Desde a construção do templo por Salomão em
Jerusalém o tronco já fazia parte dos rituais maçônicos. Naquela época foi
criada pelos arquitetos uma coluna em miniatura, denominada de tronco, que
girava por entre as bancadas recebendo as contribuições, a mão era introduzida
pelo alto do capitel, que a ocultava, havendo uma fenda no cimo do fuste para a
passagem da oferta.
Com o tempo passou a se denominar tronco da viúva,
tronco de solidariedade ou tronco de beneficência. O tronco é o ato de recolher
que se faz através de um saco ou bolsa e o seu produto é a medalha cunhada,
também conhecida por óbolo (pequena moeda).
Tronco é uma palavra que deriva do francês “tronc”.
Em época mais remota o Papa Inocêncio III, criou o tronco dos pobres que era
uma caixa que existia nas entradas das igrejas.
Era costume nas antigas “guildas” recolher
contribuições dos que podiam ofertá-la, para socorrer os congregados, entre os
quais se encontravam todos os tipos de homens: senhores, trabalhadores e
serviçais. A proteção se estendia às viúvas, órfãos, inválidos e servia até
para defesa judicial dos membros. Essa tradição passou à Maçonaria.
A função caritativa da Maçonaria se tornou tão
destacada que a ordem passou a ser identificada como benemérita pela pratica da
filantropia, se ouvia falar que a imagem da Maçonaria era Fraternidade e
Caridade.
Não descuidando de nosso foco, devemos entender o significado de nossas
ações: a prática da filantropia alcança os infelizes e necessitados pela
entidade beneficente que a praticou, benemérita é a loja que proporciona a
pratica dessa beneficência pelo elevado espírito de nossa fraternidade.
A filantropia por mais autêntica que seja não
engloba a fraternidade, uma vez que a filantropia arrasta por tradição
nuclearmente o conceito de esmola, porquanto a prática da fraternidade é um
sentimento que possui em seu núcleo o amor fraterno da união dos maçons.
Assim podemos dizer que a fraternidade é diferente
da filantropia, mas não a exclui e ambas devem coexistir.
O templo não é lugar de esmola, mesmo que o óbolo
seja uma manifestação mínima que se possa dar, este deve ser evitado, pois se
nos organizarmos financeiramente iremos colaborar bem mais que o mínimo.
Vejamos o preceito bíblico em (Mateus 6:2-4)
Quando, pois, deres esmola, não toques trombeta diante de ti, como fazem
os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens.
Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa. “Tu, porém, ao dares a
esmola, ignore a tua mão esquerda o que faz a tua mão direita; para que a tua
esmola fique em segredo; e teu Pai, que vê em segredo, te recompensará.”
As interpretações dessa passagem bíblica são muito amplas e não se faz
necessário entrar no mérito para buscar a verdade dessa doutrina, o certo é uma
profusão de sentimentos nesse sentido.
Devido à multiplicidade de orientações religiosas
dos maçons, a ordem é adogmática; assim a nossa participação no tronco ocorre
com neutralidade de espírito onde se participa com liberdade e isenção, a
compaixão a generosidade e a solidariedade falam mais alto em nossos corações
vindo a dispensar quaisquer recompensas por este ato.
Este momento é mágico, todo especial que envolve
uma elevada mística vibracional para a formação do tronco como observou em seu
post o Ir∴ José Maurício
Lima da A∴ R∴L∴S∴ José Antonio Guimarães nº 192, do Grande Oriente
do Estado do Rio de Janeiro: no momento em que se inicia a circulação do tronco
algo mágico desprende do hospitaleiro como se fosse um incenso queimado é como
se fosse o somatório de nossas energias, emocional, mental, psíquicas, na forma
de papel moeda para que esta energia possa ser objeto de transformação de
pessoas, de condutas, então o que você chama de dinheiro, nós temos um nome
muito mais profundo para isso, pois na maçonaria se trabalha com mentes, que
partilham energias com as pessoas menos favorecidas, não é o ato de colocar a
prata é muito mais amplo, lembra a lei de Amra – causa e efeito.
O tema filantropia, beneficência e Fraternidade, para muitos não é
pacífico, primeiro pela falta de entendimento do seu conceito, segundo pela
nossa capacidade de escolher a política mais adequada para o enfrentamento
dessas questões e terceira a própria conjuntura atuais das Lojas e obediências:
casos de inadimplência mórbidos, pagadores com atraso, lojas que descuidam de
seus compromissos junto à obediência, estes exemplo são reflexos existenciais
entre o primo e o irmão:
“quando vos conto do primo notem que é mais triste a minha fala, porque
o primo é uma mala mas pensa que é um arrimo. É mais liso que limo e floresce
em qualquer chão, mas lhes digo de antemão garnizé nunca foi galo, petiço não é
cavalo e primo não é irmão” ... e seguem assim os versos de um poema gauchesco.
Frente ao estado de necessidade não há razão alguma
para juízo de valor, a ação pelo amparo me parece mais adequado, assim é o
trabalho filantrópico, de outra banda não havendo estado de necessidade a
atuação fraterna dá margem a juízos de valor sobre o pleito solicitado. Eis
aqui a grande diferença no tratamento para assuntos similares, mas muito
diferentes na sua essência, pois nem tudo é o que parece ser.
Esta realidade esta diretamente relacionada com a nossa capacidade de
enfrentamento onde podemos quantificar o valor das medalhas cunhadas pelo
tronco em nosso País:
Tomando-se por base a média de 20 obreiros por
sessão,
Considerando a média do óbolo é de R$ 5,00 por obreiro, a
4 sessões ao mês
E uma plataforma aproximada de 5.627 lojas no Brasil têm:
20x5, 00= R$100,00 por sessão de loja
100x4= R$ 400,00 a. m. por loja
400,00x 5.627 = R$ 2.250.800,00 a.m
X 12= R$ 27.009.600,00 anual
Conclusão:
a. O número parece gigantesco, VINTE E SETE MILHÕES ANUAIS, porém
diluídos por loja parece muito pouco, não dá para fazer muita coisa, todavia
ameniza qualquer situação em auxílio-concreto, tornando-se muito eficiente.
b. Aqui não estão computados os trabalhos sociais desenvolvidos pelas
Lojas e potências e também não é considerada a verba de captação.
c. Se nos contentarmos com o óbolo puro e simples chegaremos facilmente à
conclusão que:
NESTE TEMA HÁ MAIS RETÓRICA QUE AÇÃO.
Voltando às considerações:
A proposta de priorizar o atendimento ao público interno é matéria
vencida para a maçonaria bem antes da idade moderna, mesmo que tenhamos
entendimentos diversos, o bom senso demonstra que os assuntos devem ser
tratados separadamente.
Se a nossa satisfação é limitada pela arrecadação
da Loja nos moldes apresentados e a sua utilização for canalizada para atender
o nosso público interno, estaremos como instituição dando as costas aos
flagelos que atingem à sociedade.
Há inúmeras maneiras de transpor esta barreira,
basta usar a imaginação e por a mão na massa, pois somos aquilo que desejamos
ser, ou seja, o que somos hoje é o produto de ontem.
A maçonaria
nada mais é do que princípios.
Ela não é como eu quero e como penso que deve ser a
maçonaria se materializa pelo produto de nosso trabalho quando agimos de acordo
com o nosso coração.
Na maçonaria não existe prato feito, temos que
trabalhar constantemente sempre em busca do consenso.
O consenso tem como limite a legislação onde se
emprega a tolerância ilimitadamente para a livre manifestação do pensamento, e
nunca para justificar comportamentos equivocados, fatos errados, descumprimento
de normas como, por exemplo: o não depósito de metais junto à tesouraria da
Loja.
Muitas vezes a Loja é reflexa de seus dirigentes, o
V∴ M∴ prestou um
compromisso solene de cumprir as Leis, normas e regulamentos, ele não pode
prevaricar, tem que passar o seu povo a prumo.
Os casos isolados, as exceções devem receber um
tratamento especial com acompanhamento da comissão de beneficência da Loja,
inclusive apontando soluções saneadoras para impedir a recorrência ou difícil
resolução. Não há e nunca houve restrição alguma em auxiliar um irmão ou
parente porque estes são os próximos mais próximos que temos.
Cabe aqui salientar uma lição do Ir∴ Aderbal Bate
Bergo M∴ M∴ ARLS LUX AETERNA Nº 236 GLESP.
“Dentre os caminhos que elevam o ser humano na
espiritualidade, a primeira das virtudes é a CARIDADE.
Principalmente a caridade de dimensão ESPIRITUAL na
medida em que se consegue ajudar o próximo por amor a Deus.
O Compasso é o símbolo: você está na ponta do
centro, sobe para Deus e desce para os outros homens, sem muitas preferências,
todos devem estar mais ou menos à mesma distância de nossa bem-querência, do
nosso amor, da nossa fraternidade, mas sempre passando por Deus.
O Compasso, que é um dos nossos símbolos
principais, não estabelece uma ligação direta de uma pessoa com seu semelhante.
“O Compasso é a ida de nosso pensamento ao Grande
Arquiteto do Universo, e este pensamento, abençoado por Ele, volta para ajudar
os semelhantes, que simbolicamente estão na outra ponta.”
Somos múltiplos e devemos agir em várias frentes ao
mesmo tempo, temos qualificação e aptidão para isso.
Somos capazes, instruídos, e fomos devidamente escolhidos para entrar na
ordem através de um padrinho que nos avaliou segundo os nossos costumes e leis,
detendo-se inclusive com a nossa capacidade honrar com esses novos
compromissos.
Hoje tudo é previsível, assim sendo não se
transfere as nossas responsabilidades para as mãos dos outros irmãos.
Os fatos isolados devem ser administrados pela loja
ao arrepio do tronco de solidariedade, por uma chamada extra ou outros
mecanismos que podem ser adotados:
a. A loja deve
possuir contas correntes necessárias para sua gestão, mas no mínimo deve ter
duas contas bancárias atualizadas.
b.
A primeira para a gestão da Loja e a segunda para a
gestão da conta Fraternidade, sem desvio de finalidade (este é o entendimento
de nossa obediência).
b. O V∴ M∴ possui a disponibilidade de colocar
preferencialmente na presidência das comissões um M∴ M∴ (I) ou na
falta deste um mestre mais antigo.
Como construtores sociais, sabemos o nosso papel na ordem e na
sociedade.
A ordem não pode e não deve voltar-se a proteção somente de seu umbigo,
não devemos cultivar somente a introspecção e sim continuarmos a ser
progressistas, fomentar a nossa família a fim de ocuparmos melhores espaços
sociais, ou seja, é melhor dar do que pedir, para tanto devemos estar
preparados para o dia de amanhã onde os degraus foram feitos para ser galgados,
respeitando sempre as condições contextuais de cada um, cada realidade é uma
realidade.
Enganam-se quem entra na maçonaria para ser ajudado, a maçonaria nos
exige muito mais, devemos nos doar muito e com responsabilidade, a maçonaria
tem que entrar em nós.
As Lojas são independentes, suas histórias são diversas e seus assuntos
devem ser resolvidos a coberto, mas excedido a capacidade da Loja, é nosso
dever sair em socorro de nossos irmãos, quer onde se encontrem segundo a nossa
capacidade de ajuda.
Assim, não há como tratar desiguais com medidas iguais, as realidades
das Lojas não são as mesmas, a Carta de Londrina pode ser adequada aquele
momento histórico e não deve ser entendida como um produto pronto e acabado,
até porque seu foco é quebra de paradigmas, por exclusão deste.
Por derradeiro o assunto pode ser observado pelo silogismo:
1) O homem criou os PRINCÍPIOS;
2) Pelos PRINCÍPIOS o homem criou a MAÇONARIA;
3) O Choque de LIBERDADES é o princípio gerador do CAOS;
4) A reorganização do CAOS se dá através do CONTROLE;
5) O CONTROLE só é possível através do PODER;
6) O PODER é delegado por quem detém a LIBERDADE;
7) A LEI e os REGULAMENTOS limitam à liberdade;
c.
Logo é NATURAL a existência de várias
interpretações como um processo natural do comportamento humano frente às
atividades da maçonaria, porém a maçonaria é filantrópica porque não está
constituída para obter lucro pessoal de nenhuma classe, senão, pelo contrário,
suas arrecadações e seus recursos se destinam ao bem-estar do gênero humano,
sem distinção de nacionalidade, sexo, religião ou etnia. Procura conseguir a
felicidade dos homens por meio da elevação espiritual e pela tranqüilidade da
consciência, portanto como ela não faz distinção não podemos discriminar.
Aplaudo a Loja que auxilia o seu público interno quando se faz
necessário, não descuidando da finalidade do tronco de beneficência como
determina o nosso estatuto.
d.
A filantropia, a beneficência e a fraternidade
devem andar de mãos dadas o tempo todo e para todo o sempre para que tudo permaneça
justo e perfeito.
e.
Adil Moura – M∴M∴ (I)