O termo ‘Rito’, derivado do latim ritu,
compreende um conjunto de fórmulas, regras, normas e prescrições a ser seguidas
e observadas durante a realização de um culto, um trabalho religioso ou ainda,
no desenvolvimento dos trabalhos de uma determinada crença religiosa onde
imperam em todos esses casos, procedimentos únicos e especiais que conferem a
cada uma dessas vertentes características que as tornam únicas, conforme a
natureza dos procedimentos por elas praticados quando do desenvolvimento de
suas atividades.
Numa definição mais ampla, esse termo também é
utilizado para expressar a velocidade com que tramita um processo na área
jurídica, considerando-se a ritualística específica desse setor. Apesar de
muitos fazerem essa confusão, o termo ‘Rito’ tem significado diferente do
termo Ritual; o ritual é um procedimento monocórdio, imutável,
enquanto que o rito se constitui num conjunto de atividades organizadas na qual
as pessoas se expressam por meio de gestos, palavras e símbolos, atualizáveis
conforme a época, e que terminam por conferir um sentido coerente ao ritual.
Por último, de acordo com a Enciclopédia Larousse
Cultural, edição de 1995, ‘Rito’ consiste ‘num conjunto de regras e de
cerimônias que se praticam em uma determinada religião: o rito romano
da Igreja Católica; em certas sociedades, ato ou cerimônia mágicos, com
caráter repetitivo, que tem como objetivo orientar uma força oculta para uma
ação determinada (O rito individual consiste em gestos, palavras ou atitudes.
O rito manifesta-se coletivamente
através de cantos, danças ou cerimônias estratificadas e freqüentemente
complexas). - Maçon. Determinado grupo da franco-maçonaria. (Cada obediência
pratica um ou mais Ritos. Cada Rito possui seus rituais e seus graus)’. Ainda, consultando
a mesma literatura, encontramos o seguinte significado para ‘Ritual’: ‘Livro
que enumera as cerimônias e ritos que devem ser observados na prática de uma
religião. Conjunto de práticas consagradas pelo uso, ou ditadas por normas, que
se deve observar sem alteração em ocasiões determinadas; cerimonial’.
O Rito Escocês Antigo e Aceito parece ter sua origem
no Rito de Heredom, na época da fuga dos cavaleiros Templários para a Escócia.
Há quem advogue a idéia de que esse rito não só encontra-se ligado ao Antigo
Testamento como também se relaciona com a Lenda de Hiram, lenda base da
maçonaria simbólica. Outros defendem a idéia de que esse rito está relacionado
a ordens secretas como a dos Martinistas na França, os Iluminatti na Alemanha e
o Rosa Cruzes na Escócia.
Apesar da existência de diversos ritos na maçonaria,
devido à similaridade que guardam entre si, há quem entenda que todos esses
ritos tiveram uma mesma origem, que os estudiosos chamam de Rito Básico dos
Maçons Operativos. Esse rito básico teria sido criado por Elias Ashmole,
alquimista Rosa Cruz que estudando as antigas instituições iniciáticas, adaptou
seus princípios para a maçonaria operativa.
Dentre as principais lendas envolvidas no surgimento
do Rito Escocês Antigo e Aceito e de seus altos graus filosóficos, cabe
destacar o papel de André Michel, escocês de nascimento e partidário da
dinastia dos Stuarts, considerado como sendo o inspirador da criação dos Graus
Superiores e ter, ainda, exercido influência na elaboração dos Graus Simbólicos.
Conta a história que André Michel, nascido em 1686,
também conhecido como Cavaleiro de Ramsay, escreveu por volta do ano de 1737
discurso que foi proferido nas Lojas da França e de alguns países vizinhos,
onde, em síntese, propõe a criação de novos graus no Rito Escocês Antigo e
Aceito, relaciona a origem da maçonaria com os Templários, procura criar uma
aura de nobreza em torno da instituição maçônica e insere o ideal de fraternidade como
um princípio da maçonaria. Mas é tamanha a controvérsia sobre esse assunto, que
alguns autores alegam que esse discurso jamais foi lido em qualquer
Loja maçônica; outros questionam a autoria do mesmo e a suposta existência
de pelo menos quatro versões para esse mesmo discurso.
Interessante destacar que qualquer que seja a origem
desse Rito, uma coisa é certa: apesar do nome ‘escocês’, esse rito nada tem de
escocês e, inclusive, é muito pouco praticado na Escócia onde predomina o Rito
de York, sendo mais provável que tenha surgido na França com a interferência de
André Michel, o Cavaleiro de Ramsay, conforme exposto acima.
Uma característica do Rito Escocês é ser um sistema
livre, sem uma linha hierárquica de obediência, daí não ter se submetido à
Grande Loja de Londres, fundada em 1717; era um sistema livre, de Lojas Livres
e Maçons Livres. A partir da segunda metade do século XVIII foram criados os 25
graus do chamado Rito de Heredom e que mais tarde receberam a adição de mais 08
graus como conseqüência da fundação do Supremo Conselho de Charleston, por
volta de 1800, sendo este o primeiro Supremo Conselho a ser criado e por isso
sendo também chamado de Supremo Conselho Mater-Mundi.
Com relação ao termo ‘Antigo e Aceito’, o mesmo surgiu
na França como conseqüência da fundação da Grande Loja de Londres. Antigamente
a maçonaria acolhia em suas fileiras maçons que eram ‘aceitos’ na Ordem apesar
de não exercerem a profissão dos Operativos. Com a criação da Grande Loja de
Londres, a mesma foi alvo de forte oposição por parte de muitas Lojas, que à
ela não se submeteram; os maçons que aderiram a Grande Loja foram considerados
‘Modernos’ enquanto que os não-alinhados foram considerados ‘Antigos’.
Com base nos estudos desenvolvidos por José
Castellani e Nicola Aslan, podemos afirmar que o Rito Escocês Antigo e Aceito
teve sua origem no Rito de Heredom, também chamado Rito de Perfeição, o qual
por sua vez sofreu forte influência dos Templários. A primeira menção que temos
desse rito são os dois discursos proferidos nas Lojas da França e arredores por
André Michel, o Cavaleiro de Ramsay, os quais obtiveram tal repercussão que
podemos responsabilizar esse cavaleiro pela criação e introdução desse rito em
solo francês.
Assim sendo, podemos considerar que o rito de Heredom
foi o ponto de partida para a criação do Rito Escocês Antigo e Aceito, depois
de sofrer diversas modificações ao longo do tempo até adotar a forma como hoje
o conhecemos.
Um fato importante a considerar é que não há nenhuma
organização nacional ou internacional responsável por reconhecer um rito, como
também não há órgão, instituto, federação ou outra organização qualquer que
licencie ou regularize um rito.
Considerando esses fatos, entendemos que um rito surge,
conforme a definição de rito já abordada, a partir do conjunto de atividades,
linguagem e sinais adotados por um grupo ou comunidade que professem a mesma
crença e pratiquem a mesma ritualística. Também podemos afirmar que a
existência de diversos ritos maçônicos representa a falta de integração entre
os maçons; a partir do momento em que todos começarem a praticar um mesmo rito,
com a fusão das diversas potencias maçônicas, teremos dado o primeiro passo
para uma real integração entre as diversas correntes de pensamento entre os
Irmãos.
É justamente por falta de um órgão que esteja apto e
capacitado a reconhecer um rito, que podemos afirmar que uma vez estabelecido o
rito, o mesmo encontra-se subordinado apenas ao Supremo Conselho de Rito, o
qual tem poder para delegar às Grandes Lojas e aos Grandes Orientes à
administração dos Graus Simbólicos, Aprendiz, Companheiro e Mestre.
III- Estrutura do Rito Escocês Antigo e Aceito
O Rito Escocês Antigo e Aceito é um rito muito
praticado no Brasil, não se constituindo num dos mais populares em outros
países. Apesar de fazer a separação entre Lojas Simbólicas e Filosóficas (as
Lojas Simbólicas são administradas pelos Grandes Orientes enquanto que as Lojas
Filosóficas seguem a orientação dos Supremos Conselhos), ambos os corpos
marcham unidos e em harmonia, de tal forma que membros da Loja Simbólica
participam dos Altos Corpos sem que haja qualquer dissonância, ao contrário,
percebe-se uma união estreita entre os maçons desses dois Corpos.
Para fins de sistematização do aprendizado, o Rito
Escocês Antigo e Aceito é composto de 33 graus distribuídos em Lojas
Simbólicas e Filosóficas conforme o quadro abaixo:
Ø LOJA SIMBÓLICA:
Grau 01 – Aprendiz Maçom
Grau 02 – Companheiro Maçon.
Grau 03 – Mestre Maçon.
Ø LOJA DE PERFEIÇÃO:
Grau 04 - Mestre Secreto
Grau 05 - Mestre Perfeito
Grau 06 - Secretário Íntimo
Grau 07 - Preboste e Juiz
Grau 08 - Intendente dos
Edifícios
Grau 09 - Mestre Eleito dos Nove
Grau 10 - Mestre Eleito dos
Quinze
Grau 11 - Sublime Cavaleiro
Eleito dos Doze
Grau 12 - Grão-Mestre Arquiteto
Grau 13 - Cavaleiro do Arco Real
Grau 14 - Perfeito e Sublime Maçom
Ø LOJA CAPITULAR:
Grau 15 - Cavaleiro do Oriente
Grau 16 - Príncipe de Jerusalém
Grau 17 - Cavaleiro do Oriente e
do Ocidente
Grau 18 - Cavaleiro Rosa-Cruz ou
Cavaleiro da Águia Branca e do
Pelicano
Ø ILUSTRE CONSELHO FILOSÓFICO DE KADOSCH:
Grau
19 - Grande Pontífice ou Sublime Escocês, chamado Pontífice da Jerusalém Celeste
Grau
20 - Mestre Ad Vitam ou Soberano Príncipe da Maçonaria
Grau
21 - Patriarca Noaquita ou Cavaleiro Prussiano
Grau
22 - Cavaleiro do Real Machado ou Príncipe do Líbano
Grau
23 - Chefe do Tabernáculo
Grau
24 - Príncipe do Tabernáculo
Grau 25 - Cavaleiro da Serpente de Bronze
Grau 26 - Príncipe
da Mercê ou Escocês Trinitário
Grau 27 - Grande Comendador do Templo ou Soberano
Comendador do Templo de Jerusalém
Grau 28 - Cavaleiro do Sol ou Príncipe Adepto
Grau 29 - Grande Escocês de Santo André ou
Patriarca das Cruzadas
Grau 30 - Grande Inquisidor, Grande Eleito, Cavaleiro Kadosch, Cavaleiro
da Águia Branca e Negra
Ø CONSISTÓRIOS:
Grau 31 - Grande Inspetor
Comendador
Grau 32 - Sublime Príncipe do
Real Segredo
Ø SUPREMO CONSELHO:
Grau 33 - Soberano Grande
Inspetor Geral
IV- A finalidade dos
graus do Rito Escocês Antigo e Aceito
A divisão desse Rito em graus tem como finalidade
organizar o aprendizado dos recém filiados à Ordem maçônica. Assim é que cada grau
procura transmitir uma mensagem e um ensinamento que, de forma bastante
resumida, seria o seguinte:
Grau 01: É consagrado a Deus, a Beneficência e a
Fraternidade.
Grau 02: Discorre sobre Trabalho, Ciência e Virtude.
Grau 03: Discorre sobre o progresso através do mérito e das
aptidões.
Grau 04: Ensina a pesquisar a Verdade como um Dever.
Grau 05: Ensina a desvendar os mistérios da própria
existência.
Grau 06: Discorre sobre o cultivo do Zelo, Fidelidade,
Desinteresse e Bondade.
Grau 07: Ensina a julgar e aplicar a lei com senso de
justiça.
Grau 08: Discorre sobre propriedade e trabalho.
Grau 09: Discorre sobre precipitação e justiça, Razão e
Perdão.
Grau 10: Discorre sobre crime e castigo e sobre Relações
Internacionais.
Grau 11: Discorre sobre crime e castigo ao continuar a
perseguição aos assassinos de Hiram.
Grau 12: Discorre sobre superação de obstáculos e triunfo da
liberdade sobre a opressão.
Grau 13: Ensina a procurar Deus sem se perder na idolatria.
Grau 14: Ensina que o princípio de todo o conhecimento é
Deus.
Grau 15: Discorre sobre independência política e religiosa
dos povos.
Grau 16: Discorre sobre Direitos e Obrigações.
Grau 17: Discorre sobre Dever e Direito, Liberdade e
Progresso.
Grau 18: Discorre sobre o Rosacrucismo e o culto ao Fogo
através dos tempos.
Grau 19: Discorre sobre Virtude, Ciência e domínio da
matéria e dos vícios e paixões.
Grau 20: Discorre sobre a redenção dos povos através da
pregação insistente da verdade.
Grau 21: Discorre sobre ambição e arrependimento e sobre o
direito de vingança da vítima.
Grau 22: Discorre sobre equilíbrio entre Capital,
Propriedade e Trabalho.
Grau 23: Discorre sobre Justiça e Liberdade.
Grau 24: Discorre sobre as responsabilidades daqueles que
têm a tarefa de julgar.
Grau 25: Discorre sobre Liberdade e o direito de ir e vir.
Grau 26: Discorre sobre Caridade, Esperança e Fé e sobre a
busca da ‘Pedra Filosofal’.
Grau 27: Discorre sobre Sabedoria, numa referência ao Rei
Salomão.
Grau 28: Discorre sobre o simbolismo da Mitologia sem,
contudo, afastar-se do G:.A:.D:.U:.
Grau 29: Discorre sobre Liberdade e Livre Manifestação do
Pensamento e da Palavra.
Grau 30: Discorre sobre a vindita da Maçonaria pela
destruição da Ordem do Templo.
Grau 31: Discorre sobre julgamento com equilíbrio e justiça.
Grau 32: Discorre sobre assuntos do cotidiano que
enfraquecem a família e a sociedade.
Grau 33: Discorre sobre uma ‘derradeira Iniciação’ e sobre a
Moral Maçônica.
Concluindo os estudos da Filosofia Maçônica, quando
analisados pela ótica do Rito Escocês Antigo e Aceito com seus Corpos
Filosóficos e seus diversos graus, nada mais apropriado do que a narrativa
de João 1: 1-5 para
retratar o objetivo maior dessa instituição em promover a crença num ser
superior: ‘NO PRINCÍPIO era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o
Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas
foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida,
e a vida era a luz dos homens; E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não
a compreenderam’.
Campos dos Goytacazes, 10/07/2010
Bibliografia:
- A Bíblia Sagrada – Tradução de João Ferreira Almeida
- Dicionário da Língua Portuguesa, Ed. O GLOBO
- Cargos em Loja, 7.ª Edição, Editora A Trolha, 1988 – Francisco Assis carvalho
- Rito Escocês Antigo e Aceito 1.º ao 33º - Rizzardo da Camino, edição de 2009
- Grande Enciclopédia Larousse Cultural, Edição de 1995 - Vol. 21
- Os primeiros degraus da Escada de Jacó – trabalho de elevação ao Grau XV – Cesar Augusto Jalles Moço
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Rito
- http://cidademaconica.blogspot.com/2007/07/uma-viso-global-dos-33-graus-do-r-e-a.html
- http://oblogdobode.blogspot.com/2007/04/rito-de-heredom-ou-de-perfeicao.html
- http://www.maconariaportugal.com/ritos/reaa
Nenhum comentário:
Postar um comentário
É livre a postagem de comentários, os mesmos estarão sujeitos a moderação.
Procurem sempre se identificarem.