterem os segredos e incitá-los à meditação. Igualmente, o budismo também valorizava o silêncio como condição para a contemplação. Os essênios tinham como principais símbolos um triângulo contendo uma orelha e outro contendo um olho, significando que a tudo viam e ouviam, mas não podiam falar, por não terem boca.

Para os talhadores de pedras, o segredo e o silêncio sobre sua arte eram uma questão de sobrevivência, constituindo-se inclusive num salvo-conduto.

Quando da unificação, a G.'. L.'. U.'. da Inglaterra adotou a legenda "audi, vide, tace" (ouça, veja, cale). Elementos não faltam na literatura maçônica para salientar a importância do silêncio: as "Old Charges" (Antigas Obrigações), pregavam o silêncio, a circunspeção e a compostura durante os trabalhos.

A constituição de Anderson pregava a prudência e o silêncio, notadamente em relação aos profanos. E, nos landmarks de Mackey, o de nº 23 se refere ao sigilo que o Maçom deve conservar sobre todos os conhecimentos que lhe são transmitidos e dos trabalhos em Loja, sendo que as cartas constitutivas de todas as Obediências contêm referências com o mesmo sentido.

A Lei do Silêncio é a origem de todas as verdadeiras iniciações. Segundo Wirth, o ensino deve ser pelo silêncio, nada de palavras que podem faltar com a verdade.

Nada mais é do que um perpétuo exercício do pensamento. Calar não consiste somente em nada dizer, mas também em deixar de fazer qualquer reflexão dentro de si, quando se escuta alguém falar. Não se deve confundir silêncio com mutismo.

Segundo Aslan, o primeiro é um prelúdio de abertura para a revelação, o segundo é o encerramento da mesma. O silêncio envolve os grandes acontecimentos, o mutismo os esconde. Um assinala o progresso, o outro a regressão.

Dizem as regras monásticas que o silêncio é uma grande cerimônia, pois Deus chega à alma que nela faz reinar o silêncio, mas torna mudo a que se distrai em tagarelices.

Os mistérios na Maçonaria devem ser velados em silêncio, pois em relação ao mundo profano nossos segredos existem com o objetivo de não poluí-los pelos que não se encontram preparados para entendê-los, e nada mais perigoso do que a verdade mal compreendida. Somente o homem capaz de guardar o silêncio será disciplinado em todos os outros aspectos de seu ser, e assim poderá se entregar à meditação. Enfim, o silêncio é a virtude maçônica que desenvolve a discrição, corrige os defeitos, permite usar a prudência e a tolerância em relação aos defeitos e faltas dos semelhantes.

A leitura de textos e obras de sapientes irmãos mostra que mesmo que algumas coisas sejam ditas, o profano nunca saberá o real significado da filosofia maçônica, uma vez que ela está alicerçada no interior de cada maçom.

Entre os próprios irmãos nota-se que a linha divisória do entendimento das bases filosóficas e do simbolismo que rege o processo ritualístico é muito sutil. O ambiente que criamos, nos compenetrando, antes de iniciarmos os trabalhos em Loja nos cria uma condição especial, essencial para que a energia emanada do ritual e dos próprios irmãos sirva de cinzel e nos ajude a polir nossa pedra bruta interior. As transformações que obtemos, são essencialmente nossas, íntimas, adquiridas através do incessante desbastar.

O silêncio maçônico foi entendido durante muito tempo como uma arma de arremesso social: nada se sabia do que se passava ou do que passava pelas lojas maçônicas. Mas, apesar do temor das sociedades esse silêncio era diretamente correlacionado com a prática ritualística. 

O silêncio, maçônico, certamente, está na base do entendimento do conceito de segredo.

Na maçonaria, o segredo é, antes de qualquer coisa, uma prática de humildade. Diferentemente do que entenderam muitos governos totalitários, e mesmo maçons, especialmente alguns que se tornaram irregulares, o segredo (e o silêncio) nunca foi uma forma conspiratória, ou instrumento de sabotagem. É, isso sim, um mecanismo, um instrumento de aprendizagem.

Na verdade, é muito mais do que isso: é um ato de humildade, que o homem iniciado se permite trazer de volta depois de tê-la perdido em algum momento de seu crescimento pessoal.

O exercício do silêncio, e da plena consciência de que é preciso manter a boca fechada, deve ser uma das metas de aprendizado mais caras do iniciado, porque quem ostenta publicamente uma regra qualquer de educação e só por isso se sente diferente dos demais, então é porque considera todos os outros inferiores a si, o que foge totalmente do que se procura ensinar em maçonaria.

Até porque na maçonaria não deve existir espaço para aqueles que se ostentam diferentes. Deve existir espaço para os que, pela diferença e no silêncio dos seus trabalhos, fazem o progresso da sociedade. Ou seja, ao revelar ao profano o que só compete aos iniciados discutir e absorver, nos mostra que não aprendemos nada e que, portanto, não estamos verdadeiramente revelando o que significa ser um maçom verdadeiro.

É por isso que palavras, na grande maioria dos casos, são inúteis para revelar nossas conquistas interiores. Isso é bom, porque mostra e comprova que a discrição e o silêncio continuarão sendo virtudes marcantes para o iniciado. Por outro lado, apresenta alguma dificuldade porque não podemos mostrar aos próprios irmãos toda a magnitude de nossas conquistas interiores.

Podemos, isso sim, mostrar que somos indivíduos melhores e mais justos em função do que aprendemos desta arte real.

Acredito, hoje, que a preservação dos segredos maçônicos transpassa a simples explicação de que não devemos revelar nossos mistérios. Os mistérios serão sempre revelados aos iniciados, pelo simples fato de que a busca interior que temos que fazer só funciona bem quando estamos respaldados pelo ambiente altamente energizado de uma sessão ritualística.

Tal como nos ensina o ritual, os espíritos desatentos encaram as instituições como expedientes imaginados pelo interesse ou pelo capricho de um homem ou grupo de homens. Não dão contas de que o segredo da Maçonaria consiste apenas na existência indispensável de um sistema iniciático, que somente se revela (ao iniciado) quando o desejo deste, de aprender e de se aperfeiçoar, fará com que busque a verdadeira concepção das verdades que regem sua força espiritual, e que estará sempre dentro de si mesmo.

Nota - Na Sala dos Passos Perdidos da Loja Farol Guia das Missões nº 69 (Santa Rosa, RS), uma placa com esses dizeres recebe os IIrm.'.

Bibliografia:

Irm.'. Toufic Anbar Neto(Or.". de São José do Rio Preto - SP)

Irm.'. Eduardo Miguel Lopes Rodrigues (18 REAA)

Irm.'. Nicola Aslan

Irm.'. Cláudio Alfredo Konrat - M.'.M.'. - Loj.'. Guia das Missões 69 - GLMRS - Or.'. de Santa Rosa - RS

 


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